Sobre xixi e flores
Que atire a primeira pedra aquele que nunca mijou na rua. E sem papinho de homem ou mulher. Tudo bem que os machos fazem mais, por serem anatomicamente mais adequados a isso, mas toda mulher já deu uma agachadinha atrás de um murinho ou no meio do mato pra se aliviar. É algo normal já. A sociedade, essa senhora cheia de regras, normalmente costuma relevar tais acontecimentos como inevitáveis.
Normalmente, mas nem sempre. Na última sexta-feira, presenciei um evento que envolveu uma mijadinha na rua. Na verdade, mais do que presenciei, fui um dos protagonistas da cena. Começou aqui em Porto Alegre. Eu e mais quatro pessoas partimos em direção a Imbé (pra quem não sabe, uma das praias feias do nosso litoral) para um feriadão de perdição. Já era noite quando saímos da capital e, como nossa ideia (sem acento, viram?) era ir direto para a noite, optamos por ir bebendo já na viagem. Menos o motorista, que não bebe.
Como não poderia deixar de ser, a cevada e o lúpulo foram testando os limites da bexiga e, quando chegamos na praia, tudo o que queríamos era colocar todo aquele líquido para fora. Paramos, então, em um clube. Duas garotas desceram e entraram no clube. Os dois homens, eu e mais um, nem tentamos. Homem pode mijar na rua, mulher não. Então, fui no cantinho do portão de uma casa e comecei a despejar toda a amônia na calçada.
Nada melhor do que mijar quando se está apertado. O problema começou em seguida. Após quatro minutos e doze segundos mijando, um cidadão saiu de dentro da casa. Era um homem baixinho, gordinho, meio careca, daqueles com todas as razões para não gostar de viver e passar o dia reclamando. Já apareceu com os braços abertos, gesticulando e gritando:
- Que é isso!? O que vocês pensam que tão fazendo!?
Eu e meu outro companheiro de ceva, já um pouco bastante levemente alegres, apenas nos entreolhamos:
- Ah, tá! Era só o que me faltava – disse eu.
O gordinhobaixinhomeiocarecademalcomavida continuou esbravejando:
- Vai mijar na tua casa, seu merda! Onde já se viu isso!?
- Só estou dando uma aliviada – respondi.
- Aliviada nada! Cai fora daqui! Eu posso te fazer ser preso por isso!
- Já vou, só me deixa terminar. Faz mal parar no meio.
- Eu vou terminar com isso agora!
Dito isso, pegou algo em cima da mesa da rua e partiu em nossa direção. Um pouco alterado, levei um tempo para decifrar o que o cidadão trazia na mão. Pensei se tratar de uma arma, de um pedaço de madeira, de um bebê, sei lá. Só quando ele chegou mais perto vi que era uma cestinha de flores. Ai, que amor.
Nesse ponto, eu já tinha acabado. Tudo bem que não deu tempo de sacudir, mas já voltava para o carro, não dando bola para o gordinho que queria me bater com as rosas. No entanto, vi que ele continuava gritando. Olhei para trás e notei que meu amigo ainda mijava e seguia discutindo com o dono da casa.
- Sai daqui! – dizia o homem das rosas.
- Tá, tá... – respondia meu amigo, já encerrando os trabalhos.
- Vou chamar a polícia! – dizia o homem das tulipas.
- Chama quem tu quiser – respondia meu amigo, fechando a braguilha.
O homem dos crisântemos pegou o telefone. Ligou. Rapidamente, estava chamando uma viatura para a casa dele sob a alegação de que dois vândalos estavam destruindo sua casa. Detalhe: não fizemos na casa dele, mas na calçada, bem no canto, sem incomodar ninguém. Por isso, não levamos a sério a ligação. Voltamos para o carro e ficamos esperando as moças retornarem do toalete de dentro do clube.
Não dei mais bola para o homem dos lírios, mas vi que ele continuava parado na frente da casa olhando para nós. Esperando os defensores da lei chegarem. Nisso, as donzelas voltaram. Um outro amigo, em outro carro, disse:
- É melhor vocês saírem senão vão se incomodar.
- Não fizemos nada. Só mijamos – eu disse.
- Vocês vão se incomodar – repetiu ele.
Então, fomos embora. Entramos no carro, nós cinco, as duas bêbadas, os dois bêbados e o motorista, e saímos. Quando chegamos na esquina, ouvimos uma sirene. Os tiras haviam chegado. Sempre sonhei em participar de uma perseguição em alta velocidade, mas eu estava de carona e não teria tanta graça. O motorista encostou o carro e os policiais saíram do carro.
Juro que um deles desceu com um sorriso no rosto, rindo de toda a situação. Não tinha como não rir. Chamarem a polícia só porque dois caras estavam apertados
Os tiras da pesada pediram documentos de todo mundo no carro.
