A ex-namorada do amigo
- Ex-namorada de amigo meu, pra mim, tem tico.
Deco sempre dizia isso quando alguém perguntava porque ele não cedia às investidas da Susana.
- O Cabeça é meu amigo, cara. Quase meu irmão. Conheço o Cabeça há décadas e, mesmo que ele e a Susana já tenham acabado há anos, não dá pra fazer isso. Pra mim, ela é homem. Amiga e nada mais – justificava.
Mas era difícil de se conter. A Susana era uma morena que parecia esculpida em mármore por mãos artisticamente abençoadas. O rosto não era perfeito, mas chegava perto disso. Os seios de tamanho médio insinuavam-se firmes e esféricos. E as coxas. Ah, as coxas da Susana. Não havia homem que conhecia a Susana e não sonhava em ser abraçado por aquelas carnes.
Deco, porém, resistia. Todos sabiam o quanto Susana o desejava, inclusive ele e o próprio Cabeça. Mas as investidas de Susana não davam resultado. Contra todos os seus instintos, Deco não cedia às tentações daquela mulher irresistível.
- Vai, Deco. Vai em frente. Por mim, tá tranquilo – disse certa vez o Cabeça.
Mesmo com a permissão do amigo, ele não mudava de idéia. Mulher ou ex-mulher de amigo, jamais.
- Com tanta mulher no mundo, por que vou pegar alguém que um amigo meu amou? – dizia.
Jamais, no entanto, é uma palavra muito forte. E Deco veio a descobrir isso.
Há anos, ele se esforçava para resistir. Claro que também queria, mas ceder à Susana ia contra seus princípios. No entanto, naquele dia, foi diferente. Nenhum homem, heterossexual ou homossexual, resistiria à Susana naquele dia. Nenhuma mulher, para bem da verdade, resistiria à Susana naquele dia.
Ela estava simplesmente deslumbrante. Tinha escolhido usar uma maquiagem que escondia qualquer pequena imperfeição que pudesse haver em seu rosto. Os cabelos, longos e lisos, apresentavam um preto que reluzia a qualquer feixe de luz. O vestido branco demarcava seu corpo repleto de curvas, encerrando-se logo no início das coxas. E as coxas. Ah, as coxas da Susana.
Assim que a Susana entrou na festa da Mari, todos olharam para ela. Todos, sem exceção. Até o cachorro da Mari, preso no canil, virou a cabeça em direção à escultural Susana.
Em seguida, os olhares se voltaram para Deco. Todos, sem exceção. Eram olhares que pareciam dizer: “E agora? Como você vai resistir a tudo isso?”
Deco engoliu em seco. Ele viu que estava em uma enrascada. A situação era complicada. Sentiu-se mais encurralado do um hamburguer na mesa de um gordo. Tomou toda a cerveja que tinha na mão em um só gole.
Enquanto isso, Susana se movia. A garagem da casa da Mari nunca brilhou tanto como naqueles líricos segundos. Susana parecia não fazer esforço, como se impulsionada por uma força divina. Uma rajada de vento milagrosamente atingiu unicamente a ela, fazendo flutuar seus plácidos cabelos. O olhar fulminante estava fixado no rosto indefeso de Deco.
Ele tremeu.
Ela parou.
Parou na frente de Deco. Dona de todos os olhares do silente recinto, inclinou-se para frente. Esticou seus braços e envolveu o estático Deco em um abraço. Puxou-o para perto de si. Os seios de Susana encostaram no peito de Deco, como se estivessem dando uma amostra de tudo aquilo que ele estava perdendo. Susana pôs os lábios no ouvido de Deco e disse, com uma voz que mesclava a inocência de uma pré-adolescente com a luxúria de uma profissional:
- Oi, Deco.
Apenas isso. “Oi, Deco”. Nada além de um cumprimento.
Lentamente, Susana soltou sua vítima. Sempre com o olhar fixo na reação de Deco, separou seu corpo do dele. Suas duas mãos delicadamente perfeitas pousaram nos ombros de Deco. Ele não conseguia reagir. Ninguém conseguia. Susana deu mais um sorriso. Deco perdeu a força nas pernas. Cambaleou. Susana virou o rosto e se afastou.
A música na festa havia parado sem ninguém notar. As atenções todas ficaram voltadas para aquele cumprimento. Para Susana e para Deco. Ela, agora, caminhava, ciente de sua atração, para um canto da garagem. O vestido preto parecia querer se rasgar, ávido por apresentar aos presentes a beleza daquilo que escondia.
