A verdade.
Como qualquer outro trabalhador que passa o dia inteiro fora de casa para ganhar o dinheiro necessário ao sustento, Jefferson só queria entrar em sua residência, tirar os sapatos, deitar no sofá e relaxar assistindo qualquer porcaria na televisão. Esse, ao menos, era o seu plano até abrir a porta de casa.
Logo que entrou, achou estranho o fato de todas as luzes estarem apagadas. Afinal, sua esposa Denise deveria estar em casa e, a não ser que estivesse muito enganado, tinha certeza de ter visto o carro dela na garagem. Mas a casa estava tomada pela escuridão, salvo alguns feixes brancos de luz que vinham da rua e iluminavam parcamente a sala.
Jefferson, porém, notou algo ainda mais estranho do que a penumbra que tomava a casa. Percebeu um som baixo e constante. Enquanto entrava, ainda antes de acender a luz, deu-se conta de que se tratava de um lamento. Choro. Alguém chorava em sua casa, com as luzes todas apagadas.
Já preocupado, Jefferson acendeu a luz e olhou em volta.
- Denise, o que foi? – exclamou, ao enxergar a esposa sentada em uma cadeira, com o rosto afundado nos dois braços sobre a mesa de jantar.
Ela nada respondeu e Jefferson correu em sua direção. Assim que encostou a mão nas costas de Denise, ela repeliu-o, jogando o corpo para o lado.
- Não toque em mim! Não chegue perto de mim! – Denise gritou, em uma voz que exprimia ao mesmo tempo tristeza, decepção e raiva incontida.
Jefferson afastou-se, meio que por instinto.
- O que houve, Denise? O que aconteceu?
Denise, pela primeira vez, levantou o rosto para encarar o marido. Seus olhos estavam tomados por lágrimas e as bochechas assumiam um tom vermelho.
- Como você teve coragem, Jefferson? – perguntou, de forma mais calma. – Como pôde fazer isso comigo após doze anos de casamento?
- Denise, do que você está falando? O que foi que eu fiz?
Ela olhou para Jefferson por mais alguns instantes. A sensação dele era a de que estava sendo avaliado. Em seguida, Denise abriu a bolsa e tirou de dentro um papel. Era, como ele percebeu em seguida, a fatura de um cartão de crédito.
Denise entregou o papel ao marido e pôs o indicador em um determinado ponto da fatura.
- Leia isso.
Jefferson leu.
- Motel Intimidade. Dia vinte e dois de março. Cento e doze reais.
Segurou o papel diante dos olhos por alguns instantes, tentando entender o que aquilo significava. Denise acusava-o de tê-la traído no tal Motel Intimidade.
- Denise... – começou a justificar.
- Nem tente, Jefferson – interrompeu Denise. – Nem tente. Não quero ouvir qualquer explicação.
- Mas Denise... – ele tentou novamente.
- Não! – gritou ela, levantando-se da mesa e colocando o dedo em riste. – Não! Não mereço ouvir desculpas! Seja homem e admita o que fez!
- Denise, eu não sei o que isso significa. Juro que nunca a traí.
- Ah, Jefferson, por favor. Quer contestar isso que está comprovado aí?
- Eu não sei o que é isso. Deve ser um erro do cartão. Denise, eu não fiz isso.
- Não, eu que fiz, Jefferson. Eu que passo o dia cuidando de nossos filhos, arranjei um tempo pra conhecer um homem e ir a um motel. Fui eu, Jefferson? É isso que você está dizendo?
- Não, claro que não. Não estou dizendo que foi você. Estou dizendo que não fui eu. Denise, você é tudo para mim. Sempre foi. Jamais traí você desde que nos conhecemos e não tenho a menor vontade. Não preciso disso. Só preciso de você – Jefferson começava a chorar também.
Denise começou a ficar em dúvidas.
- Então o que é isso, Jefferson? Como a conta de um motel veio aparecer em seu cartão de crédito?
Ele balançou a cabeça em negativa.
- Não sei, juro que não sei. E você não acha estranho alguém que estivesse traindo a esposa pagar motel com um cartão de crédito cujo extrato ela sempre olha?
- Ah, então quer dizer que o melhor é não pagar com cartão de crédito? Você sabe disso? Sabe como disfarçar, Jefferson? Sabe como enganar a esposa?
Jefferson levantou-se também. Os dois agora estavam pé, a poucos metros um do outro.
- Não, Denise. Eu só disse o que penso. Ninguém faria assim. Quem faz isso deve cuidar melhor para não deixar pistas.
- E quem disse que essa não pode ser sua tática? Esfregar na minha cara e dizer que, se fosse verdade, jamais pagaria com o cartão de crédito?
Jefferson desistiu de argumentar. Sabia que aquela discussão não chegaria a lugar algum. Caminhou até o sofá, em silêncio, e sentou-se. Pôs os braços sobre os joelhos e disse, da maneira mais sincera que conseguiu.
- Denise, eu nunca a traí. Nunca. Jamais. Estamos juntos há quase quinze anos e nunca tive outra mulher. Sempre confiamos um no outro e peço que confie em mim agora. Não a traí com outra mulher no Motel Intimidade. Juro.
