Faça o Que Eu Posto, Não Faça o Que Eu Faço
Redes sociais são divertidas. Gosto de passar um bom tempo
navegando por elas. Tem gente que questiona a utilidade de um Facebook,
enchendo a boca de podridões para amaldiçoar a criação do Zuckerberg como
representação máxima de uma era fria, com relações impessoais, onde não há mais
contato humano, blá e blá. Toda aquela balela que muito já se ouviu falar.
Mas redes sociais são divertidas, sim. E o que mais me entretém
nelas não é a possibilidade de bisbilhotar atividades de amigos/conhecidos, mas
ver como as pessoas podem ser hipócritas. Ou, ao menos, sem a menor noção de
quem realmente são. É entretenimento puro.
Às vezes, dá mais vontade de rir com posts supostamente sérios do
que com piadas. O Facebook se tornou um verdadeiro veículo de divulgação de
autoajuda. O mais comum hoje em dia é ver o feed de atualizações com imagens e
frases supostamente inspiradoras, lições de vida anacrônicas e regurgitações
filosoficamente rasas, dizendo coisas do tipo “felicidade não é ter, é ser” ou
“amor é ação, não palavras”.
O problema é o Facebook ser um verdadeiro megafone desse discurso
vazio da literatura de autoajuda. Ele aumenta e põe uma lupa sobre a falácia,
pois ela é feita por quem a gente conhece. Uma coisa é contar a estranhos que
você faz chover. Outra, bem diferente, é falar o mesmo a quem vive ao seu lado.
Não dá mais para ser anônimo. Não é mais o caso de uma tia sua lendo um livro
do Shiniashyki, sozinha, congratulando a si mesma e achando que vai mudar de
vida ao ler palavras enganadoras como “acredite no seu potencial que seus
sonhos se tornarão realidade”. O julgamento é imediato. Tenha certeza de que
seus amigos sabem na hora se aquilo é verdade ou não. E, muitas vezes, quem
posta o discurso é o primeiro a fazer exatamente o contrário.
Já dizem por aí que é fácil falar, difícil é fazer. Na época em
que vivemos hoje, é fácil postar e ainda mais difícil fazer. A máscara do Facebook
é ilusória. O que se posta é avaliado por quem sabe quem você é. A mentira dura
menos. O discurso é vazio. Quem o recebe já viu seus momentos de intolerância,
já sofreu com o seu egoísmo, já presenciou seus ataques de possessividade e
ciúme. De que adianta compartilhar diariamente frases de Mário Quintana se os
seus contatos sabem que você jamais leu um livro do poeta? Pra que postar sobre
generosidade se você nem dá espaço para um carro no trânsito? É a maldição do
faça o que eu posto, não faça o que eu faço.
O Facebook é revelador. Ele expõe a autoindulgência. Ele escancara
a hipocrisia. Consequentemente, ele diverte. É um passatempo. Experimentem. Na
próxima vez que enxergarem alguma mensagem dessa natureza no mural, vejam quem
a postou. Analisem a coerência (ou falta dela) entre a mensagem e o seu
transmissor. Mas cuidado. Pode se tornar um vício.
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