Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, January 22, 2008

Debate Ianque

Ontem à noite, logo após deitar-me no colchão com o meu formato para o merecido descanso que os trabalhadores merecem, dei uma zapeada pela NET para os últimos momentos de consciência do dia. Quando achava que nada de interessante apareceria, eis que meu incontrolável dedo zapeador cessa de se movimentar na CNN, aquele canal de notícias norte-americano que todo mundo conhece. Ao vivo, o que a TV a cabo me trazia naquele momento era um debate entre os três candidatos democratas ao cargo mais poderoso do mundo.

Não sei se é de conhecimento de todos a forma de eleição nos Estados Unidos. Basicamente, funciona assim: existem dois partidos, o Republicano (do “presidente da guerra” George W. Bush) e o Democrata (o do debate). Antes do embate entre os dois partidos, ocorre uma série de preliminares entre candidatos do próprio partido, na qual o povo escolhe qual o melhor representante republicano e qual o melhor representante democrata. Apenas depois tem lugar a votação para presidente.

Pois então, o acontecimento de ontem era mais um debate entre os candidatos democratas, Hillary Clinton, Barack Obama e John Edwards. Acredito que comecei a assistir o programa a partir da metade, ou talvez um pouco mais para o fim, e foi possível perceber algumas coisas sobre as eleições que vão ditar o rumo do planeta pelos próximos anos.

Em primeiro lugar, não há mais espaço para os republicanos. Tudo bem que o debate de ontem à noite era exclusivamente democrata e, por conseqüência, obviamente não haveria elogios à política de Bush. Mas a sucessiva quantidade de cagadas do George Jr., levando-o a um baixíssimo índice de popularidade, tornou-se insustentável. Como disse Obama no imbróglio de ontem: “Se tem uma coisa boa que Bush e Cheney fizeram foi dar uma péssima reputação ao Partido Republicano”.

Isso indica que, caso não ocorram falcatruas (Bush em 2000?) ou alguma reviravolta, o próximo presidente norte-americano será um democrata: Hillary, Obama ou Edwards. Dentro destes, acho que podemos descartar o terceiro. Chega a ser estranho o que está acontecendo, mas o único homem branco entre os candidatos é, claramente, aquele que possui menos forças. Por mais que pareça um homem correto e bem articulado (admito que pouco conheço de sua história), Edwards empalidece diante da oratória, carisma e apelo de Hillary e Obama.

E isto ficou bem claro ontem. Enquanto a sra. Clinton e Barack duelavam, o branquelo lutava para achar algum espaço para falar. Chegou, inclusive, a falar para o moderador: “Não esqueçamos que existem três pessoas aqui, não duas”. Mas é inevitável. Como as três preliminares até o momento demonstram (uma vitórias de Obama e duas de Hillary), Edwards é apenas um enfeite. Pela primeira vez na história, os Estados Unidos terão um presidente, digamos, inédito: ou a mulher Hillary Clinton ou o negro Barack Obama.

A questão, assim, é qual dos dois será o vencedor. Hillary tem um ponto fortíssimo ao seu favor, que é o fato de ser casada com Bill Lewinksy, ainda considerado como um presidente que fez muito pelos Estados Unidos. Não por acaso, Bill está participando fortemente da campanha da esposa, o que gerou até comentários de Obama: “Às vezes não sei contra quem estou concorrendo”. Por mais que Barack tente diminuir o apoio do ex-presidente, é fato que Clinton possui diversos admiradores e que boa parte destes optarão pela senadora unicamente em função deste fato.

Além disso, existe o que antes eu chamei de “ineditismo”, ou seja, o fato de Hillary ser mulher e ter o voto destas. Esta foi uma tecla muito batida no debate de ontem. No palco, não pareciam três candidatos norte-americanos, mas três representantes de grupos diferentes: as mulheres, os negros e os brancos. Todos tentaram reduzir a dimensão do fato, dizendo que o que importa é o melhor para o país, mas é inegável que esta “diferenciação” vai pesar – e muito – no resultado final das eleições.

Uma das perguntas foi para Hillary foi, inclusive, sobre a relação de seu ex-marido com a comunidade negra e em como isso poderia beneficiá-la. Mais especificamente, a questão era: “Bill Clinton pode ser considerado o primeiro presidente negro dos Estados Unidos?” A resposta politicamente correta da senadora foi ofuscada pela presença de espírito de Obama: “Claro que Bill Clinton fez muito pelos negros. Mas para afirmar isto eu teria que levar em conta outros fatores, como a capacidade dele de dançar. Só assim poderia considerá-lo um irmão”, disse, arrancando riso da platéia.

Este, aliás, é um ponto a favor de Obama. Em oposição à sisudez de Hillary e ao aspecto playboy de Edwards, Obama é quem tem mais carisma entre os candidatos. Apesar de sério em seu discurso sobre projetos de governo, o senador não perde a chance de fazer brincadeiras, o que certamente é um apelo junto aos eleitores, uma vez que o aproxima destes.

Ainda acontecerão mais algumas preliminares – não sei ao certo quantas – antes da definição do candidato democrata. Edwards poderia descansar desde já, evitando o cansaço das viagens, pois a briga está realmente entre Obama e Hillary. Parece que vai ser parelho até o fim. Mesmo assim, pelo que se viu até agora e pelo que se conhece dos candidatos, o povo americano e, conseqüentemente, o planeta todo vai sair ganhando. Qualquer um dos dois tem o perfil e a capacidade para realizar um bom governo e tentar apagar a péssima imagem que o reinado de terror de George W. Bush construiu em oito longos anos.

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