Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, March 20, 2006

Frankenstein


Frankenstein é um dos maiores ícones da cultura ocidental. Não há pessoa nesse mundo que não conheça o básico da história do criador e seu monstro. Na verdade, a trama e os personagens de Mary Shelley estão tão arraigados no imaginário popular que é até difícil encontrar alguém que conheça a verdadeira história e sua origem, tantas são as versões já produzidas em todas as mídias. Um exemplo? A maioria não sabe, mas Frankenstein não é o nome do ser criado por um cientista maluco. Frankenstein era o nome de Victor Frankestein, um estudioso ambicioso que almejava grandes vôos, encontrando aí sua ruína ao construir aquilo que ele chamou de demônio. Aliás, demônio, monstro, criatura, todas são formas pelas quais é chamada a criação de Frankenstein. Em nenhum momento Mary Shelley se refere ao ser como Frankenstein. E é uma pena que as informações em torno da obra se confundam, pois Frankenstein, o livro escrito por Mary Shelley, é uma obra-prima. Verdade absoluta. Não é um dos maiores clássicos da literatura apenas por criar um dos monstros mais adorados por platéias do mundo todo. É uma obra escrita de forma genial e envolvente, com um tom poético que acrescenta novas nuances à tragédia do dr. Frankenstein. Pouco existe de assustador em Frankenstein. Se era para ser uma história de terror, o livro falha. Melhor dizendo, falha em termos de suspense, em deixar o leitor nervoso. Porque ele é assustador, sim, na sua profunda análise da natureza humana. Essa é a grande força e o que faz da obra de Mary Shelley uma história atemporal. O dr. Victor Frankenstein é um belíssimo personagem, real e repleto de contradições. O remorso e a culpa que o consomem ao descobrir que foi longe demais representam alguns dos ótimos momentos do livro. Mas não resta dúvida que a maior contribuição de Shelley ao mundo foi a construção psicológica da fascinante criatura. Os capítulos nos quais o monstro conta a sua história ao criador são o ponto alto da obra. Sua amargura e decepção ao descobrir que jamais conseguirá se encaixar no mundo e a opção por um caminho de ódio e vingança ao descobrir isso são contadas de forma magistral pela autora. A criatura torna-se uma figura que desperta a compaixão, ao contrário do ódio, o que engrandece a obra. Há uma dúvida constante na mente do leitor sobre quem é o verdadeiro vilão da história. Seria o monstro, que apenas parte para o caminho do crime após diversas tentativas frustradas de praticar e receber o bem? Ou seria o dr. Frankenstein, que tomado pela soberba não pensou nas conseqüências de seus atos? Há essa constante dualidade na história, com passagens memoráveis que refletem de maneira impecável o estado de espírito dos personagens (em certo momento, por exemplo, a criatura diz: “Desde então, o mal tornou-se o meu bem”). Frankenstein, a obra original concebida por Mary Shelley em um concurso em um dia de chuva, é um livro de leitura obrigatória, tanto por sua qualidade narrativa quanto pela trama em si. Merece ser lida por todos, nem que seja apenas para que se conheça a verdadeira, original e impressionante história de Victor Frankenstein e sua criatura.

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