A motivação - Parte 7
7.
Tomas Berger combinou de se encontrar com Rogério Silva no sábado à noite em sua própria agência. Explicou para o assassino que preferia antecipar a reunião e que ali teria à sua disposição todos os recursos necessários para apresentar a ideia. A única exigência de Rogério foi que a agência estivesse vazia, o que não foi difícil de conseguir, levando em conta o dia e horário marcados para o encontro.
Poucos minutos da hora marcado, Tomas estava sentado em sua sala, pensativo. Mantinha todas as luzes apagadas. A agência inteira adormecia na escuridão e era assim que ele queria, pois o ajudava a se preparar para o que iria acontecer. Sabia que sua vida dependia dessa apresentação e precisava estar o mais calmo possível, sem deixar que Rogério Silva percebesse sua inevitável inquietação.
Estava tão imerso nos pensamentos que o toque do telefone causou-lhe um sobressalto. Atendeu sem deixar tocar uma segunda vez. Era Rogério pedindo para subir.
Rapidamente, mas com cuidado, Tomas começou a preparar o local. Acendeu as luzes, serviu-se de um copo de uísque e foi à sala de reuniões, onde abriu o telão e ligou o projetor e o notebook. Checou todo o equipamento do qual precisava e se dirigiu à porta da agência no exato instante em que ouviu a campainha.
Rogério Silva parecia estar vestido com a mesma roupa do primeiro encontro. Certamente não deveria ser, mas parecia. O sobretudo novamente tapava todo o corpo e o cabelo bem penteado dava uma aparência esteticamente bonita a ele. Tomas pensou que, não fosse a seriedade e a ameaça de seu olhar, Rogério poderia ter sido um astro do cinema ou da televisão.
- Boa noite, sr. Silva – Tomas disse, cumprimentando o outro. – Seja bem-vindo à minha agência.
O homem nada comentou. Apenas apertou a mão de Tomas e seguiu-o pelos corredores.
Não trocaram palavra durante toda a caminhada. Tomas Berger estava nervoso, principalmente porque Rogério Silva estava logo atrás. Nunca é uma boa ideia deixar um assassino às suas costas.
Para o alívio de Tomas, chegaram à sala de reuniões. Era um cômodo bastante grande, com uma mesa para aproximadamente vinte lugares. Tomas indicou uma cadeira para Rogério se sentar.
- Obrigado – foi a primeira palavra do assassino desde que chegara à agência.
- Quer algo para beber, sr. Silva? – perguntou Tomas, cordialmente.
- Não. De preferência, gostaria de ir direto ao assunto.
- Certamente.
Tomas circulou a mesa até onde se encontrava o interruptor de luz e o apagou. A sala ficou iluminada unicamente pelo projetor que se refletia no telão. Rogério Silva estava virado diretamente a ele, de costas para o restante da sala.
Após retornar ao local da mesa onde se encontrava o notebook, Tomas disse:
- Posso começar?
- Por favor – Rogério respondeu, com os olhos fixo na tela.
Tomas apertou um botão e o telão se preencheu com um texto apresentando os problemas de comunicação de Rogério Silva.
- Sr. Silva, sei que o senhor já conhece as dificuldades que enfrenta, mas vou repassá-las somente para que possamos situar bem a solução que vou propor.
- Certo.
Assim, Tomas começou a discorrer sobre os empecilhos que um serviço como o de Rogério Silva enfrentava no campo de divulgação. Enquanto falava, Tomas levantou-se, gesticulando em pé. Ele sempre foi reconhecido por sua capacidade oratória e comprovou-a mais uma vez, capturando a atenção de Rogério Silva.
Durante todo o discurso, o olhar de Tomas não estava na tela, mas no próprio homem sentado à sua frente. Avaliava todo e qualquer movimento de Rogério Silva. Analisava suas reações, sua respiração.
E decidiu que aquele era o momento certo.
Sem parar de falar, esticou a mão para baixo da mesa. De lá, puxou um revólver que havia prendido minutos antes com fita. Fez tudo isso sem parar o discurso sobre as necessidades da comunicação Rogério Silva.
- Assim, Sr. Silva, temos o problema que o senhor enfrenta. Posso seguir adiante para a solução?
Rogério Silva não teve tempo de responder. Com uma agilidade insuspeitada para quem jamais fizera algo parecido, Tomas esticou o braço apontando para a parte de trás da cabeça de homem à sua frente. Para sua surpresa, mantinha a mão firme.
