OPERAÇÃO VALQUÍRIA
OPERAÇÃO VALQUÍRIA (VALKYRIE)
De Bryan Singer. Com Tom Cruise, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Kenneth Brannagh, Eddie Izzard, Tomas Kretschamnn e Carice Van Houten.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial – e, de certa forma, durante –, o cinema retratou os nazistas como meros assassinos sanguinários. Sem exceção, Hitler e seus seguidores foram transpostos para as telas como monstros cruéis e sem sentimentos, longe de qualquer representação humana. É curioso, portanto, perceber como, nos últimos meses, diversos filmes apresentaram nazistas não como tais caricaturas da morte, mas como seres humanos, inclusive contrários às políticas do 3º Reich. É o caso de obras como Um Homem Bom, O Leitor e este Operação Valquíria.
Baseado em uma história real, o filme tem como cerne narrativo a mais famosa tentativa de assassinato de Adolf Hitler, perpetrada pelos seus próprios comandantes. O plano foi armado pelo Coronel Claus Von Staffenberg, um homem desiludido com as ações de seu líder, por acreditar que estas levariam a Alemanha às ruínas. Staffenberg uniu-se a uma série de representantes do alto escalão para pôr em prática um golpe de estado, apoiado em uma política criada pelo próprio Hitler: um plano de defesa denominado Operação Valquíria.
Dirigido por Bryan Singer (de volta a um trabalho menor após a mega-produção Superman – O Retorno) a partir de um roteiro de Nathan Alexander e Christopher McQuarrie (que já colaborou com Singer no excelente Os Suspeitos), Operação Valquíria já demonstra a preocupação com detalhes desde os primeiros minutos de projeção: Stauffenberg começa narrando em alemão o que escreve em seu diário, enquanto a voz em inglês lentamente sobrepõe-se à anterior, deixando claro ao espectador a origem dos personagens e da história. Trata-se de um recurso, de certa forma, desnecessário, mas interessante e honesto por parte de Singer, que demonstra respeito com a platéia.
O cuidado com os detalhes, aliás, não limita-se a isso: é fascinante acompanhar a recriação do 3º Reich de Adolf Hitler. Apesar das negativas do governo alemão para filmagens em locação, Singer e sua equipe conseguem trazer um alto tom de autenticidade ao filme ao construírem cenários como a sede da SS e suas dezenas de mastros com bandeiras, a Toca do Lobo, a casa particular de Hitler e até uma piscina com uma imensa suástica na qual o líder do Exército de Reserva pratica sua natação. Esse esmero com a recriação de época ajuda a transmitir o clima de ostentação característico do governo nazista, garantindo um alto grau de verossimilhança à produção.
Ao mesmo tempo, o roteiro apresenta o plano de forma extremamente eficaz. Ainda que não perca muito tempo em sua exposição, a explicação e o desenrolar da narrativa jamais deixam o espectador em dúvida sobre o que está acontecendo e qual o passo a passo dos conspiradores – uma conquista importante de Singer e seus roteiristas, que faz com que a platéia jamais canse da história. Por outro lado, Operação Valquíria é prejudicado por não dedicar alguns minutos a mais a um ponto crucial: a formação do grupo. Como e de que forma aqueles altos oficiais uniram-se para conspirarem contra seu maior líder é uma pergunta que permanece sem resposta à platéia.
O grande problema do roteiro, no entanto, é não buscar um retrato mais aprofundado ou complexo de seus personagens. Pelo que é apresentado por Singer e seus roteiristas, todos os conspiradores poderiam ser resumidos da mesma forma, praticamente sem qualquer diferenciação: oficiais a favor da Alemanha e contrários a Hitler. Nenhuma de suas personalidades é mais elaborada ou desenvolvida com cuidado e, se não parecem apenas caricaturas, isso deve-se quase totalmente ao talento de seus intérpretes, que fazem o possível para transformar os personagens rasos do roteiro em figuras, no mínimo, humanas.
Esse é o grande destaque do trabalho de atores do porte de Bill Nighy, Terence Stamp e Kenneth Brannagh, que, mesmo sem um material mais qualificado em mãos para desenvolverem suas caracterizações, são eficazes em suas atuações. O mesmo acontece com Tom Cruise, cujo Coronel Stauffenberg não passa de um homem apaixonado por seu país e disposto a sacrificar-se por ele. Ainda assim, o astro, que adota uma postura quase sem expressão, é eficiente em seu minimalismo: é fácil notar o nervosismo no rosto de Stauffenberg na saída do bunker após o atentado ou os sentimentos quando reencontra a família.
Em essência, porém, Operação Valquíria não se propõe a ser um estudo de personagens, mas um suspense capaz de gerar tensão. E o grande mérito da direção de Bryan Singer é exatamente conseguir manter essa tensão, mesmo que o espectador já saiba como a trama irá se encerrar - qualquer pessoa com o mínimo de consciência de História sabe o resultado do atentado. Singer constrói seu filme em uma crescente de nervosismo, além de sair-se muito bem na realização de cenas cruciais (a sequência do atentado, por exemplo, é um verdadeiro primor). Tudo isso faz com que a platéia esqueça, por vezes, o que sabe de antemão e se veja imerso na narrativa proposta pelo diretor.
E é exatamente por isso que Operação Valquíria é um filme a ser recomendado. Mesmo que não gere grandes discussões e não se preocupe em delinear mais os personagens, Bryan Singer constrói um thriller bastante eficiente, que prende a atenção até o final e gera bons momentos de tensão. E sempre é bom ver histórias reais baseadas em homens capazes colocar a própria vida em risco por um bem maior. Homens que, como vemos aqui, existiam até mesmo dentro do nazismo.
