Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Thursday, February 22, 2007

Presente de Casamento

Esperara aquele dia por toda a sua vida. No entanto, o sentimento ao acordar não era felicidade, mas nervosismo. De súbito, dúvidas e perguntas iniciaram um passeio tortuoso por sua mente. Estaria fazendo a opção certa? Seria aquele o homem com quem gostaria de passar o resto de sua vida? Pôs-se a pensar também nos casos antigos, em todos os homens que passaram por sua cama. Lembrou dos longos relacionamentos que teve. E pensou em quantos destes homens ainda a amavam. Quantos poderia ter de volta com um simples estalar de dedos. Ainda havia tempo de desistir. Mas não, não poderia. Ele era o homem da sua vida. Tinha certeza disso, apenas havia sido assolada por uma dúvida comum a esse dia. Algo pelo qual todos os noivos e noivas deste mundo certamente passam. Caminhou de pantufas e pijama pela casa, alimentou seu cachorro, preparou o café da manhã. Olhou em torno, pensando que, daquele dia em diante, aquela não seria mais apenas a sua casa. Não mais apenas a sua vida. Abriu a porta da sala para buscar o jornal. Que notícias traria o periódico no dia de seu casamento?, perguntava-se dominada pela curiosidade. No tapete no qual lia-se a palavra “Bem-Vindo” em cores verdes, ao lado do jornal, havia uma caixa. Deixou as notícias e colunas de lado e levantou o recipiente, do tamanho de uma caixa de sapatos. Totalmente branco, sem nenhuma pista do remetente ou do conteúdo. Fechou a porta atrás de si e trouxe o objeto para dentro de casa. Em estado de êxtase, não cogitou ser algo perigoso. Pôs a caixa sobre a mesa de jantar e lentamente, começou a abri-la. Quando viu que ela carregava, levantou-se com a mão no peito. O grito não saíra, trancado na garganta. A boca aberta exprimia o horror. Recuperada do susto, aproximou-se da caixa mais uma vez. Era mesmo um coração. Humano, provavelmente. Ainda molhado pelo sangue. Notou um pedaço de papel preso a um dos lados da caixa. Arrancou-o e trouxe para perto dos olhos. Apenas uma frase, escrita à mão:

“Um presente de casamento à eterna dona do meu coração.”

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