Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, July 19, 2005

Apocalipse

Abro uma página da Internet e me deparo com as seguintes notícias:

- Homem morre sodomizado por cavalo nos EUA.

- Pai mata filo de 3 anos por achar que ele parecia gay.

- Máscara de Roberto Jefferson vira sucesso de vendas.

- Parto de Britney Spears vai virar Reality Show.

É foda. Algum otimista - ou seria ingênuo? - ainda acha que esse mundo tem salvação?

Saturday, July 16, 2005

Terra de Maravilhas

Assisti recentemente a um filme chamado Crimes em Wonderland. A obra enfoca um período da vida do ex-astro pornô John Holmes (que, segundo o filme, comeu aproximadamente 14.000 mulheres), quando, já em decadência, envolveu-se no assassinato de quatro pessoas. A peça cinematográfica é interessante, mesmo sem oferecer nada de sensacional, e merece uma olhada somente pela interpretação de Val Kilmer no papel principal e pela linda Kate Bosworth.

Mas esse texto não é sobre o filme. Como bom cinéfilo, estava vasculhando pelos extras do DVD, tentando encontrar algo de interessante, quando me deparei com uma seção que dizia "Imagens da cena do crime", ou algo parecido. Pensei: "Legal, vai dar pra ver como era o apartamento verdadeiro, onde aconteceram os crimes". Não sei por que razão, mas achei que eram imagens do local, apenas para curiosidade dos cinéfilos. Acreditava que não seria nada mais do que isso.

Estava errado. Para minha surpresa, a seção do DVD era uma filmagem realizada logo depois dos assassinatos. Feita pela polícia, mas sem terem tocado em nada da cena do crime. De baixa qualidade – afinal, trata-se de uma gravação amadora e feita em 1981 –, a fita de aproximadamente meia hora é mórbida ao extremo, mostrando em detalhes as manchas de sangue na parede, chão e sofás, os móveis revirados e, o que realmente me chocou, os corpos desfigurados.

O tais crimes em Wonderland foram assassinatos brutais, sem piedade. Não foram crimes, digamos, "limpos", como um tiro no peito ou estrangulamento. As vidas das quatro pessoas foram tiradas a porradas, tendo suas cabeças dilaceradas com pedaços de pau. E esse extra do DVD não poupa o espectador disso tudo. Eu havia recém assistido à história cinematográfica, conhecia toda a trama, sabia dos assassinatos, tinha visto até a encenação do crime. Mas aqueles vinte e poucos minutos assistindo ao cenário real de tudo aquilo teve, em mim, um impacto muito mais forte do que as quase duas horas de filme.

No entanto, assisti a tudo, do início ao fim. Por quê? Não sei. Fazia essa pergunta a mim mesmo a cada segundo, cada vez que a câmera ia de um aposento para outro e mostrava mais sangue e corpos sem vida. Por mais que aquilo me chocasse, não conseguia desviar a atenção daquelas imagens grotescas. Cheguei a cogitar que eu poderia ser uma espécie de sádico, que, por baixo de toda a minha aparência pacata e pregadora da não-violência, morasse algum obscuro adorador de sangue e tripas.

Mas aí pensei melhor. Não é só comigo que isso acontece. A violência exerce, sim, um fascínio sobre o ser humano. Gostamos de ver sangue. Adoramos assistir pessoas brigando. Morte vende. Assassinatos dão lucro. Para nos sentirmos seguros, para sermos tomados pela ilusão de imunidade, acompanhamos a violência em terceiros, em pessoas desconhecidas. Isso, de alguma forma, faz a gente se sentir melhor com nós mesmos.

É como se, olhando para esse banho de sangue, possamos nos reconfortar, liberando essa nossa necessidade intrínseca pela violência. Talvez todos tenhamos uma "besta humana", para usar o termo concebido por Émile Zola, dentro de nós, sempre pronta para atacar e cometer atos dessa natureza. Por isso somos atraídos por coisas como o citado extra do DVD, que alimenta esse nosso algo interior, impedindo-o de aflorar. Assistimos sangue, morte e violência, mesmo com repulsa, para não cometermos tais atos. Ou, quem sabe, para tentarmos nos iludir de que tudo isto está longe de nosso dia-a-dia. De que estamos seguros do outro lado da tela ou das revistas e jornais.

Nesse caso, é difícil chegar a alguma conclusão. A única coisa certa é que este fascínio existe e vai continuar existindo por muito tempo, como bem sabiam os produtores que colocaram aquele filmezinho macabro nos extras de Crimes em Wonderland.


