Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, September 22, 2009

A aliança

Há algo em um homem casado que simplesmente enlouquece as mulheres. Talvez seja o fato de elas saberem que aquele espécime tem dona. Talvez seja a interpretação de que, se ele é casado, é porque tem algo de bom a oferecer. Talvez seja a estabilidade financeira que se espera de alguém com uma companheira. Ou talvez seja a pura lascívia feminina. Os motivos permanecem misteriosos. No entanto, a verdade é inegável: há algo em um homem casado que simplesmente enlouquece as mulheres.

Manolo sabia disso quando entrou no bar Néon. Chegando perto dos trinta anos, não tinha mais a disposição de ficar correndo atrás de garotinhas para depois ouvir um “não”. Havia chegado à conclusão de que estava velho demais para isso. Decidira, há algum tempo, que, se quisessem, elas teriam que tomar a iniciativa. Para ele, dar o primeiro passo nunca mais. E, por incrível que possa parecer, a tática de Manolo vinha dando certo.

Assim como daria naquela noite. Manolo estava sentado sozinho, com um copo de chopp à sua frente. Acompanhava atentamente o show acústico de rock que acontecia alguns metros diante de si quando percebeu que, na mesa ao lado, uma garota o fitava como se ele fosse a atração do palco. Um olhar fixo, alheio a todo o resto.

Sem virar o rosto em direção a ela, Manolo posicionou a mão ao lado da bochecha, deixando à vista da mulher a aliança que trazia no dedo. Permaneceu assim por alguns instantes e, em seguida, voltou à posição inicial e a saborear a bebida gelada que o aguardava.

Ao final da canção que os músicos tocavam, Manolo se levantou. Caminhou até o bar e, intencionalmente, passou ao lado da mulher que o observava. Era uma morena bonita, com um vestido branco que realçava sua pele bronzeada e o decote. Manolo, em pé, se deteve por um instante ao lado dela antes de seguir sua caminhada em direção ao bar.

Chegando ali, esperou. Aproximadamente três minutos depois, a morena pediu licença aos demais amigos da mesa e se levantou. Sem a menor pressa, ciente dos olhares que atraía, esgueirou-se por entre as demais mesas do local. Manolo estava no balcão do bar, segurando um novo copo de chopp com a mão que apresentava a aliança.

Ela não perdeu tempo. Parou ao lado de Manolo e pediu água para o barman. Em seguida, virou-se para Manolo e disse, com voz rouca e sensual:

- Ótimo show, não?

- Excelente – respondeu Manolo. – Escutá-los parece diferente a cada nova apresentação.

Manolo olhou diretamente para os olhos dela. Percebeu que a atenção da morena não estava em seus olhos ou em sua boca, mas em sua mão. A mulher olhava diretamente para a aliança.

- Prazer, Milene – ela falou, estendendo a mão com uma combinação de doçura e luxúria.

- Manolo – disse ele, propositalmente esticando a mão com a aliança.

- Bela aliança.

- Obrigado.

- É casado há muito tempo?

- Alguns anos.

Ela baixou os olhos e suspirou, completando:

- Que pena.

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Manolo acordou com a batida da porta. Esticou o pulso e olhou em seu relógio. Dez e trinta e dois. O sol da manhã teimava em entrar pelas frestas da janela. O lado direito da cama ainda estava quente e mantendo a forma do belo corpo de Milene.

Ele sorriu. Com esforço, retirou a aliança do dedo e a colocou gentilmente sobre o criado-mudo. Em seguida, virou-se para dormir.

Antes de pegar no sono, pensou mais uma vez que há algo em um homem casado que simplesmente enlouquece as mulheres. E, exatamente por disso, valia a pena se passar por um deles.

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