- Sabiam que vocês podem ser presos pelo que fizeram? – disse um deles.
- Pô, seu guarda, não fizemos nada de mais. Quem nunca mijou na rua?
- É, mas não pode.
- Tudo bem, pedimos desculpas. Mas o dono da casa exagerou? Não mijamos nele, na mulher dele ou no cachorro. Foi bem no canto.
- Vai ver ele ficou com inveja – completou o policial.
Aí vimos como ele também estava se divertindo com a situação, mas precisava manter a postura. Até porque o gordinhobaixinhomeiocarecademalcomavida provavelmente estava observando tudo, torcendo para que nos jogassem na prisão ou fôssemos condenados à pena de morte pela mijada assassina.
- Tem banheiros ecológicos logo adiante. Da próxima vez, por favor, usem – disse o tira.
- Sim, senhor – falei, batendo continência.
Os policiais saíram e fomos logo atrás, em direção à nossa casa. Antes, assim que a tropa de elite sumiu de vista, voltei para a casa do homem das orquídeas, baixei as calças e comecei a fazer cocô na calçada dele. Não, essa parte é brincadeira.
Mas deveria ter feito.
Normalmente, mas nem sempre. Na última sexta-feira, presenciei um evento que envolveu uma mijadinha na rua. Na verdade, mais do que presenciei, fui um dos protagonistas da cena. Começou aqui em Porto Alegre. Eu e mais quatro pessoas partimos em direção a Imbé (pra quem não sabe, uma das praias feias do nosso litoral) para um feriadão de perdição. Já era noite quando saímos da capital e, como nossa ideia (sem acento, viram?) era ir direto para a noite, optamos por ir bebendo já na viagem. Menos o motorista, que não bebe.
Como não poderia deixar de ser, a cevada e o lúpulo foram testando os limites da bexiga e, quando chegamos na praia, tudo o que queríamos era colocar todo aquele líquido para fora. Paramos, então, em um clube. Duas garotas desceram e entraram no clube. Os dois homens, eu e mais um, nem tentamos. Homem pode mijar na rua, mulher não. Então, fui no cantinho do portão de uma casa e comecei a despejar toda a amônia na calçada.
Nada melhor do que mijar quando se está apertado. O problema começou em seguida. Após quatro minutos e doze segundos mijando, um cidadão saiu de dentro da casa. Era um homem baixinho, gordinho, meio careca, daqueles com todas as razões para não gostar de viver e passar o dia reclamando. Já apareceu com os braços abertos, gesticulando e gritando:
- Que é isso!? O que vocês pensam que tão fazendo!?
Eu e meu outro companheiro de ceva, já um pouco bastante levemente alegres, apenas nos entreolhamos:
- Ah, tá! Era só o que me faltava – disse eu.
O gordinhobaixinhomeiocarecademalcomavida continuou esbravejando:
- Vai mijar na tua casa, seu merda! Onde já se viu isso!?
- Só estou dando uma aliviada – respondi.
- Aliviada nada! Cai fora daqui! Eu posso te fazer ser preso por isso!
- Já vou, só me deixa terminar. Faz mal parar no meio.
- Eu vou terminar com isso agora!
Dito isso, pegou algo em cima da mesa da rua e partiu em nossa direção. Um pouco alterado, levei um tempo para decifrar o que o cidadão trazia na mão. Pensei se tratar de uma arma, de um pedaço de madeira, de um bebê, sei lá. Só quando ele chegou mais perto vi que era uma cestinha de flores. Ai, que amor.
Nesse ponto, eu já tinha acabado. Tudo bem que não deu tempo de sacudir, mas já voltava para o carro, não dando bola para o gordinho que queria me bater com as rosas. No entanto, vi que ele continuava gritando. Olhei para trás e notei que meu amigo ainda mijava e seguia discutindo com o dono da casa.
- Sai daqui! – dizia o homem das rosas.
- Tá, tá... – respondia meu amigo, já encerrando os trabalhos.
- Vou chamar a polícia! – dizia o homem das tulipas.
- Chama quem tu quiser – respondia meu amigo, fechando a braguilha.
O homem dos crisântemos pegou o telefone. Ligou. Rapidamente, estava chamando uma viatura para a casa dele sob a alegação de que dois vândalos estavam destruindo sua casa. Detalhe: não fizemos na casa dele, mas na calçada, bem no canto, sem incomodar ninguém. Por isso, não levamos a sério a ligação. Voltamos para o carro e ficamos esperando as moças retornarem do toalete de dentro do clube.
