Sorrir pelo que realmente foi.
Uma das coisas que aprendemos ao longo da vida é que nada é apenas preto ou branco. Ora, até mesmo filmes antigos exibem diferentes tonalidades dessas cores. Qualquer pré-julgamento, seja sobre qual for o assunto, é errado por ignorar que sempre existe uma série de fatores envolvendo um acontecimento. No que diz respeito ao ser humano, principalmente, esta constatação torna-se ainda mais acertada. Toda pessoa, por mais simples que seja, é construída de complexidades. Um assassino já pode ter amado. Um ladrão pode ter roubado com o propósito de alimentar seu filho. Ninguém é unicamente mau ou exclusivamente bom.
Ou melhor, quase ninguém.
Nesta segunda-feira, minha família perdeu uma pessoa que pode ser considerada a exceção da regra. Uma mulher que, em seus mais de setenta anos, nunca falou mal de alguém ou desejou coisas menos do que boas a quem quer que cruzasse seu caminho. Uma senhora extremamente religiosa que tratava seus sobrinhos como filhos e a mim e a meus primos como netos. E nós a víamos, em retribuição silente e afetuosa, como nossa terceira e bondosa avó.
Difícil, diante de uma notícia como a de sua partida, pensar que ela não mais se encontra entre nós. Duro acreditar que aquela casa que visitávamos com imensa alegria e na qual onde fomos tão bem recebidos por anos e anos não será mais ocupada por ela. Por mais que a frequência dos contatos tenha diminuído diante das responsabilidades da vida, fica a lembrança dos agradáveis momentos que passávamos naquele aconchegante lar, onde nossas fotos na parede simbolizavam todo o carinho que dela emanava. Ali, tínhamos absoluta certeza de uma coisa: éramos, sempre e a qualquer momento, bem-vindos.
E é assim que devemos encarar a morte de alguém que foi tão querido por nós. Por mais que venha o vazio sempre que pensarmos em quem partiu, são estes momentos que precisam ser revividos. É normal que comecemos a lamentar aquilo que não compartilhamos. Provavelmente, a mente e o coração vão nos dirigir para aquela ligação que não fizemos, pela visita que adiamos, pela palavra que ficou presa e não se transformou em som.
Por que não fazer o caminho inverso? Ao invés de sofrer pelo que não existiu, vamos reviver o que de fato aconteceu. Vamos rememorar as lembranças compartilhadas, não ressentir o que nunca houve. Tentar buscar em algum lugar as cenas que se escondem atrás da espessa névoa do tempo. Porque, se as imagens se vão, fica o sentimento. Vai-se a nitidez, fica o carinho. Nada de chorar o que poderia ter sido, mas apenas sorrir por aquilo que realmente foi.
Quanto àquela que acaba de nos deixar, sei que o mundo foi um pouco melhor quando ela esteve por aqui. Provavelmente, ainda que eu não possa apontar qualquer defeito em sua benevolência e altruísmo, não foi uma pessoa perfeita. Ela não era um anjo. Não era uma santa. Porém, de uma coisa tenho certeza: nesta segunda-feira, não somente minha família perdeu um parente querido, mas o mundo deu adeus de um grande ser humano.
Silvio Pilau Jr. – 10/05/2010
Ou melhor, quase ninguém.
Nesta segunda-feira, minha família perdeu uma pessoa que pode ser considerada a exceção da regra. Uma mulher que, em seus mais de setenta anos, nunca falou mal de alguém ou desejou coisas menos do que boas a quem quer que cruzasse seu caminho. Uma senhora extremamente religiosa que tratava seus sobrinhos como filhos e a mim e a meus primos como netos. E nós a víamos, em retribuição silente e afetuosa, como nossa terceira e bondosa avó.
Difícil, diante de uma notícia como a de sua partida, pensar que ela não mais se encontra entre nós. Duro acreditar que aquela casa que visitávamos com imensa alegria e na qual onde fomos tão bem recebidos por anos e anos não será mais ocupada por ela. Por mais que a frequência dos contatos tenha diminuído diante das responsabilidades da vida, fica a lembrança dos agradáveis momentos que passávamos naquele aconchegante lar, onde nossas fotos na parede simbolizavam todo o carinho que dela emanava. Ali, tínhamos absoluta certeza de uma coisa: éramos, sempre e a qualquer momento, bem-vindos.
E é assim que devemos encarar a morte de alguém que foi tão querido por nós. Por mais que venha o vazio sempre que pensarmos em quem partiu, são estes momentos que precisam ser revividos. É normal que comecemos a lamentar aquilo que não compartilhamos. Provavelmente, a mente e o coração vão nos dirigir para aquela ligação que não fizemos, pela visita que adiamos, pela palavra que ficou presa e não se transformou em som.
Por que não fazer o caminho inverso? Ao invés de sofrer pelo que não existiu, vamos reviver o que de fato aconteceu. Vamos rememorar as lembranças compartilhadas, não ressentir o que nunca houve. Tentar buscar em algum lugar as cenas que se escondem atrás da espessa névoa do tempo. Porque, se as imagens se vão, fica o sentimento. Vai-se a nitidez, fica o carinho. Nada de chorar o que poderia ter sido, mas apenas sorrir por aquilo que realmente foi.
Quanto àquela que acaba de nos deixar, sei que o mundo foi um pouco melhor quando ela esteve por aqui. Provavelmente, ainda que eu não possa apontar qualquer defeito em sua benevolência e altruísmo, não foi uma pessoa perfeita. Ela não era um anjo. Não era uma santa. Porém, de uma coisa tenho certeza: nesta segunda-feira, não somente minha família perdeu um parente querido, mas o mundo deu adeus de um grande ser humano.
Silvio Pilau Jr. – 10/05/2010
1 Comments:
Oi, Sílvio, voltas a este teu blog para escrever sobre a morte de alguém tão querido... Lamento sobre a perda.
Beijão
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