Fomos enganados.
Fomos enganados. Todos nós. Não
agora, mas há anos. Quando ainda éramos inocentes, inofensivas e adoráveis
crianças de bochechas rosadas. Os perpetradores da falácia? Ninguém menos que
nossos ardilosos pais, aqueles seres poderosos que sabiam tudo e detinham nossa
total confiança.
Pois eles nos enganaram, os
traidores. Talvez nem de forma intencional, mas enganaram. Víamos os dois e os
demais adultos com inveja. Eles tinham dinheiro para comprar aquela bicicleta
tão desejada. Eles dirigiam carros novos, indo para onde queriam e a hora que
queriam. Eles não precisavam enfrentar aulas chatas, professores frustrados ou
estudar para provas ininteligíveis.
Eles eram tudo o que gostaríamos
de ser.
Crescemos acreditando que a vida
de gente grande seria o paraíso. Independência, ninguém para mandar em nós,
poucos compromissos, dinheiro no bolso. Com certeza, ser adulto era o máximo.
A realidade nos acertou como uma
porrada em nossas caras cheias de espinhas. Não, ser adulto não é o máximo. A
vida de gente grande não é o paraíso. É muito mais difícil do que aquela que
tínhamos antes.
Aquele dinheiro que parecia estar
sempre no bolso deles, na verdade, demora a vir. Quando vem, foge à velocidade
da luz. Os carros estragam, têm gastos e custam parcelas intermináveis. As
aulas, se não existem mais, foram substituídas por empregos estressantes, que
exigem muito mais tempo, dedicação e paciência.
Temos inúmeras contas a pagar,
precisamos equilibrar o que comemos, sofremos com desilusões amorosas, somos
constantemente vítimas do cinismo, da ganância e da hipocrisia de outros. Pessoas
dependem de nós, nosso corpo não possui mais a mesma forma e agilidade,
precisamos pensar constantemente naquele perigoso, desconhecido e amedrontador lugar
chamado futuro.
Nada mais de dormir após o almoço
ouvindo o som da chuva lá fora. O sono, agora, é inimigo o dia inteiro. O café,
o melhor amigo. Recorrer aos pais diante do menor problema não é mais uma
possibilidade. É preciso caminhar com nossos próprios pés, independente de
quantas pedras ou brasas existam no caminho. O tempo – ah, que saudade –, para fazer
o que gostamos ou simplesmente para ficar à toa, evaporou. Cada hora é ocupada,
cada minuto ocupado.
Aquela vida que parecia tão dura
antigamente, hoje, soa idílica. Um sonho distante, uma existência pura que
nunca mais alcançaremos. Estamos presos demais às responsabilidades, sabemos
muito sobre o mundo. A vida nos amarrou. A infância, aquele tempo utópico onde
tudo parecia mais difícil do que realmente era, não volta mais.
Não há o que fazer. Infelizmente,
a imagem que nos foi vendida da vida adulta, a que fez parte de nossos sonhos e
desejos imberbes, não se concretizou. Fomos enganados. Aquela imagem não é
real. Fica a nostalgia daquela época, como uma agradável lembrança que nos
ajuda a enfrentar a difícil verdade.
Se tivesse a chance, gostaria de
voltar à infância para responder a algum adulto o que eu gostaria de ser quando
crescer. De minha boca sairiam, sem hesitar, as seguintes palavras: “Ainda
criança”.
1 Comments:
legal guri, espero q entendas q o famoso mal de Alzeimer tem tudo a ver com isso.Velho, nao negue a curtiçao da infancia nem por um detalhe, alias nunca negue suas observaçoes, ate mesmo as tolas, se lembra de mim?? marilia , a prof de ginastica da Mirtes na SABI...tempo muito bom!!
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