FOI APENAS UM SONHO
Em 1999, o diretor Sam Mendes estreou no cinema com um dos grandes filmes daquela década, Beleza Americana. Repleto de cinismo e ironia, o cineasta destruiu o american way of life ao revelar que, por trás da idílica e supostamente perfeita vida suburbana, existia muita podridão, desilusão e decepção. Quase dez anos depois, Mendes retorna ao mesmo tema, agora deixando a sátira de lado para um retrato mais direto, mas não menos perturbador dessa vida de aparências. Baseado no livro de Richard Yates (que não li, mas é uma obra louvada como seminal), Foi Apenas um Sonho acompanha a destruição interior de um casal que parece ter tudo: dois filhos saudáveis, marido com um bom emprego, uma bela casa no subúrbio e amigos. No entanto, isso é apenas uma máscara. Frank e April Wheeler são duas pessoas presas ao “vazio sem esperança” de uma vida vivida sob aquilo que se espera deles, cedendo seus sonhos para assumir as responsabilidades exigidas pelas regras sociais. A frustração que domina os personagens, obviamente, reflete no casamento, que se afunda em uma espiral rumo à destruição. O roteirista Justin Haythe e o diretor contam essa história sem qualquer espécie de concessão ao espectador, jogando à platéia em meio às acaloradas discussões do casal, nas quais Frank e April não hesitam em colocar para fora todos os sentimentos que os afligem. Ao mesmo tempo, o filme realiza um contraponto entre a vida em harmonia (quando eles decidem partir para Paris) com a dura realidade da existência sem qualquer perspectiva e dos sonhos esfacelados, aumentando a força da mensagem. Apoiado em atuações impecáveis de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, que usam a química que possuem para mostrar a proximidade do casal e o talento para revelar as inseguranças pessoais de cada um, Sam Mendes realiza um filme tecnicamente muito bem acabado, mas igualmente poderoso em seu conteúdo e na capacidade de atingir o espectador. Foi Apenas um Sonho não possui a genialidade de Beleza Americana, principalmente por deixar de lado a sagacidade e retrato satírico do vencedor do Oscar de 99, além de outros pequenos problemas, como o fato dos filhos do casal serem praticamente esquecidos. No entanto, a segurança de Mendes, a força das interpretações e o roteiro corajoso fazem de Foi Apenas um Sonho um retrato cru e honesto da destruição de um casamento e de como a vida é capaz de nos colocar grilhões sem que percebamos. Um filme triste, trágico, mas, desde já, um dos melhores do ano.
Nota: 8.0
Nota: 8.0
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