Carta aos Mamonas
Dinho, Júlio, Bento, Sérgio e César,
No instante em que começo a escrever este texto, faz exatamente dez anos que vocês nos deixaram na mão. Não, deixem-me reescrever essa frase, porque não quero soar ofensivo a quem tanto fez por mim e por diversos outros. Faz exatamente dez anos que fomos privados da companhia de vocês.
No instante em que começo a escrever este texto, faz exatamente dez anos que vocês nos deixaram na mão. Não, deixem-me reescrever essa frase, porque não quero soar ofensivo a quem tanto fez por mim e por diversos outros. Faz exatamente dez anos que fomos privados da companhia de vocês.
Lembro claramente, apesar de possuir doze ou treze anos na época, os três momentos cruciais da nossa relação: a apresentação, o clímax e, infelizmente, o trágico desfecho. A apresentação se deu no carro mesmo. Começou a tocar uma música no rádio e minha mãe perguntou se eu já tinha ouvido ela. Falei que não e comecei a prestar atenção.
Admito que não entendi quase nada. O vocalista tinha um sotaque português e, do pouco que compreendi, vi que falava em suruba e passar a mão na bunda de alguém. Claro que logo depois acabei descobrindo que eram vocês quem cantavam e que o tal “Manoel” era um rapaz bem brasileiro de Guarulhos. Você mesmo, Dinho.
Desde então não se ouviu falar em outra coisa a não ser a banda de vocês. Era impressionante: o quinteto maluco e divertido estava em todos os lugares. Não havia como escapar. O que era excelente, porque eu adorava ouvir e assistir vocês. E quem não gostava? Desde as crianças até os mais velhos acabaram entrando na onda dos irreverentes rapazes de Guarulhos.
Duvidam? Pois a minha vó, já em sua fase final de vida, adorava assistir vocês na TV. Era uma de suas poucas alegrias naqueles momentos difíceis pelos quais ela passava. Já seria eternamente grato a vocês por iluminarem, ainda que brevemente, este período da vida dela. Mas vocês fizeram mais. Muito mais.
Como no tal do clímax que já comentei ali em cima. Este foi o show no Gigantinho, aqui em Porto Alegre. Foi uma noite inesquecível, até por ter sido a única apresentação de vocês na minha cidade. E garanto que me diverti um bocado, especialmente no bis do Vira-Vira no final. Aquela mesma música da suruba e da mão na bunda que eu tinha comentado.
Pra vocês terem uma idéia de quanto eu gostava de vocês, cheguei até a criar uma paixãozinha pela namorada da época do Dinho. Sem ciúmes, cara, eu era apenas um fã. Jamais sonhava conseguir alguma coisa com ela. Só estou dizendo isso pra mostrar a influência que vocês tiveram em mim. Se hoje sou um cara bem-humorado, tenho certeza absoluta que muito deve a vocês. Que boa parte disso vem das letras das músicas que eu escuto até hoje.
Porque por mais que digam que vocês foram um cometa, pra mim foram muito mais do que isso. Um cometa passa rápido e logo em seguida ninguém lembra. Não foi o que aconteceu com vocês. Este próprio texto é uma prova disso. São lembrados até hoje. Talvez não conquistem tantos novos fãs, mas quem viveu aquela época, quem viu e ouviu vocês durante aquele pouco tempo em que estiveram aí, jamais esqueceu. E tenho certeza que muitos, assim como eu, gostam de ouvir o som de vocês de vez em quando.
Até que finalmente veio a despedida. Quando um amigo meu me ligou naquela manhã pra dizer que vocês tinham nos deixado, não acreditei. Como poderia? Naquela altura, vocês já eram parte da minha família. Conhecia seus pais, suas casas, conhecia suas histórias. E eu estava todo dia com vocês, seja cantando, ouvindo ou dando risadas.
É uma pena que vocês foram tão cedo. Mas mesmo esse pouco tempo foi o suficiente para fazer parte da vida de milhões de jovens, adultos e velhos aqui do Brasil. Talvez vocês nem saibam o quanto continuaram sendo adorados depois do acidente. Se souberam, acredito que devem estar felizes. Da mesma forma que nos acostumamos a vê-los.
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