Dando nome aos bebês
Márcia estava grávida de dois meses. Era um ocioso domingo à tarde quando decidiu conversar com Luciano sobre o assunto que a incomodava desde o início da gravidez:
- Querido, não acha que está na hora de a gente começar a pensar no nome do bebê?
- Claro. Depois do jogo.
- Não, depois do jogo, não. Sempre tem um jogo na maldita TV.
- Não tenho culpa, Márcia. Não sou eu quem faço a grade de programação.
- Esquece o jogo por enquanto, Luciano. Acho que está na hora de começarmos a falar nisso.
- Eu acho que ainda é cedo, Márcia. Nem sabemos o sexo do bebê.
- Que diferença isso faz?
- Toda, ora. Ou você quer ter uma filha com o nome de Rogério?
- Não daria o nome de Rogério nem se fosse menino.
- Foi uma suposição, Márcia. O que quero dizer é que não adianta perder tempo pensando nisso agora. Vamos deixar para quando soubermos se é macho ou fêmea. Esta é uma escolha que deve ser feita com muito cuidado.
- Tudo bem.
Márcia estava grávida de seis meses. Era um ocioso domingo à tarde quando decidiu conversar com Luciano sobre o assunto que a incomodava desde o início da gravidez.
- Luciano, já pensou em um nome pro nosso bebê?
- Não, ainda não. Por quê?
- Acho que já está na hora da gente falar sobre isso.
- Agora?
- Sim, qual o problema?
- Agora está passando o jogo.
- Sempre está passando jogo.
- Sempre que você vem falar comigo sobre esse assunto.
- E quando você quer falar sobre isso?
- Daqui a três meses.
- Três meses, Luciano!? Daqui a três meses o bebê nasce!
- Sim, aí decidimos.
- Não quero que meu filho nasça anônimo, Luciano!
- Ele nem vai saber.
- Mas eu vou. Não chamar ele de Fulaninho quando a enfermeira colocar a criança no meu colo!
- Quer chamar de quê?
- Não sei, Luciano! É isso que quero decidir contigo!
- Não acha cedo, Márcia? Muita coisa pode acontecer em três meses. Guerras iniciaram e terminaram em três meses. O que a gente pensa hoje pode não ser o que vamos estar pensando daqui a 90 dias. Esta é uma escolha que deve ser feita com muito cuidado.
- E daí, Luciano?
- Daí, Márcia, que acho que deveríamos pensar nisso quando a data estiver mais próxima. Sabe que minha mente funciona melhor quando o prazo aperta.
- Você quem sabe, Luciano.
Márcia estava grávida de nove meses. Era um ocioso domingo à tarde quando decidiu conversar com Luciano sobre o assunto que a incomodava desde o início da gravidez.
- Luciano, minha bolsa estourou.
- Depois do jogo, Márcia.
- Luciano, minha bolsa estourou!
- Quê!?
- É, será que podemos falar sobre o nome do bebê agora?
- Você está maluca? Vamos já pro hospital. Não é hora de falar sobre isso!
Márcia estava com o bebê no colo. Era um atribulado domingo à noite quando decidiu conversar com Luciano sobre o assunto que a incomodava desde o início da gravidez.
- O Pedrinho é a sua cara.
- Pedrinho?
Márcia não respondeu, oferecendo apenas um olhar ameaçador. Luciano entendeu a mensagem. Aquiesceu com a cabeça e foi acariciar o pequeno Pedro.
1 Comments:
Tô sempre por aqui, mas não comento. Amei essa crônica em especial. Como mãe, e pelas circunstâncias que conheces, escolhi sozinha o nome do meu Caio.
Ei, tá na hora de começar a juntar esse material e publicar o livro de Silvio Pilau! Serei uma das primeiras na noite de autógrafos.
Bjs,
CláuDinha
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