Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, May 01, 2006

Filmes de Abril


KUNG FUSÃO (GONG FU) – China/Hong Kong, 2004 ***
De Stephen Chow. Com Stephen Chow, Xiaogang Fen, Wah Yuen e Zhi hua Dong.

Depois de realizar o cultuado Shaolin Soccer, Stephen Chow ataca com essa comédia sobre artes marciais. Apesar da ótima reputação que vem recebendo, o filme não passa de uma diversão bacana, mas cheia de falhas. Há momentos genuinamente engraçados, porém, a obra parece não se decidir entre seguir uma linha séria ou cômica. Além disso, o excesso de efeitos especiais acaba cansando. Funciona, mas é totalmente esquecível.

ONG-BAK – GUERREIRO SAGRADO (ONG-BAK) – Tailândia, 2003 ***
De Prachya Pinkaew. Com Tony Jaa, Petchtai Wongkamlao, Pumwaree Yodkamol e Suchao Pongwilai.

Surpreendente filme de ação oriental, com algumas das melhores cenas de luta dos últimos anos. Seguindo o rumo contrário à tendência hollywoodiana de fazer combates repletos de efeitos especiais, a ação em Ong-Bak é incrivelmente visceral e realista. O espectador chega a se perguntar como as cenas são feitas, tamanho o impacto. O protagonista Tony Jaa tem boa presença, mas a obra perde pela trama simplista demais.

LAVOURA ARCAICA – Brasil, 2001 *****
De Luiz Fernando Carvalho. Com Selton Mello, Raul Cortez, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Caio Blat.

Poesia, lirismo e beleza se encontram nessa complexa produção nacional. O diretor Carvalho realizou um trabalho de magnitude exemplar, contando em três horas uma história repleta de camadas e interpretações. Tecnicamente arrebatador, Lavoura Arcaica é uma obra hipnótica, que carrega o espectador por cenas irrepreensíveis e de uma beleza nunca – ou poucas vezes – antes vista no cinema brasileiro. Uma obra-prima.

A VIDA E MORTE DE PETER SELLERS (THE LIFE AND DEATH OF PETER SELLERS) – EUA/Inglaterra, 2004 **
De Stephen Hopkins. Com Geoffrey Rush, Emily Watson, Charlize Theron, John Lithgow e Stanley Tucci.

Apesar de Geoffrey Rush incorporar o personagem principal com maestria, A Vida e Morte de Peter Sellers afunda em um roteiro burocrático e uma direção sem inspiração alguma da parte de Hopkins. A trama limita-se a apresentar alguns fatos da vida do ator, sem jamais seguir uma estrutura coerente. Com isso, jamais se conhece quem realmente foi Sellers e o filme cansa a partir dos 30 minutos. Uma pena.

A CASA DE CERA (HOUSE OF WAX) – EUA, 2005 **
De Jaume Collet-Serra. Com Elisha Cuthbert, Chad Michael Murray, Brian Van Holt e Paris Hilton.

Filme de terror completamente sem cérebro, que abusa de todos os clichês do gênero, como a mocinha subir pelas escadas quando deveria sair pela porta e o vilão que parece não morrer nunca. Apesar da idiotice e da boa premissa desperdiçada, o filme vai agradar aos fãs, pois oferece algumas cenas bacanas, especialmente as de morte (duas, pelo menos, vão levar os mais sádicos à loucura), e ainda traz a linda e competente Elisha Cuthbert no elenco.

O GALINHO CHICKEN LITTLE (CHICKEN LITTLE) – EUA, 2005 ***
De Mark Dindal. Com as vozes de Zach Braff, Garry Marshall, Don Knots, Patrick Stewart, Steve Zahn e Joan Cusack.

Mesmo não chegando aos pés de outras animações como Procurando Nemo, Shrek e Monstros S. A., O Galinho Chicken Little ainda funciona. Ao contrário das outras recentes produções do gênero, esta é mais voltada ao público infantil. A história é meio bagunçada, mas há algumas boas piadas e personagens. Não ofende ninguém, mas também não traz nada que justifique alguém acima de 12 anos assisti-lo.

A LENDA DO ZORRO (THE LEGEND OF ZORRO) – EUA, 2005 **1/2
De Martin Campbell. Com Antonio Banderas, Catherine Zeta-Jones, Rufus Sewell e Adrian Alonso.

Ainda que traga o mesmo elenco e diretor, A Lenda do Zorro fica muito aquém da qualidade atingida na obra anterior. A história não convence em momento algum e, apesar de algumas boas cenas de ação, falta charme e irreverência ao personagem. Além disso, Banderas e Zeta-Jones parecem ter perdido toda a química que fez o original tão especial.

QUATRO IRMÃOS (FOUR BROTHERS) – EUA, 2005 ***
De John Singleton. Com Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, Andre Benjamin, Garrtett Hedlund, Terrence Howard e Fionnula Flanagan.