Novamente, Denise não soube o que responder. Seu coração queria acreditar no marido, mas não conseguia esquecer a prova naquela fatura.
- Jefferson, preciso de um tempo para pensar. Na verdade, não sei o que pensar. Eu não quero, não posso acreditar que, no ano em que completamos doze anos de casados, você seria capaz de...
Denise simplesmente interrompeu seu discurso. Ficou olhando para o chão por alguns segundos e, logo depois, correu em direção à mesa. Pegou novamente o extrato do cartão e leu o que estava escrito ali.
Subitamente, começou a rir. O ódio, a tristeza e a decepção que dominavam seu corpo alguns segundos antes deram lugar à hilaridade. Denise ria, e ria com vontade. Jefferson permanecia pasmo no sofá, sem entender o que acontecia. Não compreendia a repentina mudança de humor da esposa.
- Denise, o que foi? – perguntou, levantando-se.
Ela continuava dando risada. Entregou a fatura a Jefferson e disse:
- Jefferson, você esteve naquele motel. E acompanhado de uma mulher.
Ele começou a se defender.
- Não, Denise. Juro que...
- Calma! – interrompeu Denise. – Deixe-me terminar. Você esteve naquele motel. Esteve com uma mulher. Fez sexo com ela – disse. Após uma pausa, completou: – Sei disso porque a mulher era eu.
Jefferson arregalou os olhos. Não encontrou sentido naquilo que a esposa dizia. Ela prosseguiu:
- Querido, veja a data. Vinte e dois de março. Lembra de algo?
Ele puxou pela memória, esforçou-se e finalmente lembrou.
- Nosso aniversário de casamento?
- Sim! – ela disse, rindo. – Nosso aniversário de casamento! Nosso aniversário de doze anos. Lembra do que fizemos?
- Saímos para jantar, Denise. Lembro que foi uma ótima noite. Deixamos as crianças na sua irmã e fomos naquele ótimo restaurante perto da casa dela. Comemos bem, bebemos bastante e depois... – ele parou por um instante, pensativo.
Em seguida, os dois disseram ao mesmo tempo:
- E depois fomos ao motel!
Ambos riram. Em seguida, abraçaram-se e beijaram-se, como em alívio.
- Desculpe, querido. Não deveria ter desconfiado de você.
- Não precisa se desculpar, Denise. Você só ficou decepcionada, eu entendo.
- Nunca mais vou agir assim.
- E agora? – perguntou ele. – Que fazemos?
- Que tal uma comemoração? – ela sugeriu. – As crianças ainda estão naquele passeio escolar.
- Adorei a idéia – Jefferson disse. E acrescentou: - Desde que seja em casa.
Baseado em uma história real.
Logo que entrou, achou estranho o fato de todas as luzes estarem apagadas. Afinal, sua esposa Denise deveria estar em casa e, a não ser que estivesse muito enganado, tinha certeza de ter visto o carro dela na garagem. Mas a casa estava tomada pela escuridão, salvo alguns feixes brancos de luz que vinham da rua e iluminavam parcamente a sala.
Jefferson, porém, notou algo ainda mais estranho do que a penumbra que tomava a casa. Percebeu um som baixo e constante. Enquanto entrava, ainda antes de acender a luz, deu-se conta de que se tratava de um lamento. Choro. Alguém chorava em sua casa, com as luzes todas apagadas.
Já preocupado, Jefferson acendeu a luz e olhou em volta.
- Denise, o que foi? – exclamou, ao enxergar a esposa sentada em uma cadeira, com o rosto afundado nos dois braços sobre a mesa de jantar.
Ela nada respondeu e Jefferson correu em sua direção. Assim que encostou a mão nas costas de Denise, ela repeliu-o, jogando o corpo para o lado.
- Não toque em mim! Não chegue perto de mim! – Denise gritou, em uma voz que exprimia ao mesmo tempo tristeza, decepção e raiva incontida.
Jefferson afastou-se, meio que por instinto.
- O que houve, Denise? O que aconteceu?
Denise, pela primeira vez, levantou o rosto para encarar o marido. Seus olhos estavam tomados por lágrimas e as bochechas assumiam um tom vermelho.
- Como você teve coragem, Jefferson? – perguntou, de forma mais calma. – Como pôde fazer isso comigo após doze anos de casamento?
- Denise, do que você está falando? O que foi que eu fiz?
Ela olhou para Jefferson por mais alguns instantes. A sensação dele era a de que estava sendo avaliado. Em seguida, Denise abriu a bolsa e tirou de dentro um papel. Era, como ele percebeu em seguida, a fatura de um cartão de crédito.
Denise entregou o papel ao marido e pôs o indicador em um determinado ponto da fatura.
- Leia isso.
Jefferson leu.
- Motel Intimidade. Dia vinte e dois de março. Cento e doze reais.
Segurou o papel diante dos olhos por alguns instantes, tentando entender o que aquilo significava. Denise acusava-o de tê-la traído no tal Motel Intimidade.
- Denise... – começou a justificar.
