Urnas e televisões.
Pode parecer estranho para quem me conhece e sabe que sou viciado em cinema, mas a maioria dos filmes que assisti foi em uma televisão de quatorze polegadas. Sabem aquelas dois em um, com vídeo? Pois é, uma daquelas. Como meu quarto é pequeno e a distância entre minha posição de sedentário e a tela também não é grande, nunca senti grandes problemas nesse sentido.
Há aproximadamente um ano e meio, minha irmã se mandou para a Austrália. Prontamente, roubei a televisão vinte polegadas dela e coloquei no meu quarto. Na verdade, nem fui eu, foi um amigo meu, certa vez que fomos jogar videogame e ele se indignou com o tamanho minúsculo do meu aparelho. Desde então, assisti centenas de filmes, seriados, jogos de futebol e sei lá o que mais nessa televisão.
Acostumei, claro.
Há cinco, seis meses, minha irmã retornou da terra dos cangurus. Porém, com trabalho, faculdade, festas e essas coisas que consumem tempo, neurônios e fígados, ela pouco parava para assistir tevê em seu quarto. Assim, o aparelho continuou comigo nestes meses, já que eu aproveitava mais do que ela, enquanto a moça ficou com o meu embutido de quatorze polegadas.
Pois bem. Semana passada, ela botou teta. Para se recuperar da cirurgia, precisava ficar de repouso, em casa, por alguns dias. Então, com a autoridade de uma nova siliconada, exigiu sua televisão de volta. Voltou ao meu quarto minha velha e pequena companheira, já com o controle estragado, o vídeo falecido e, como descobri depois, a entrada do cabo de vídeo também indisposta a trabalhar.
Tive que abrir a mão para comprar uma. Ontem, domingo de eleições, trânsito caótico, fui parar no BIG para escolher a minha nova caixinha de imagens. Até aí tudo bem, apesar de ser três e pouco da tarde e eu ainda não ter cumprido o meu dever cívico para com a nossa democracia, cujo prazo final era cinco horas. Sem problemas, era escolher o aparelho, pagar e ir mexer naquelas urnas que mais parecem um Pense Bem.
Claro que a Lady Murphy começou a atuar. Inevitável. Primeiro, escolhi uma de vinte e uma polegadas. A moça que me atendeu se mandou pro estoque. Dez minutos de espera e ela volta, suada, esbaforida, dizendo que não tinham mais aquele modelo. Optei, então, por outra. E lá se manda ela de novo, naquele BIG sem ar-condicionado e com um calor de quase trinta graus. Enquanto isso, em conversas com minha mãe e minha tia, fui convencido de que valia mais a penas comprar uma de vinte e nove polegadas. Como avisar a pobre vendedora?
Esperamos a moça voltar. Eu, já pensando em como justificar meu voto. Problemas como tecnologia é um bom motivo? Quando voltou, largamos a notícia de que tínhamos trocado. Pude ver a raiva nos olhos dela. O suor pingando da testa. O lábio inferior tremendo de fúria. Por pouco ela não desistiu da venda. Se fosse garçonete, teria cuspido na comida. Tenho certeza. Pelo menos a televisão não estragaria com um cuspe. Acho eu.
E lá foi ela de novo até o estoque. Voltou com o aparelho. Um trambolho que nem cabia no carrinho de compras. Pagamos e, no caminho até o carro, lembrei-me de algo: eu não tinha ido de caminhonete. Não. Nem um Marea ou um carro grande qualquer. Tínhamos ido, em três pessoas, no meu Corsinha Wind. Claro que tínhamos esquecido da logística. Entraria aquele caixote gigantesco no carro? Enquanto isso, Fogaça e Maria já furiosos comigo por não ter votado. O tempo se esgotava.
Primeiro, tentamos o porta-malas. Sem chance. Acho que não conseguiria nem transportar o corpo de um anão naquele espaço. Em seguida, banco de trás. Mas o carro era duas portas e não tinha como entrar. Banco do carona? Entrava, mas trancava a caixa de câmbio e seria impossível dirigir. Até aí, já estávamos encharcados de suor. Minha tia perdeu um naco de carne do dedo. Jorrava sangue por todo meu carro. Minha mãe, calma como sempre, amaldiçoava o mundo. E eu tentava achar uma solução.
Abrir a caixa, claro. Tirar o papelão e carregar apenas a televisão. Foi o que fizemos, não sem dificuldade. Claro que ainda assim não coube. As pessoas que chegavam no local já se aglomeravam para assistir à ação. Reuniam-se em torno da gente com o objetivo de se divertir. Alguns já comiam pipoca. Fotos eram tiradas. A torcida nos incentivava. Um homem começou a pegar dinheiro para apostar sobre se conseguiríamos. O pessoal das câmeras de segurança deve ter se divertido à beça.
Baixamos o banco do carona ao máximo. Tanto que achei termos quebrado o encosto. Mas, finalmente, a televisão entrou. Conseguimos fechar a porta. Os aplausos foram ensurdecedores. A ovação não parava. Entramos no Corsa, os três apertados por uma televisão, e fomos embora, para desânimo da platéia. Faltavam apenas poucos minutos para o encerramento das votações. Meu voto tão pensado e estudado se perderia por uma televisão. Mas deu tudo certo.
