Orgulho de família
- É um assalto, magrão, pode ir
passando a grana aí!
Wesley proferiu essas palavras
com surpreendente confiança, especialmente por ser a primeira vez que apontava
a arma para alguém. Segurava com firmeza o velho revólver emprestado por
Maicon, seu vizinho, olhando diretamente nos olhos do jovem atendente do velho mercadinho
da Rua Dom Érico.
- Vamo, vamo! – gritou,
aproximando o cano frio da testa do amedrontado homem.
Rapidamente, o atendente abriu a
caixa registradora. Suas mãos tremiam de nervosismo e o suor já fazia brilhar as
suas proeminentes bochechas enquanto começava a juntar as notas amassadas.
Foi quando Wesley ouviu atrás de
si:
- Wesley! Que é isso, guri?
Demorou alguns instantes para
voltar ao mundo real. Logo, porém, Wesley reconheceu a voz.
- Puta que o pariu... – suspirou,
desanimado.
Antes que pudesse se virar, tomou
um tapa na parte de trás da cabeça. Um golpe forte, dado por alguém que parecia
já ter feito isso centenas de vezes.
- Que tu tá fazendo!? – falou
novamente o homem às suas costas. – Baixa já isso aí!
Lentamente, Wesley recolheu a sua
arma. Desviou o olhar do rosto do atendente, que parecia não entender o que
estava acontecendo. Olhando para o chão, Wesley virou-se em direção ao homem
atrás de si.
- Desculpa, pai – falou, em uma
voz que tremia de vergonha.
- Desculpa, nada! – esbravejou o
pai de Wesley, retirando de um só golpe a arma da mão de seu filho. – Que
diabos é isso!? Desde quando você virou assaltante!? Não devia estar na escola?
- Sim, mas é que o Maicon...
- O Maicon? O que tem o Maicon? O
que ele tem a ver com isso? E com quem tu conseguiu essa arma?
- Com o Maicon.
- Cadê aquele moleque? Vou ter
uma conversa muito séria com a mãe dele. A dona Rosângela vai gostar de saber
disso!
O atendente acompanhava
paralisado a briga entre pai e filho. Seguia com as notas na mão, esperando a
próxima ordem, sem saber o que fazer.
- Eu devia te dar umas porradas,
seu piá de merda – continuava exclamando o pai de Wesley, a centímetros do
rosto do rapaz. – Onde já se viu fazer isso? Tu vai ver quando eu chegar em
casa!
- Pai, é a primeira vez que...
- Não me interessa se é a
primeira! – interrompeu. – Vai ser a última!
- Agora te manda daqui! E já pra
casa! De noite a gente conversa!
Empurrou o garoto para fora, que
saiu esbravejando consigo mesmo. O pai de Wesley retornou ao caixa.
- Desculpe por isso – disse ao
atendente.
- Nã... Não tem problema. Que bom
que o senhor chegou a tempo de colocar juízo na cabeça do seu filho.
O pai de Wesley fixou seu olhar
diretamente nos olhos do homem.
- Não. Não me desculpei pelo que
o meu filho fez. Isso é coisa dele.
- Então, por que se desculpou?
Em menos de um segundo, a arma antes
na mão de Wesley voltou a ser apontada para a testa do atendente. Agora, porém,
pelas mãos do pai do rapaz.
- Por isso.
- Mas... Mas...
- Não é porque trabalho com isso
que quero o meu filho nesse ramo – disse o pai de Wesley, justificando sua
ação.
O homem à sua frente parecia
novamente chocado.
- Agora, vamos – falou calmamente
o pai de Wesley. – Junta o dinheiro aí que ainda tenho que bater um papo sério
com meu guri.
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