O AMOR NÃO TEM REGRAS
O AMOR NÃO TEM REGRAS (LEATHERHEADS)
De George Clooney. Com George Clooney, Renée Zellweger, John Krasinski e Jonathan Pryce.
É difícil não admirar George Clooney. Mesmo sendo um dos maiores astros de Hollywood, o ator também é uma das mais interessantes e inteligentes figuras do cinema americano. Enquanto utiliza seu apelo junto às massas para juntar milhões em grandes produções, como a série Onze Homens e um Segredo, Clooney aproveita a grana arrecadada para bancar pequenos e relevantes filmes, como Syriana e Conduta de Risco. Além disso, o ator já se revelou um roteirista e diretor de mão cheia, inclusive com indicação ao Oscar em seu segundo trabalho atrás das câmeras, o ótimo Boa Noite e Boa Sorte.
O Amor Não Tem Regras é a terceira incursão de Clooney na cadeira de diretor e, infelizmente, seu trabalho mais fraco – ainda que seja um filme divertido. Situado em 1925, a trama apresenta o período da profissionalização do futebol americano. Dodge Connelly (Clooney) é um jogador veterano que vê sua carreira acabar com a falta de investidores. Ao descobrir Carter, um jovem talento universitário que leva multidões aos estádios, Connelly contrata-o para o seu time, de forma a garantir os recursos. Enquanto isso, a repórter Lexie Littleton (Zellweger) investiga o passado de Carter na guerra e desperta o amor dos dois homens.
Trabalhando com um roteiro de Duncan Brantley e Rick Reilly, Clooney acerta ao recriar o clima das comédias românticas dos anos 30 e 40, as chamadas screwball comedies. De certa forma, O Amor Não Tem Regras é uma grande homenagem a Howard Hawks, Ernst Lubitsch e a este gênero da época dourada de Hollywood. A abertura “antiga” da Universal, a trilha sonora de Randy Newman, a dinamicidade entre os atores, o grau de inocência que permeia os relacionamentos, tudo remete a grandes clássicos como Jejum de Amor e Núpcias de Escândalo, construindo um filme bastante agradável de se assistir.
Além do tom certeiro da direção de Clooney, muito deste sucesso deve-se ao roteiro e aos atores. Os diálogos são inteligentes e ácidos, ditos de maneira extremamente veloz, como se um dos personagens sempre tivesse a resposta na ponta da língua. No entanto, este artifício só dá certo graças à química entre os protagonistas. Clooney e Zellweger funcionam maravilhosamente bem juntos, divertindo-se à beça nos papéis e construindo personagens cínicos e divertidos. Assim, o clichê do casal que a princípio se odeia para depois se amar não é problema, pois fica claro que tanto os atores quanto os personagens estão brincando.
Sempre que se concentra neste lado da trama, O Amor Não Tem Regras funciona às maravilhas. No entanto, a produção ainda desenvolve outras subtramas que acabam por prejudicar o resultado final ao não manter o mesmo nível da principal. É o caso, por exemplo, da história envolvendo o passado de Carter na guerra. Ainda que tema da desconstrução do mito do herói seja interessante (Clint Eastwood também teve este foco em A Conquista da Honra), o assunto aqui é tratado de maneira leve e superficial, sem maiores conseqüências ou reflexos novos. John Krasinski parece inadequado no papel de Carter e a história apenas impede a narrativa de fluir com mais naturalidade.
O mesmo acontece com a questão envolvendo o futebol americano. Se Clooney e os roteiristas tinham o objetivo de mostrar a transição do esporte, de amador para profissional, a intenção ficou longe de ser atingida. Ainda que isto seja mostrado no filme, pouco se fala sobre como aconteceu a transformação. De uma hora para outra, surge um personagem responsável pela Associação do Futebol (ou algo do tipo), sem maiores explicações de como foi parar ali, quais os seus objetivos ou sobre as criações das novas regras.
Assim, o terceiro ato de O Amor Não Tem Regras, quando Clooney deixa de lado o aspecto da comédia em prol da trama séria sobre o esporte e a guerra, transforma-se em um grande e interminável tédio. Como não poderia deixar de ser, tudo encerra-se com uma decisiva partida – este, sim, um clichê que incomoda. E, para piorar, são levantadas questões até então inéditas, como o fato dos Bulluth Bulldogs só saberem jogar sujo, algo que se torna importante na resolução e que jamais havia ganho destaque em qualquer momento da trama.
Como resultado, O Amor Não Tem Regras parece vários filmes dentro de um só. Nenhum deles é necessariamente ruim, mas apenas um realmente dá certo. É, em geral, uma produção divertida e repleta de charme pela homenagem a uma época clássica, porém com alguns problemas narrativos que impedem maior recomendação. Ainda que mereça méritos por alguns de seus acertos, fica impossível negar que O Amor Não Tem Regras é o trabalho mais fraco de George Clooney na direção.
