De homem pra Homem
Quem sou eu pra dar-lhe uma lição de moral? Não sou nem um espermatozóide se comparado ao tempo em que você já está aqui. Incrível é que, mesmo assim, não tem como não comentar algo. Como poderia ficar quieto se, aos vinte e três anos, já percebo tudo o que você já fez? Não sei de onde você veio. Na verdade, ninguém sabe. Mas isso não vem ao caso. A questão é aquilo que você se tornou. Alguém traiçoeiro, cínico, em quem não se pode confiar. Em quem sempre deve se olhar com receio, com medo ser passado pra trás. Porque, no fundo, é isso que você é. Alguém que faz o pode, atua, finge, engana, para conseguir o melhor para si. Para levar vantagem. E, se isso não acontece, o que ocorre? Raiva, descarga de ira, fúria insensata. Se não vai pelo bem, vai pelo mal. Não é esse o seu lema? Não é esse preceito que você segue durante toda a sua vida? Pode não acreditar, pode até não se dar conta disso, em uma espécie de auto-engano, mas é bem assim. Tudo se resume a você, ao que você quer. E quer saber o pior? Essa ira toda acaba descarregada em quem? Em você mesmo. Sim, o único prejudicado nessa história é você. Que fica cortando a si mesmo com facas afiadas, que fica colocando balas de sua própria testa, que fica jogando bombas em seu próprio corpo. Não posso nem dizer se foi sempre assim ou não, porque, como já disse, estou aqui há pouco tempo. Mas duvido que, no princípio, lá no início de tudo, você fosse tão dissimulado assim. Que fosse tão auto-centrado e que as coisas que mais valorizasse fossem aquelas que não precisava. Duvido muito. Mas assim é hoje e assim vai ser por muito tempo. Porque não é fácil mudar. Não mesmo. Toda mudança é gradual, é lenta e exige muito esforço. Esforço que, convenhamos, você não gosta e não tem a menor vontade de fazer. E o resultado disso? Continuará desse jeito que você é: alguém frustrado, perdido, procurando por algo a se agarrar. Criando novas ilusões, fabricando inauditas quimeras, sempre pra acreditar que está tudo bem. Não está. Há muito, muito mesmo pra melhorar. Só que enquanto não cair esse véu, comandado por ninguém menos que você mesmo, a letargia que hoje o domina vai continuar viva. Enquanto você continuar agindo como um inócuo hospedeiro, a inércia vai continuar agindo como uma parasita. Pense um pouco na sua vida cheia de hipocrisia, cheia de falsidade contra si mesmo e chegue, de uma vez por todas à única conclusão possível: se for para agir assim, você não merece estar aqui. Não merece tudo isso que tem. Não merece, principalmente, ter essa capacidade única de compreender tudo isso. Mas engano-me. Não compreende. Se compreendesse não teria se tornado quem você é hoje. É uma pena, mas é a mais pura verdade. E sabe o que mais dói? Saber que somos o mesmo.
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