Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Friday, June 27, 2008

Contradição

A gente sempre reclama da falta de tempo,
Porém, quando sobra um tempinho,
Vamos logo achar um passatempo.
Vai entender.

Monday, June 23, 2008

FIM DOS TEMPOS


FIM DOS TEMPOS (THE HAPPENING)
De M. Night Shyamalan. Com Mark Wahlberg, Zooey Deschanel, John Leguizamo, Ashlyn Sanchez, Spencer Breslin e Betty Buckle.


O Sexto Sentido é uma obra-prima. Isso não se discute. Quando o filme chegou aos cinemas, em 1999, M. Night Shyamalan foi alçado ao status de gênio. Como sempre, a reação foi exagerada. Como comprovou em seus filmes seguintes, Corpo Fechado e Sinais, Shyamalan é, sim, um diretor de muito talento e possui a capacidade de contar uma história de maneira autoral e diferenciada. No entanto, a genialidade à qual foi atrelado provou-se frágil quando o cineasta entregou duas obras repletas de problemas, A Vila e A Dama na Água, e se dissipa de vez agora com o lançamento do péssimo Fim dos Tempos.

A obra tem início com uma série de eventos em algumas cidades dos Estados Unidos, quando pessoas começam a cometer suicídios em massa, sem qualquer razão aparente. Na Filadélfia, o professor Elliot fica sabendo do acontecido e decide partir com a esposa, um amigo e a filha deste para algum lugar isolado, onde possam ficar a salvo daquilo que pensam ser uma toxina liberada por terroristas. Elliot precisa superar as dificuldades enfrentadas no casamento, ao mesmo tempo em que tenta encontrar uma explicação para o que está acontecendo.

M. Night Shyamalan tem uma peculiaridade: quando acerta, acerta muito bem; quando erra, seu erro é grotesco. Em seus primeiros filmes, as bolas dentro eram incrivelmente mais constantes que as bolas fora, o que resultou em grandes obras. Em seus últimos esforços, a balança se equilibrou, em produções com momentos de brilhantismo e derrapadas homéricas. Com Fim dos Tempos, o resultado é mais uniforme, porém para o lado errado. M. Night Shyamalan, para decepção minha e de muitos que o defendem, é o responsável por um dos piores filmes de 2008.

Os problemas são muitos e devem-se, em sua grande maioria, ao pior roteiro que Shyamalan já escreveu. O ponto de partida é até interessante: pessoas que começam a tirar suas próprias vidas das mais diversas maneiras e sem explicação. No entanto, o que há de bom na história pára por aí. Desde o momento em que a trama e os personagens começam a se desenvolver – ou ao menos tentar –, Shyamalan acumula um equívoco atrás do outro, com opções que beiram o risível e uma preguiça até então inédita em seus trabalhos anteriores.

Um dos grandes méritos do cinema de M. Night Shyamalan sempre foi a forte identificação criada entre a platéia e os personagens. Seja o psicólogo e o garoto de O Sexto Sentido, o amargurado “super-herói” e o homem de vidro de Corpo Fechado e o padre desiludido de Sinais, todos são pessoas complexas e interessantes, com as quais o espectador se preocupa, e centro dos elaborados enredos – a história, antes, girava em torno deles. Em Fim dos Tempos, Shyamalan nem de perto revive o cuidado na construção dos personagens, apresentando superficialidade absurda em diálogos risíveis.

O conflito no casamento entre Elliot e Alma, por exemplo, que deveria ser o núcleo emocional da obra, é abordado de maneira rápida, jamais convencendo que ali está um casal com problemas reais. Do mesmo modo, o protagonista é reduzido à definição de professor-cientista, uma vez que nada se conhece da personalidade dele, enquanto sua companheira passa o filme inteiro como uma idiota completamente dependente do marido. Para somar, a criança que os acompanha durante boa parte de Fim dos Tempos nada tem a acrescentar à história, tanto em termos gerais, quanto no desenvolvimento dos personagens.

Esta falta de preocupação – ou, como disse antes, preguiça – em desenvolver com mais cuidado e propriedade os personagens termina por gerar cenas ridículas e completamente sem sentido, como o inexplicável momento em que o personagem de John Leguizamo quase bate em Alma apenas por ela pegar na mão de sua filha. Um momento sem nexo e despropositado, que serve como exemplo da série de instantes incongruentes que colaboram para formar o caos que é Fim dos Tempos.

