Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Sunday, November 04, 2007

Desejos

Precisava comê-la.

Foi este o meu pensamento quando a vi saindo do mercadinho. Era jovem, talvez ainda mais jovem do que eu. Os cabelos loiros, reluzentes, estavam presos por um rabo-de-cavalo bem no topo da cabeça, exceto por alguns fios insinuantes que teimavam em balançar-se à frente do rosto. Um rosto branco, quase pálido, de traços perfeitos.

Toda esta beleza encimava um corpo simplesmente deslumbrante, que despertou em mim desejos que há algum tempo não me possuíam. Coxas delicadas, mas com carne suficiente para me saciar. Seios pequenos, daqueles que cabem em uma mão, mas o bastante para minha boca ansiar por aquele contato.

Precisava comê-la.

Claro que não disse isto a ela. Já nos conhecíamos de vista, algo a meu favor para ela não fugir confundindo-me com um maníaco sexual. Abordei-a, falando alguma bobagem sem sentido. Despertei risos, quebrando o gelo. Ofereci-me para acompanhá-la ao seu apartamento. Relutou a princípio, mas acabou cedendo.

No dia seguinte, nos vimos no ônibus. Trocamos mais algumas palavras e convidei-a para jantar no meu apartamento, à noite. Talvez pela suavidade de minha voz, talvez pela hábil escolha de palavras, ela topou. Disse-lhe onde eu morava e que a aguardaria à noite. Perguntou-me qual seria o jantar e eu respondi que, se revelasse, iria estragar o mistério de nossa noite.

Fui para casa feliz. Ou melhor, aliviado. Finalmente sairia do atraso.

Cheguei em casa e iniciei os preparativos. Lavei os pratos, fiz uma rápida limpeza no lugar e preparei a mesa. Vela, cálice, talheres. A toalha de mesa usada apenas uma vez. Na minha última vez. Tomei um banho e coloquei uma roupa decente. O ritual completo. Meia hora antes do horário marcado, eu estava pronto.

Ansioso por aquele momento especial, tentei me ocupar com outros afazeres. Não me foi necessário. Ela chegou quinze minutos antes, evitando minha longa espera.

Parada à porta, sob o efeito da luz da lua que escapava em feixes pelo corredor, ela estava arrasadora. Parecia brilhar naquele vestido preto que ia até metade das coxas e deixava seus seios maiores do que eram.

Deliciosa.

Precisava comê-la.

Chegaria a hora.

Ela entrou, sentamos no sofá e conversamos sobre amenidades. Perguntei se ela queria alguma música e, à sua anuência, levantei-me.

Perguntou qual seria o jantar. Respondi que já estava quase pronto, era só ela aguardar alguns instantes.

Dei play no CD e pulei sobre ela com a agilidade que sempre me deu vantagem nessas horas. Com os movimentos treinados durante noites, quebrei seu pescoço antes que pudesse gritar.

Espalhei jornais pelo chão e despi-a. Com a faca de meu avô, abri sua barriga, retirando fígado, estômago e demais órgãos, colocando-os cuidadosamente em uma bacia.

Cortei-a em pedaços. Tiras, para ser mais exato. Levei ao prato sobre a mesa. Enchi o cálice com um pouco de sangue e saboreei suas carnes, experimentando um prazer que há muito não sentia.

Comi-a, já pensando nos órgãos dentro da bacia para a sobremesa.

6 Comments:

Blogger Anastácia Alacre said...

Bah.
Fantástico.Tocante.
Meus cumprimentos sinceros e meu pavor diante deste canibal insaciável.
Um beijo grande.

5:49 PM  
Anonymous Anonymous said...

muito bom!! mais uma vez contos da cripta.... hehehe. ótimo

5:02 PM  
Blogger PAULA SALOMÃO said...

Santo Deus, Sr. Hannibal Lecter!!!
Que triste fim para a pobre moça que também só queria tirar o atraso, ora bolas!

6:03 PM  
Blogger Murilo Battisti said...

Muito bom!

Parabéns!

Abraços

4:52 AM  
Blogger Murilo Battisti said...

Muito bom!

Parabéns!

Abraços

4:52 AM  
Blogger Miguel Crizel said...

Muito bom! Abraço!

7:01 PM  

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