Thursday, July 14, 2005

Só Saber Procurar


Juro que não entendo aquele velho papo de que todo escritor, em um momento ou outro, enfrenta uma crise de criatividade. Tudo bem, em filmes ou livros isso é até aceitável, já que o próprio bloqueio pode ser o ponto de partida para uma história legal, mas é difícil de acreditar que isso aconteça na vida real.

Isso porque, mesmo que o cara esteja com problemas em criar um enredo e personagens do zero (se é que isso acontece, já que qualquer história sempre parte de alguma inspiração), basta uma visita a jornais, revistas ou à internet para descobrir tramas e situações tão sensacionais que, se alguém nos contasse sobre elas, diríamos que certamente são produtos da mente fértil de algum escritor.

Vou oferecer ao leitor alguns exemplos da inesgotável fonte de inspiração que é o ser humano. Na Nigéria, um homem com a bexiga estourando parou seu carro na beira da estrada. Desesperado, saiu do automóvel e começou a mijar. Naquele momento de prazer, uma ensandecida vaca partiu em direção ao indefeso cidadão e simplesmente o atacou por trás, assassinando-o. Mas a história do psicótico animal não acaba aí. Sem saber quem era o dono da vaca, as autoridades nigerianas fizeram o óbvio: prenderam a criminosa em uma das celas da delegacia local.

Outra: em uma cidade dos Estados Unidos, uma senhora de 91 anos saía do supermercado quando um homem lhe abordou e disse para ela lhe passar a bolsa. Como estava sem seu aparelho de surdez, a senhora achou que o rapaz queria tirar seu pulso (em inglês, bolsa é purse e pulso é pulse) e começou a bater nele com a bolsa até ele desistir.

Duas histórias reais e que certamente poderiam ser o início de alguma obra de ficção. Mas, para quem prefere avaliar até que ponto a burrice humana é capaz de chegar, recomendo uma passada no site www.darwinawards.com. Ali fica bem claro, logo no início, o que são os “Prêmios Darwin”: uma forma de homenagear aquelas pessoas que deixaram o mundo mais evoluído ao encontrarem uma forma de eliminarem a si mesmas da face da Terra.

O grande vencedor – póstumo, é claro – de 2003 foi um imbecil que assaltava um banco. Após ter atirado uma vez e ver que a arma não funcionou, ele olhou para dentro do cano para ver o que estava errado. Para testar, apertou o gatilho novamente, partindo pro outro mundo e garantindo o troféu Darwin pela sua estupenda inteligência.

Outro agraciado foi um cidadão que, desesperado por uma bebida, decidiu invadir uma fábrica de cervejas. Para entrar no local, pegou um bloco de cimento e jogou na janela da fábrica. O que ele não esperava é que o objeto batesse no vidro e, sem quebrá-lo, voltasse em sua direção, espatifando sua cabeça.

Pode parecer incrível, mas essas histórias que narrei aqui realmente aconteceram. E, pelo que o leitor pôde perceber, essas foram apenas situações idiotas e divertidas. Algumas das melhores histórias e obras saem do comum, do ordinário, de nada mais do que uma cuidadosa observação do ser humano e de suas relações com os outros e com a sociedade. Somos, todos nós, criaturas fascinantes e misteriosas, fontes inesgotáveis de inspiração para obras de qualquer espécie.

Bloqueio criativo? Chego à conclusão de que não existe. O que pode ocorrer é a dificuldade em optar por uma das milhões de histórias que acontecem nesse planeta todos os dias, todas reveladoras, de uma forma ou outra, da natureza humana. Talvez a imensa variedade seja o grande problema. Mas elas estão aí. É só saber escolher.

Wednesday, July 13, 2005

Dia Mundial do Rock

Em homenagem a esse dia, aí vai um texto que eu escrevi há algum tempo atrás e pouca gente leu.

Luzes, câmera e rock n’ roll

Segundo uma das definições mais conhecidas, cinema é imagem em movimento. Não está completamente equivocada, mas resumir a sétima arte dessa forma é simplificar demais, principalmente se for levado em conta que cinema e música caminham lado a lado já há algum tempo. E não apenas por causa das trilhas sonoras. Alguns dos grandes filmes de todos os tempos têm música como parte essencial de sua narrativa, como os grandes musicais das décadas de 50 e 60 e o consagrado Amadeus (1984).