Apertou o gatilho duas vezes em menos de um segundo. A primeira bala entrou pela parte superior traseira do crânio de Rogério Silva e saiu pela boca, quebrando alguns dentes, cujos pedaços foram parar no chão junto às gotas de sangue. O corpo foi jogado para frente com o impacto, o que fez com que o segundo projétil perfurasse a cabeça um pouco mais abaixo do primeiro buraco, saindo pelo globo ocular esquerdo de Rogério.
Ele morreu instantaneamente.
Tomas Berger permaneceu com o braço esticado por alguns instantes, observando o corpo que, agora caído no chão, aos poucos era envolvido pela poça de sangue escuro, quase negro. Sua mão não tremia e ele nada sentia. Pelo menos no momento, instantes após tirar a vida de outro ser humano, a culpa de ter causado uma morte não havia chegado a ele.
Lentamente, baixou a arma. Depois, levou-a até uma toalha que deixara sobre a mesa do canto e a deixou ali mesmo. Teria tempo para limpar o local sem maior pressa. Era apenas sábado à noite e a agência somente voltaria a funcionar na segunda-feira de manhã. Tinha tudo planejado: como transportar o corpo até o carro, onde se livrar dele, como limpar a sala de reuniões. Ninguém saberia sobre o que acabara de fazer.
Antes de começar o serviço, precisava de um drinque. Caminhou até o frigobar da sala, pegou quatro cubos de gelos e os largou dentro do copo. No instante em que se dirigia ao pequeno bar, ouviu o toque de um celular. Procurava no bolso quando percebeu que não era o seu aparelho que chamava. Era o de Rogério Silva.
Sem qualquer receio, começou a revirar os bolsos do sobretudo do homem que agora jazia em sua sala de reuniões. Finalmente, encontrou-o. O número era desconhecido. Tomas não atendeu prontamente. Primeiro, pensou se realmente deveria fazê-lo. Deu-se conta de que era tarde demais para voltar atrás. Lembrou que havia refletido muito sobre o assunto e que chegara à conclusão que agir daquela forma solucionaria todos os seus problemas.
Ele estava pronto para assumir o trabalho de Rogério Silva.
Atendeu o celular.
Naquele momento, Tomas Berger encontrava o desafio que faltava à sua vida.
Tomas Berger combinou de se encontrar com Rogério Silva no sábado à noite em sua própria agência. Explicou para o assassino que preferia antecipar a reunião e que ali teria à sua disposição todos os recursos necessários para apresentar a ideia. A única exigência de Rogério foi que a agência estivesse vazia, o que não foi difícil de conseguir, levando em conta o dia e horário marcados para o encontro.
Poucos minutos da hora marcado, Tomas estava sentado em sua sala, pensativo. Mantinha todas as luzes apagadas. A agência inteira adormecia na escuridão e era assim que ele queria, pois o ajudava a se preparar para o que iria acontecer. Sabia que sua vida dependia dessa apresentação e precisava estar o mais calmo possível, sem deixar que Rogério Silva percebesse sua inevitável inquietação.
Estava tão imerso nos pensamentos que o toque do telefone causou-lhe um sobressalto. Atendeu sem deixar tocar uma segunda vez. Era Rogério pedindo para subir.
Rapidamente, mas com cuidado, Tomas começou a preparar o local. Acendeu as luzes, serviu-se de um copo de uísque e foi à sala de reuniões, onde abriu o telão e ligou o projetor e o notebook. Checou todo o equipamento do qual precisava e se dirigiu à porta da agência no exato instante em que ouviu a campainha.
Rogério Silva parecia estar vestido com a mesma roupa do primeiro encontro. Certamente não deveria ser, mas parecia. O sobretudo novamente tapava todo o corpo e o cabelo bem penteado dava uma aparência esteticamente bonita a ele. Tomas pensou que, não fosse a seriedade e a ameaça de seu olhar, Rogério poderia ter sido um astro do cinema ou da televisão.
- Boa noite, sr. Silva – Tomas disse, cumprimentando o outro. – Seja bem-vindo à minha agência.
O homem nada comentou. Apenas apertou a mão de Tomas e seguiu-o pelos corredores.
Não trocaram palavra durante toda a caminhada. Tomas Berger estava nervoso, principalmente porque Rogério Silva estava logo atrás. Nunca é uma boa ideia deixar um assassino às suas costas.
Para o alívio de Tomas, chegaram à sala de reuniões. Era um cômodo bastante grande, com uma mesa para aproximadamente vinte lugares. Tomas indicou uma cadeira para Rogério se sentar.
