Animal abandonado.
Era final de
tarde quando o luxuoso carro prata freou bruscamente na movimentada avenida.
Como se estivesse sozinho na pista, o motorista girou o volante para a
direita e estacionou o automóvel no meio-fio, de uma forma que transparecia
urgência.
Indiferente ao
som das buzinas e dos xingamentos, um jovem homem desceu rapidamente do carro
pela porta do motorista, enquanto uma garotinha loira de aproximadamente dez
anos desembarcava pelo lado do carona.
- Onde está
ele? – perguntou o homem.
- Não sei,
papai. Mas eu vi.
- Lá está,
querida – disse o pai, apontando para algo pequeno, encostado na parede da
fachada de uma loja de móveis.
Os dois
correram para o local. Ali, um jovem cachorro preto e branco estava encolhido
sobre si mesmo, provavelmente com medo do barulho dos carros e das pessoas que
passavam por ele. Esquálido, suas costelas pareciam querer sair do corpo,
enquanto a pele com feridas atraía moscas e outros insetos.
A jovem garota chegou mais perto do pobre animal, cujo corpo inteiro tremia diante da aproximação
da menina.
- Posso
tocá-lo, papai?
- Sim, mas vá
devagar. O coitado parece bastante assustado.
Cuidadosamente,
a garota esticou a mão para acariciar o cachorro. Ele recuou e afastou-se dois
metros para o lado. Ela insistiu e, passo a passo, foi atrás. Mais uma vez,
estendeu o braço na direção da cabeça trêmula do animal, que a olhava com
desconfiança.
Dessa vez, o
famélico cão permitiu o toque. A garota acariciou o pelo do animal por alguns
segundos, ganhando a sua confiança. Pouco a pouco, o cachorro pareceu relaxar,
aproximando-se da menina à medida que entendia não correr ameaça.
- Vai querer
levá-lo, querida? – perguntou o pai. – Ele está bastante mal, pode demorar um
pouco até melhorar.
- Sim, papai.
A gente não pode deixar ele aqui abandonado.
- Então pega
ele e vamos para o carro.
Com carinho,
para não assustar o animal, a garota ergueu o leve corpo e carregou-o no colo.
O pequeno cão ainda tremia, mas parecia se tranquilizar, como se agradecendo
pelo toque de compaixão que vinha da mão da menina.
Enquanto
caminhavam em direção ao carro, orgulhoso da atitude de sua filha, o pai da
garota notou a alguns metros de distância uma pessoa os observando. Virando a
cabeça naquela direção, enxergou um morador de rua parado em frente a uma
grande lixeira. Descalço, sujo, com cabelos desgrenhados e uma camisa rasgada
em toda a sua extensão, o mendigo olhava incisivamente para os dois.
Levemente
sobressaltado, o pai apressou a garota a entrar no carro. Segundos depois,
partiram.
O morador de
rua voltou sua atenção à imensa lata de lixo, revirando-a em busca de algum
resto de comida para matar a fome. Enquanto isso, pensava:
- Ttriste a
época em que o valor de um animal é maior que o valor de um homem.
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