O Pedido
- Ei! Acorde!
- Hmmm...
- Acorde, vamos!
- Quê...
- Preciso falar com você.
- Quem... quem é você? Que lugar é esse? Por que eu estou amarrado?
- Está amarrado porque fui contratado pela empresa de cordas para testar o novo produto deles.
- Sério?
- Claro que não! Está amarrado pra não fugir.
- Por que eu fugiria? Quem é você?
- Eu sou Férsio. Sou um vampiro.
- Um vampiro?
- Sim.
- Do tipo que vira morcego, foge de cruz e tem medo de alho?
- Não, isso só existe no cinema.
- Então o que um vampiro de verdade faz?
- Tudo o que aparece no cinema menos as coisas que você citou.
- Quer dizer que você é um cara imortal, que se alimenta de sangue e não pode sair ao sol?
- Isso mesmo. Você esqueceu de dormir em caixão.
- Você dorme em caixão?
- Não. Até tentei, mas me dá dor nas costas. Depois de alguns séculos por aí, é normal a coluna falhar um pouco.
- Você dorme onde?
- Comprei uma cama king size, com colchão terapêutico, numa promoção há três meses.
- E o que tem de vampiresco nisso?
- Um vampiro dorme nela, ué.
- Não acredito em vampiros.
- Eu sei, ninguém acredita. Mas a gente existe.
- Prova.
- Olha aqui.
- Os caninos? Isso não prova nada. Tenho um amigo que tem esses dentes pontudos também, mas nunca vi ele dormindo num caixão.
- Eu não durmo em caixão.
- Tá, nunca vi ele dormindo numa cama king size.
- E o que isso tem a ver?
- Ele dorme numa cama de solteiro.
- Mas ele não é vampiro. Eu sou.
- Prova.
- A única forma de eu provar é sugar teu sangue. Não vou fazer isso.
- Então...
- Olha aqui! Eu não preciso provar pra você que sou um vampiro. Eu sou e pronto. Trouxe-o aqui para você fazer algo pra mim.
- Tá, vamos fazer de conta que acredito que você é vampiro de verdade. O que quer que eu faça?
- Quero que me mate.
- Sério!?
- Sim.
- Por quê?
- Porque não quero mais viver, ora. Por que mais alguém pede pra morrer?
- Mas por que você quer morrer? Ser vampiro deve ser legal.
- Legal... É legal no início. Depois vira um saco.
- Saco por quê? Ser imortal, ter força sobre-humana... Eu sempre quis ser um.
- Pois é, essa história de glamour é equivocada. Coisa que o cinema botou na cabeça das pessoas. Ser vampiro é um fardo.
- Olha, se você quer que eu o mate, explique-me porquê.
- Tá certo, você tem esse direito. Olha pra mim um pouco. Tá me achando um cara charmoso e bem arrumado?
- Não, na verdade você parece um mendigo.
- Claro. A gente não tem reflexo no espelho. Sabe o que é isso? Jamais conseguir me arrumar sem alguém pra me ajudar. Não consigo enxergar a minha própria aparência. Condenado a ser feio por toda a eternidade.
- Mas é só por isso? Contrata uma maquiadora e deu.
- Não é só isso. Eu tenho mais de duzentos e cinqüenta anos. Estou aqui desde antes da Revolução Francesa. Desde antes da Independência do Brasil. Já vi demais deste mundo. Cansei. Ao invés de melhorar, o mundo fica cada vez pior. Não dá pra competir com essa concorrência.
- Tem muitos outros vampiros por aí?
- Até tem, mas não é a questão. A concorrência que digo são dos próprios seres humanos. Eles são mais vampiros que nós. A gente só suga sangue das pessoas para sobreviver. Eles, vocês, sugam tudo do mundo pela própria ganância.
- Mas e daí? Eu também vejo isso todos os dias e não quero me matar.
- Você viu isso por vinte e sete anos da sua vida. Eu vi por duzentos e setenta e três. Vi e vivi a pequenez do homem por tempo demais. Cansei.
