Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, August 26, 2008

O OLHO DO MAL


Sabe-se que, hoje, o Oriente é a maior fonte de filmes de terror e suspense em todo o mundo. Diversas produções têm se destacado nos últimos anos, chamando a atenção pela originalidade e capacidade de causar arrepios. Claro que o cinema americano, sempre pensando em maneiras de juntar mais alguns milhões, aproveitou-se disso, refilmando os maiores sucessos para lançá-los no mercado ianque com atores conhecidos e na língua inglesa. Infelizmente, salvo raras exceções (como O Chamado), a grande maioria fica aquém dos originais. É o caso, por exemplo, de O Olho do Mal, copiado de The Eye – A Herança, um suspense de Hong Kong muito interessante. Na versão norte-americana, a atmosfera de gelar a espinha foi substituída por sustos baratos e apelativos, enquanto a boa protagonista Angelica Lee deu lugar à inexpressiva Jessica Alba. Os diretores David Moreau e Xavier Palud, como era de se esperar, apresentam um filme visualmente mais bem-acabado e com muito mais recursos, especialmente em termos de efeitos especiais. Por outro lado, falham na construção das personagens e na condução da trama, utilizando-a como mera desculpa para aqueles sustos previsíveis, quando a trilha sonora aumenta de súbito. Não há tensão, não há identificação e a lógica do enredo acaba por não funcionar. O que havia de surpresa no trabalho original aqui não passa de cópia pouco inspirada. Mais uma refilmagem absolutamente desnecessária promovida pelo amado e odiado cinemão americano.

Nota: 5.0

Monday, August 25, 2008

Valeu a pena

Era final da madrugada de sábado para domingo. Na van que voltava da formatura, umas vinte pessoas, entre amigos e familiares da formanda. Quando me dou conta, estou com uma garrafa de Red Label na mão, virando ela pra dentro de uma lata de Skol.

Não faço idéia de onde saiu essa garrafa.

Esse foi o último estágio de um dos finais de semana mais estragados que já passei. A tragédia estava anunciada. Na sexta, aniversário de um grande amigo, bem ao lado de casa. Não precisava me preocupar em como voltar, pois poderia ir até engatinhando. Não chegou a tanto.

No sábado, formatura de uma amiga não muito antiga, mas que significa muito pra mim. Bebida liberada na recepção e festa depois na Sogipa. Felizmente, alguém teve a brilhante idéia de chamar uma van, que nos salvou a vida. Manu, tu tava certa, eu não teria condições de voltar.

Valeu? Ô. Admito que não lembro de muita coisa, mas sei que me diverti, conheci gente nova, alguns que lembro e outros que não, encontrei amigos antigos e aquela coisa toda. E estava ao lado de dois grandes amigos em momentos que, tenho certeza, eles não vão mais esquecer. Só isso já valeu a pena.

Quando àquela garrafa de Red Label, continuo sem saber de onde saiu.

P.S.: vale acrescentar que fui na formatura com uma calça que, há um mês, quando eu tinha sete quilos a mais, não cabia em mim. A dieta começa a dar resultados.

Friday, August 22, 2008

STAR WARS - THE CLONE WARS


STAR WARS – THE CLONE WARS
De Dave Filoni. Com as vozes de Matt Lanter, Ashley Eckstein, James Arnold Taylor, Tom Kane, Samuel L. Jackson, Anthony Daniels e Christopher Lee.


Por quê? Juro que essas duas minúsculas palavrinhas ficaram martelando meu cérebro durante toda a sessão de Star Wars – The Clone Wars. George Lucas já é multibilionário, já explorou a mitologia da saga de inúmeras formas e, inclusive, já perdeu diversos fanáticos pela ganância que demonstra em relação ao universo que ele mesmo criou. Se a nova trilogia ainda possuía razão para existir, The Clone Wars, primeiro longa em animação de Star Wars, é aquele filho perdido, com sérios problemas de identidade e que jamais encontra seu lugar no mundo.

O filme, que pretende funcionar como espécie de abertura para um novo programa da TV, situa-se entre o Episódio II e o Episódio III. Em outras palavras, Anakin Skywalker, ainda aprendiz de Obi-Wan Kenobi, está a caminho de se tornar Darth Vader e a Guerra dos Clones está em andamento. É quando o criminoso Jabba, que controla um ponto estratégico para a guerra, tem seu filho seqüestrado. Assim, Obi-Wan e Anakin, com a ajuda de uma nova aprendiz, partem para o resgate do infante, com o objetivo de ganhar a confiança de Jabba.

Star Wars – The Clone Wars não é de todo ruim. Na realidade, acho difícil que algo vindo da saga possa ser chamado de ruim. Por pior que seja a história, por mais mal-desenvolvidos que sejam os personagens e por menos empolgantes que sejam as cenas de ação, o universo de Star Wars continua bacana o suficiente para manter um mínimo de interesse. Ainda assim, a obra de Dave Filoni, com roteiro de Henry Gilroy, é incapaz de explorar com eficiência os pontos que fazem a mitologia da série tão cultuada, a começar pela não-utilização da clássica expressão “Que a Força esteja com você”.

E, mesmo não sendo o único, o roteiro é o principal problema de The Clone Wars. O filme nada acrescenta à série ou ao que se conhece sobre os personagens. Para piorar, possui uma história fraca e construída sem o menor cuidado. Alguns personagens conhecidos, por exemplo, aparecem com o único objetivo de marcar presença, desempenhando nenhum papel na trama – como o caso de Yoda, Mace Windu e Amidala. Além disso, The Clone Wars parece mal situado na cronologia, uma vez que Anakin Skywalker nem demonstra sinais do processo de transformação pelo qual deveria estar passando.