Não dei mais bola para o homem dos lírios, mas vi que ele continuava parado na frente da casa olhando para nós. Esperando os defensores da lei chegarem. Nisso, as donzelas voltaram. Um outro amigo, em outro carro, disse:
- É melhor vocês saírem senão vão se incomodar.
- Não fizemos nada. Só mijamos – eu disse.
- Vocês vão se incomodar – repetiu ele.
Então, fomos embora. Entramos no carro, nós cinco, as duas bêbadas, os dois bêbados e o motorista, e saímos. Quando chegamos na esquina, ouvimos uma sirene. Os tiras haviam chegado. Sempre sonhei em participar de uma perseguição em alta velocidade, mas eu estava de carona e não teria tanta graça. O motorista encostou o carro e os policiais saíram do carro.
Juro que um deles desceu com um sorriso no rosto, rindo de toda a situação. Não tinha como não rir. Chamarem a polícia só porque dois caras estavam apertados
Os tiras da pesada pediram documentos de todo mundo no carro.
- Sabiam que vocês podem ser presos pelo que fizeram? – disse um deles.
- Pô, seu guarda, não fizemos nada de mais. Quem nunca mijou na rua?
- É, mas não pode.
- Tudo bem, pedimos desculpas. Mas o dono da casa exagerou? Não mijamos nele, na mulher dele ou no cachorro. Foi bem no canto.
- Vai ver ele ficou com inveja – completou o policial.
Aí vimos como ele também estava se divertindo com a situação, mas precisava manter a postura. Até porque o gordinhobaixinhomeiocarecademalcomavida provavelmente estava observando tudo, torcendo para que nos jogassem na prisão ou fôssemos condenados à pena de morte pela mijada assassina.
- Tem banheiros ecológicos logo adiante. Da próxima vez, por favor, usem – disse o tira.
- Sim, senhor – falei, batendo continência.
Os policiais saíram e fomos logo atrás, em direção à nossa casa. Antes, assim que a tropa de elite sumiu de vista, voltei para a casa do homem das orquídeas, baixei as calças e comecei a fazer cocô na calçada dele. Não, essa parte é brincadeira.
Mas deveria ter feito.
2 Comments:
Essa história me lembra outra que se passou comigo alguns meses atrás...
Era noite de Gre-nal da Copa "Sula Miranda", no Olímpico. Vim direto de Foz do Iguaçu, no Paraná, para Porto Alegre, dirigindo toda a viagem. Os quase 1000km foram percorridos em mais tempo do que seria, normalmente, necessário. As paradas foram curtas. Mas o movimento era intenso.
Na chegada a Porto Alegre, ainda enfrentei um forte congestionamento na BR 116. Um inferno! Ao todo, quase 15 horas de viagem. Não foi fácil.
Mas... enfim cheguei.
Meu objetivo não era propriamente o jogo, já que todo mundo sabe que a segunda divisão da América não vale nada e o Grêmio entraria com o time totalmente reserva. De qualquer forma, não poderia deixar de aproveitar para acompanhar o amistoso. Cheguei em Porto Alegre em meio à partida. Como moro apenas 500 metros distante do Monumental, deixei o carro na garagem e, sem trocar a roupa do corpo, fui correndo (literalmente correndo) para pegar o segundo tempo. Estava bem na hora do intervalo.
O caminho estava praticamente vazio. Na rua, só guardadores de carro. Segui correndo.
Na esquina da José de Alencar com um conhecido posto de gasolina, em direção ao pórtico da entrada principal do estádio, a Brigada costuma colocar faixas para a passagem de pedestres pela calçada, ainda que a rua esteja sempre fechada para os carros.
Naquele momento, tudo vazio. As faixas, que servem para controlar a passagem do público não tinham mais qualquer sentido; a que fechava a rua, aliás, estava totalmente caída ao chão.
Não pensei duas vezes. Segui correndo pelo meio da rua.
50m de corrida e ouço um grito no fundo: pare!!! O grito foi tão ameaçador que, apesar de estar com 15 horas de viagem nas costas e querendo verdadeiramente acompanhar o segundo tempo do amistoso, acabei parando.
Era um policial militar:
“O senhor deve voltar e andar pela calçada!”.
Disse-lhe, com respeito: “Mas a rua está vazia e já estou no meio do caminho. Estou atrasado para o jogo. Não tem ninguém aqui”.
Ele respondeu:
“Ou anda pelo meio da rua ou vai se atrasar ainda mais, pois serei obrigado a tomar as providências cabíveis”.
Pensei, pensei e pensei mais uma vez. Resolvi voltar e obedecer.
Achei que não seria interessante entrar para a história como a primeira pessoa a ser presa por andar no meio da rua.
Essa historia eh seria? Morri de rir com o homem das flores...ai Jr...so tu mesmo....hahaahhaah muito boa historia....bebuuuuuuuummm!!!
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