A Entrevista
- Sente-se.
- Ok.
- Então, sr. Leão. Posso chamá-lo de Carlos?
- Se quiser, pode. Mas por que você me chamaria de Carlos?
- Não é seu nome?
- Não.
- Mas diz aqui no currículo que você enviou que...
- Eu não enviei currículo nenhum.
- Como não? Você não está aqui pra entrevista de emprego?
- Não. Nem sabia que estavam entrevistando. Na verdade, nem sei o que essa empresa faz.
- Então o que você faz aqui? Por que estava sentado ali na recepção?
- Eu vim esperar o Adriano, a gente combinou de almoçar juntos.
- E por que não disse isso antes?
- E por que não perguntou isso antes?
- Porque eu chamei você, disse pra sentar e você não falou nada. Por que veio comigo até a sala?
- Achei que você queria bater um papo. Já li as revistas da recepção, então topei. Matar o tempo até o Adriano sair.
- Então você não está aqui pelo emprego? É isso?
- Isso depende.
- Depende do quê, criatura do céu? Você veio aqui pra quê?
- Pra comer.
- Quê?
- Já disse, vim pra almoçar com o Adriano, o meu amigo. Mas se você está oferecendo emprego, eu aceito.
- Não estou oferecendo emprego!
- Então por que me chamou aqui?
- Não te chamei! Quer dizer... Chamei, mas porque achei que você estava aqui pela entrevista de emprego.
- Quanto?
- Quanto o quê?
- Quanto vocês me pagam pra eu trabalhar aqui? Nunca vi uma oferta de emprego sem falarem do salário.
- Sr. Leão, Carlos, ou seja lá qual nome a pobre da sua mãe escolheu pra você. Não tem nenhuma oferta. Estou entrevistando pessoas pro cargo de gerente e você não veio pela entrevista. Então, cai fora.
- Já fui gerente.
- Como assim?
- Já fui gerente de banco e de lojas de eletrodomésticos. Posso começar amanhã, se quiser.
- Não vou contratar você.
- Por que não? Sou talentoso e estou desempregado.
- Se é talentoso, por que está desempregado?
- Porque as pessoas dão emprego pra gente que nem sabe com que está falando.
- Isso foi uma indireta?
- O “in” é por sua conta.
- Olha aqui, meu amigo, você está me desrespeitando. Por favor, se retire.
- Não vai me contratar?
- Por que eu iria te contratar?
- Porque sou talentoso e estou desempregado, já disse.
- Eu não faço questão de ter você aqui. Se você quer trabalhar, ligue e marque um horário para entrevista que falamos sobre isso.
- Por que ligar pra marcar um horário se já estou aqui?
- Porque você não veio pelo emprego. Veio pra almoçar com o Adílson e...
- Adriano.
- Adriano, que seja! Quando quiser trabalhar aqui, marque um horário que a gente conversa.
- Já estamos conversando, sem ter marcado horário.
- Isso não é conversa!
- Não? É uma viagem a dois pro Havaí, então?
- Digo... Claro que é uma conversa, mas não sobre emprego.
- É só a gente falar sobre o emprego.
- Agora não dá mais.
- Por que não? Só mudar o assunto. As pessoas fazem isso a toda hora.
- De qualquer forma, por que você iria querer trabalhar aqui?
- Cara, presta atenção: sou talentoso e estou desempregado.
- Talentoso em quê?
- Cara, você é burro. Já disse que fui gerente.
- Burro? Não vou admitir que me chamem assim. A conversa está encerrada.
- Ah, era mesmo uma conversa, então.
- Sim, era uma conversa. Não é mais. Adeus.
- Tá, estou saindo, não precisa empurrar.
- Saia já daqui.
- Pode pelo menos chamar o Adriano pra mim?
- Que Adriano? Aqui não tem Adriano.
- Como? Não é o Escritório Fedrizzi e Silva?
- Não! Claro que não! É Belizzi. Belizzi!
- Putz, errei o lugar. Foi mal, então.
- Adeus.
