Como criar monstros.
Muitos já devem assistido o comercial “Hitler”, da Folha de São Paulo. Veiculado em 1988, a peça criada por Nizan Guanaes começava com o quadro fechado em nada mais do que um ponto, enquanto a narração falava sobre um homem que uniu a Alemanha, acabou com o desemprego e recuperou a economia do país, entre outros feitos. A idéia transmitida era de que se tratava de um grande homem, um verdadeiro e iluminado, até o momento em que os pontos se uniam formando a face de Adolf Hitler. Ao final, dizia-se: “É possível contar um monte de mentiras dizendo apenas a verdade.”
Uma das duas peças brasileiras relacionadas entre as 100 melhores da publicidade do século passado, o comercial trazia um conceito impecável: o de que, mesmo sem contar uma inverdade, é possível levar o leitor a ter uma interpretação errada sobre determinado assunto. Hitler, de fato, fez tudo aquilo. Foi um grande líder, que reergueu um país em frangalhos após a Primeira Guerra Mundial. Mas o texto omitia o fato de que o Führer era um genocida, responsável direto pelo extermínio de seis milhões de pessoas apenas nos campos de concentração. Dizia somente a verdade, mas, ainda assim, construía uma imagem mentirosa de Hitler.
E isto é mais do que comum nos dias de hoje. Com a velocidade atual das informações, e a ânsia das emissoras em sair na frente das concorrentes, muitas vezes as notícias atêm-se simplesmente aos fatos, sem buscar uma contextualização mais acurada dos acontecimentos. A mídia não chega, necessariamente, a mentir, mas, ao transmitir apenas um lado de determinada história, acaba por colaborar para o surgimento de pré-julgamentos e opiniões levianas, erigidas unicamente por informações superficiais. É difícil condenar tais atitudes como falta de ética, porém, é inconteste o fato de que esta também não sobra.
Recentemente, passei por um caso desses. Um grande amigo meu envolveu-se em grave confusão na Indonésia, que culminou com o trágico falecimento de uma garota de 24 anos. Lendo as primeiras notícias sobre o caso, inclusive de publicações locais, eu tinha dificuldades em colocar o jovem que eu conhecia como causador dos incidentes. E os comentários das pessoas somente aumentavam minha confusão. Para eles, que apenas liam as reportagens, quem realizara aquilo era um monstro, um irresponsável que atravessou o mundo para destruir famílias. Para mim, era um irmão, uma pessoa a quem eu confiaria minha vida e a vida de minha família, pagando caro por um deslize.
O ditado de que existem dois lados para todo tipo de assunto é verdade. A frase de Nelson Rodrigues sobre a unanimidade ser burra também. Meu amigo cometeu um erro, sim. Um erro grave, mas um erro que qualquer um de nós poderia cometer. Por acaso, eu seria um monstro se, em um acidente, tirasse a vida de alguém? Se cometesse um crime em caso de necessidade, seria eu um marginal? E quantos destes “marginais” não erraram simplesmente em função de desespero? A pessoa que fui até o momento, merece ser esquecida? As amizades que fiz? Os conselhos que dei? Os relacionamentos que construí? Os abraços que ofereci? Onde irá parar tudo isso quando eu me tornar este “monstro”?
Reduzir a essência de uma pessoa a um simples “bom” ou “mau” não é somente uma atitude simplista, mas irresponsável. Homem algum cabe em apenas uma definição. Se ninguém consegue definir a si mesmo em uma única palavra, como o outro o conseguiria? Sempre, no centro dos mais trágicos acontecimentos, estão pessoas. Seres complexos, com histórias de vida, com parentes e amigos, erros e acertos, sonhos e desejos. Acima de tudo, pessoas. Como eu e você. Como o meu amigo na Indonésia. Como Lindemberg Alves, o seqüestrador de Santo André. Pessoas que erram, que se culpam e que tomam decisões, muitas vezes precipitadas.
Claro que nem todo mundo é inocente. Mas ninguém pode ser culpado de antemão.
Uma das duas peças brasileiras relacionadas entre as 100 melhores da publicidade do século passado, o comercial trazia um conceito impecável: o de que, mesmo sem contar uma inverdade, é possível levar o leitor a ter uma interpretação errada sobre determinado assunto. Hitler, de fato, fez tudo aquilo. Foi um grande líder, que reergueu um país em frangalhos após a Primeira Guerra Mundial. Mas o texto omitia o fato de que o Führer era um genocida, responsável direto pelo extermínio de seis milhões de pessoas apenas nos campos de concentração. Dizia somente a verdade, mas, ainda assim, construía uma imagem mentirosa de Hitler.
E isto é mais do que comum nos dias de hoje. Com a velocidade atual das informações, e a ânsia das emissoras em sair na frente das concorrentes, muitas vezes as notícias atêm-se simplesmente aos fatos, sem buscar uma contextualização mais acurada dos acontecimentos. A mídia não chega, necessariamente, a mentir, mas, ao transmitir apenas um lado de determinada história, acaba por colaborar para o surgimento de pré-julgamentos e opiniões levianas, erigidas unicamente por informações superficiais. É difícil condenar tais atitudes como falta de ética, porém, é inconteste o fato de que esta também não sobra.
Recentemente, passei por um caso desses. Um grande amigo meu envolveu-se em grave confusão na Indonésia, que culminou com o trágico falecimento de uma garota de 24 anos. Lendo as primeiras notícias sobre o caso, inclusive de publicações locais, eu tinha dificuldades em colocar o jovem que eu conhecia como causador dos incidentes. E os comentários das pessoas somente aumentavam minha confusão. Para eles, que apenas liam as reportagens, quem realizara aquilo era um monstro, um irresponsável que atravessou o mundo para destruir famílias. Para mim, era um irmão, uma pessoa a quem eu confiaria minha vida e a vida de minha família, pagando caro por um deslize.
O ditado de que existem dois lados para todo tipo de assunto é verdade. A frase de Nelson Rodrigues sobre a unanimidade ser burra também. Meu amigo cometeu um erro, sim. Um erro grave, mas um erro que qualquer um de nós poderia cometer. Por acaso, eu seria um monstro se, em um acidente, tirasse a vida de alguém? Se cometesse um crime em caso de necessidade, seria eu um marginal? E quantos destes “marginais” não erraram simplesmente em função de desespero? A pessoa que fui até o momento, merece ser esquecida? As amizades que fiz? Os conselhos que dei? Os relacionamentos que construí? Os abraços que ofereci? Onde irá parar tudo isso quando eu me tornar este “monstro”?
Reduzir a essência de uma pessoa a um simples “bom” ou “mau” não é somente uma atitude simplista, mas irresponsável. Homem algum cabe em apenas uma definição. Se ninguém consegue definir a si mesmo em uma única palavra, como o outro o conseguiria? Sempre, no centro dos mais trágicos acontecimentos, estão pessoas. Seres complexos, com histórias de vida, com parentes e amigos, erros e acertos, sonhos e desejos. Acima de tudo, pessoas. Como eu e você. Como o meu amigo na Indonésia. Como Lindemberg Alves, o seqüestrador de Santo André. Pessoas que erram, que se culpam e que tomam decisões, muitas vezes precipitadas.
Claro que nem todo mundo é inocente. Mas ninguém pode ser culpado de antemão.
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