- Entendo.
- Claro, tem ainda outras coisas, como a solidão. Até consigo ir a festas a fantasia e levar garotas pra um motel. Vampiro tem necessidades. Mas...
- Mas o quê?
- Mas eu sempre tenho que sair antes do sol nascer. Aí depois elas me ligam perguntando por que eu fugi e coisa e tal. Vou responder o quê? Que sou um vampiro?
- E como você quer que eu o mate?
- Do único jeito que a gente pode morrer.
- Alho?
- Claro que não. Odeio alho, mas não me faz mal nenhum. Odeio porque me deixa com mau hálito.
- Então como?
- Estaca.
- Estaca?
- Estaca. Bem no meu coração.
- Então nisso Hollywood acertou.
- Sim, estaca funciona.
- E por que eu? Por que eu fui o escolhido para matar você?
- Porque você é meu último descendente.
- Quê? Como assim?
- Sim, é verdade. Tenho acompanhado minha família ao longo dos séculos. Até aqui. Eu sou seu sei lá quantos tataravô.
- Não acredito.
- É verdade.
- E só alguém da família pode matar um vampiro?
- Claro que não. Da onde você tirou isso?
- Sei lá, eu pensei que...
- Não, nada a ver. Pára de falar merda. Qualquer um pode matar um vampiro.
- Então?
- Só quero que seja alguém da família.
- Mas não te considero família.
- Não me interessa o que você considera ou não. Você é da família. Quero ser liberado por alguém do meu próprio sangue.
- Sim. Tenho alguma opção?
- Claro.
- Qual?
- Ou me mata ou eu sugo teu sangue.
- Não são exatamente duas boas escolhas.
- É a vida.
- Ok, eu faço.
- Muito obrigado.
- Mas com uma condição.
- Qual?
- Ficar amarrado aqui me deixou com uma dor nas costas.
- E?
- Depois que você morrer, posso ficar com sua cama king size?
- Hmmm...
- Acorde, vamos!
- Quê...
- Preciso falar com você.
- Quem... quem é você? Que lugar é esse? Por que eu estou amarrado?
- Está amarrado porque fui contratado pela empresa de cordas para testar o novo produto deles.
- Sério?
- Claro que não! Está amarrado pra não fugir.
- Por que eu fugiria? Quem é você?
- Eu sou Férsio. Sou um vampiro.
- Um vampiro?
- Sim.
- Do tipo que vira morcego, foge de cruz e tem medo de alho?
- Não, isso só existe no cinema.
- Então o que um vampiro de verdade faz?
- Tudo o que aparece no cinema menos as coisas que você citou.
- Quer dizer que você é um cara imortal, que se alimenta de sangue e não pode sair ao sol?
- Isso mesmo. Você esqueceu de dormir em caixão.
- Você dorme em caixão?
- Não. Até tentei, mas me dá dor nas costas. Depois de alguns séculos por aí, é normal a coluna falhar um pouco.
- Você dorme onde?
- Comprei uma cama king size, com colchão terapêutico, numa promoção há três meses.
- E o que tem de vampiresco nisso?
- Um vampiro dorme nela, ué.
- Não acredito em vampiros.
- Eu sei, ninguém acredita. Mas a gente existe.
- Prova.
- Olha aqui.
- Os caninos? Isso não prova nada. Tenho um amigo que tem esses dentes pontudos também, mas nunca vi ele dormindo num caixão.
- Eu não durmo em caixão.
- Tá, nunca vi ele dormindo numa cama king size.
- E o que isso tem a ver?
- Ele dorme numa cama de solteiro.
- Mas ele não é vampiro. Eu sou.
- Prova.
- A única forma de eu provar é sugar teu sangue. Não vou fazer isso.
- Então...
- Olha aqui! Eu não preciso provar pra você que sou um vampiro. Eu sou e pronto. Trouxe-o aqui para você fazer algo pra mim.