- Nem tente, Jefferson – interrompeu Denise. – Nem tente. Não quero ouvir qualquer explicação.
- Mas Denise... – ele tentou novamente.
- Não! – gritou ela, levantando-se da mesa e colocando o dedo em riste. – Não! Não mereço ouvir desculpas! Seja homem e admita o que fez!
- Denise, eu não sei o que isso significa. Juro que nunca a traí.
- Ah, Jefferson, por favor. Quer contestar isso que está comprovado aí?
- Eu não sei o que é isso. Deve ser um erro do cartão. Denise, eu não fiz isso.
- Não, eu que fiz, Jefferson. Eu que passo o dia cuidando de nossos filhos, arranjei um tempo pra conhecer um homem e ir a um motel. Fui eu, Jefferson? É isso que você está dizendo?
- Não, claro que não. Não estou dizendo que foi você. Estou dizendo que não fui eu. Denise, você é tudo para mim. Sempre foi. Jamais traí você desde que nos conhecemos e não tenho a menor vontade. Não preciso disso. Só preciso de você – Jefferson começava a chorar também.
Denise começou a ficar em dúvidas.
- Então o que é isso, Jefferson? Como a conta de um motel veio aparecer em seu cartão de crédito?
Ele balançou a cabeça em negativa.
- Não sei, juro que não sei. E você não acha estranho alguém que estivesse traindo a esposa pagar motel com um cartão de crédito cujo extrato ela sempre olha?
- Ah, então quer dizer que o melhor é não pagar com cartão de crédito? Você sabe disso? Sabe como disfarçar, Jefferson? Sabe como enganar a esposa?
Jefferson levantou-se também. Os dois agora estavam pé, a poucos metros um do outro.
- Não, Denise. Eu só disse o que penso. Ninguém faria assim. Quem faz isso deve cuidar melhor para não deixar pistas.
- E quem disse que essa não pode ser sua tática? Esfregar na minha cara e dizer que, se fosse verdade, jamais pagaria com o cartão de crédito?
Jefferson desistiu de argumentar. Sabia que aquela discussão não chegaria a lugar algum. Caminhou até o sofá, em silêncio, e sentou-se. Pôs os braços sobre os joelhos e disse, da maneira mais sincera que conseguiu.
- Denise, eu nunca a traí. Nunca. Jamais. Estamos juntos há quase quinze anos e nunca tive outra mulher. Sempre confiamos um no outro e peço que confie em mim agora. Não a traí com outra mulher no Motel Intimidade. Juro.
Novamente, Denise não soube o que responder. Seu coração queria acreditar no marido, mas não conseguia esquecer a prova naquela fatura.
- Jefferson, preciso de um tempo para pensar. Na verdade, não sei o que pensar. Eu não quero, não posso acreditar que, no ano em que completamos doze anos de casados, você seria capaz de...
Denise simplesmente interrompeu seu discurso. Ficou olhando para o chão por alguns segundos e, logo depois, correu em direção à mesa. Pegou novamente o extrato do cartão e leu o que estava escrito ali.
Subitamente, começou a rir. O ódio, a tristeza e a decepção que dominavam seu corpo alguns segundos antes deram lugar à hilaridade. Denise ria, e ria com vontade. Jefferson permanecia pasmo no sofá, sem entender o que acontecia. Não compreendia a repentina mudança de humor da esposa.
- Denise, o que foi? – perguntou, levantando-se.
Ela continuava dando risada. Entregou a fatura a Jefferson e disse:
- Jefferson, você esteve naquele motel. E acompanhado de uma mulher.
Ele começou a se defender.
- Não, Denise. Juro que...
- Calma! – interrompeu Denise. – Deixe-me terminar. Você esteve naquele motel. Esteve com uma mulher. Fez sexo com ela – disse. Após uma pausa, completou: – Sei disso porque a mulher era eu.
Jefferson arregalou os olhos. Não encontrou sentido naquilo que a esposa dizia. Ela prosseguiu:
- Querido, veja a data. Vinte e dois de março. Lembra de algo?
Ele puxou pela memória, esforçou-se e finalmente lembrou.
- Nosso aniversário de casamento?
- Sim! – ela disse, rindo. – Nosso aniversário de casamento! Nosso aniversário de doze anos. Lembra do que fizemos?
- Saímos para jantar, Denise. Lembro que foi uma ótima noite. Deixamos as crianças na sua irmã e fomos naquele ótimo restaurante perto da casa dela. Comemos bem, bebemos bastante e depois... – ele parou por um instante, pensativo.
Em seguida, os dois disseram ao mesmo tempo:
- E depois fomos ao motel!
Ambos riram. Em seguida, abraçaram-se e beijaram-se, como em alívio.
- Desculpe, querido. Não deveria ter desconfiado de você.
- Não precisa se desculpar, Denise. Você só ficou decepcionada, eu entendo.
- Nunca mais vou agir assim.
- E agora? – perguntou ele. – Que fazemos?
- Que tal uma comemoração? – ela sugeriu. – As crianças ainda estão naquele passeio escolar.
- Adorei a idéia – Jefferson disse. E acrescentou: - Desde que seja em casa.
Baseado em uma história real.
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