- Obrigado – foi a primeira palavra do assassino desde que chegara à agência.
- Quer algo para beber, sr. Silva? – perguntou Tomas, cordialmente.
- Não. De preferência, gostaria de ir direto ao assunto.
- Certamente.
Tomas circulou a mesa até onde se encontrava o interruptor de luz e o apagou. A sala ficou iluminada unicamente pelo projetor que se refletia no telão. Rogério Silva estava virado diretamente a ele, de costas para o restante da sala.
Após retornar ao local da mesa onde se encontrava o notebook, Tomas disse:
- Posso começar?
- Por favor – Rogério respondeu, com os olhos fixo na tela.
Tomas apertou um botão e o telão se preencheu com um texto apresentando os problemas de comunicação de Rogério Silva.
- Sr. Silva, sei que o senhor já conhece as dificuldades que enfrenta, mas vou repassá-las somente para que possamos situar bem a solução que vou propor.
- Certo.
Assim, Tomas começou a discorrer sobre os empecilhos que um serviço como o de Rogério Silva enfrentava no campo de divulgação. Enquanto falava, Tomas levantou-se, gesticulando em pé. Ele sempre foi reconhecido por sua capacidade oratória e comprovou-a mais uma vez, capturando a atenção de Rogério Silva.
Durante todo o discurso, o olhar de Tomas não estava na tela, mas no próprio homem sentado à sua frente. Avaliava todo e qualquer movimento de Rogério Silva. Analisava suas reações, sua respiração.
E decidiu que aquele era o momento certo.
Sem parar de falar, esticou a mão para baixo da mesa. De lá, puxou um revólver que havia prendido minutos antes com fita. Fez tudo isso sem parar o discurso sobre as necessidades da comunicação Rogério Silva.
- Assim, Sr. Silva, temos o problema que o senhor enfrenta. Posso seguir adiante para a solução?
Rogério Silva não teve tempo de responder. Com uma agilidade insuspeitada para quem jamais fizera algo parecido, Tomas esticou o braço apontando para a parte de trás da cabeça de homem à sua frente. Para sua surpresa, mantinha a mão firme.
Apertou o gatilho duas vezes em menos de um segundo. A primeira bala entrou pela parte superior traseira do crânio de Rogério Silva e saiu pela boca, quebrando alguns dentes, cujos pedaços foram parar no chão junto às gotas de sangue. O corpo foi jogado para frente com o impacto, o que fez com que o segundo projétil perfurasse a cabeça um pouco mais abaixo do primeiro buraco, saindo pelo globo ocular esquerdo de Rogério.
Ele morreu instantaneamente.
Tomas Berger permaneceu com o braço esticado por alguns instantes, observando o corpo que, agora caído no chão, aos poucos era envolvido pela poça de sangue escuro, quase negro. Sua mão não tremia e ele nada sentia. Pelo menos no momento, instantes após tirar a vida de outro ser humano, a culpa de ter causado uma morte não havia chegado a ele.
Lentamente, baixou a arma. Depois, levou-a até uma toalha que deixara sobre a mesa do canto e a deixou ali mesmo. Teria tempo para limpar o local sem maior pressa. Era apenas sábado à noite e a agência somente voltaria a funcionar na segunda-feira de manhã. Tinha tudo planejado: como transportar o corpo até o carro, onde se livrar dele, como limpar a sala de reuniões. Ninguém saberia sobre o que acabara de fazer.
Antes de começar o serviço, precisava de um drinque. Caminhou até o frigobar da sala, pegou quatro cubos de gelos e os largou dentro do copo. No instante em que se dirigia ao pequeno bar, ouviu o toque de um celular. Procurava no bolso quando percebeu que não era o seu aparelho que chamava. Era o de Rogério Silva.
Sem qualquer receio, começou a revirar os bolsos do sobretudo do homem que agora jazia em sua sala de reuniões. Finalmente, encontrou-o. O número era desconhecido. Tomas não atendeu prontamente. Primeiro, pensou se realmente deveria fazê-lo. Deu-se conta de que era tarde demais para voltar atrás. Lembrou que havia refletido muito sobre o assunto e que chegara à conclusão que agir daquela forma solucionaria todos os seus problemas.
Ele estava pronto para assumir o trabalho de Rogério Silva.
Atendeu o celular.
Naquele momento, Tomas Berger encontrava o desafio que faltava à sua vida.
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