Da mesma forma, Shyamalan, sempre brilhante na construção da atmosfera de seus filmes, peca na tentativa de estabelecer as próprias regras do que acontece. Tudo bem que os personagens partem de suposições para compreender os eventos, mas o cineasta se contradiz e qualquer credibilidade que a história pretendia ter se esvai pelo ralo. Por exemplo, em determinado momento, chega-se à conclusão de que pequenos grupos estão livres do ataque. Porém, outros pequenos grupos sofrem, sim, e apenas os protagonistas parecem escapar. Além disso, por que algumas pessoas são atingidas de maneira diferente? Enquanto umas começam com desnorteamento total, outras ainda conseguem falar e se surpreender com tudo.

Mas não é só isso. Shyamalan jamais consegue fazer o espectador acreditar na possibilidade de um evento deste tipo, o que leva a cenas e diálogos que beiram a insanidade, como quando um personagem diz que “árvores falam com arbustos e arbustos falam com a grama”. E, ainda mais importante, o cineasta não tem história suficiente para um longa-metragem, e “enche lingüiça” com piadinhas sem graça, como um doido falando sobre cachorros-quentes, e situações que nada têm a ver com a história que está sendo contada, como a inserção da velha maluca perto do final.

No entanto, o maior problema do roteiro de Fim dos Tempos é mesmo a maneira como justifica os acontecimentos. O ponto de partida, com as pessoas se suicidando sem razão, é interessante, porém é uma idéia difícil de dar continuidade. É fácil criar uma situação promissora; difícil é conseguir desenvolvê-la mantendo o apelo. Shyamalan tentou, mas sua explicação para os acontecimentos é uma das idéias mais estapafúrdias que já vi no cinema. Se os personagens fossem melhor trabalhados, seria mais fácil de engolir, mas isso não acontece. Ainda que a mensagem transmitida tenha boas intenções, a maneira como é contada parece mais um delírio dos personagens. Nem o próprio Shyamalan parece acreditar na resposta que criou, pois coloca uma cena onde um personagem parece pedir de joelhos a boa vontade da platéia com a solução proposta ao dizer que “há coisas fora da nossa compreensão”.

E é uma pena que, no campo da direção, onde Shyamalan quase nunca erra, os erros também são grandes. Ao contrário de seus outros filmes, não existe a tensão crescente, até porque Fim dos Tempos muda de tom com o vento (um vento normal, não vento assassino). Por exemplo, as tentativas de humor são excessivas e, em sua maioria, fracassadas. Na verdade, quando a produção tenta o humor, o resultado é de dar vergonha (como quando Elliot conversa com uma planta), enquanto as cenas mais engraçadas vêm sem essa intenção (como a dos tigres, um momento totalmente fora de propósito e contra o poder da sugestão que Shyamalan pregou em todos os seus filmes).

Os problemas de direção estendem-se, também, à condução dos atores. Completamente fora do que seus personagens pedem, o elenco está homogeneamente ruim, mesmo levando em conta o péssimo material que tem em mãos. Mark Wahlberg, por exemplo, exagera nas caras e bocas sem sentido, construindo um personagem de desenho animado ao invés de uma pessoa real. Enquanto isso, Zooey Deschanel parece não saber se faz parte de uma comédia, drama ou suspense e John Leguizamo não demonstra outra expressão além de uma cara de aflito. São atuações precárias, dignas de um filme amador – e, levando-se em conta o fato de que sabemos o quanto estes atores podem render, a culpa recai mesmo sobre Shyamalan.

Por que, então, a nota quatro? O fato é que M. Night Shyamalan sabe como poucos criar um quadro e filmar uma cena. O talento do cineasta é claro e, mesmo quando o equívoco é quase completo, como em Fim dos Tempos, Shyamalan ainda assim entrega momentos que fogem do óbvio e surpreendem pela qualidade com que são filmados. As cenas iniciais, por exemplo, estão entre as melhores coisas que o diretor já realizou, com destaque para a impecável seqüência na qual a câmera acompanha os suicídios na linha do chão, sem mostrar as mortes, mas seguindo a arma que cai. O mesmo vale para alguns outros instantes (como o da gravidez), onde não restam dúvidas que se está diante de um cineasta diferenciado.

E esta é a grande decepção de Fim dos Tempos. Sou fã de M. Night Shyamalan e sei que ele é capaz de entregar ótimos filmes, mas, desta vez, os equívocos estão escancarados. Fim dos Tempos é caótico em sua estrutura, não gera tensão, apresenta personagens irritantes e apela para absurdos com uma constância irritante. Ainda acredito em Shyamalan, mas não foi desta vez que ele recuperou o prestígio outrora conquistado. E é bom que isso aconteça em seu próximo trabalho, pois a paciência começa a se esgotar.