Nota: 7.0
De Bryan Singer. Com Tom Cruise, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Kenneth Brannagh, Eddie Izzard, Tomas Kretschamnn e Carice Van Houten.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial – e, de certa forma, durante –, o cinema retratou os nazistas como meros assassinos sanguinários. Sem exceção, Hitler e seus seguidores foram transpostos para as telas como monstros cruéis e sem sentimentos, longe de qualquer representação humana. É curioso, portanto, perceber como, nos últimos meses, diversos filmes apresentaram nazistas não como tais caricaturas da morte, mas como seres humanos, inclusive contrários às políticas do 3º Reich. É o caso de obras como Um Homem Bom, O Leitor e este Operação Valquíria.
Baseado em uma história real, o filme tem como cerne narrativo a mais famosa tentativa de assassinato de Adolf Hitler, perpetrada pelos seus próprios comandantes. O plano foi armado pelo Coronel Claus Von Staffenberg, um homem desiludido com as ações de seu líder, por acreditar que estas levariam a Alemanha às ruínas. Staffenberg uniu-se a uma série de representantes do alto escalão para pôr em prática um golpe de estado, apoiado em uma política criada pelo próprio Hitler: um plano de defesa denominado Operação Valquíria.
Dirigido por Bryan Singer (de volta a um trabalho menor após a mega-produção Superman – O Retorno) a partir de um roteiro de Nathan Alexander e Christopher McQuarrie (que já colaborou com Singer no excelente Os Suspeitos), Operação Valquíria já demonstra a preocupação com detalhes desde os primeiros minutos de projeção: Stauffenberg começa narrando em alemão o que escreve em seu diário, enquanto a voz em inglês lentamente sobrepõe-se à anterior, deixando claro ao espectador a origem dos personagens e da história. Trata-se de um recurso, de certa forma, desnecessário, mas interessante e honesto por parte de Singer, que demonstra respeito com a platéia.
O cuidado com os detalhes, aliás, não limita-se a isso: é fascinante acompanhar a recriação do 3º Reich de Adolf Hitler. Apesar das negativas do governo alemão para filmagens em locação, Singer e sua equipe conseguem trazer um alto tom de autenticidade ao filme ao construírem cenários como a sede da SS e suas dezenas de mastros com bandeiras, a Toca do Lobo, a casa particular de Hitler e até uma piscina com uma imensa suástica na qual o líder do Exército de Reserva pratica sua natação. Esse esmero com a recriação de época ajuda a transmitir o clima de ostentação característico do governo nazista, garantindo um alto grau de verossimilhança à produção.
Ao mesmo tempo, o roteiro apresenta o plano de forma extremamente eficaz. Ainda que não perca muito tempo em sua exposição, a explicação e o desenrolar da narrativa jamais deixam o espectador em dúvida sobre o que está acontecendo e qual o passo a passo dos conspiradores – uma conquista importante de Singer e seus roteiristas, que faz com que a platéia jamais canse da história. Por outro lado, Operação Valquíria é prejudicado por não dedicar alguns minutos a mais a um ponto crucial: a formação do grupo. Como e de que forma aqueles altos oficiais uniram-se para conspirarem contra seu maior líder é uma pergunta que permanece sem resposta à platéia.
O grande problema do roteiro, no entanto, é não buscar um retrato mais aprofundado ou complexo de seus personagens. Pelo que é apresentado por Singer e seus roteiristas, todos os conspiradores poderiam ser resumidos da mesma forma, praticamente sem qualquer diferenciação: oficiais a favor da Alemanha e contrários a Hitler. Nenhuma de suas personalidades é mais elaborada ou desenvolvida com cuidado e, se não parecem apenas caricaturas, isso deve-se quase totalmente ao talento de seus intérpretes, que fazem o possível para transformar os personagens rasos do roteiro em figuras, no mínimo, humanas.
Esse é o grande destaque do trabalho de atores do porte de Bill Nighy, Terence Stamp e Kenneth Brannagh, que, mesmo sem um material mais qualificado em mãos para desenvolverem suas caracterizações, são eficazes em suas atuações. O mesmo acontece com Tom Cruise, cujo Coronel Stauffenberg não passa de um homem apaixonado por seu país e disposto a sacrificar-se por ele. Ainda assim, o astro, que adota uma postura quase sem expressão, é eficiente em seu minimalismo: é fácil notar o nervosismo no rosto de Stauffenberg na saída do bunker após o atentado ou os sentimentos quando reencontra a família.
Em essência, porém, Operação Valquíria não se propõe a ser um estudo de personagens, mas um suspense capaz de gerar tensão. E o grande mérito da direção de Bryan Singer é exatamente conseguir manter essa tensão, mesmo que o espectador já saiba como a trama irá se encerrar - qualquer pessoa com o mínimo de consciência de História sabe o resultado do atentado. Singer constrói seu filme em uma crescente de nervosismo, além de sair-se muito bem na realização de cenas cruciais (a sequência do atentado, por exemplo, é um verdadeiro primor). Tudo isso faz com que a platéia esqueça, por vezes, o que sabe de antemão e se veja imerso na narrativa proposta pelo diretor.
E é exatamente por isso que Operação Valquíria é um filme a ser recomendado. Mesmo que não gere grandes discussões e não se preocupe em delinear mais os personagens, Bryan Singer constrói um thriller bastante eficiente, que prende a atenção até o final e gera bons momentos de tensão. E sempre é bom ver histórias reais baseadas em homens capazes colocar a própria vida em risco por um bem maior. Homens que, como vemos aqui, existiam até mesmo dentro do nazismo.
Nota: 7.0
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