Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, November 04, 2009

A motivação - Parte 3

3.

O Canto do Mundo ficava em uma rua pouco movimentada da cidade, especialmente à noite. Durante o dia, o restaurante era freqüentado por executivos em busca de um espaço tranquilo para almoços de negócios e, à noite, por casais querendo discrição.

Tomas Berger jamais havia estado lá, mas ouvira falar no local. Chegou vinte minutos antes das nove horas da noite, horário combinado para o encontro com Rogério Silva. Tomas preferiu chegar com antecedência para refletir um pouco sobre tudo aquilo, ainda tentando adivinhar qual seria o misterioso campo de atuação do possível futuro cliente.

O relógio prateado em seu pulso marcava exatamente nove horas quando entrou pela porta do restaurante um homem grande e bem vestido. Deveria ter quase dois metros de altura, escondidos sob um sobretudo negro que cobria todo o corpo. Era branco, cabelo preto e bem penteado e, apesar da elegância, parecia ameaçador.

Tomas percebeu que se tratava de Rogério assim que ele veio em sua direção.

- É um prazer conhece-lo, sr. Berger – disse o homem, esticando a mão, sem mais cerimônia.

Tomas a apertou, sentindo a força do homem.

- O prazer é meu, sr. Silva.

Enquanto se acomodavam, Tomas descobriu que estava nervoso. Isso era raro em sua vida. A autoconfiança sempre fora uma de suas maiores qualidades e não era qualquer pessoa que conseguia intimidá-lo. Agora, diante daquele homem sério e, de certa forma, ameaçador, Tomas não se sentia no controle da situação. Talvez por isso, esperou que Rogério falasse primeiro.

- Bom, sr. Berger, não posso me estender – começou. – Vamos ser objetivos. Como falei em nossa conversa pelo telefone, preciso dos seus serviços. Necessito de divulgação daquilo que faço, porém, como você saberá em poucos minutos, minha área não pode ser promovida como as outras às quais você está acostumado.

Rogério Silva parou de falar quando o garçom se aproximou. Pediu apenas uma água, enquanto Tomas nada quis.

- Preciso do melhor – prosseguiu Rogério. – Preciso do melhor porque será necessário buscar alguma forma de divulgação alternativa. Novos canais, novas mídias, essas coisas que você sabe melhor que eu. Preciso do melhor e ouvi dizer que o melhor é você. Estou certo?

- Está – Tomas respondeu. – Mas, para isso...

Rogério ergueu a mão, interrompendo-o.

- Deixe-me terminar, por favor.

Apesar da interrupção, Rogério transparecia educação. O garçom trouxe a água e ele tomou um gole antes de prosseguir.

- Você quer saber o que eu faço – disse.

- Sim – Tomas concordou.

Rogério olhou rapidamente em volta. Parecia estar avaliando as pessoas em torno, para descobrir se algum deles tentava ouvir a conversa. Certo de que isso não ocorria, falou, de forma calma:

- Sr. Berger, eu mato pessoas.

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