Susana seguia em sua melíflua caminhada. Deco foi um dos primeiros a notar para onde ela ia. Sentando em uma cadeira de madeira junto a uma mesa, estava um rapaz que Deco não conhecia. Poucos pareciam conhecer, pois ele estava sozinho, saboreando a sua cerveja gelada. Com um sorriso no rosto, acompanhava o caminhar de Susana. Ela seguia em direção a ele e, assim como fizera com Deco, parou a poucos centímetros do desconhecido e inclinou-se para a frente.
Então, diante do olhar estupefato e atônito dos homens e das mulheres, Susana beijou-o.
Não foi um beijo ardente ou de paixão, mas um mero toque dos lábios. Um selinho. Foi, porém, o suficiente para que todos se voltassem novamente para Deco. Ele seguia a comoção geral, acompanhando a cena de boca aberta. Não sabia o que pensar. Não queria pensar. Apenas reagia.
Susana sentou-se no colo do homem. E, com o canto daqueles olhos hipnotizantes, deu uma rápida espiada em Deco. Foi um átimo, um microssegundo, mas suficiente para Deco perceber o que tudo aquilo significava.
Ela estava tentando causar ciúmes. Era isso. Levara um acompanhante apenas para ver a reação de Deco. Para despertar nele um desejo de posse daquele corpo que todos queriam possuir.
Deco respirou pela primeira vez após vários minutos. Para si mesmo, disse graças a Deus. Agradeceu aos céus por Susana ter levado outro. O plano dela não daria certo. Deco não estava com ciúmes. Estava aliviado.
Por uma simples razão.
Naquele dia, ele teria cedido.
Qualquer um teria.
Novamente, agradeceu. Agradeceu a Susana. Agradeceu aos céus. Agradeceu ao desconhecido jovem que surgiu de algum lugar para salvá-lo. Agradeceu por poder manter os seus princípios.
Agradeceu porque, para ele, como todo mundo estava cansado de saber, ex-namorada de amigo tinha tico.
Deco sempre dizia isso quando alguém perguntava porque ele não cedia às investidas da Susana.
- O Cabeça é meu amigo, cara. Quase meu irmão. Conheço o Cabeça há décadas e, mesmo que ele e a Susana já tenham acabado há anos, não dá pra fazer isso. Pra mim, ela é homem. Amiga e nada mais – justificava.
Mas era difícil de se conter. A Susana era uma morena que parecia esculpida em mármore por mãos artisticamente abençoadas. O rosto não era perfeito, mas chegava perto disso. Os seios de tamanho médio insinuavam-se firmes e esféricos. E as coxas. Ah, as coxas da Susana. Não havia homem que conhecia a Susana e não sonhava em ser abraçado por aquelas carnes.
Deco, porém, resistia. Todos sabiam o quanto Susana o desejava, inclusive ele e o próprio Cabeça. Mas as investidas de Susana não davam resultado. Contra todos os seus instintos, Deco não cedia às tentações daquela mulher irresistível.
- Vai, Deco. Vai em frente. Por mim, tá tranquilo – disse certa vez o Cabeça.
Mesmo com a permissão do amigo, ele não mudava de idéia. Mulher ou ex-mulher de amigo, jamais.
- Com tanta mulher no mundo, por que vou pegar alguém que um amigo meu amou? – dizia.
Jamais, no entanto, é uma palavra muito forte. E Deco veio a descobrir isso.
Há anos, ele se esforçava para resistir. Claro que também queria, mas ceder à Susana ia contra seus princípios. No entanto, naquele dia, foi diferente. Nenhum homem, heterossexual ou homossexual, resistiria à Susana naquele dia. Nenhuma mulher, para bem da verdade, resistiria à Susana naquele dia.
Ela estava simplesmente deslumbrante. Tinha escolhido usar uma maquiagem que escondia qualquer pequena imperfeição que pudesse haver em seu rosto. Os cabelos, longos e lisos, apresentavam um preto que reluzia a qualquer feixe de luz. O vestido branco demarcava seu corpo repleto de curvas, encerrando-se logo no início das coxas. E as coxas. Ah, as coxas da Susana.
Assim que a Susana entrou na festa da Mari, todos olharam para ela. Todos, sem exceção. Até o cachorro da Mari, preso no canil, virou a cabeça em direção à escultural Susana.
Em seguida, os olhares se voltaram para Deco. Todos, sem exceção. Eram olhares que pareciam dizer: “E agora? Como você vai resistir a tudo isso?”