Entretanto, não há como negar que, dentre todos os gêneros musicais, aquele com o qual o cinema possui a maior afinidade é o bom e velho rock n’ roll. Desde que os Beatles filmaram Os Reis do Iê-Iê-Iê em 64 até o recente Escola de Rock (School of Rock), telas e platéias de todo o mundo foram contagiadas pela energia e pelo espírito contestador do rock.

A faísca que deu início à explosão do rock nas telas aconteceu no ano de 1969, com Sem Destino (Easy Rider). Quando os então jovens Peter Fonda e Dennis Hopper surgiram sobre suas motos Harley Davidson, vestindo jaquetas de couro e com os longos cabelos levados pelo vento, ao som de Born to Be Wild, do Steppenwolf, pode-se resvalar no clichê e dizer que o cinema nunca mais foi o mesmo. Ainda que o hoje o filme não mantenha o mesmo vigor, Sem Destino virou o clássico de uma geração e o símbolo de uma época, promovendo valores como a busca pela liberdade e a contestação dos padrões da sociedade. E o que é o rock’ n’ roll senão exatamente isso?

A partir daí, filmes sobre e com rock se tornaram comuns. Assim como Sem Destino, obras hoje consideradas clássicas devem grande parte de seu sucesso às suas trilhas. A de Forrest Gump, por exemplo, vende até hoje graças à sua impecável seleção que continha nomes como Lynyrd Skynyrd, The Doors e Elvis Presley. E quem pode esquecer de Ferris Bueller eletrizando uma cidade inteira ao som de Twist and Shout, no final de Curtindo a Vida Adoidado?

Não demorou para que cineastas elegessem o mundo do rock como fonte de inspiração. Dezenas de produções sobre bandas fictícias fizeram a alegria dos fãs deste gênero musical, começando pelo hilário “rockumentário” Isto é Spinal Tap (This is Spinal Tap), de 84, uma impagável sátira aos bastidores do rock dirigida por Rob Reiner. Em Ainda Muito Loucos (Still Crazy) e The Wonders­ – O Sonho não Acabou (That Thing You Do!), os diretores Brian Gibson e Tom Hanks também se utilizaram deste artifício para declarar ao mundo sua paixão pelo gênero.

Mas talvez a maior declaração de amor ao rock já produzida pelo cinema seja Quase Famosos (Almost Famous), de 2000. Neste belíssimo filme, o diretor Cameron Crowe narrou suas próprias experiências na juventude como repórter da revista Rolling Stone, quando acompanhou ninguém menos do que o Led Zeppelin em uma turnê (dizem que a cena onde o vocalista do Stillwater grita “Eu sou um Deus dourado” realmente aconteceu, com Robert Plant como protagonista). O resultado é um filme imperdível, que contagia tanto pelos personagens quanto pela forma apaixonada com que o cineasta retrata esse mundo.

Se o mundo do rock já é uma fonte de inspiração, os inusitados personagens que habitam esse lugar são um prato cheio para os cineastas. Oliver Stone percebeu isso ao apresentar ao público o “rei lagarto” Jim Morrison e sua banda em The Doors, um filme cujo principal destaque era, indubitavelmente, a interpretação possuída de Val Kilmer no papel principal. Sid e Nancy, de 1986, era a cinebiografia do polêmico baixista do Sex Pistols, Sid Vicious, e sua problemática relação com a namorada. Outra personalidade polêmica a ir parar nos cinemas foi Jerry Lee Lewis, em um filme chamado A Fera do Rock (Great Balls of Fire!), que tinha Dennis Quaid e Winona Ryder nos papéis principais. Já Backbeat – Os Cinco Rapazes de Liverpool (Backbeat) resgatava uma história pouco conhecida sobre um quinto integrante dos Beatles, antes de os garotos de Liverpool alcançarem fama e sucesso.

Basta? Pois nem foram citados Rock Star, Alta Fidelidade, Jovens, Loucos e Rebeldes, Os Irmãos Cara-de-Pau, The Wall, Velvet Goldmine, apenas para lembrar alguns. E vem mais por aí. Foi recém lançado Ray, sobre a vida de Ray Charles, está em produção uma biografia de Janis Joplin com Renée Zellweger no papel principal e Keith Richards já garantiu sua participação na seqüência de Piratas do Caribe.
Parece que cada vez mais as palavras de Neil Young se fazem verdade: o rock n’ roll nunca morre. Pelo menos no cinema.

Monday, July 11, 2005

Início

Estamos iniciando este momento. Esse é só um teste. Mas aguardem, no futuro, algumas coisas interessantes.