Nota: 4.0
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Wednesday, June 18, 2008

AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: PRÍNCIPE CASPIAN


AS CRÔNICAS DE NÁRNIA: PRÍNCIPE CASPIAN (THE CHRONICLES OF NARNIA: PRINCE CASPIAN)
De Andrew Adamson. Com William Moseley, Anna Popplewell, Skandar Keynes, Georgie Henley, Ben Barnes, Sergio Castellito, Peter Dinklage, Warwick Davies, Tilda Swinton, Liam Neeson e Vincent Grass.


Lançado em 2005, As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa chegou aos cinemas com a ingrata responsabilidade de assumir o lugar deixado por O Senhor dos Anéis como grande série de fantasia do cinema. Menos por esta pressão e mais por seus próprios problemas, como um tom excessivamente infantil e personagens sem apelo, o filme não chegou a empolgar, mas teve um bom desempenho nas bilheterias, o suficiente para o lançamento de uma continuação também baseada na obra do britânico C. S. Lewis.

As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian tem início um ano após os acontecimentos da primeira produção. Os quatro irmãos Pevensie tentam se readaptar à vida na Inglaterra quando são chamados de volta à terra mágica de Nárnia. Chegando lá, descobrem que 1300 anos se passaram e a situação é bastante diferente: os Telmarinos, liderados pelo cruel lorde Miraz, praticamente dizimaram o povo de Nárnia. Cabe aos irmãos, ao lado de Caspian, herdeiro real do trono Telmarino, liberar os narnianos e restaurar a paz.

Escrito pelo próprio diretor Andrew Adamson (também responsável pelo primeiro), ao lado de Christopher Markus e Stephen McFeely, Príncipe Caspian é um esforço digno e que mantém viva a série. Ainda que boa parte dos problemas do filme anterior continuem vivos e incomodando, a evolução em certos elementos é nítida, deixando esperança pelo que pode vir nas próximas produções. O principal dos acertos é a leve mudança de tom entre O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa e o novo Príncipe Caspian. Se antes a balança pendia quase para o conto de fadas, sem qualquer sensação de ameaça, agora a abordagem é muito mais próxima de, por exemplo, O Senhor dos Anéis, com batalhas mais intensas e uma trama que realmente transparece um certo perigo para o povo de Nárnia.

Mas as semelhanças com a obra de Peter Jackson não param por aí. Muito da forma como Adamson filma Príncipe Caspian parece retirado diretamente da trilogia da Terra-Média. Cenas como os planos aéreos com os personagens cavalgando em planícies, o excesso do recurso em câmera lenta e momentos como os cavalos no rio remetem ao trabalho de Jackson. Ainda que estas seqüências funcionem dentro do contexto de Príncipe Caspian, é inevitável que o filme acaba perdendo um pouco da identidade, tornando-se uma espécie de primo pobre de O Senhor dos Anéis.

No entanto, é injustiça afirmar que o trabalho de Adamson não tem méritos por si só. Com maior domínio da técnica cinematográfica (antes de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, havia dirigido apenas animações), o diretor constrói uma obra muito mais fluida que o anterior e jamais cansativa, mesmo com quase duas horas e meia de duração. Ao mesmo tempo, Adamson cria cenas de batalha incrivelmente mais empolgantes e bem filmadas que qualquer momento do original. A longa seqüência na qual os telmarinos tentam invadir o refúgio do povo da Nárnia é muitíssimo bem realizada, intercalando instantes de ação com outros de criatividade e deleite visual, como a “armadilha” do buraco no chão.

O principal defeito de Príncipe Caspian, porém, é exatamente o mesmo de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas: o fraco desenvolvimento de personagens. Todos, desde os quatro irmãos até os ratinhos mosqueteiros, não passam de meras caricaturas, seres unidimensionais que despertam pouquíssima ou nenhuma identificação com o público. As relações entre eles propostas pelo roteiro, da mesma forma, são igualmente mal construídas, jamais saindo da superficialidade e do óbvio, como o infantil desentendimento entre Peter e Caspian (que deveriam ser os nobres líderes, mas parecem dois garotos imbecis) e o apressado romance entre Caspian e Susan.

Muito disso deve-se, também, à falta de talento do elenco. Os atores que interpretam Caspian, Peter, Edmund e Susan não possuem qualquer alcance dramático ou domínio dos personagens e nunca convencem como líderes a serem seguidos. A inexpressividade é tanta que alguns momentos chegam a ser risíveis, como quando Ben Barnes (Caspian) dá gritinhos ao falarem de seu pai. Uma coisa leva a outra: atores fracos, personagens rasos, relações superficiais, falta de emoção. O mesmo vale para Sergio Castellito, no papel do vilão, que jamais consegue criar um antagonista interessante ou mesmo ameaçador.