Ainda que haja a tentativa de oferecer um núcleo emocional à história de Quatro Irmãos, o filme resulta em algo distante do espectador. A trama é enxuta e os personagens são interessantes, com bons intérpretes. No entanto, a centro sentimental, ponto de partida de tudo o que acontece no filme, acaba falhando. Quatro Irmãos é uma produção correta, eficiente, mas que jamais alcança um vôo mais alto.

O MATADOR (THE MATADOR) – EUA/Alemanha/Irlanda, 2005 ***1/2
De Richard Shepard. Com Pierce Brosnan, Greg Kinnear, Hope Davis e Phillip Baker Hall.

Interessantíssima produção independente, que parte de uma boa premissa para realizar um bom estudo de personagens. Brosnan está impecável na caracterização do assassino que faz amizade com um “homem comum” e carrega bem o filme. A história demora um pouco para encontrar seu ritmo, crescendo bastante de qualidade a partir da metade final. Merece uma chance.

O JARDINEIRO FIEL (THE CONSTANT GARDENER) – Inglaterra/Alemanha, 2005 ***
De Fernando Meirelles. Com Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Kounde, Danny Huston e Bill Nighy.

Talvez o filme mais superestimado do ano passado, ao lado de Brokeback Mountain. O novo trabalho de Fernando Meirelles fica anos-luz aquém de Cidade de Deus. Ainda que tenha boas idéias e intenções nobres, a história é arrastada e embolada demais, prejudicando o ritmo. O roteirista parece ter encontrado dificuldades em colocar todos os fatos em duas horas. Além disso, a montagem em flashback pouco acrescenta, soando como mero capricho. Mas o filme funciona em termos gerais, graças ao apuro técnico de Meirelles e a ótima atuação de Weisz, apaixonante no papel de Tessa.

THE COMMITMENTS – LOUCOS PELA FAMA (THE COMMITMENTS) – Irlanda/Inglaterra/EUA, 1991 ****
De Alan Parker. Com Robert Arkins, Michael Aherne, Angeline Ball, Maria Doyle Kennedy, Dave Finnegan, Johnny Murphy, Andrew Strong e Colm Meaney.

Este cultuado filme continua divertido e empolgante. Parker conseguiu encontrar o tom certo da narrativa, criando um grupo de personagens adoráveis e realistas. Ainda que a história seja mais do que comum (ascensão e queda da banda), a obra é cativante, especialmente pela irrepreensível trilha sonora que traz clássicos como Mustang Sally. Despretensioso e divertido.

SOB O DOMÍNIO DO MAL (THE MANCHURIAN CANDIDATE) – EUA, 1962 ****1/2
De John Frankenheimer. Com Laurence Harvey, Frank Sinatra, Ângela Lansbury, Janet Leigh e Henry Silva.

Clássico absoluto do cinema americano – e com justiça. A obra de Frankenheimer continua surpreendendo pelo roteiro enxuta e a direção tensa, que explora ao máximo as possibilidades da história. Com grandes atuações do elenco, Frankenheimer criou um filme que conseguiu superar os possíveis problemas de ser sobre uma época determinada. Ainda que não seja atual, continua uma grande obra cinematográfica.

A NOITE DO DIA SEGUINTE (THE NIGHT OF THE FOLLOWING DAY) – EUA/Inglaterra, 1968 **
De Hubert Cornfield. Com Marlon Brando, Richard Boone, Rita Moreno e Pamela Franklin.

Filme irregular, cujo maior atrativo é mesmo a presença de Brando. A história do seqüestro não é ruim, mas peca pala falta de ambição ao não tentar nada de mais. No final, é uma trama que simplesmente não necessitava ser contada. Mas Brando está bem como sempre, com seu magnetismo comum e construindo um personagem interessante.

ESPÍRITOS – A MORTE ESTÁ AO SEU LADO (SHUTTER) – Tailândia, 2004 ***
De
Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Com Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana e Unnop Chanpaibool.
Espíritos tem qualidade superior à maioria dos filmes de terror saídos dos EUA, mas ainda assim não consegue grande destaque. A história possui algumas camadas que vão se revelando (inclusive o ótimo e surpreendente final) e a direção é eficiente, criando boas cenas do gênero. Mas há excessos também e certos momentos parecem mais cômicos do que assustadores.

HERÓIS IMAGINÁRIOS (IMAGINARY HEROES) – EUA, 2004 ****
De Dan Harris. Com Sigourney Weaver, Emile Hirsch, Jeff Daniels, Michelle Williams e Kip Pardue.

Sigourney Weaver é a grande atração deste filme pequeno e interessante. Apoiando-se exclusivamente no roteiro, Dan Harris cria um grupo de personagens interessantes na história de uma família desestruturada, mantendo sempre um olhar irônico e devastador sobre as relações familiares. O humor corrosivo chega a incomodar. O elenco está ótimo, com destaque para Weaver, que encontra o equilíbrio entre o drama e comédia.

ARMAÇÕES DO AMOR (FAILURE TO LAUNCH) – EUA, 2006 *1/2
De Tom Dey. Com Matthew McCounaghey, Sarah Jessica Parker, Kathy Bates e Zooey Deschanel.