Deco engoliu em seco. Ele viu que estava em uma enrascada. A situação era complicada. Sentiu-se mais encurralado do um hamburguer na mesa de um gordo. Tomou toda a cerveja que tinha na mão em um só gole.
Enquanto isso, Susana se movia. A garagem da casa da Mari nunca brilhou tanto como naqueles líricos segundos. Susana parecia não fazer esforço, como se impulsionada por uma força divina. Uma rajada de vento milagrosamente atingiu unicamente a ela, fazendo flutuar seus plácidos cabelos. O olhar fulminante estava fixado no rosto indefeso de Deco.
Ele tremeu.
Ela parou.
Parou na frente de Deco. Dona de todos os olhares do silente recinto, inclinou-se para frente. Esticou seus braços e envolveu o estático Deco em um abraço. Puxou-o para perto de si. Os seios de Susana encostaram no peito de Deco, como se estivessem dando uma amostra de tudo aquilo que ele estava perdendo. Susana pôs os lábios no ouvido de Deco e disse, com uma voz que mesclava a inocência de uma pré-adolescente com a luxúria de uma profissional:
- Oi, Deco.
Apenas isso. “Oi, Deco”. Nada além de um cumprimento.
Lentamente, Susana soltou sua vítima. Sempre com o olhar fixo na reação de Deco, separou seu corpo do dele. Suas duas mãos delicadamente perfeitas pousaram nos ombros de Deco. Ele não conseguia reagir. Ninguém conseguia. Susana deu mais um sorriso. Deco perdeu a força nas pernas. Cambaleou. Susana virou o rosto e se afastou.
A música na festa havia parado sem ninguém notar. As atenções todas ficaram voltadas para aquele cumprimento. Para Susana e para Deco. Ela, agora, caminhava, ciente de sua atração, para um canto da garagem. O vestido preto parecia querer se rasgar, ávido por apresentar aos presentes a beleza daquilo que escondia.
Susana seguia em sua melíflua caminhada. Deco foi um dos primeiros a notar para onde ela ia. Sentando em uma cadeira de madeira junto a uma mesa, estava um rapaz que Deco não conhecia. Poucos pareciam conhecer, pois ele estava sozinho, saboreando a sua cerveja gelada. Com um sorriso no rosto, acompanhava o caminhar de Susana. Ela seguia em direção a ele e, assim como fizera com Deco, parou a poucos centímetros do desconhecido e inclinou-se para a frente.
Então, diante do olhar estupefato e atônito dos homens e das mulheres, Susana beijou-o.
Não foi um beijo ardente ou de paixão, mas um mero toque dos lábios. Um selinho. Foi, porém, o suficiente para que todos se voltassem novamente para Deco. Ele seguia a comoção geral, acompanhando a cena de boca aberta. Não sabia o que pensar. Não queria pensar. Apenas reagia.
Susana sentou-se no colo do homem. E, com o canto daqueles olhos hipnotizantes, deu uma rápida espiada em Deco. Foi um átimo, um microssegundo, mas suficiente para Deco perceber o que tudo aquilo significava.
Ela estava tentando causar ciúmes. Era isso. Levara um acompanhante apenas para ver a reação de Deco. Para despertar nele um desejo de posse daquele corpo que todos queriam possuir.
Deco respirou pela primeira vez após vários minutos. Para si mesmo, disse graças a Deus. Agradeceu aos céus por Susana ter levado outro. O plano dela não daria certo. Deco não estava com ciúmes. Estava aliviado.
Por uma simples razão.
Naquele dia, ele teria cedido.
Qualquer um teria.
Novamente, agradeceu. Agradeceu a Susana. Agradeceu aos céus. Agradeceu ao desconhecido jovem que surgiu de algum lugar para salvá-lo. Agradeceu por poder manter os seus princípios.
Agradeceu porque, para ele, como todo mundo estava cansado de saber, ex-namorada de amigo tinha tico.
4 Comments:
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Olá...
Gostei do seu texto! Tem um humor interessante... Cheguei a pensar que o Deco se daria bem... hehe
Não sei como encontrei o seu blog, mas, sempre acesso.
Parabéns!! Muitas coisas legais e interessantes por aqui...
Chou Tarugo...realmente pra nós ex-mulher de amigos tem ¨tico¨sim,...heheheheheh
abrs!
Olá.
Li o seu texto e fiquei abismado com o estlo de escrita. simples, divertida e de facil compreeensão.
Mas gostaria de saber o que significa um tico.
Eu para mim mulher ou ex mulher de amigo não da. posso desejar mas nao posso me envolver com ela.
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