Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, September 08, 2008

POSSUÍDOS

Juro que ainda não sei o que pensar de Possuídos. Na verdade, sei que admiro a obra e a coragem de William Friedkin em contar essa difícil história. Afinal, espera-se que um cineasta consagrado, pertencente ao panteão do cinema norte-americano graças a O Exorcista, limite-se a projetos mais seguros, onde pudesse manter seu status e não despertar o ódio das platéias. Particularmente, não odeio Friedkin por Possuídos, mas é bem provável que muita gente o fará.

Quem assistiu a algum trailer de Possuídos, pode começar a esquecer o que viu. O filme nada tem a ver com o que foi vendido. Não é uma história de terror sobre insetos assassinos se infiltrando sobre a pele das pessoas. O único inseto que o espectador verá é o que vai pousar na tela da televisão. Nada mais. Possuídos, na realidade, é um interessantíssimo estudo de personagens, repleto de significados e detalhes que deixam muitas questões para a platéia responder.

E isso é bom? Nem sempre. É um caminho arriscado para qualquer cineasta construir uma obra vaga, que deixa lacunas a serem preenchidas. Quando o diretor sabe o que faz, o resultado é positivo. Fellini em 8 e ½, Kubrick em 2001 – Uma Odisséia no Espaço e David Lynch em Cidade dos Sonhos são exemplos de incursões bem-sucedidas nessa área. No entanto, estes são raros acertos. Normalmente, o que se vê são filmes confusos, sem pé nem cabeça, que tentam mascarar os problemas sob o rótulo de “inteligente”.

Possuídos não é nem um, nem outro. O filme possui, sim, sua parcela de falhas. A narrativa é repetitiva, revelando sua a origem teatral, com os personagens voltando ao mesmo assunto dezenas de vezes, o que torna o filme, por vezes, cansativo. Da mesma forma, há cenas desnecessárias, com o único propósito de encher lingüiça. E, claro, muitos momentos criados por Friedkin e pelo roteirista Tracy Letts parecerão sem o menor sentido para a grande maioria.

No entanto, Possuídos não chega a ser uma produção tão difícil de acompanhar ou entender. A construção da história é interessante, uma vez que Friedkin não tem pressa em apresentar e construir os personagens. Somente depois que o espectador conhece Agnes e Peter, as maluquices começam a acontecer. Por isso afirmei lá em cima que Possuídos foi mal marqueteado. Na realidade, não é um filme de terror, mas um conto sobre a aproximação entre duas pessoas repletas de problemas. Pode parecer estranha essa afirmação, mas Possuídos é, em sua essência, uma história de amor. Perturbada e doentia, mas uma história de amor.

É aí, porém, que começam as perguntas. Quanto do que se passou foi real e quanto foi ilusão? Quem eram, realmente, personagens como Peter, dr. Sweet e RC? Que fim levou o filho de Agnes? Quem ligava para a protagonista? De onde surgiu o entregador de pizza? São diversas questões, todas passíveis de múltiplas interpretações, o que certamente fará com que o grande público vire a cara para o filme, mas também o que tem feito Possuídos ganhar uma crescente legião de seguidores.

Escrevi lá no início que ainda não sabia o que pensar de Possuídos. Continuo não sabendo, mas escrever esse texto já ajudou um pouco. É, certamente, uma obra ousada, destinada a um público restrito, com boas interpretações e boas idéias. Mas é, também, um filme com problemas de ritmo e de soluções vagas. O resultado final é interessante, com certeza. Bom? Não sei. Espero que me ajudem a chegar a alguma conclusão.

Nota: 7.0

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