Há aproximadamente um ano e meio, minha irmã se mandou para a Austrália. Prontamente, roubei a televisão vinte polegadas dela e coloquei no meu quarto. Na verdade, nem fui eu, foi um amigo meu, certa vez que fomos jogar videogame e ele se indignou com o tamanho minúsculo do meu aparelho. Desde então, assisti centenas de filmes, seriados, jogos de futebol e sei lá o que mais nessa televisão.
Acostumei, claro.
Há cinco, seis meses, minha irmã retornou da terra dos cangurus. Porém, com trabalho, faculdade, festas e essas coisas que consumem tempo, neurônios e fígados, ela pouco parava para assistir tevê em seu quarto. Assim, o aparelho continuou comigo nestes meses, já que eu aproveitava mais do que ela, enquanto a moça ficou com o meu embutido de quatorze polegadas.
Pois bem. Semana passada, ela botou teta. Para se recuperar da cirurgia, precisava ficar de repouso, em casa, por alguns dias. Então, com a autoridade de uma nova siliconada, exigiu sua televisão de volta. Voltou ao meu quarto minha velha e pequena companheira, já com o controle estragado, o vídeo falecido e, como descobri depois, a entrada do cabo de vídeo também indisposta a trabalhar.
Tive que abrir a mão para comprar uma. Ontem, domingo de eleições, trânsito caótico, fui parar no BIG para escolher a minha nova caixinha de imagens. Até aí tudo bem, apesar de ser três e pouco da tarde e eu ainda não ter cumprido o meu dever cívico para com a nossa democracia, cujo prazo final era cinco horas. Sem problemas, era escolher o aparelho, pagar e ir mexer naquelas urnas que mais parecem um Pense Bem.
Claro que a Lady Murphy começou a atuar. Inevitável. Primeiro, escolhi uma de vinte e uma polegadas. A moça que me atendeu se mandou pro estoque. Dez minutos de espera e ela volta, suada, esbaforida, dizendo que não tinham mais aquele modelo. Optei, então, por outra. E lá se manda ela de novo, naquele BIG sem ar-condicionado e com um calor de quase trinta graus. Enquanto isso, em conversas com minha mãe e minha tia, fui convencido de que valia mais a penas comprar uma de vinte e nove polegadas. Como avisar a pobre vendedora?
Esperamos a moça voltar. Eu, já pensando em como justificar meu voto. Problemas como tecnologia é um bom motivo? Quando voltou, largamos a notícia de que tínhamos trocado. Pude ver a raiva nos olhos dela. O suor pingando da testa. O lábio inferior tremendo de fúria. Por pouco ela não desistiu da venda. Se fosse garçonete, teria cuspido na comida. Tenho certeza. Pelo menos a televisão não estragaria com um cuspe. Acho eu.
E lá foi ela de novo até o estoque. Voltou com o aparelho. Um trambolho que nem cabia no carrinho de compras. Pagamos e, no caminho até o carro, lembrei-me de algo: eu não tinha ido de caminhonete. Não. Nem um Marea ou um carro grande qualquer. Tínhamos ido, em três pessoas, no meu Corsinha Wind. Claro que tínhamos esquecido da logística. Entraria aquele caixote gigantesco no carro? Enquanto isso, Fogaça e Maria já furiosos comigo por não ter votado. O tempo se esgotava.
Primeiro, tentamos o porta-malas. Sem chance. Acho que não conseguiria nem transportar o corpo de um anão naquele espaço. Em seguida, banco de trás. Mas o carro era duas portas e não tinha como entrar. Banco do carona? Entrava, mas trancava a caixa de câmbio e seria impossível dirigir. Até aí, já estávamos encharcados de suor. Minha tia perdeu um naco de carne do dedo. Jorrava sangue por todo meu carro. Minha mãe, calma como sempre, amaldiçoava o mundo. E eu tentava achar uma solução.
Abrir a caixa, claro. Tirar o papelão e carregar apenas a televisão. Foi o que fizemos, não sem dificuldade. Claro que ainda assim não coube. As pessoas que chegavam no local já se aglomeravam para assistir à ação. Reuniam-se em torno da gente com o objetivo de se divertir. Alguns já comiam pipoca. Fotos eram tiradas. A torcida nos incentivava. Um homem começou a pegar dinheiro para apostar sobre se conseguiríamos. O pessoal das câmeras de segurança deve ter se divertido à beça.
Baixamos o banco do carona ao máximo. Tanto que achei termos quebrado o encosto. Mas, finalmente, a televisão entrou. Conseguimos fechar a porta. Os aplausos foram ensurdecedores. A ovação não parava. Entramos no Corsa, os três apertados por uma televisão, e fomos embora, para desânimo da platéia. Faltavam apenas poucos minutos para o encerramento das votações. Meu voto tão pensado e estudado se perderia por uma televisão. Mas deu tudo certo.
Ao final, eu só pensava que podia ter sido pior. Poderíamos ter ido com o Ka da minha mãe.
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