Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, January 21, 2009

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON


Que David Fincher e Brad Pitt são capazes de construir obras-primas, todos sabemos. Afinal, a parceria entre o diretor e o astro já havia rendido dois grandes filmes, Seven - Os Sete Crimes Capitais e o seminal Clube da Luta. Pois a dupla, em seu terceiro trabalho, acaba de entregar mais uma brilhante peça cinematográfica em O Curioso Caso de Benjamin Button. Um dos grandes vencedores da temporada de prêmios nos Estados Unidos – e provável indicado a várias das principais categorias do Oscar –, Benjamin Button é uma fantástica história sobre um homem que nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo da vida. Baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald (que li e é completamente diferente do filme), o roteirista Eric Roth construiu uma belíssima fábula repleta de lições de vida, contada com um lirismo e poesia até então inéditos na filmografia de Fincher. É, em suma, uma história de amor com tons épicos, que ocorre durante quase um século, mas pontuada por uma abordagem intimista, onde os efeitos especiais (impecáveis, especialmente os relacionados à forma de mostrar a idade dos protagonistas) estão lá como forma de contar a história daquele relacionamento, que é o verdadeiro coração da trama. Enquanto isso, ainda que não cheguem ao status de geniais, as atuações são ótimas, com Brad Pitt e Cate Blanchett optando por interpretações intimistas, perfeitamente adequadas à melancolia adotada por Fincher à obra. O cineasta, com o apoio do diretor de fotografia Cláudio Miranda, cria algumas cenas e quadros esplendorosos, tanto pela magia captada nos momentos quanto pela simples beleza estética dos planos. São cenas como Benjamin e seu pai assistindo ao pôr-do-sol, Daisy dançando em um parque à noite e a tocante sequência com a protagonista segurando um bebê no colo que comprovam o fato de estarmos diante de verdadeiros artesãos dentro da engrenagem hollywoodiana. Mas, mesmo com a irrepreensível parte técnica e as presenças de Pitt e Blanchett, é o roteiro de Eric Roth o grande trunfo de Benjamin Button. O escritor preenche a história com significados sobre a vida e a morte, fazendo de Benjamin e sua diferença uma verdadeira fonte de ensinamentos sobre como viver, versando sobre os mais diversos temas, como preconceito, a compreensão da mortalidade, a busca pela própria essência, a força do amor e, acima de tudo, a noção de que o tempo é feito por cada pessoa. Todas essas colocações são pontuadas com delicadeza por Fincher e pelo roteiro, de forma orgânica à história e não como lições de moral artificiais. Infelizmente, e aí cabem os únicos problemas da produção, Fincher recorre a certos clichês que não apenas são desnecessários, como também quebram o ritmo do filme: o maior deles é o fato de Daisy, já velhinha, contar toda a história através de um diário. Estas idas e vindas no tempo prejudicam a narrativa, que já é delicada por se tratar de quase três horas de produção. Assim, a longa duração por vezes se faz sentir, levantando a pergunta sobre se não seria possível contar a história em menos tempo – talvez sim, mas provavelmente sem a mesma grandiosidade. De qualquer forma, O Curioso Caso de Benjamin Button é um belíssimo filme, muito bem acabado visualmente e com uma história tocante, permeada por cenas que capturam o que o cinema pode oferecer de melhor. Eu já escrevi outras vezes que nada é mais decepcionante do que ver uma boa idéia desperdiçada. Felizmente, com David Fincher no comando, isso é quase impossível de acontecer.

Nota: 8.5

1 Comments:

Blogger Fala garoto, fala garota. said...

Conclusão? Nothing lasts.....

6:39 PM  

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