A Bíblia
O mês de outubro deste ano é, desde já, um marco para qualquer brasileiro adepto do rock n’ roll. A Rolling Stone, revista mais influente do gênero há quase 40 anos, acaba de ter sua primeira edição lançada no Brasil. Acredito que, a essa altura, todo mundo já tenha ouvido falar na Rolling Stone. Se não ouviu, certamente já viu alguma de suas capas que entraram para a história, como John Lennon nu com Yoko ou Bart Simpson recriando o álbum Nevermind do Nirvana.
Muito mais do que as capas, foi o conteúdo que fez da Rolling Stone praticamente uma bíblia mensal dos roqueiros de todo o mundo. As reportagens, entrevistas e outras matérias da publicação são documentos históricos da evolução do gênero musical ao longo destas quatro décadas. Na verdade, não sei se evolução seria a palavra certa, uma vez que o rock parece perder um pouco de sua verdadeira essência a cada ano.
Os fãs mais ardorosos e antigos da revista reclamam que a Rolling Stone não é a mesma que foi nos anos 60 e 70, tendo-se rendido ao aspecto comercial. Pode até ser verdade, mas uma análise mais cuidadosa certamente vai revelar que a culpa não é dos editores e responsáveis pela Rolling Stone. A revista não perdeu sua postura de irreverência e crítica. Quem mudou foi o rock.
Quando a Rolling Stone surgiu, em 1967, o rock passava pelo seu momento mais importante. Não mais uma novidade, o gênero havia se transformado em um estilo de vida a ser seguido pelos jovens da época. A década mais atribulada do século passado tinha, como tema principal, a palavra contestação. Guerra do Vietnã, luta pelos direitos, racismo, tudo colaborava para um clima de insatisfação geral, resultando em uma geração que realmente acreditava ser capaz de mudar o mundo.
E o rock veio diretamente ao encontro disso. Por meio dele, um sem-número de pessoas encontrou uma forma de se expressar, de criticar e de mudar. Naqueles dias, o rock não era apenas um gênero musical, mas o caminho para uma revolução. Uma solução pacífica, mas poderosa, para reformular mentes e valores que se julgavam maculados. O que os jovens daquela época faziam era rebeldia, sim, mas não uma rebeldia sem causa. Eles tinham motivos para estarem revoltados e tomar posição diante de certos aspectos.
Foi assim que surgiram os maiores nomes do gênero, aqueles que criaram e disseminaram o verdadeiro rock. Morrison, Hendrix, Janis, Stones, The Who e diversos outros que tomaram uma atitude e colocaram nas músicas, no modo de falar, nas roupas que vestiam, nos cabelos desgrenhados, nas drogas que tomavam, toda a sua insatisfação. O rock, criado com o sacolejo de Elvis e o ritmo de Chuck Berry, deixava de ser apenas música inovadora e se transformava em atitude.
É uma pena que esse tempo passou. Na verdade, ouso afirmar que a década de 60 foi o único período na história no qual o rock n’ roll conseguiu ser aquilo tudo que pode ser. Claro que grandes bandas e músicos surgiram depois e momentos esporádicos quase fizeram renascer a postura contestadora de artistas do tempo de Woodstock. Mas a grande maioria não passou de arremedos.
O que se vê atualmente é uma geração criada dentro de apartamentos luxuosos usando tênis All Star apenas para parecerem rebeldes. São bandas que usam palavrões e xingamentos vazios, tentando imitar ídolos que realmente tinha algo a dizer. O rock perdeu seu aspecto atemporal. Quantas músicas atuais pode-se dizer que sobreviverão ao jugo do tempo? Como diz Ray Davies, do The Kinks: “O rock n’ roll tornou-se respeitável. Que merda!”
Por isso, não foi a Rolling Stone quem se vendeu e perdeu a sua essência. Quem não é mais o mesmo é o rock n’ roll. Os atuais músicos e representantes do gênero precisam entender algo que até os críticos sabem: o rock pode não ser o estilo de música mais elaborado ou difícil, mas, em termos de importância, alcance e poder para sacudir e modificar os alicerces da sociedade, é o mais representativo.
Muito mais do que as capas, foi o conteúdo que fez da Rolling Stone praticamente uma bíblia mensal dos roqueiros de todo o mundo. As reportagens, entrevistas e outras matérias da publicação são documentos históricos da evolução do gênero musical ao longo destas quatro décadas. Na verdade, não sei se evolução seria a palavra certa, uma vez que o rock parece perder um pouco de sua verdadeira essência a cada ano.
Os fãs mais ardorosos e antigos da revista reclamam que a Rolling Stone não é a mesma que foi nos anos 60 e 70, tendo-se rendido ao aspecto comercial. Pode até ser verdade, mas uma análise mais cuidadosa certamente vai revelar que a culpa não é dos editores e responsáveis pela Rolling Stone. A revista não perdeu sua postura de irreverência e crítica. Quem mudou foi o rock.
