Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Sunday, July 02, 2006

O Casal Perfeito

Esse é um texto que eu escrevi há uns dois anos. Ia publicar ele quando o cara se aposentasse, mas depois da atuação fenomenal de ontem, decidi antecipar. Simplesmente o melhor jogador que já vi jogar.

Já faz algum tempo que ela perambula por aí. Como ela surgiu, poucos sabem ao certo. Há rumores, alguns fatos perdidos, mas sua origem é meio nebulosa. Sabemos que faz mais de um século que ela circula por campos dos quatro cantos redondos dessa Terra, em uma incessante busca por sua alma gêmea. Claro, porque se todos têm direito a encontrar seu par perfeito, por que ela não?

Enquanto isso, ela corre. Enquanto isso, ela rola, contagiando multidões, rendendo fortunas e despertando sensações indescritíveis quando passa daquela linha branca e tira uma soneca no fundo das redes. Mas, quando faz isso, está apenas cumprindo seu papel, sua razão de ser. Está apenas sobrevivendo, enquanto procura por aquele que saberá tratá-la e respeitá-la da devida maneira.

Engana-se quem pensa que ao longo desse tempo ela nunca encontrou tal correspondente. Vários souberam cuidá-la e valorizá-la, dos mais diversos lugares do mundo. Só que ela enfrenta uma maldição que jamais será quebrada. Não importa o que aconteça, o relacionamento vai terminar. Seja de maneira amigável ou com brigas e decepções, a separação é certa e deixará lembranças na memória de quem acompanhou essa paixão, enquanto ela segue em frente atrás de abrigo nos pés de outros.

Em sua busca, teve diversos amantes, mas talvez apenas duas de suas relações podem ser consideradas perfeitas. A primeira foi com um negrinho malandro, abusado e cheio de ginga, o primeiro a mostrar ao mundo como ela deveria ser tratada. O tempo que passaram juntos foi mágico, e somente se encerrou porque ele não conseguia mais dar conta do recado. Coisas da idade.

A segunda paixão foi com um pibe argentino, que, extremamente ciumento, tomava ela para si e não havia como tirá-la de seu poder sem apelar para a violência. Ah, como ela amava aquela canhotinha e a gentileza que era dirigida a ela. Mas a relação terminou em decepção e, talvez por essa razão, ela não tenha se apresentado bem nos anos seguintes. Alguns acharam que estava chegando ao fim, mas era apenas o coração partido, se recuperando. Procurou achar a solução nos pés de diversos amantes, mas, apesar alguns casos promissores, não teve muito sucesso, como aquele com um italiano que acabou por desrespeitá-la na frente de bilhões de pessoas, em um momento decisivo da vida de ambos.

Até que surgiu um francês no meio de seu caminho, para a felicidade dela e o regozijo de milhões de pessoas. Poucas vezes se viu tamanha afinidade. Quem os enxerga juntos, não hesita em afirmar que eles nasceram um para o outro. Não é uma relação parecida como a que teve com o negrinho ou com o pibe. Também não é melhor nem pior, mas apenas diferente. Isso porque, depois da já citada decepção, ela cresceu, amadureceu e começou a ser mais exigente. Sua busca, conseqüentemente, tornou-se mais difícil.

Ele supre tais necessidades com categoria. Imponente, elegante, altivo. Ele demanda respeito por onde passa e ninguém ousa negá-lo essa reverência. Quando os dois se encontram, ela sorri. Muda a fisionomia, parece correr com mais facilidade e leveza. Abraça-se em seus pés e deseja não sair mais. Ela sabe que ali encontrou seu refúgio, seu abrigo. Sabe que, enquanto estiver com ele, jamais será maltratada.

Ele já afirmou que nada lhe traz mais felicidade do que acordar e saber que tem um encontro com ela. Como repudiar uma paixão dessas? Como não se contagiar com essa devoção e cumplicidade? Digo de novo, pois nunca é demais afirmar, que eles foram feitos um para o outro. Mágica, pode ser a palavra. Ele faz com ela coisas que nenhum outro fez, em momentos que parecem ter sido abençoados pelos deuses. Com ele, ela não rola, desfila. Com ele, ela não apenas existe, ganha vida. Enquanto acompanhamos essa perfeita união, invejamos ele por tê-la conquistado dessa forma. Invejamos por saber que jamais a trataremos da mesma maneira.

Mas, se ele a faz sentir bem, ela também lhe dá bons retornos. Tudo o que tem, tudo o que conquistou, deve a ela. Já possuiu o mundo em suas mãos, num capricho dos deuses que fizeram com que ela saísse de seus pés e duas flechas voassem daquela careca reluzente até o coração de um povo inteiro, destruindo as esperanças de milhões de pessoas do mesmo país do tal negrinho. Já foi eleito três vezes o melhor parceiro dela, entre milhares os pretendentes. Ela a levou ao topo e, como recompensa, ele a fez se sentir viva novamente.

Sim, sabemos que, assim como as outras, a relação vai acabar. O que nos conforta é saber que essa união, enquanto durar, não é exclusiva dos dois, é nossa também. Nós podemos acompanhá-la e admirá-la, apesar de jamais compreendê-la. Jamais repeti-la. Quando ela se encerrar, uma nova busca estará se iniciando. Ela sairá atrás de outro que a complete, que a ofereça o carinho e respeito que tanto merece. Da mesma forma que fez o negrinho, o pibe e agora esse francesinho.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Esse texto é ótimo...segura o dia 5 que vai rolar algo na cidade baixa!
beijo

2:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

viva zizou.

9:00 AM  
Blogger André said...

Existe pelo menos uma dúzia de jogadores dos anos 90/00 que foram melhores e mais importantes que Zidane

5:50 AM  

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