Na verdade, a trama simplista não passa de uma desculpa para a criação de cenas de ação pouco empolgantes, que se atropelam e preenchem quase toda a duração da obra. Assistir duelos de sabre de luz e as batalhas com os dróides continua sendo bacana, mas torna-se repetitivo se a história por trás não ajuda. The Clone Wars baseia-se exclusivamente na identificação entre personagens e público criada pelos outros filmes, o que enfraquece a produção. Da mesma forma, os novos personagens pouco acrescentam: ainda que a vilã Ventress demonstre certo potencial, a padawan Asohka é apenas irritante (ainda que não ao nível de Jar-Jar ou de Jake Lloyd). Além disso, onde ela se insere na mitologia? O destino da jovem fica limitado à série de TV e aqueles que não pretendem assisti-la – como é meu caso – ficarão perdidos sobre onde a aprendiz se encaixa no cenário completo.

Mas o roteiro ainda apresenta outros problemas. Além da tolice da história envolvendo o filho de Jabba, o roteirista Gilroy parece não saber como encerrar a trama que criou – mesmo que nada tenha de elaborada. Com diálogos rasos, que ocasionalmente surgem entre uma e outra batalha, The Clone Wars acaba apelando para piadinhas e soluções de enredo completamente sem sentido, como o já citado surgimento da senadora Amídala e a aparição de um tio estiloso de Jabba. Sim, vocês leram certo: um tio estiloso de Jabba.

Enquanto isso, a direção de Dave Filoni pouco faz para tornar o filme mais agradável. Ainda que um ou outro “movimento de câmera” gere quadros interessantes, tanto as cenas de batalha quanto a interação entre personagens não passam de clichê. Para piorar, a animação criada pela Lucas Animations é precária – impossível não se incomodar com a inexpressividade do rosto dos personagens, especialmente para quem está acostumado às obras da Pixar, que conseguiu tornar expressivo até o robozinho de Wall-E. O cineasta parece ciente disso e tenta outros artifícios para mostrar os sentimentos dos personagens, como dar closes nos olhos para deixar claro que são malvados.

Preguiçoso em sua estrutura narrativa e com pouco inspiradas cenas de ação, Star Wars – The Clone Wars só não é uma decepção porque ninguém esperava muito do filme. Ainda que o universo de Lucas sempre tenha um mínimo de magia, ela é praticamente inexistente aqui, uma vez que a produção não passa de mais uma maneira de gerar novos milhões para o bolso do outrora venerado criador. E que sirva de aviso para Lucas: quando os próprios fãs de Star Wars viram a cara para um longa da série, é hora de repensar algumas coisas.

Nota: 5.0

Tuesday, August 19, 2008

Fora bumbo!


Tava na cara, parece que não aprendem. Em 2006, na Copa da Alemanha, tudo era festa. Pagode pra cá, risadinhas pra lá, bumbo, pandeiro, batucadas. Treino, nem pensar. Deu no que deu. Agora, a mesma coisa. Badalação, samba, cabelinhos estilosos. Treino, nem pensar. Deu no que deu.


Digo mais: enquanto não proibirem instrumentos de pagode na seleção, o Brasil não vai ganhar mais nada. É muita brincadeira e pouca seriedade.


Tudo bem que Olimpíadas não vale nada, mas a Copa é daqui a dois anos.

Monday, August 18, 2008

Quem disse...


... que o George Júnior só pensa em guerra?

Thursday, August 14, 2008

Condie, a humorista

Quem me conhece sabe que eu sou um brincalhão. Um cara de bem com a vida, principalmente por acreditar que o humor pode ser retirado de qualquer situação. Qualquer mesmo. Por pior que seja, tudo pode ser visto com um viés humorístico.

Eis que lendo a ZH de hoje me deparo com uma declaração da Secretária de Estado ianque, Condoleezza Arroz, sobre a guerra entre a Rússia e a Geórgia. Bem-humorada, a moça conseguiu encontrar uma forma de divertir em meio à guerra, utilizando ironia e sarcasmo para fazer-nos rir:

- A Rússia não pode ameaçar um vizinho, ocupar uma capital e derrubar um governo. As coisas mudaram.

Timing perfeito. Ironia ácida. Um talento nato da comédia.

Condie no Zorra Total!

Tuesday, August 05, 2008

Baudelaire

Ano passado, um parceiro meu foi fazer uma baixaria lá naquela festa à fantasia de Lajeado e acabou virando amigo do guia do ônibus. Pouco depois, adicionou o cara no orkut e viu um texto no perfil do magrão, que falava sobre como era bom ser bêbado. Esse meu parceiro me enviou o texto, que achei fantástico. Idiota, não me atinei de ir atrás e descobrir se o cara era mesmo o autor. Acabei deixando por isso mesmo, acreditando que tinha achado um talento perdido da literatura. Eis que dia desses, circulando pelos blogs de gente conhecida, caio no da Fala Garoto, Fala Garota da Andressa e encontro o texto do tal do guia, dessa vez com assinatura. Quem? Ninguém menos que Charles Baudelaire, poeta francês do século XIX. Seguem as linhas, uma verdadeira ode à boêmia, que, sim, leva acento.

É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso: eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar. Mas - de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contudo que vos embriagueis. E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de responder: - É a hora de embriagar-se! Para não serdes os martirizados escravos do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
BAUDELAIRE (1869)

Quem sou eu pra discordar?