Quando a Rolling Stone surgiu, em 1967, o rock passava pelo seu momento mais importante. Não mais uma novidade, o gênero havia se transformado em um estilo de vida a ser seguido pelos jovens da época. A década mais atribulada do século passado tinha, como tema principal, a palavra contestação. Guerra do Vietnã, luta pelos direitos, racismo, tudo colaborava para um clima de insatisfação geral, resultando em uma geração que realmente acreditava ser capaz de mudar o mundo.
E o rock veio diretamente ao encontro disso. Por meio dele, um sem-número de pessoas encontrou uma forma de se expressar, de criticar e de mudar. Naqueles dias, o rock não era apenas um gênero musical, mas o caminho para uma revolução. Uma solução pacífica, mas poderosa, para reformular mentes e valores que se julgavam maculados. O que os jovens daquela época faziam era rebeldia, sim, mas não uma rebeldia sem causa. Eles tinham motivos para estarem revoltados e tomar posição diante de certos aspectos.
Foi assim que surgiram os maiores nomes do gênero, aqueles que criaram e disseminaram o verdadeiro rock. Morrison, Hendrix, Janis, Stones, The Who e diversos outros que tomaram uma atitude e colocaram nas músicas, no modo de falar, nas roupas que vestiam, nos cabelos desgrenhados, nas drogas que tomavam, toda a sua insatisfação. O rock, criado com o sacolejo de Elvis e o ritmo de Chuck Berry, deixava de ser apenas música inovadora e se transformava em atitude.
É uma pena que esse tempo passou. Na verdade, ouso afirmar que a década de 60 foi o único período na história no qual o rock n’ roll conseguiu ser aquilo tudo que pode ser. Claro que grandes bandas e músicos surgiram depois e momentos esporádicos quase fizeram renascer a postura contestadora de artistas do tempo de Woodstock. Mas a grande maioria não passou de arremedos.
O que se vê atualmente é uma geração criada dentro de apartamentos luxuosos usando tênis All Star apenas para parecerem rebeldes. São bandas que usam palavrões e xingamentos vazios, tentando imitar ídolos que realmente tinha algo a dizer. O rock perdeu seu aspecto atemporal. Quantas músicas atuais pode-se dizer que sobreviverão ao jugo do tempo? Como diz Ray Davies, do The Kinks: “O rock n’ roll tornou-se respeitável. Que merda!”
Por isso, não foi a Rolling Stone quem se vendeu e perdeu a sua essência. Quem não é mais o mesmo é o rock n’ roll. Os atuais músicos e representantes do gênero precisam entender algo que até os críticos sabem: o rock pode não ser o estilo de música mais elaborado ou difícil, mas, em termos de importância, alcance e poder para sacudir e modificar os alicerces da sociedade, é o mais representativo.
Em certa época, a Rolling Stone soube disso. Espero que continue sabendo.
2 Comments:
A Rolling Stone não se vendeu? Tu pode dizer que a culpa é do próprio rock, mas que tem uma grande diferença em uma revista que nasceu ideológica e hoje é uma potencia publicitária, isso tem.
Apesar de ainda achar que há muita coisa boa no rock, concordo em algumas - apesar de poucas - coisas do teu texto. O que creio é que uma grande parte do rock sempre foi vendida até os ossos e, se não o fosse, dificilmente tería triunfado tanto nos tempos de auge da economía americana. "O rock perdeu seu aspecto atemporal", pra mim esta frase é uma contradição. Passaram apenas 40 anos e já era? "Pal carajo con el atemporal".
E acho, ainda, que aquela geração tinha o mesmo, ou menos ainda, a reclamar do que nós temos hoje.
Não seremos nós os que vendemos o rock? Ou terá sido a Rolling Stone?
Abraço, Pilau!
Ps.: to me sentindo aquele maluco que respondia discordando de todos tuas crônicas. Mas sempre é bom sinal que as pessoas discordem da gente. É sempre sinal de respeito.
É, talvez essa relação entre a Rolling Stone/rock/comércio tenha que ser analisada com mais cuidado e mais a fundo. Acho ainda que tem coisa boa no rock, mas eu não consigo pensar em ninguém de hoje que será lembrado daqui a 40 anos, como são os ídolos daquela época.
E sobre o fato de hoje ter mais o que reclamar do que naquela época, não sei se é verdade. Na verdade, talvez tenha me precipitado numa comparação entre as épocas, porque as insatisfações são diferentes. Mas naquela época eles falavam e tomavam posição, hoje nada.
E pode continuar criticando e discordando que a gente continua discutindo!
Abraço
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