Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Friday, August 19, 2005

A Fantástica Fábrica de Chocolates



A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES (CHARLIE AND THE CHOCOLATE FACTORY) *****
De Tim Burton. Com Johnny Depp, Freddie Highmore, David Kelly, Helena Bonham Carter, Noah Taylor, Deep Roy, James Fox, Christopher Lee e Missi Pyle.


08/08/05 – Silvio Pilau

Antes de mais nada, acredito ser pertinente salientar que jamais assisti a versão anterior de A Fantástica Fábrica de Chocolates, com Gene Wilder no papel de Willy Wonka. Portanto, essa análise será baseada exclusivamente na fabulosa reinvenção oferecida por Tim Burton à história criada por Roald Dahl. Mesmo assim, é difícil acreditar que a versão antiga, ainda que tenha o status de cult e clássico, consiga ser superior a esta produção atual.

A trama conta a história do pequeno Charlie Bucket, um garoto pobre que sonha em conhecer a fábrica dos chocolates de sua cidade, cujo dono é o misterioso Willy Wonka. A oportunidade surge quando cinco bilhetes dourados são colocados nas barras de chocolate e espalhados por todo o mundo, dando a quem encontrá-los a chance de visitar o local e conhecer seu administrador. Charlie consegue um desses bilhetes e, na companhia de seu avô, tem a chance de realizar seu sonho.

A Fantástica Fábrica de Chocolates é uma fábula inspiradora e de encher os olhos, concretizando mais uma parceria bem-sucedida entre Tim Burton e Johnny Depp. Com sua visão única, Burton transformou uma história infantil em um espetáculo grandioso e uma pérola de narrativa cinematográfica, carregada com a coragem e o talento de sempre pelo sensacional Depp.

Tim Burton é, provavelmente, um dos cineastas mais criativos em atividade. Todas as características presentes em seus melhores trabalhos podem ser encontradas em A Fantástica Fábrica de Chocolates, como o tom fantasioso, os personagens fortes, o humor sempre inteligente e, é claro, o visual arrebatador. Mais do que isso, a obra traz muitas semelhanças com um dos melhores trabalhos de Burton, Edward Mãos de Tesoura, pois, assim como a primeira colaboração entre o diretor e Johnny Depp, A Fantástica Fábrica de Chocolates também é um “conto de fadas para adultos” capaz de emocionar, trazendo lições de moral nada forçadas e um final feliz que deixa o espectador com um sorriso no rosto.

Isso tudo porque Tim Burton, mais do que apenas um diretor visualmente criativo, é um excepcional contador de histórias. A trama de A Fantástica Fábrica de Chocolates flui com uma naturalidade impressionante e cativa o público desde os ótimos créditos iniciais. Os primeiros 45 minutos do filme, antes da aparição de Depp/Wonka, são extraordinários, com o diretor construindo o personagem de Charlie e sua relação com a família. Assim, quando o garoto descobre o bilhete dourado, é impossível não se emocionar junto com ele, já que sabemos o quanto a visita à fábrica significa para Charlie.

É claro que as qualidades de A Fantástica Fábrica de Chocolates não se limitam ao primeiro ato. Assim que os visitantes entram na fábrica, o público é envolvido por um universo absurdamente, com o perdão do redundância, fantástico. Não há como classificar de outra forma. A concepção visual do interior da fábrica, e de tudo o que acontece lá dentro, é de uma imaginação assustadora, tanto em relação aos cenários quanto às cenas construídas.

Assim, temos seqüências que beiram o surreal, como as hilariantes apresentações dos Oompa Loompas, mas que funcionam com brilhantismo sob a batuta de Burton, sem jamais parecerem deslocadas na trama. Os, digamos, “testes” com as crianças também merecem destaque, especialmente aquele com as referências à 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Burton também tem a coragem de inserir, por baixo de toda a fantasia e espetáculo visual, um constante tom bizarro, um incômodo que parece dizer ao espectador que este não é um filme para crianças (muito disse se deve ao personagem de Wonka, como comentarei adiante).

