Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, May 09, 2012

Orgulho de família


- É um assalto, magrão, pode ir passando a grana aí!

Wesley proferiu essas palavras com surpreendente confiança, especialmente por ser a primeira vez que apontava a arma para alguém. Segurava com firmeza o velho revólver emprestado por Maicon, seu vizinho, olhando diretamente nos olhos do jovem atendente do velho mercadinho da Rua Dom Érico.

- Vamo, vamo! – gritou, aproximando o cano frio da testa do amedrontado homem.

Rapidamente, o atendente abriu a caixa registradora. Suas mãos tremiam de nervosismo e o suor já fazia brilhar as suas proeminentes bochechas enquanto começava a juntar as notas amassadas.

Foi quando Wesley ouviu atrás de si:

- Wesley! Que é isso, guri?

Demorou alguns instantes para voltar ao mundo real. Logo, porém, Wesley reconheceu a voz.

- Puta que o pariu... – suspirou, desanimado.

Antes que pudesse se virar, tomou um tapa na parte de trás da cabeça. Um golpe forte, dado por alguém que parecia já ter feito isso centenas de vezes.

- Que tu tá fazendo!? – falou novamente o homem às suas costas. – Baixa já isso aí!

Lentamente, Wesley recolheu a sua arma. Desviou o olhar do rosto do atendente, que parecia não entender o que estava acontecendo. Olhando para o chão, Wesley virou-se em direção ao homem atrás de si.

- Desculpa, pai – falou, em uma voz que tremia de vergonha.

- Desculpa, nada! – esbravejou o pai de Wesley, retirando de um só golpe a arma da mão de seu filho. – Que diabos é isso!? Desde quando você virou assaltante!? Não devia estar na escola?

- Sim, mas é que o Maicon...

- O Maicon? O que tem o Maicon? O que ele tem a ver com isso? E com quem tu conseguiu essa arma?

- Com o Maicon.

- Cadê aquele moleque? Vou ter uma conversa muito séria com a mãe dele. A dona Rosângela vai gostar de saber disso!

O atendente acompanhava paralisado a briga entre pai e filho. Seguia com as notas na mão, esperando a próxima ordem, sem saber o que fazer.

- Eu devia te dar umas porradas, seu piá de merda – continuava exclamando o pai de Wesley, a centímetros do rosto do rapaz. – Onde já se viu fazer isso? Tu vai ver quando eu chegar em casa!

- Pai, é a primeira vez que...

- Não me interessa se é a primeira! – interrompeu. – Vai ser a última!

Em seguida, agarrou seu filho pelo braço, forçando-o porta afora do mercado.

- Agora te manda daqui! E já pra casa! De noite a gente conversa!

Empurrou o garoto para fora, que saiu esbravejando consigo mesmo. O pai de Wesley retornou ao caixa.

- Desculpe por isso – disse ao atendente.

- Nã... Não tem problema. Que bom que o senhor chegou a tempo de colocar juízo na cabeça do seu filho.

O pai de Wesley fixou seu olhar diretamente nos olhos do homem.

- Não. Não me desculpei pelo que o meu filho fez. Isso é coisa dele.

- Então, por que se desculpou?

Em menos de um segundo, a arma antes na mão de Wesley voltou a ser apontada para a testa do atendente. Agora, porém, pelas mãos do pai do rapaz.

- Por isso.

- Mas... Mas...

- Não é porque trabalho com isso que quero o meu filho nesse ramo – disse o pai de Wesley, justificando sua ação.

O homem à sua frente parecia novamente chocado.

- Agora, vamos – falou calmamente o pai de Wesley. – Junta o dinheiro aí que ainda tenho que bater um papo sério com meu guri.

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