Os poucos destaques do elenco ficam por conta de Georgie Henley, como a pequena Lucy, e Peter Dinklage, como o também pequeno Trumpkin. Henley, assim como no primeiro filme, não chega a desenvolver sua personagem, mas ao menos possui boa presença em tela e inegável carisma. Dinklage, que já provou seu talento em filmes como O Agente da Estação, confere densidade ao sisudo, mas nobre anão, tornando-se o único personagem levemente tridimensional de Príncipe Caspian. Já os respeitados Tilda Swinton e Liam Neeson retornam em papéis com pouco tempo em tela: ela, em uma aparição totalmente desnecessária; ele, novamente como o sábio e messiânico Aslam.

O leão divino, aliás, é outro dos problemas do filme. Sumido durante a maior parte da projeção, Aslam surge inexplicavelmente em um momento crucial para salvar Nárnia. Por onde ele andava? Por que demorou tanto para aparecer? A impressão que fica é a de que os roteiristas não sabiam como virar o jogo em favor dos mocinhos e trouxeram Aslam de volta. Além disso, o roteiro ainda tem outros problemas, como a sensação de falta de continuidade: de uma hora para outra, Caspian, que jamais conhecera Nárnia, guia os irmãos na “fortaleza” escolhida, como se fosse veterano ali. E, claro, como não poderia deixar de ser, há diversas piadinhas, geralmente sem graça, mal-colocadas em momentos que deveriam gerar tensão.

Com efeitos especiais irrepreensíveis, As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian é, no geral, um competente filme de fantasia e um interessante novo capítulo à série. Andrew Adamson consegue fazer o espectador acreditar naquele mundo, ainda que a jornada íntima dos personagens fique devendo – e muito. No entanto, é uma obra mais digerível, adulta e séria que a anterior. Pode não ser muito, porém, é mais um passo no caminho certo.

Nota: 7.0

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Monday, June 16, 2008

Nova Corja

Mesmice cansa. Sério, vai dizer que não é foda agüentar sempre a mesma coisa, reciclada e muitas vezes plagiada? Isso vale pra tudo. Cinema, literatura e até para o jornalismo. Sempre - e isso é a mais pura verdade, acreditem - sempre dá pra fazer alguma coisa de uma maneira um pouco diferenciada e criativa. A prova disso é o Nova Corja. Não sei se já conhecem o site/blog, mas é um projeto criado pelo meu amigo e craque da pequena área Leandro Demori, em parceria com uns parceiros (sim, eu percebi a redundância, mas o blog é meu e escrevo como quiser). Atualizado diversas vezes por dia, o site traz notícias e comentários sobre política de uma maneira sempre divertida e, principalmente, ácida e satírica ao extremo. Além da coragem que não ter papas-na-língua, os caras entendem do que falam, sempre com observações sagazes e que deixam os políticos - se eles lêem, claro - com as calças na mão. Derrapou, tá no Nova Corja. As coberturas ao vivo do depoimento do Busatto e a entrevista da Yeda (ou desgovernadora Yoda) no Conversas Cruzadas são duas pérolas que mostram a capacidade deles. Falei com o Leandro sábado e ele me contou que os acessos estão lá em cima, e começam a ganhar destaque no meio. Por quê? Simplesmente porque fugiram da mesmice.
Fica a dica.

Wednesday, June 11, 2008

Paranóia.

Ontem, a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi procurar um gravador escondido. Verdade. Revirei papéis, jogueis pijamas no chão e olhei dentro do bocal do telefone. Parecia o Gene Hackman naquele filme meio desconhecido do Coppola. Só não quebrei a parede porque, bom, porque aí seria loucura demais e no momento eu sou apenas paranóico. Por enquanto.

A questão é que com toda essa história aí de gravações escondidas, Busatto, Yeda, Feijó, Detran e R$ 44 milhões que não vieram parar no meu bolso, não custa ser um pouco precavido. Pó, até tomar um choppinho é perigoso. Melhor prevenir. Eu, agora, só falo sussurrando em casa. Sussurrando e com um MC Créu ligado no máximo volume. Velocidade: cuidado. Ninguém vai me ouvir e eu ainda faço o cara que estiver me espionando sofrer um pouco. Nada de brindar os ouvidos dele com música de qualidade, como naquele filme da vida dos outros que nada têm a ver com Lost.

Mas, admito: estou ficando, sim, um pouco paranóico. Além de falar tão baixo que ninguém em casa me escuta e ter dado trabalho para a empregada hoje por ter buscado ontem um microfone invisível, começo a ter idéias malucas, de quem está perdendo a sanidade. As faculdades mentais parecem estar me abandonando, porque, na minha cabeça, os políticos estão parecendo todos corruptos. Imaginem a loucura: achar que aqueles caras de gravata eleitos por mim querem apenas o meu dinheiro.