Porcaria. Uma comédia romântica que não oferece nada de novo, com um roteiro formulaico e cheio de clichês. De quebra, o casal principal não convence, principalmente devido à chatíssima Parker, e o roteiro não oferece uma piada inspirada. Salvam-se apenas o carisma de McCounaghey e a sempre ótima presença de Bates.

O BOULEVARD DO CRIME (LES ENFANTS DU PARADIS) – França, 1945 ****1/2
De Marcel Carné. Com Jean Louis-Barralt, Arletty, Pierre Brasseur, Pierre Renoir e Maria Casares.

Grandioso e praticamente irrepreensível clássico do cinema francês. A história de amor entre Baptiste, Garrance e Frederik tem todos os ingredientes de uma obra imortal sobre o amor. As três horas de produção exploram todas as camadas possíveis do riquíssimo roteiro, que oferece diálogos belíssimos que apenas engrandecem o filme. A longa duração, contudo, acaba cansando em certos momentos, mas nada que prejudique a apreciação desta obra magnífica.

O SENHOR DAS ARMAS (LORD OF WAR) – EUA, 2005 ****
De Andrew Niccol. Com Nicolas Cage, Jared Leto, Bridget Moynahan, Ian Holm e Ethan Hawke.

Não fosse algumas derrapadas do diretor e roteirista Niccol, O Senhor das Armas poderia facilmente ter se tornado um filme seminal sobre os tempos atuais. Com um ótimo roteiro, repleto de diálogos contundentes, o cineasta apresenta ao espectador o mundo do funcionamento do tráfico de armas, sempre de forma enérgica e agradável de assistir. Há belíssimos momentos, como a cena dos créditos inicias, mas deslizes como a obviedade do tratamento oferecido à relação do personagem principal com a família. No final, um filme muito acima da média, mas ainda não tudo o que poderia ter sido.

NA RODA DA FORTUNA (THE HUDSUCKER PROXY) – EUA, 1994 ****
De Joel Coen. Com Tim Robbins, Paul Newman, Jennifer Jason Leigh, Bill Cobbs e Bruce Campbell.

Com a marca característica dos filmes do irmãos Coen, Na Roda da Fortuna é um espetáculo de estilo e requinte visual, com uma história repleta de bons personagens e intenções. A sátira dos cineastas ao inescrupuloso mundo dos negócios funciona em termos gerais, graças também às ótimas atuações de Robbin, Leigh e Newman. Não é o melhor filme dos Coen, mas oferece o olhar diferenciado que fizeram deles dois dos realizadores mais cultuados do cinema atual.

MADRUGADA DOS MORTOS (DAWN OF THE DEAD) – EUA, 2004 ****
De Zack Snyder. Com Sarah Polley, Ving Rhames, Jake Weber, Mekhi Phifer e Michael Kelly.

Mesmo sendo cria de um dos gêneros mais surrados do cinema americano, Madrugada dos Mortos é incrivelmente eficiente. O diretor Snyder evita as enrolações entrega exatamente aquilo que o espectador quer: violência e muito sangue. Além disso, o roteiro surpreende pela inteligência, ao dedicar tempo suficiente para o espectador conhecer os personagens, além de surpreender pelo destino dado a alguns deles. Nervoso, tenso e plenamente satisfatório dentro de seus propósitos.

INSTINTO SELVAGEM 2 (BASIC INSTINCT 2) – EUA/Alemanha/Espanha/Inglaterra ***
De Michael Caton-Jones. Com Sharon Stone, David Morrissey, Charlotte Rampling e David Thewlis.

O maior problema de Instinsto Selvagem 2 é a falta de coragem do diretor Michael Caton-Jones. O roteiro tem alguns problemas, mas constrói um interessante jogo psicológico orquestrado por Catherine Tramell. A personagem, aliás, é outro acerto, sendo bem incorporado pela deslumbrante Sharon Stone. Pena que o cineasta pelo excesso de pudor, evitando as cenas mais picantes fundamentais no jogo de Tramell. Além disso, o protagonista Morrissey é completamente inexpressivo. Mas, apesar de ser mais fraco que seu antecessor, Instinto Selvagem 2 funciona.

FLORES PARTIDAS (BROKEN FLOWERS) – EUA/França, 2005 **1/2
De Jim Jarmusch. Com Bill Murray, Sharon Stone, Tilda Swinton, Jessica Lange, Jeffrey Wright e Julie Delpy.

O ultimo filme do cultuado Jim Jarmusch é um interessante exercício de abordagem. Apoiado nas costas de Bill Murray, mais uma vez excelente equilibrando melancolia com comicidade, a obra demonstra a maturidade de um cineasta que não apela para soluções fáceis, evitando clichês do gênero. Flores Partidas, contudo, sofre pelo ritmo incrivelmente arrastado. Contemplativo demais, o filme dilui as boas idéias em uma narrativa chata e enfadonha.

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