Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, May 21, 2012

Faça o Que Eu Posto, Não Faça o Que Eu Faço


Redes sociais são divertidas. Gosto de passar um bom tempo navegando por elas. Tem gente que questiona a utilidade de um Facebook, enchendo a boca de podridões para amaldiçoar a criação do Zuckerberg como representação máxima de uma era fria, com relações impessoais, onde não há mais contato humano, blá e blá. Toda aquela balela que muito já se ouviu falar.

Mas redes sociais são divertidas, sim. E o que mais me entretém nelas não é a possibilidade de bisbilhotar atividades de amigos/conhecidos, mas ver como as pessoas podem ser hipócritas. Ou, ao menos, sem a menor noção de quem realmente são. É entretenimento puro.

Às vezes, dá mais vontade de rir com posts supostamente sérios do que com piadas. O Facebook se tornou um verdadeiro veículo de divulgação de autoajuda. O mais comum hoje em dia é ver o feed de atualizações com imagens e frases supostamente inspiradoras, lições de vida anacrônicas e regurgitações filosoficamente rasas, dizendo coisas do tipo “felicidade não é ter, é ser” ou “amor é ação, não palavras”.

O problema é o Facebook ser um verdadeiro megafone desse discurso vazio da literatura de autoajuda. Ele aumenta e põe uma lupa sobre a falácia, pois ela é feita por quem a gente conhece. Uma coisa é contar a estranhos que você faz chover. Outra, bem diferente, é falar o mesmo a quem vive ao seu lado. Não dá mais para ser anônimo. Não é mais o caso de uma tia sua lendo um livro do Shiniashyki, sozinha, congratulando a si mesma e achando que vai mudar de vida ao ler palavras enganadoras como “acredite no seu potencial que seus sonhos se tornarão realidade”. O julgamento é imediato. Tenha certeza de que seus amigos sabem na hora se aquilo é verdade ou não. E, muitas vezes, quem posta o discurso é o primeiro a fazer exatamente o contrário.

Já dizem por aí que é fácil falar, difícil é fazer. Na época em que vivemos hoje, é fácil postar e ainda mais difícil fazer. A máscara do Facebook é ilusória. O que se posta é avaliado por quem sabe quem você é. A mentira dura menos. O discurso é vazio. Quem o recebe já viu seus momentos de intolerância, já sofreu com o seu egoísmo, já presenciou seus ataques de possessividade e ciúme. De que adianta compartilhar diariamente frases de Mário Quintana se os seus contatos sabem que você jamais leu um livro do poeta? Pra que postar sobre generosidade se você nem dá espaço para um carro no trânsito? É a maldição do faça o que eu posto, não faça o que eu faço.

O Facebook é revelador. Ele expõe a autoindulgência. Ele escancara a hipocrisia. Consequentemente, ele diverte. É um passatempo. Experimentem. Na próxima vez que enxergarem alguma mensagem dessa natureza no mural, vejam quem a postou. Analisem a coerência (ou falta dela) entre a mensagem e o seu transmissor. Mas cuidado. Pode se tornar um vício.

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