Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, January 09, 2006

Reescrevendo a Obra-Prima


Quantas vezes já foi dito que o corpo humano é perfeito? Que é a obra-prima da natureza? Ou de Deus, para quem acredita no barbudo lá em cima? Ouso discordar. Dizer que nosso corpo é perfeito é coisa de quem se satisfaz com pouco ou com aquilo que tem. Porque o corpo humano poderia ser melhor. Muito melhor. Quer ver?

Vou começar pelo óbvio: braços. Por que apenas dois? É mais do que comum pedir um favor a alguém e ouvir como resposta: “calma, eu só tenho duas mãos”. Pois não precisava ser assim. Se o corpo humano fosse perfeito, teríamos três ou quatro braços. Imagine como facilitaria nossa vida apenas um braço a mais. Poderíamos executar tarefas com muito mais rapidez, ganhando tempo para fazer outras coisas.

E, já que comecei falando dos braços, seguimos neles. Acredito que também poderiam ser elásticos. Eu já passei por situações nas quais, bem deitado na minha cama ou atirado no sofá, tive que me levantar para alcançar determinado objeto. Poucas coisas no mundo são piores do que isso e acredito que muitos pensam da mesma forma. Em um momento de total e completa preguiça, ser retirado do ócio por não ter a devida elasticidade para buscar alguma coisa é frustrante.

Outra coisa que poderia ser diferente é o número de olhos. Custava ter um olho na parte de trás da cabeça? Uma visão 360 graus? Imaginem só: caminhar tranqüilamente na rua, sem ficar pensando sem tem uma pessoa nos seguindo. Quando alguém chamasse pelo seu nome, não seria preciso virar todo o corpo, naquele esforço monumental e exaustivo, especialmente para os adeptos da preguiça, como eu.

E continuo nos olhos. Não dá pra se satisfazer com os que a gente tem. Pois vejamos: o gato enxerga no escuro, a visão da águia tem o alcance de não sei quantos quilômetros e a mosca pode ver a cor ultravioleta. Enquanto isso, o ser humano fica com essas duas bolotas brancas que, com muita freqüência, precisam de lentes de vidro para funcionar direito. Sacanagem, não?

Acredito que já apresentei alguns bons argumentos para refutar a idéia de que o corpo humano é perfeito, mas vou seguir mais um pouco. E a questão agora é o metabolismo. Sabe-se que a velocidade do metabolismo de cada pessoa é diferente, mas por que diabos ele não segue o critério do prazer que a pessoa tem com a comida? Se o cidadão adora comer, ele deveria ser veloz. Se a pessoa só come por obrigação, ele deveria ser lento. Seria muito melhor comer sem a preocupação de engordar ou ficar muito magro.

E o apêndice? Ah, o apêndice. Ô, coisa chata. O que faz este troço nojento na nossa barriga? Não serve pra nada a não ser se inflamar e ser retirado com urgência. Por que não dois fígados ao invés deste corpo inútil dentro do organismo? Com certeza um outro fígado, ainda que menor, de reserva, seria muito melhor aproveitado do que o tal de apêndice.

Outra mudança bem-vinda seria em relação ao sono. O ideal seria haver um controle em relação a ele: quando quiséssemos dormir, dormiríamos. Nada de ficar duelando contra o abraço de Morfeu. Todos já devem ter enfrentado situações nas quais existia o desejo de ficar acordado, mas o sono venceu. Seria muito mais simples dormir quando tivéssemos tempo ou vontade. Algo como uma cota mensal de sono. Por exemplo, todo ser humano deve dormir 250 horas por mês. E aí o problema seria de cada um, sendo cada indivíduo o responsável para fechar esta carga horária.

Se o corpo humano fosse perfeito, as mulheres não ficariam sangrando por dias todos os meses, naquele processo que altera até o humor delas. Se o corpo humano fosse perfeito, os homens não sofreriam com câncer de próstata, evitando a necessidade de passar por aquele teste embaraçoso – e pavoroso – para a grande maioria.

Se o corpo humano fosse perfeito, possuiríamos guelras para respirar embaixo d’água e os cabelos, unhas e barba ficariam do modo que deixamos a última vez, eliminando a chatice de ter que cortá-los com freqüência. Se o corpo humano fosse perfeito, teríamos uma regulagem na bexiga, para mijarmos apenas quando fosse conveniente e a vontade não aparecesse no meio da projeção de um filme no cinema.

Com certeza você que está lendo este texto já pensou em algumas coisas que acha que poderiam ser melhores no corpo humano. E quem pensa que a visão de seres com três braços, um olho atrás da cabeça e guelras seria uma visão assustadora, eu digo que tudo isso é questão de costume. Se fôssemos assim desde o princípio dos tempos, seria normal. Ou você acha que alienígenas achariam Angelina Jolie bonita? Para eles, ela seria uma aberração.

Se bem que, agora, pensando em Angelina Jolie, retiro tudo o que escrevi. O corpo humano é perfeito, sim. Alguns, pelo menos.

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