Como se não bastasse, todos esses momentos são complementados por uma direção de arte e uma fotografia extraordinárias. Seja o rio de chocolates, a sala dos esquilos, o corredor de entrada da fábrica, a sala de TV ou até o “elevador transporte” de Wonka, tudo é único e sem precedentes, contribuindo para a construção de uma obra extremamente original, como é característica de Burton. Merece destaque também a criação da casa dos Buckets, claramente inspirada no expressionismo alemão.

Outro atrativo marcante de A Fantástica Fábrica de Chocolates é o humor, presente em toda a obra e das mais diversas formas. Há situações divertidas para todos os gostos: tiradas inteligentes, humor negro e até situações de puro pastelão. E, por incrível que pareça, quase todas funcionam, como a hilária seqüência que traz um jovem Willy Wonka caminhando com as bandeiras ao fundo. Os diálogos também são afiadíssimos, sempre recheados de sarcasmo e ironia, característicos do personagem principal da nova versão. Em certo momento, uma criança pergunta a Wonka se pode comer o que há no local. Sua resposta é impagável: “Tudo nesta sala é comestível. Até eu sou comestível. Mas isso é chamado canibalismo e é condenável na maioria das sociedades”.

E esta talvez seja a grande ousadia desta nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolates: o próprio Wonka. Aqui, ele é um homem estranho, excêntrico e que não suporta crianças. Interpretado de forma magistral por Johnny Depp, que enche o personagem de tiques e expressões sem torná-lo caricato, Wonka inclusive recebe de Burton e do roteirista John August alguns flashbacks de sua infância, mostrando as razões para ele ter se transformado no homem que é.

Contrapondo-se à personalidade perturbada de Wonka, Charlie é retratado como um garoto puro e sonhador, extremamente apegado à família. Freddie Highmore (repetindo a parceria que fez jorrar lágrimas de quem assistiu Em Busca da Terra do Nunca) encarna o papel, oferecendo uma performance simples, honesta e extremamente verdadeira. O resto do elenco, apesar do pouco tempo em tela, também merece destaque, especialmente David Kelly, adorável no papel do avô Joe.

Não me arrisco a afirmar que A Fantástica Fábrica de Chocolates é o melhor filme de Tim Burton, porque sou fã de outros trabalhos do diretor. Mas esta versão da história de Willy Wonka e Charlie Buckett é, sem dúvida, uma obra que merece ser vista. Uma fábula criativa e grandiosa, tanto para adultos quanto para crianças, que traz em cada segundo de projeção o toque único de um dos mais geniais cineastas americanos.

5 Comments:

Blogger Pree said...

Olha eu ainda não li não porque tô acabando as 600 páginas da Cleopatra e lendo um de sonetos...
lindo!
Mas oh tá na cabeceira, viu!
Ah não vou ler essa resenha pois ainda não assisti o movie, mas despues leio ok?!
E o filme da Jen?
Acho que amanhã vou ir assistir sozinha mesmo!

Baccios!

12:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

Hmmm... boa análise, o filme é mesmo excelente.
Muito bem constatada a questão da casa expressionista, espero que tenha sido uma percepção tua, não algo que tu leu.
Outra coisa: o filme se assemelha muito ao Seven, as crianças sendo punidas pelos seus pecados... pena que o final não é o mesmo!

2:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Como vc me faz um comentário como esse abaixo, se vc não viu o primeiro filma???

Nada poderia ser mais caricato que o Michael Jackson interpretado por Deep. O filme é simplesmente ridículo, parece até que o diretor nunca viu o original.

A fábrica é completamente sem mágia, sem alegira, e os trabalhadores da fábrica não cantam a música que os tornaram famosos, ou seja, as charadas.

Péssimo o filme, e se quer comentar sobre um remake veja o primeiro antes.


"E esta talvez seja a grande ousadia desta nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolates: o próprio Wonka. Aqui, ele é um homem estranho, excêntrico e que não suporta crianças. Interpretado de forma magistral por Johnny Depp, que enche o personagem de tiques e expressões sem torná-lo caricato"

7:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

intiresno muito, obrigado

8:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

At 36 weeks pregnant, it would be difficult
to differentiate involving the Braxton Higgs contractions as well as the true labor
pains therefore the consultation in the doctor at regular intervals is of extreme importance to stop any kind of complexities.
She was tuned in to her own tendency to collude in
the institutionalized disempowerment of mothers.


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3:11 PM  

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