Pecado Capital
Textinho meio antigo, mas aí vai.
Muitas pessoas já me chamaram de preguiçoso ao longo dos meus quase 22 anos de existência. Até com certa razão, eu diria. Pela interpretação comum da palavra, eu me encaixaria perfeitamente na definição de uma pessoa preguiçosa. Não é tão fácil fazer eu me deslocar longas distâncias ou levantar do sofá para buscar o controle remoto. Meu cérebro manda as ordens para o corpo, que parece responder: “Não, agora não, sempre tudo eu. Já que tu és tão inteligente, vai lá e me deixa quieto aqui”. Não por acaso, ganhei do meu pai o apelido de Baiano. Então, analisando por essa ótica, sim, sou preguiçoso. Mas, como comprovou certa vez um alemão meio maluco, tudo é relativo.
Felizmente, minha preguiça limita-se a questões puramente físicas, como coçar a cabeça e respirar. Por outro lado, posso dizer, até com um certo orgulho, que tenho uma mente inquieta, sempre querendo saber e aprender mais. Não é raro sentir-me decepcionado ao perceber a imensurável quantidade de conhecimento que ainda não mora dentro da minha cabeça e a outra quantidade que, com certeza, jamais vai morar. Mas não me resigno por isso. É apenas um motivo para eu me informar mais, ler mais, assistir mais filmes, ouvir mais músicas, observar mais. Se existe algo de que não sofro é preguiça mental.
E aí surge a derradeira questão: é melhor ter preguiça física ou mental? Obviamente, o melhor é não sofrer de nenhuma, mas em um mundo criado em apenas seis dias (na concepção de alguns, é claro), nem tudo é perfeito. A maior parte das pessoas, salvo raras exceções, é preguiçosa de alguma forma. O problema é que, ao meu ver, a grande maioria faz a escolha errada.
Chamem-me do que quiserem, mas se eu tivesse apenas duas horas livres ao dia, passaria-as lendo um bom livro ao invés de ficar suando em uma academia. Sem hesitar. Prefiro muito mais manter uma mente ativa e bem informada do que me preocupar com o tamanho do meu bíceps ou em quantos quilos consigo levantar no supino. Se para a maioria das pessoas isso é ser preguiçoso, para mim é exatamente o contrário.
Ao meu ver, preguiçoso é quem chega em casa à noite e, ao invés de ler o jornal que não teve tempo de ler antes, deita-se no sofá para assistir à imperdível novela das oito. Preguiçoso é quem vai a uma sala de espera e, ao escolher entre uma revista de fofocas ou uma de economia, prefere a primeira opção. Preguiçoso é quem tem TV a cabo em casa e, em oposição a assistir algum dos diversos programas interessantes que ela oferece, prefere saber quem é o novo anjo daquele programinha do Pedro Bial. Não pensar, não refletir, não discutir, não contestar é um problema muito mais grave do que deixar de fazer exercícios físicos todos os dias. Isso, para mim, é a verdadeira preguiça.
É claro que o mais saudável seria fazer ambas as coisas. Eu tento e, às vezes, até consigo. Não sou um sedentário completo, jogo bola e vou na academia de vez em quando, quando minha preguiça física dá uma trégua. Mas nem por isso deixo a preguiça mental ganhar espaço. Se não foi possível eliminar as duas do meu corpo, tenho certeza de que fiz escolha certa. Entre a minha preguiça e a das pessoas que desistiram de ler esse texto lá nas primeiras linhas, sou muito mais a minha.
23/03/05
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