2 Filhos de Francisco
2 FILHOS DE FRANCISCO
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De Breno Silveira. Com Ângelo Antônio, Dira Paes, Dablio Moreira, Marcos Henrique, Márcio Kieling, Thiago Mendonça, Paloma Duarte, Natália Lage, José Dumont, Lima Duarte e Jackson Antunes.
19/09/05 – Silvio Pilau
Admito que na primeira vez em que ouvi falar sobre o filme baseado na vida de Zezé di Camargo e Luciano, meu pensamento foi o de ficar o mais longe possível de qualquer cinema que estivesse passando a obra. Mas, também, como poderia ser diferente? Depois de anos de atentados à sétima arte cometidos por celebridades que apenas buscam mais uma forma de ganhar alguns milhões (Xuxa, Padre Marcelo Rossi, Eliana, Sandy & Júnior), óbvio que rejeição seria a primeira resposta a 2 Filhos de Francisco.
De Breno Silveira. Com Ângelo Antônio, Dira Paes, Dablio Moreira, Marcos Henrique, Márcio Kieling, Thiago Mendonça, Paloma Duarte, Natália Lage, José Dumont, Lima Duarte e Jackson Antunes.
19/09/05 – Silvio Pilau
Admito que na primeira vez em que ouvi falar sobre o filme baseado na vida de Zezé di Camargo e Luciano, meu pensamento foi o de ficar o mais longe possível de qualquer cinema que estivesse passando a obra. Mas, também, como poderia ser diferente? Depois de anos de atentados à sétima arte cometidos por celebridades que apenas buscam mais uma forma de ganhar alguns milhões (Xuxa, Padre Marcelo Rossi, Eliana, Sandy & Júnior), óbvio que rejeição seria a primeira resposta a 2 Filhos de Francisco.
Pois o filme, ao contrário daqueles protagonizados pelos “atores” citados acima, vem conquistando o respeito da crítica e uma propaganda boca-a-boca como não se via há algum tempo em relação ao cinema nacional. Diante deste quadro, decidi dar uma chance. E afirmo: deixem o preconceito de lado, pois 2 Filhos de Francisco é um belíssimo filme.
A história começa em 1962, em um pequeno casebre em Pirenópolis, no interior de Goiás. É lá que o casal Francisco e Helena tem seu primeiro filho, Mirosmar. Ainda criança, o garoto demonstra aptidão para a música, fazendo dupla com seu irmão. Francisco, acreditando que essa pode ser a única opção de uma vida melhor para os filhos, realiza diversos sacrifícios para ajudar na carreira artística da dupla.
2 Filhos de Francisco é uma história semelhante a diversas outras que já vimos no cinema: sujeitos comuns, sem grandes possibilidades de sucesso na vida, que, depois de enfrentarem uma série de obstáculos e dificuldades, conseguem vencer e atingir seu objetivo. No entanto, este enredo clichê não diminui nem um pouco a força de 2 Filhos de Francisco. Dirigido com extremo talento por Breno Silveira, a obra surpreende com uma trama divertida e emocionante, além de personagens cativantes pelos quais a platéia aprende a torcer.
Mesmo com um ótimo roteiro, o sucesso artístico do filme deve-se, principalmente, a Silveira. Ao invés de transformar a história em uma novela recheada de momentos melodramáticos, o diretor opta por não apelar à pieguice, deixando que a identificação do espectador com os personagens construa os momentos mais emocionantes. Assim, 2 Filhos de Francisco não derrapa no sentimentalismo exagerado, como foi o caso de Olga. Aqui, as emoções que surgem no espectador são naturais, e não forçadas pelo diretor, pelo roteiro ou pela trilha. 2 Filhos de Francisco é um filme verdadeiro e, o que é ainda melhor, respeitoso e honesto com o espectador.
