Estevão e a Página Branca
Há seis dias encarava a página branca.
Pela primeira vez em sua vida, Estevão sofria o grande mal de sua profissão. O pesadelo de todo escritor. O bloqueio criativo, no entanto, era mais do que isso para Estevão. Por ser inédito em sua bem-sucedida carreira, a falta de idéias era tomada como um sinal de decadência, um amostra do fim, um aviso de que, dali em diante, sua jornada se resumiria em uma longa espiral ao porão da obscuridade.
Estevão não sabia de onde vinha o problema. Durante toda a sua vida, sempre foi reconhecido por um trabalho prolífico e fértil, caracterizado pela quantidade abundante de idéias. Agora, isolado em sua chácara, sentava diante da antiga e inseparável Olivetti com uma alva folha à sua frente e nada. Apenas as tentativas amassadas e espalhadas pelo chão.
Já tentara de tudo. Caminhou pelo local, cozinhou, leu, assistiu televisão, brincou com os cachorros. Chegou até a soltar uma pipa antiga que estava abandonada no celeiro. Tudo por aquele clique, pela inspiração que saciaria a fome de seus dedos, ávidos por letras capazes de satisfazê-los. Mas sua musa, até aquele momento mais ativa do que qualquer outra, parecia descansar.
Agora, Estevão acendia mais um cigarro. Era o primeiro da décima-segunda carteira nestes seis dias. Tentava refletir sobre tudo o que acontecia, sobre os motivos pelos quais a folha permanecia em branco. O ritual havia sido o mesmo de sempre. Isolamento na sua chácara, cigarros, boa comida e a mesma máquina de escrever na qual escrevera seu primeiro poema aos cinco anos.
Só que, desta vez, nada. Estevão ligou o rádio e colocou na única estação que pegava bem ali. Para sua sorte, um blues era a canção do momento. Sentou-se novamente na cadeira em frente às teclas. Elas pareciam clamar pelo toque, como uma amante sentindo falta de sua fonte de prazer.
Olhou para a máquina e sentiu um vazio dentro do peito. Aquela parecia a ser uma despedida. O fim do relacionamento entre os dois. Ele não conseguiria mais satisfazê-la. A separação era inevitável. Estevão tentou evitar, mas seus olhos encheram-se de lágrimas. Nenhuma rolou pela face, porém estavam lá a quem quisesse enxergar.
Com o coração apertado, Estevão levantou-se. Iria retirar a folha da máquina. Aposentá-la de vez. Seria parte de sua vida como um amor do passado. Talvez, como o único.
Mas assim que colocou a mão no papel, ficou estático. Por alguns segundos, permaneceu imóvel.
Tivera uma idéia. Não era a melhor idéia do mundo, mas serviria para o momento. Seria o suficiente para mitigar a saudade e para mostrar que ainda não estava acabado.
Não sorriu e não disse nada, apesar da ansiedade transparecer em cada traço do seu rosto. Sentou-se e bateu nas teclas de forma suave e apaixonada, como sempre fizera. E escreveu a primeira frase. Respirou fundo, satisfeito. Olhou para o escrito e repassou os olhos por aquelas palavras redentoras:
“Há seis dias encarava a página branca.”
Pela primeira vez em sua vida, Estevão sofria o grande mal de sua profissão. O pesadelo de todo escritor. O bloqueio criativo, no entanto, era mais do que isso para Estevão. Por ser inédito em sua bem-sucedida carreira, a falta de idéias era tomada como um sinal de decadência, um amostra do fim, um aviso de que, dali em diante, sua jornada se resumiria em uma longa espiral ao porão da obscuridade.
Estevão não sabia de onde vinha o problema. Durante toda a sua vida, sempre foi reconhecido por um trabalho prolífico e fértil, caracterizado pela quantidade abundante de idéias. Agora, isolado em sua chácara, sentava diante da antiga e inseparável Olivetti com uma alva folha à sua frente e nada. Apenas as tentativas amassadas e espalhadas pelo chão.
Já tentara de tudo. Caminhou pelo local, cozinhou, leu, assistiu televisão, brincou com os cachorros. Chegou até a soltar uma pipa antiga que estava abandonada no celeiro. Tudo por aquele clique, pela inspiração que saciaria a fome de seus dedos, ávidos por letras capazes de satisfazê-los. Mas sua musa, até aquele momento mais ativa do que qualquer outra, parecia descansar.
Agora, Estevão acendia mais um cigarro. Era o primeiro da décima-segunda carteira nestes seis dias. Tentava refletir sobre tudo o que acontecia, sobre os motivos pelos quais a folha permanecia em branco. O ritual havia sido o mesmo de sempre. Isolamento na sua chácara, cigarros, boa comida e a mesma máquina de escrever na qual escrevera seu primeiro poema aos cinco anos.
Só que, desta vez, nada. Estevão ligou o rádio e colocou na única estação que pegava bem ali. Para sua sorte, um blues era a canção do momento. Sentou-se novamente na cadeira em frente às teclas. Elas pareciam clamar pelo toque, como uma amante sentindo falta de sua fonte de prazer.
Olhou para a máquina e sentiu um vazio dentro do peito. Aquela parecia a ser uma despedida. O fim do relacionamento entre os dois. Ele não conseguiria mais satisfazê-la. A separação era inevitável. Estevão tentou evitar, mas seus olhos encheram-se de lágrimas. Nenhuma rolou pela face, porém estavam lá a quem quisesse enxergar.
Com o coração apertado, Estevão levantou-se. Iria retirar a folha da máquina. Aposentá-la de vez. Seria parte de sua vida como um amor do passado. Talvez, como o único.
Mas assim que colocou a mão no papel, ficou estático. Por alguns segundos, permaneceu imóvel.
Tivera uma idéia. Não era a melhor idéia do mundo, mas serviria para o momento. Seria o suficiente para mitigar a saudade e para mostrar que ainda não estava acabado.
Não sorriu e não disse nada, apesar da ansiedade transparecer em cada traço do seu rosto. Sentou-se e bateu nas teclas de forma suave e apaixonada, como sempre fizera. E escreveu a primeira frase. Respirou fundo, satisfeito. Olhou para o escrito e repassou os olhos por aquelas palavras redentoras:
“Há seis dias encarava a página branca.”
1 Comments:
Coincidência, amigo adorei seu escrito. Agora vamos as coincidências. Bom, primeiramente, chamo-me Estevão, segundo, sou escritor, terceiro, eu tenho uma Olivetti Dora, quarto, tenho o hábito de escrever em Eldorado do Sul,na chácara da minha tia.
Se quiser ver o meu livro, dá uma olhadinha no site da Age www.editoraage.com.br o livro se chama: Ágape, o amor que liberta.
Um forte abraço
estevao.athaydes@gmail.com
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