- Tá, vamos fazer de conta que acredito que você é vampiro de verdade. O que quer que eu faça?
- Quero que me mate.
- Sério!?
- Sim.
- Por quê?
- Porque não quero mais viver, ora. Por que mais alguém pede pra morrer?
- Mas por que você quer morrer? Ser vampiro deve ser legal.
- Legal... É legal no início. Depois vira um saco.
- Saco por quê? Ser imortal, ter força sobre-humana... Eu sempre quis ser um.
- Pois é, essa história de glamour é equivocada. Coisa que o cinema botou na cabeça das pessoas. Ser vampiro é um fardo.
- Olha, se você quer que eu o mate, explique-me porquê.
- Tá certo, você tem esse direito. Olha pra mim um pouco. Tá me achando um cara charmoso e bem arrumado?
- Não, na verdade você parece um mendigo.
- Claro. A gente não tem reflexo no espelho. Sabe o que é isso? Jamais conseguir me arrumar sem alguém pra me ajudar. Não consigo enxergar a minha própria aparência. Condenado a ser feio por toda a eternidade.
- Mas é só por isso? Contrata uma maquiadora e deu.
- Não é só isso. Eu tenho mais de duzentos e cinqüenta anos. Estou aqui desde antes da Revolução Francesa. Desde antes da Independência do Brasil. Já vi demais deste mundo. Cansei. Ao invés de melhorar, o mundo fica cada vez pior. Não dá pra competir com essa concorrência.
- Tem muitos outros vampiros por aí?
- Até tem, mas não é a questão. A concorrência que digo são dos próprios seres humanos. Eles são mais vampiros que nós. A gente só suga sangue das pessoas para sobreviver. Eles, vocês, sugam tudo do mundo pela própria ganância.
- Mas e daí? Eu também vejo isso todos os dias e não quero me matar.
- Você viu isso por vinte e sete anos da sua vida. Eu vi por duzentos e setenta e três. Vi e vivi a pequenez do homem por tempo demais. Cansei.
- Entendo.
- Claro, tem ainda outras coisas, como a solidão. Até consigo ir a festas a fantasia e levar garotas pra um motel. Vampiro tem necessidades. Mas...
- Mas o quê?
- Mas eu sempre tenho que sair antes do sol nascer. Aí depois elas me ligam perguntando por que eu fugi e coisa e tal. Vou responder o quê? Que sou um vampiro?
- E como você quer que eu o mate?
- Do único jeito que a gente pode morrer.
- Alho?
- Claro que não. Odeio alho, mas não me faz mal nenhum. Odeio porque me deixa com mau hálito.
- Então como?
- Estaca.
- Estaca?
- Estaca. Bem no meu coração.
- Então nisso Hollywood acertou.
- Sim, estaca funciona.
- E por que eu? Por que eu fui o escolhido para matar você?
- Porque você é meu último descendente.
- Quê? Como assim?
- Sim, é verdade. Tenho acompanhado minha família ao longo dos séculos. Até aqui. Eu sou seu sei lá quantos tataravô.
- Não acredito.
- É verdade.
- E só alguém da família pode matar um vampiro?
- Claro que não. Da onde você tirou isso?
- Sei lá, eu pensei que...
- Não, nada a ver. Pára de falar merda. Qualquer um pode matar um vampiro.
- Então?
- Só quero que seja alguém da família.
- Mas não te considero família.
- Não me interessa o que você considera ou não. Você é da família. Quero ser liberado por alguém do meu próprio sangue.
- Sim. Tenho alguma opção?
- Claro.
- Qual?
- Ou me mata ou eu sugo teu sangue.
- Não são exatamente duas boas escolhas.
- É a vida.
- Ok, eu faço.
- Muito obrigado.
- Mas com uma condição.
- Qual?
- Ficar amarrado aqui me deixou com uma dor nas costas.
- E?
- Depois que você morrer, posso ficar com sua cama king size?
1 Comments:
hauauahuahuahua xD
Gostei!
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