Este aspecto revela-se em algumas belíssimas cenas, contadas com muito talento pelo diretor. Aliás, o filme está repleto de momentos inspirados: reparem na forma como é filmado o momento em que uma das filhas do casal diz que está com fome. A câmera se afasta de Helena, simbolizando todo o constrangimento dela ao não conseguir prover o básico para seus filhos. Uma cena sutil, mas tocante.
Da mesma forma, o primeiro encontro entre Zilu e Zezé também merece destaque. Paloma Duarte e Márcio Kieling demonstram todo o nervosismo dos personagens com aquele momento apenas através gestos, enquanto o diretor estica ao máximo a cena, explorando aquele importante momento entre os dois.
As atuações, aliás, são outro trunfo do filme, uma vez que os atores conquistam a simpatia do público com facilidade. Ângelo Antônio, no papel de Francisco, tem uma interpretação fabulosa, criando um personagem extremamente real: rígido e firme com seus filhos, mas, ao mesmo tempo, carinhoso e preocupado. Como o personagem busca sempre manter uma aparência de dignidade diante dos filhos, o ator expressa sentimentos através de olhares e pequenos gestos. Por motivos semelhantes, Dira Paes também brilha no papel de Helena. Dois grandes trabalhos.
Quem surpreende, porém, é Dablio Moreira e Marcos Henrique, que interpretam os irmãos quando crianças. Com ótima química e imenso carisma, a dupla mirim transforma a primeira metade do filme em um deleite de se assistir. Como adendo, ainda ganham a excelente participação de José Dumont, que evita o estereótipo construindo um personagem fácil do público odiar, mas que, pelo contrário, acaba conquistando a simpatia da platéia.
O roteiro ainda é eficiente ao amarrar fatos passados em quatro décadas, fazendo com que a narrativa flua com naturalidade. Assim, 2 Filhos de Francisco escapa de uma das grandes dificuldades em cinebiografias, a de evitar que o filme pareça episódico. Há ainda uma excelente sacada na trama, aproximadamente na metade do filme, que vai pegar de surpresa aqueles que pouco conhecem a vida dos músicos.
Mas 2 Filhos de Francisco não é isento de falhas. Incomodou-me muito os últimos minutos da obra. Não entrarei aqui em detalhes sobre o que acontece, mas é um apelo desnecessário ao sentimentalismo que Silveira parece ter evitado durante toda a projeção. Além disso, o filme realmente perde um pouco de sua força assim que os músicos se tornam “adultos”. Apesar de alguns ótimos momentos (como a forma encontrada pelo cineasta para mostra o surgimento do sucesso “É o Amor”), Márcio Kieling e Thiago Mendonça ficam aquém do talento dos garotos apresentados na primeira metade.
Ainda assim, 2 Filhos de Francisco é um grande filme capaz de cativar as platéias de todo o país. Claro que isso ocorre, principalmente, pela alta identificação do público com os personagens e com a história. O filme é tanto sobre a ascensão da dupla quanto sobre o esforço de Francisco em oferecer uma vida melhor aos filhos. Por essa razão, o fato de alguém não ser fã de música sertaneja não é empecilho para admirar a bela obra que é 2 Filhos de Francisco. Não é um filme sobre música, é sobre pessoas. Até o momento em que os personagens assumem o nome artístico pelo qual hoje são conhecidos, 2 Filhos de Francisco poderia ser sobre qualquer morador menos privilegiado do Brasil correndo atrás de seu sonho. E essa é a grande força do filme.
E é por isso que não hesito em afirmar, até para minha própria surpresa, que 2 Filhos de Francisco é o melhor filme nacional desde que Fernando Meirelles abençoou o mundo com a obra-prima chamada Cidade de Deus. E reitero aquilo que escrevi no início do texto: deixem o preconceito de lado e dêem uma chance à história de Francisco e sua família.
4 Comments:
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Junior...
Muito bom o comentário!
Eu gostei muito do filme, não sou muito fã dos filmes brasileiros, mas esse mereceu!
Abraço
Déia Cruz
ae pilau...
tu se baseou em alguma critica pra fazer essa neh?!
hehe
bjoss
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