Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, September 26, 2012

Fomos enganados.


Fomos enganados. Todos nós. Não agora, mas há anos. Quando ainda éramos inocentes, inofensivas e adoráveis crianças de bochechas rosadas. Os perpetradores da falácia? Ninguém menos que nossos ardilosos pais, aqueles seres poderosos que sabiam tudo e detinham nossa total confiança.

Pois eles nos enganaram, os traidores. Talvez nem de forma intencional, mas enganaram. Víamos os dois e os demais adultos com inveja. Eles tinham dinheiro para comprar aquela bicicleta tão desejada. Eles dirigiam carros novos, indo para onde queriam e a hora que queriam. Eles não precisavam enfrentar aulas chatas, professores frustrados ou estudar para provas ininteligíveis.

Eles eram tudo o que gostaríamos de ser.

Crescemos acreditando que a vida de gente grande seria o paraíso. Independência, ninguém para mandar em nós, poucos compromissos, dinheiro no bolso. Com certeza, ser adulto era o máximo.

A realidade nos acertou como uma porrada em nossas caras cheias de espinhas. Não, ser adulto não é o máximo. A vida de gente grande não é o paraíso. É muito mais difícil do que aquela que tínhamos antes.

Aquele dinheiro que parecia estar sempre no bolso deles, na verdade, demora a vir. Quando vem, foge à velocidade da luz. Os carros estragam, têm gastos e custam parcelas intermináveis. As aulas, se não existem mais, foram substituídas por empregos estressantes, que exigem muito mais tempo, dedicação e paciência.

Temos inúmeras contas a pagar, precisamos equilibrar o que comemos, sofremos com desilusões amorosas, somos constantemente vítimas do cinismo, da ganância e da hipocrisia de outros. Pessoas dependem de nós, nosso corpo não possui mais a mesma forma e agilidade, precisamos pensar constantemente naquele perigoso, desconhecido e amedrontador lugar chamado futuro.

Nada mais de dormir após o almoço ouvindo o som da chuva lá fora. O sono, agora, é inimigo o dia inteiro. O café, o melhor amigo. Recorrer aos pais diante do menor problema não é mais uma possibilidade. É preciso caminhar com nossos próprios pés, independente de quantas pedras ou brasas existam no caminho. O tempo – ah, que saudade –, para fazer o que gostamos ou simplesmente para ficar à toa, evaporou. Cada hora é ocupada, cada minuto ocupado.

Aquela vida que parecia tão dura antigamente, hoje, soa idílica. Um sonho distante, uma existência pura que nunca mais alcançaremos. Estamos presos demais às responsabilidades, sabemos muito sobre o mundo. A vida nos amarrou. A infância, aquele tempo utópico onde tudo parecia mais difícil do que realmente era, não volta mais.

Não há o que fazer. Infelizmente, a imagem que nos foi vendida da vida adulta, a que fez parte de nossos sonhos e desejos imberbes, não se concretizou. Fomos enganados. Aquela imagem não é real. Fica a nostalgia daquela época, como uma agradável lembrança que nos ajuda a enfrentar a difícil verdade.

Se tivesse a chance, gostaria de voltar à infância para responder a algum adulto o que eu gostaria de ser quando crescer. De minha boca sairiam, sem hesitar, as seguintes palavras: “Ainda criança”.

1 Comments:

Blogger mariliayoga said...

legal guri, espero q entendas q o famoso mal de Alzeimer tem tudo a ver com isso.Velho, nao negue a curtiçao da infancia nem por um detalhe, alias nunca negue suas observaçoes, ate mesmo as tolas, se lembra de mim?? marilia , a prof de ginastica da Mirtes na SABI...tempo muito bom!!

4:54 PM  

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