Sorte que ele ainda tem crédito.
Nota: 6.0
De George Clooney. Com George Clooney, Renée Zellweger, John Krasinski e Jonathan Pryce.
É difícil não admirar George Clooney. Mesmo sendo um dos maiores astros de Hollywood, o ator também é uma das mais interessantes e inteligentes figuras do cinema americano. Enquanto utiliza seu apelo junto às massas para juntar milhões em grandes produções, como a série Onze Homens e um Segredo, Clooney aproveita a grana arrecadada para bancar pequenos e relevantes filmes, como Syriana e Conduta de Risco. Além disso, o ator já se revelou um roteirista e diretor de mão cheia, inclusive com indicação ao Oscar em seu segundo trabalho atrás das câmeras, o ótimo Boa Noite e Boa Sorte.
O Amor Não Tem Regras é a terceira incursão de Clooney na cadeira de diretor e, infelizmente, seu trabalho mais fraco – ainda que seja um filme divertido. Situado em 1925, a trama apresenta o período da profissionalização do futebol americano. Dodge Connelly (Clooney) é um jogador veterano que vê sua carreira acabar com a falta de investidores. Ao descobrir Carter, um jovem talento universitário que leva multidões aos estádios, Connelly contrata-o para o seu time, de forma a garantir os recursos. Enquanto isso, a repórter Lexie Littleton (Zellweger) investiga o passado de Carter na guerra e desperta o amor dos dois homens.
Trabalhando com um roteiro de Duncan Brantley e Rick Reilly, Clooney acerta ao recriar o clima das comédias românticas dos anos 30 e 40, as chamadas screwball comedies. De certa forma, O Amor Não Tem Regras é uma grande homenagem a Howard Hawks, Ernst Lubitsch e a este gênero da época dourada de Hollywood. A abertura “antiga” da Universal, a trilha sonora de Randy Newman, a dinamicidade entre os atores, o grau de inocência que permeia os relacionamentos, tudo remete a grandes clássicos como Jejum de Amor e Núpcias de Escândalo, construindo um filme bastante agradável de se assistir.
Além do tom certeiro da direção de Clooney, muito deste sucesso deve-se ao roteiro e aos atores. Os diálogos são inteligentes e ácidos, ditos de maneira extremamente veloz, como se um dos personagens sempre tivesse a resposta na ponta da língua. No entanto, este artifício só dá certo graças à química entre os protagonistas. Clooney e Zellweger funcionam maravilhosamente bem juntos, divertindo-se à beça nos papéis e construindo personagens cínicos e divertidos. Assim, o clichê do casal que a princípio se odeia para depois se amar não é problema, pois fica claro que tanto os atores quanto os personagens estão brincando.
Sempre que se concentra neste lado da trama, O Amor Não Tem Regras funciona às maravilhas. No entanto, a produção ainda desenvolve outras subtramas que acabam por prejudicar o resultado final ao não manter o mesmo nível da principal. É o caso, por exemplo, da história envolvendo o passado de Carter na guerra. Ainda que tema da desconstrução do mito do herói seja interessante (Clint Eastwood também teve este foco em A Conquista da Honra), o assunto aqui é tratado de maneira leve e superficial, sem maiores conseqüências ou reflexos novos. John Krasinski parece inadequado no papel de Carter e a história apenas impede a narrativa de fluir com mais naturalidade.
O mesmo acontece com a questão envolvendo o futebol americano. Se Clooney e os roteiristas tinham o objetivo de mostrar a transição do esporte, de amador para profissional, a intenção ficou longe de ser atingida. Ainda que isto seja mostrado no filme, pouco se fala sobre como aconteceu a transformação. De uma hora para outra, surge um personagem responsável pela Associação do Futebol (ou algo do tipo), sem maiores explicações de como foi parar ali, quais os seus objetivos ou sobre as criações das novas regras.
Assim, o terceiro ato de O Amor Não Tem Regras, quando Clooney deixa de lado o aspecto da comédia em prol da trama séria sobre o esporte e a guerra, transforma-se em um grande e interminável tédio. Como não poderia deixar de ser, tudo encerra-se com uma decisiva partida – este, sim, um clichê que incomoda. E, para piorar, são levantadas questões até então inéditas, como o fato dos Bulluth Bulldogs só saberem jogar sujo, algo que se torna importante na resolução e que jamais havia ganho destaque em qualquer momento da trama.
Como resultado, O Amor Não Tem Regras parece vários filmes dentro de um só. Nenhum deles é necessariamente ruim, mas apenas um realmente dá certo. É, em geral, uma produção divertida e repleta de charme pela homenagem a uma época clássica, porém com alguns problemas narrativos que impedem maior recomendação. Ainda que mereça méritos por alguns de seus acertos, fica impossível negar que O Amor Não Tem Regras é o trabalho mais fraco de George Clooney na direção.
Sorte que ele ainda tem crédito.
Nota: 6.0
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