Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Saturday, October 08, 2005

A Infausta Vida das Excreções


Tenho chegado à conclusão de que tudo pode ser transformado em arte. Tudo mesmo. Mesmo fatos corriqueiros podem ser realizados de forma artística, criativa e elaborada, como amarrar os sapatos, limpar a casa, peidar e arrotar. Sim, peidar e arrotar. Esse texto é uma ode ao peido e ao arroto. É uma maneira encontrada por mim para ressaltar a importância desses dois eternos companheiros do ser humano, que, por alguma razão que foge à minha compreensão, jamais foram valorizados como deveriam. Pelo contrário, são tidos como coisas feias, repugnantes.

E essa é uma das maiores injustiças da humanidade. Até porque toda a humanidade peida e arrota. E digo mais: todo mundo sente prazer ao peidar e arrotar. Vamos deixar a hipocrisia de lado por um momento e admitir que poucas coisas se comparam à satisfação decorrente de uma liberação de gases barulhenta, seja pelo caminho superior ou inferior. Quem disser que não faz essas coisas e que não gosta de fazê-las, está mentindo. Descaradamente.

Embora façam parte de um mesmo conjunto de excreções, vamos analisá-los separadamente. Primeiro, o peido. Também conhecido pela singela alcunha de pum, o peido é uma criação do corpo humano (e de Deus, para quem acredita que existe um barbudo lá em cima comandando tudo) que merece ser respeitada. Afinal, além de sua importante tarefa fisiológica, o peido é um cara que só quer respirar um ar puro, ainda que ele próprio acabe poluindo-o em seguida. Quem nunca peidou na cama e se escondeu debaixo das cobertas para avaliar o resultado?

Fazendo uma analogia brilhante, o peido é igual a uma pessoa presa injustamente. Com tanta sujeira e podridão em volta, ele mantém firme a idéia de liberdade, sonhando em ver mais uma vez a luz do dia. E, finalmente, após muito esforço, a sua tão merecida fuga tem sucesso e ele entra em contato com o mundo exterior. Mas ele ficou preso por muito tempo, as pessoas têm receio para com ele e o vêem como algo a ser ignorado. Mas ele não merece ser rejeitado. Este é o destino do peido. A trágica vida do pum.

Já o arroto (que, ao contrário do peido, não tem alcunha; pelo contrário, tem apenas um nome “científico”: eructação) tem uma vida um pouco mais agradável. Não tanto, mas um pouco. Em alguns locais do mundo, o arroto é até muito bem-vindo, sendo recebido como símbolo de satisfação. Na maioria do tempo, porém, ele é tão rejeitado quanto seu primo, o peido. Cada vez que ele surge, imponente, estrepitoso, recebe caras feias. O que também é uma injustiça, porque, além do prazer do próprio ato de dar um bom arroto, aquele capaz de fazer tremer janelas, ele também limpa grande parte do nosso sistema digestivo. Arrotar é se renovar.

Então, por que toda essa fúria infundada contra as duas indefesas e inofensivas liberações naturais do corpo humano? Para nossa sorte, ainda existem algumas pessoas que aclamam o peido e o arroto como as verdadeiras belezas que são e os transformam em obras de arte.

Como não se sentir extasiado ao ver uma pessoa arrotar frases inteiras? Ou quando se presencia alguém, sentado, inclinar levemente o corpo para um lado, liberando o caminho para a saída do peido? Essas pessoas são gênios e não deveriam ser tratadas como meros mortais. São seres que, em algum momento iluminado de suas vidas, compreenderam a verdadeira essência das excreções e toda a beleza divina existente nelas. E, mais do que isso, têm a coragem de mostrar ao mundo o quão lindo são os peidos e arrotos.

Por tudo isso, respeitem os puns, amem os arrotos. Eles merecem muito mais do que têm. No fundo, são uma parte íntima de cada um de nós. São como nossos filhos, saídos de nosso corpo. Peide e arrote à vontade. E tenha orgulho disso.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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11:59 PM  

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