Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, October 04, 2005

2 Filhos de Francisco

2 FILHOS DE FRANCISCO
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De Breno Silveira. Com Ângelo Antônio, Dira Paes, Dablio Moreira, Marcos Henrique, Márcio Kieling, Thiago Mendonça, Paloma Duarte, Natália Lage, José Dumont, Lima Duarte e Jackson Antunes.


19/09/05 – Silvio Pilau

Admito que na primeira vez em que ouvi falar sobre o filme baseado na vida de Zezé di Camargo e Luciano, meu pensamento foi o de ficar o mais longe possível de qualquer cinema que estivesse passando a obra. Mas, também, como poderia ser diferente? Depois de anos de atentados à sétima arte cometidos por celebridades que apenas buscam mais uma forma de ganhar alguns milhões (Xuxa, Padre Marcelo Rossi, Eliana, Sandy & Júnior), óbvio que rejeição seria a primeira resposta a 2 Filhos de Francisco.

Pois o filme, ao contrário daqueles protagonizados pelos “atores” citados acima, vem conquistando o respeito da crítica e uma propaganda boca-a-boca como não se via há algum tempo em relação ao cinema nacional. Diante deste quadro, decidi dar uma chance. E afirmo: deixem o preconceito de lado, pois 2 Filhos de Francisco é um belíssimo filme.

A história começa em 1962, em um pequeno casebre em Pirenópolis, no interior de Goiás. É lá que o casal Francisco e Helena tem seu primeiro filho, Mirosmar. Ainda criança, o garoto demonstra aptidão para a música, fazendo dupla com seu irmão. Francisco, acreditando que essa pode ser a única opção de uma vida melhor para os filhos, realiza diversos sacrifícios para ajudar na carreira artística da dupla.

2 Filhos de Francisco é uma história semelhante a diversas outras que já vimos no cinema: sujeitos comuns, sem grandes possibilidades de sucesso na vida, que, depois de enfrentarem uma série de obstáculos e dificuldades, conseguem vencer e atingir seu objetivo. No entanto, este enredo clichê não diminui nem um pouco a força de 2 Filhos de Francisco. Dirigido com extremo talento por Breno Silveira, a obra surpreende com uma trama divertida e emocionante, além de personagens cativantes pelos quais a platéia aprende a torcer.

Mesmo com um ótimo roteiro, o sucesso artístico do filme deve-se, principalmente, a Silveira. Ao invés de transformar a história em uma novela recheada de momentos melodramáticos, o diretor opta por não apelar à pieguice, deixando que a identificação do espectador com os personagens construa os momentos mais emocionantes. Assim, 2 Filhos de Francisco não derrapa no sentimentalismo exagerado, como foi o caso de Olga. Aqui, as emoções que surgem no espectador são naturais, e não forçadas pelo diretor, pelo roteiro ou pela trilha. 2 Filhos de Francisco é um filme verdadeiro e, o que é ainda melhor, respeitoso e honesto com o espectador.

Este aspecto revela-se em algumas belíssimas cenas, contadas com muito talento pelo diretor. Aliás, o filme está repleto de momentos inspirados: reparem na forma como é filmado o momento em que uma das filhas do casal diz que está com fome. A câmera se afasta de Helena, simbolizando todo o constrangimento dela ao não conseguir prover o básico para seus filhos. Uma cena sutil, mas tocante.

Da mesma forma, o primeiro encontro entre Zilu e Zezé também merece destaque. Paloma Duarte e Márcio Kieling demonstram todo o nervosismo dos personagens com aquele momento apenas através gestos, enquanto o diretor estica ao máximo a cena, explorando aquele importante momento entre os dois.

As atuações, aliás, são outro trunfo do filme, uma vez que os atores conquistam a simpatia do público com facilidade. Ângelo Antônio, no papel de Francisco, tem uma interpretação fabulosa, criando um personagem extremamente real: rígido e firme com seus filhos, mas, ao mesmo tempo, carinhoso e preocupado. Como o personagem busca sempre manter uma aparência de dignidade diante dos filhos, o ator expressa sentimentos através de olhares e pequenos gestos. Por motivos semelhantes, Dira Paes também brilha no papel de Helena. Dois grandes trabalhos.

Quem surpreende, porém, é Dablio Moreira e Marcos Henrique, que interpretam os irmãos quando crianças. Com ótima química e imenso carisma, a dupla mirim transforma a primeira metade do filme em um deleite de se assistir. Como adendo, ainda ganham a excelente participação de José Dumont, que evita o estereótipo construindo um personagem fácil do público odiar, mas que, pelo contrário, acaba conquistando a simpatia da platéia.
O roteiro ainda é eficiente ao amarrar fatos passados em quatro décadas, fazendo com que a narrativa flua com naturalidade. Assim, 2 Filhos de Francisco escapa de uma das grandes dificuldades em cinebiografias, a de evitar que o filme pareça episódico. Há ainda uma excelente sacada na trama, aproximadamente na metade do filme, que vai pegar de surpresa aqueles que pouco conhecem a vida dos músicos.

Mas 2 Filhos de Francisco não é isento de falhas. Incomodou-me muito os últimos minutos da obra. Não entrarei aqui em detalhes sobre o que acontece, mas é um apelo desnecessário ao sentimentalismo que Silveira parece ter evitado durante toda a projeção. Além disso, o filme realmente perde um pouco de sua força assim que os músicos se tornam “adultos”. Apesar de alguns ótimos momentos (como a forma encontrada pelo cineasta para mostra o surgimento do sucesso “É o Amor”), Márcio Kieling e Thiago Mendonça ficam aquém do talento dos garotos apresentados na primeira metade.

Ainda assim, 2 Filhos de Francisco é um grande filme capaz de cativar as platéias de todo o país. Claro que isso ocorre, principalmente, pela alta identificação do público com os personagens e com a história. O filme é tanto sobre a ascensão da dupla quanto sobre o esforço de Francisco em oferecer uma vida melhor aos filhos. Por essa razão, o fato de alguém não ser fã de música sertaneja não é empecilho para admirar a bela obra que é 2 Filhos de Francisco. Não é um filme sobre música, é sobre pessoas. Até o momento em que os personagens assumem o nome artístico pelo qual hoje são conhecidos, 2 Filhos de Francisco poderia ser sobre qualquer morador menos privilegiado do Brasil correndo atrás de seu sonho. E essa é a grande força do filme.

E é por isso que não hesito em afirmar, até para minha própria surpresa, que 2 Filhos de Francisco é o melhor filme nacional desde que Fernando Meirelles abençoou o mundo com a obra-prima chamada Cidade de Deus. E reitero aquilo que escrevi no início do texto: deixem o preconceito de lado e dêem uma chance à história de Francisco e sua família.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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7:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

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7:31 PM  
Anonymous Anonymous said...

Junior...
Muito bom o comentário!
Eu gostei muito do filme, não sou muito fã dos filmes brasileiros, mas esse mereceu!

Abraço
Déia Cruz

5:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

ae pilau...

tu se baseou em alguma critica pra fazer essa neh?!
hehe
bjoss

9:51 AM  

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