- Tchau. Até segunda.
- Ok.
- Então, sr. Leão. Posso chamá-lo de Carlos?
- Se quiser, pode. Mas por que você me chamaria de Carlos?
- Não é seu nome?
- Não.
- Mas diz aqui no currículo que você enviou que...
- Eu não enviei currículo nenhum.
- Como não? Você não está aqui pra entrevista de emprego?
- Não. Nem sabia que estavam entrevistando. Na verdade, nem sei o que essa empresa faz.
- Então o que você faz aqui? Por que estava sentado ali na recepção?
- Eu vim esperar o Adriano, a gente combinou de almoçar juntos.
- E por que não disse isso antes?
- E por que não perguntou isso antes?
- Porque eu chamei você, disse pra sentar e você não falou nada. Por que veio comigo até a sala?
- Achei que você queria bater um papo. Já li as revistas da recepção, então topei. Matar o tempo até o Adriano sair.
- Então você não está aqui pelo emprego? É isso?
- Isso depende.
- Depende do quê, criatura do céu? Você veio aqui pra quê?
- Pra comer.
- Quê?
- Já disse, vim pra almoçar com o Adriano, o meu amigo. Mas se você está oferecendo emprego, eu aceito.
- Não estou oferecendo emprego!
- Então por que me chamou aqui?
- Não te chamei! Quer dizer... Chamei, mas porque achei que você estava aqui pela entrevista de emprego.
- Quanto?
- Quanto o quê?
- Quanto vocês me pagam pra eu trabalhar aqui? Nunca vi uma oferta de emprego sem falarem do salário.
- Sr. Leão, Carlos, ou seja lá qual nome a pobre da sua mãe escolheu pra você. Não tem nenhuma oferta. Estou entrevistando pessoas pro cargo de gerente e você não veio pela entrevista. Então, cai fora.
- Já fui gerente.
- Como assim?
- Já fui gerente de banco e de lojas de eletrodomésticos. Posso começar amanhã, se quiser.
- Não vou contratar você.
- Por que não? Sou talentoso e estou desempregado.
- Se é talentoso, por que está desempregado?
- Porque as pessoas dão emprego pra gente que nem sabe com que está falando.
- Isso foi uma indireta?
- O “in” é por sua conta.
- Olha aqui, meu amigo, você está me desrespeitando. Por favor, se retire.
- Não vai me contratar?
- Por que eu iria te contratar?
- Porque sou talentoso e estou desempregado, já disse.
- Eu não faço questão de ter você aqui. Se você quer trabalhar, ligue e marque um horário para entrevista que falamos sobre isso.
- Por que ligar pra marcar um horário se já estou aqui?
- Porque você não veio pelo emprego. Veio pra almoçar com o Adílson e...
- Adriano.
- Adriano, que seja! Quando quiser trabalhar aqui, marque um horário que a gente conversa.
- Já estamos conversando, sem ter marcado horário.
- Isso não é conversa!
- Não? É uma viagem a dois pro Havaí, então?
- Digo... Claro que é uma conversa, mas não sobre emprego.
- É só a gente falar sobre o emprego.
- Agora não dá mais.
- Por que não? Só mudar o assunto. As pessoas fazem isso a toda hora.
- De qualquer forma, por que você iria querer trabalhar aqui?
- Cara, presta atenção: sou talentoso e estou desempregado.
- Talentoso em quê?
- Cara, você é burro. Já disse que fui gerente.
- Burro? Não vou admitir que me chamem assim. A conversa está encerrada.
- Ah, era mesmo uma conversa, então.
- Sim, era uma conversa. Não é mais. Adeus.
- Tá, estou saindo, não precisa empurrar.
- Saia já daqui.
- Pode pelo menos chamar o Adriano pra mim?
- Que Adriano? Aqui não tem Adriano.
- Como? Não é o Escritório Fedrizzi e Silva?
- Não! Claro que não! É Belizzi. Belizzi!
- Putz, errei o lugar. Foi mal, então.
- Adeus.
- Tchau. Até segunda.
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