AS DUAS FACES DA LEI
AS DUAS FACES DA LEI (RIGHTEOUS KILL)
De Jon Avnet. Com Robert De Niro, Al Pacino, Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg, Curtis Jackson e Brian Dennehy.
Em 1995, o cinesta Michael Mann realizou um filme chamado Fogo Contra Fogo. Apesar de já ser um diretor respeitado, Mann viu seu trabalho cercar-se de expectativas pelo simples fato de reunir, pela primeira vez, dois dos maiores atores do Cinema, Robert De Niro e Al Pacino (os dois já haviam dividido os créditos em O Poderoso Chefão – Parte II, mas sem contracenar). Foi, de certa forma, uma decepção. Ainda que Fogo Contra Fogo seja um grande filme, os astros dividiam uma única cena das quase três horas de projeção. O tão esperado encontro tinha ficado para outra ocasião.
Eis que surge As Duas Faces da Lei. Dirigido pelo mediano Jon Avnet, o filme ganhou destaque por entregar o que a produção de Mann prometeu e não cumpriu: De Niro e Pacino dividindo a tela durante quase todo o tempo. A produção conta a história de uma dupla de policiais veteranos em busca de um serial killer. A diferença é que ele mata apenas criminosos que, por alguma razão, escapam à justiça. Com a ajuda de dois profissionais mais jovens, a dupla experiente tenta descobrir a identidade do assassino, ao mesmo tempo em que um deles se torna o principal suspeito dos crimes.
Infelizmente, a parceria mais uma vez decepciona, ainda que por motivos diferentes. Se Fogo Contra Fogo era um belíssimo filme com poucas cenas onde os astros contracenavam, As Duas Faces da Lei é uma obra repleta de defeitos com a dupla dividindo praticamente todos os momentos. Escrito por Russell Gerwitz, As Duas Faces da Lei em nada se diferencia da imensa quantidade de produções do gênero policial realizada em Hollywood a cada ano, com um roteiro capenga, direção pouco inspirada e um final “surpresa” previsível. Não fossem os nomes de De Niro e Pacino, o filme provavelmente nem passaria pelos cinemas, encontrando seu espaço em um Supercine da vida.
O grande problema da obra é o roteiro mal construído. A idéia do serial killer de criminosos é promissora (alguém já viu o seriado Dexter?) e promove a única reflexão interessante do filme: é justificável punir um culpado deixado livre pela justiça? Infelizmente, a história trata o assunto com superficialidade, relevando a inteligência para criar situações absurdas que justifiquem o final. Aliás, a conclusão de As Duas Faces da Lei é óbvia para qualquer um que já assistiu a um filme do gênero, principalmente pela falta de sutileza do roteiro e da direção de Avnet. Ao invés de contar uma história, eles tentam de todas as maneiras fazer o espectador acreditar em algo, uma insistência que deixa claro o fato de que aquilo não é verdade.
Além disso, o texto não dá espaço algum para desenvolvimento de personagens. O espectador fica sem conhecer nada sobre a vida de Turk e Rooster, exceto que são dois policiais veteranos. Há, em certo momento, uma menção sobre a filha de Turk, mas é algo tão solto na história que apenas causa estranheza. O mesmo acontece com as tramas envolvendo o personagem de Curtis “50 Cent” Jackson e da advogada, que prejudicam o andamento da narrativa e não levam a lugar algum. Como conseqüência, falta identificação entre público e personagens, o que torna o filme tedioso por jamais prender a atenção do espectador.
E nem Robert De Niro e Al Pacino conseguem salvar um péssimo material. Os dois atores são, obviamente, o único atrativo de As Duas Faces da Lei. Ainda que as performances estejam a anos-luz de seus melhores trabalhos, não deixa de ser um prazer ver dois dos maiores talentos da história do Cinema dividindo o mesmo quadro e trocando diálogos. Os atores tentam superar os problemas de roteiro e conseguem trazer um pouco de personalidade para os personagens: Turk é mais sisudo e profissional, enquanto Rooster é descontraído e brincalhão. Alguém pode reclamar, com justiça, que De Niro e Pacino interpretam estereótipos de si mesmos, mas é graças a eles que o filme torna-se, no mínimo, passível de ser assistido.
Até porque, como de praxe em seu currículo, a direção de Avnet não tem o menor resquício de inspiração. Clichê do início ao fim, o cineasta falha em gerar tensão, o que prejudica até o ritmo da obra. Mais do que isso, Avnet apela para lugares-comuns como o antagonismo entre a dupla mais velha e a mais nova e a mais do que irritante fórmula do vilão ter o mocinho sob a ponta da arma e se dignar a explicar todos os seus motivos. Além, é claro, de não conseguir manter a coerência na estrutura, perdendo o controle das tramas e, por conseqüência, o fio narrativo, cometendo erros básicos para o filme funcionar, como a já citada tentativa forçada de ludibriar o espectador.
Como resultado, As Duas Faces da Lei é uma obra que se julga inteligente, mas está longe disso. Ao contrário, é um filme ordinário e nada original, que provavelmente será esquecido daqui a duas semanas. Talvez, só talvez, seja lembrado por ser a primeira vez que De Niro e Pacino realmente contracenaram juntos. Porém, considerando-se o talento e a história destes dois monstros, eles mereciam algo muito melhor.
