A lição dos Python
Meu pai costuma dizer que a gente sabe que está envelhecendo quando a frequência dos velórios começa a aumentar em nossas vidas. Há uma certa verdade nisso. À medida que os anos passam para nós, o mesmo ocorre para os outros e, portanto, ficam mais perto do fim. Se nas primeiras décadas de vida nossa experiência com a morte é mais rara, a ceifadora torna-se quase uma presença comum para quem já possui certa experiência aqui por estas bandas.
Nunca perdi alguém próximo a mim, exceto minha avó, que já sofria há algum tempo e, portanto, sua partida era algo ao qual estávamos todos preparados. Recentemente, em menos de um mês, fui a dois velórios, que me abalaram não tanto pela minha própria relação com os falecidos, mas pelas circunstâncias: o primeiro era um conhecido de apenas 28 anos, repleto de alegria e juventude, e a segunda a mãe de uma grande amiga.
Sinceramente, não consigo nem imaginar a dor que deve sentir quem perde um ente querido. A passagem destes dois me tocou, talvez por ser a primeira vez que enfrentei isso com maturidade suficiente para refletir sobre e tentar compreender um pouco mais a inevitabilidade da morte. Não sofri, da maneira propriamente dita, simplesmente porque não eram pessoas tão próximas. Mas, como disse, a morte deles me tocou. Por mais que seja algo comum, por mais que seja a única certeza que temos, é inegável que ninguém está preparado para a morte. Quando ela vem, vem como se fosse uma surpresa. E a reação inevitável é dor e incredulidade.
É difícil, mas não deveria ser assim. Tentar compreender que a pessoa amada não mais respirará o mesmo ar que nós, que não mais escutaremos a sua voz, deve ser uma sensação indescritivelmente agoniante. O fim da jornada de outra pessoa parece significar o fim de nossa própria. Como seguir adiante? Como dar o próximo passo? Como compreender aquilo que já sabíamos que iria acontecer, mas evitávamos pensar? Ou, talvez, a pergunta mais importante: há uma resposta definitiva para todas estas questões?
Provavelmente, não. Cada um tem a sua própria forma de enfrentar a dor. Cada pessoa busca forças de um jeito e tem sua maneira de encarar as adversidades da vida. Existe uma forma correta? Não. A forma correta é a que dá certo. A que faz a gente seguir em frente. É bonito pensar que a morte não é o fim, mas o recomeço. É bacana imaginar que se trata apenas do início de um novo ciclo para quem vai e de novas oportunidades para quem fica. É fácil falar. Mas, no momento em que o sofrimento nos atinge, essas reflexões tendem a evaporar e dar lugar à dor.
Quando o grupo cômico Monty Python perdeu Graham Chapman, seus demais integrantes decidiram dar a ele a despedida apropriada. Sabiam que Chapman jamais ficaria satisfeito com um funeral repleto de pessoas tristes, chorando e lamentando a sua partida. Tinha a certeza de que o amigo preferiria que, especialmente naquele momento, os presentes conseguissem compreender que até mesmo a morte pode ser vista de maneira cômica e subversiva. O que fizeram? Apresentaram praticamente um show de comédia no velório de Chapman.
O que os Python fizeram é raro. É corajoso. Para alguns, pode até ser falta de respeito. Para mim, é o correto. É o melhor caminho. Claro que a dor é inevitável, mas a morte é algo tão natural, de certa forma tão simples, que deveria ser vista como bom humor. Nem todos conseguem, mas por que não tentar? Por que não buscar o que há de cômico nessa situação tão trágica e utilizar o humor para superá-la? A leveza no lugar da angústia. A felicidade como remédio para a depressão. O riso para curar as lágrimas. Seria, como dizia o próprio Monty Python: “always look on the bright side of life”.
Por que não?
*O discurso de John Cleese no funeral de Chapman está disponível no Youtube. Recomendo.
Nunca perdi alguém próximo a mim, exceto minha avó, que já sofria há algum tempo e, portanto, sua partida era algo ao qual estávamos todos preparados. Recentemente, em menos de um mês, fui a dois velórios, que me abalaram não tanto pela minha própria relação com os falecidos, mas pelas circunstâncias: o primeiro era um conhecido de apenas 28 anos, repleto de alegria e juventude, e a segunda a mãe de uma grande amiga.
Sinceramente, não consigo nem imaginar a dor que deve sentir quem perde um ente querido. A passagem destes dois me tocou, talvez por ser a primeira vez que enfrentei isso com maturidade suficiente para refletir sobre e tentar compreender um pouco mais a inevitabilidade da morte. Não sofri, da maneira propriamente dita, simplesmente porque não eram pessoas tão próximas. Mas, como disse, a morte deles me tocou. Por mais que seja algo comum, por mais que seja a única certeza que temos, é inegável que ninguém está preparado para a morte. Quando ela vem, vem como se fosse uma surpresa. E a reação inevitável é dor e incredulidade.
É difícil, mas não deveria ser assim. Tentar compreender que a pessoa amada não mais respirará o mesmo ar que nós, que não mais escutaremos a sua voz, deve ser uma sensação indescritivelmente agoniante. O fim da jornada de outra pessoa parece significar o fim de nossa própria. Como seguir adiante? Como dar o próximo passo? Como compreender aquilo que já sabíamos que iria acontecer, mas evitávamos pensar? Ou, talvez, a pergunta mais importante: há uma resposta definitiva para todas estas questões?
Provavelmente, não. Cada um tem a sua própria forma de enfrentar a dor. Cada pessoa busca forças de um jeito e tem sua maneira de encarar as adversidades da vida. Existe uma forma correta? Não. A forma correta é a que dá certo. A que faz a gente seguir em frente. É bonito pensar que a morte não é o fim, mas o recomeço. É bacana imaginar que se trata apenas do início de um novo ciclo para quem vai e de novas oportunidades para quem fica. É fácil falar. Mas, no momento em que o sofrimento nos atinge, essas reflexões tendem a evaporar e dar lugar à dor.
Quando o grupo cômico Monty Python perdeu Graham Chapman, seus demais integrantes decidiram dar a ele a despedida apropriada. Sabiam que Chapman jamais ficaria satisfeito com um funeral repleto de pessoas tristes, chorando e lamentando a sua partida. Tinha a certeza de que o amigo preferiria que, especialmente naquele momento, os presentes conseguissem compreender que até mesmo a morte pode ser vista de maneira cômica e subversiva. O que fizeram? Apresentaram praticamente um show de comédia no velório de Chapman.
O que os Python fizeram é raro. É corajoso. Para alguns, pode até ser falta de respeito. Para mim, é o correto. É o melhor caminho. Claro que a dor é inevitável, mas a morte é algo tão natural, de certa forma tão simples, que deveria ser vista como bom humor. Nem todos conseguem, mas por que não tentar? Por que não buscar o que há de cômico nessa situação tão trágica e utilizar o humor para superá-la? A leveza no lugar da angústia. A felicidade como remédio para a depressão. O riso para curar as lágrimas. Seria, como dizia o próprio Monty Python: “always look on the bright side of life”.
Por que não?
*O discurso de John Cleese no funeral de Chapman está disponível no Youtube. Recomendo.
1 Comments:
o mais curioso, pilau, é que o ar que consumimos é o mesmo que envelhece biologicamente nossas células pelo processo da oxidação. é a contradição da vida. vivemos (sobrevivemos a) nossa auto-destruição! o eterno cair no abismo do qual fala nietzsche. pois, se assim é, não há outra alternativa senão dançar, dançar, dançar... abraço, meu caro.
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