Estou ou não doido de dar dó? Sério, começo a pensar que tudo que os políticos falam é mentira e que eles não estão com vontade de me ajudar, mas apenas de exercer mais e mais poder. Em minha mente desconectada da realidade, imaginei deputados e senadores mentindo para o público, líderes dizendo que não sabiam das falcatruas de seus asseclas e parlamentares usando meu dinheiro para fazerem viagens com a família. Cheguei até a imaginar que o meu país tinha uma das maiores taxas de juros do mundo! Já pensaram?

Sei lá, acho que é hora de eu procurar alguma espécie de ajuda. Esta minha doença está tão fora da realidade que tenho até imaginado a possibilidade de o homem ter pisado na lua, a Terra ser redonda e um senador ter sustentado a amante com dinheiro público. É paranóia demais. Sorte que, por enquanto, sei que é tudo loucura minha. Um fio tênue de consciência me tranqüiliza dizendo que as ovelhinhas de terno repletas de bondade jamais seriam capazes disso. É um alívio, até porque muita gente tem a mesma paranóia que eu.

Bando de loucos.

Tuesday, June 03, 2008

Fábula 1 - Seu Sapo e a Dona Rã

Era uma vez um sapo chamado Seu Sapo.

Seu Sapo não fazia muita coisa. Pulava pra cá, saltava pra lá e, durante a noite, ficava pedindo uma Budweiser com seus amigos.

Tudo isso deixava sua esposa louca da vida. A Dona Rã, como era conhecida no brejo, sentia-se abandonada. Há muito tempo, Seu Sapo simplesmente não satisfazia suas necessidades de ex-girina.

Certo dia, Seu Sapo saiu para se alimentar e a Dona Rã foi atrás.

Admirada, observou o que Seu Sapo era capaz de fazer com a língua. Ela ia e voltava, com velocidade e alcance impressionantes.

Chegando em casa, Dona Rã disse para Seu Sapo:

- Querido, sei como salvar nosso casamento.

Seu Sapo nada disse. Dona Rã, com um olhar sensual, perguntou:

- Já pensou em usar essa língua maravilhosa para outros fins?

Viveram felizes para sempre.

Monday, June 02, 2008

A inglesinha e o octagenário

Porto Alegre não é a maior, mais importante cidade e muito menos a capital do Brasil. Acredito que, se perguntarmos lá fora, pouca gente vai conhecer esse nosso espaço de terra. Assim, não é sempre que temos shows de grandes artistas e bandas. A freqüência, pelo menos, não é tão grande quanto em São Paulo e Rio, por exemplo. O que me levou a uma promessa a mim mesmo: sempre que ocorrer aqui um grande show, estarei lá. Claro, desde que não seja alguma coisa insuportável do tipo Britney. Mas, se for alguém ou alguma banda pelos quais eu tenha um leve apreço, não vou deixar de ir. Tudo isso pra dizer que já comprei meus ingressos pra Joss Stone e pro Chuck Berry. Até então, não falei com ninguém que disse que ia com certeza, mas também não iria ficar esperando e perder essas chances. Se precisar, vou sozinho. Sou fã da Joss desde o primeiro CD. A inglesinha dos pés descalços canta demais e tem muito carisma. Sabe-se lá quando ela vai voltar pra cá e, pensando nisso, vou lá encher os bolsos da ex-loira agora dos cabelos roxos. O outro ingresso que comprei foi, claro, o de Chuck Berry. Esse é imperdível mesmo. Joss pode demorar para voltar ao Brasil, mas um dia virá. Berry não se sabe. O cara, uma lenda viva da história do rock n roll, tá com 81 anos. 81! Pode capotar a qualquer momento e afirmo com certeza de que é a última vez que virá ao Brasil. O cara influenciou muita gente, tocou com os maiores e foi um dos precursores de uma grande mudança na música nos anos cinqüenta. É História, com "H" maiúsculo mesmo. Não sei se ele ainda consegue segurar uma platéia, mas o show de Chuck Berry pode ser de quinze minutos, com o cara sentado em uma cadeira de rodas, que ainda vai valer a pena. Agora é contagem regressiva. Dia 19, Joss, e no dia 21, Berry. Um depois do outro. Dois show imperdíveis aqui mesmo em Porto Alegre, que pode não ser a maior, mais importante cidade ou mesmo a capital do Brasil, mas tem nos oferecido muita coisa boa.