De Jon Avnet. Com Robert De Niro, Al Pacino, Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg, Curtis Jackson e Brian Dennehy.
Em 1995, o cinesta Michael Mann realizou um filme chamado Fogo Contra Fogo. Apesar de já ser um diretor respeitado, Mann viu seu trabalho cercar-se de expectativas pelo simples fato de reunir, pela primeira vez, dois dos maiores atores do Cinema, Robert De Niro e Al Pacino (os dois já haviam dividido os créditos em O Poderoso Chefão – Parte II, mas sem contracenar). Foi, de certa forma, uma decepção. Ainda que Fogo Contra Fogo seja um grande filme, os astros dividiam uma única cena das quase três horas de projeção. O tão esperado encontro tinha ficado para outra ocasião.
Eis que surge As Duas Faces da Lei. Dirigido pelo mediano Jon Avnet, o filme ganhou destaque por entregar o que a produção de Mann prometeu e não cumpriu: De Niro e Pacino dividindo a tela durante quase todo o tempo. A produção conta a história de uma dupla de policiais veteranos em busca de um serial killer. A diferença é que ele mata apenas criminosos que, por alguma razão, escapam à justiça. Com a ajuda de dois profissionais mais jovens, a dupla experiente tenta descobrir a identidade do assassino, ao mesmo tempo em que um deles se torna o principal suspeito dos crimes.
Infelizmente, a parceria mais uma vez decepciona, ainda que por motivos diferentes. Se Fogo Contra Fogo era um belíssimo filme com poucas cenas onde os astros contracenavam, As Duas Faces da Lei é uma obra repleta de defeitos com a dupla dividindo praticamente todos os momentos. Escrito por Russell Gerwitz, As Duas Faces da Lei em nada se diferencia da imensa quantidade de produções do gênero policial realizada em Hollywood a cada ano, com um roteiro capenga, direção pouco inspirada e um final “surpresa” previsível. Não fossem os nomes de De Niro e Pacino, o filme provavelmente nem passaria pelos cinemas, encontrando seu espaço em um Supercine da vida.
O grande problema da obra é o roteiro mal construído. A idéia do serial killer de criminosos é promissora (alguém já viu o seriado Dexter?) e promove a única reflexão interessante do filme: é justificável punir um culpado deixado livre pela justiça? Infelizmente, a história trata o assunto com superficialidade, relevando a inteligência para criar situações absurdas que justifiquem o final. Aliás, a conclusão de As Duas Faces da Lei é óbvia para qualquer um que já assistiu a um filme do gênero, principalmente pela falta de sutileza do roteiro e da direção de Avnet. Ao invés de contar uma história, eles tentam de todas as maneiras fazer o espectador acreditar em algo, uma insistência que deixa claro o fato de que aquilo não é verdade.
Além disso, o texto não dá espaço algum para desenvolvimento de personagens. O espectador fica sem conhecer nada sobre a vida de Turk e Rooster, exceto que são dois policiais veteranos. Há, em certo momento, uma menção sobre a filha de Turk, mas é algo tão solto na história que apenas causa estranheza. O mesmo acontece com as tramas envolvendo o personagem de Curtis “50 Cent” Jackson e da advogada, que prejudicam o andamento da narrativa e não levam a lugar algum. Como conseqüência, falta identificação entre público e personagens, o que torna o filme tedioso por jamais prender a atenção do espectador.
E nem Robert De Niro e Al Pacino conseguem salvar um péssimo material. Os dois atores são, obviamente, o único atrativo de As Duas Faces da Lei. Ainda que as performances estejam a anos-luz de seus melhores trabalhos, não deixa de ser um prazer ver dois dos maiores talentos da história do Cinema dividindo o mesmo quadro e trocando diálogos. Os atores tentam superar os problemas de roteiro e conseguem trazer um pouco de personalidade para os personagens: Turk é mais sisudo e profissional, enquanto Rooster é descontraído e brincalhão. Alguém pode reclamar, com justiça, que De Niro e Pacino interpretam estereótipos de si mesmos, mas é graças a eles que o filme torna-se, no mínimo, passível de ser assistido.
Até porque, como de praxe em seu currículo, a direção de Avnet não tem o menor resquício de inspiração. Clichê do início ao fim, o cineasta falha em gerar tensão, o que prejudica até o ritmo da obra. Mais do que isso, Avnet apela para lugares-comuns como o antagonismo entre a dupla mais velha e a mais nova e a mais do que irritante fórmula do vilão ter o mocinho sob a ponta da arma e se dignar a explicar todos os seus motivos. Além, é claro, de não conseguir manter a coerência na estrutura, perdendo o controle das tramas e, por conseqüência, o fio narrativo, cometendo erros básicos para o filme funcionar, como a já citada tentativa forçada de ludibriar o espectador.
Como resultado, As Duas Faces da Lei é uma obra que se julga inteligente, mas está longe disso. Ao contrário, é um filme ordinário e nada original, que provavelmente será esquecido daqui a duas semanas. Talvez, só talvez, seja lembrado por ser a primeira vez que De Niro e Pacino realmente contracenaram juntos. Porém, considerando-se o talento e a história destes dois monstros, eles mereciam algo muito melhor.
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