O outro lado da tragédia.
Por Silvio Pilau
O ser humano é, por essência, uma criatura surpreendente. Ontem, o Brasil – e, por extensão, o mundo – foi surpreendido mais uma vez pela atitude de um exemplar da espécie dominante deste planeta. O jovem Wellington de Oliveira Menezes, 23 anos, invadiu uma escola portando dois revólveres e realizou uma chacina no local, assassinando de forma covarde, brutal e incompreensível nada menos do que doze crianças.
Crianças. Um crime hediondo destes já causaria comoção e repulsa caso fosse realizado contra uma dúzia de adultos, mas o atirador escolheu, como vítimas, crianças inocentes que, no momento, nada faziam além de estudar para um dia, quem sabe, realizarem os seus sonhos. São sonhos que, agora, jamais se tornarão realidade, interrompidos por uma atitude inconcebível para, assim espero, todos nós.
Como não poderia deixar de ser, a tragédia de Realengo gerou centenas de opiniões e discussões sobre os mais diversos temas. Boa parte dos textos que li sobre o ocorrido – alguns muito bons, por sinal – invariavelmente acabam versando sobre uma espécie de desilusão em relação à raça humana: se um de nós é capaz de cometer um ato desses, que esperança temos para o futuro?
De certo modo, é até difícil formar um contraponto aos que defendem esta bandeira. Nem é o que pretendo. Nada, mas nada mesmo, justifica o assassinato de doze crianças que provavelmente ainda eram incapazes de entender qualquer que fosse o problema que o assassino enfrentava. No entanto, uma posição alarmista e desesperançosa como imaginar que a humanidade não possui salvação por que um homem perturbado cometeu algo inimaginável me parece um tanto exagerada.
Somos todos complexos. Rótulos, por mais adequado que sejam na hora de criarmos uma definição sobre alguém, são superficiais. O ser humano, sem exceção, possui tanto a capacidade de perpetrar atos egoístas e mesquinhos quanto de promover atitudes de compreensão e solidariedade. O convívio social, a evolução do pensamento e o desenvolvimento da civilização como um todo fizeram com que fôssemos, com o tempo, controlando o nosso lado “ruim” em prol da possibilidade de uma vida em sociedade.
Porém, casos como o de ontem surgem para nos lembrar que existe este aspecto da nossa natureza. E, infelizmente, são estes os acontecimentos que mais chamam a atenção. A mídia vende o sangue originado destas situações e a população delicia-se neste banho vermelho, mesmo que jamais consiga compreender tudo o que há por trás daquilo tudo. Os assuntos dominam e estão em qualquer lugar: jornais, revistas, televisão. Se há uma tragédia, há espaço para ela.
Mas há, felizmente, há um outro lado para uma tragédia como esta. Um lado que não ganha as capas de jornais, que não ocupa o tempo da redação das revistas e que não é apresentado por William Bonner e Fátima Bernardes todas as noites. É o lado dominado por pequenos atos de bondade e de altruísmo, no qual o ser humano se engrandece ao esquecer de si mesmo por alguns instantes para pensar no próximo. Um lado dominado pela beleza e pela consciência de que, por compartilharmos o mesmo tempo e espaço, somente poderemos evoluir se apoiarmos uns aos outros.
Não falo de casos tão específicos como a ajuda às vítimas terremotos do Japão, por exemplo, que mobilizou milhões de pessoas em todo o mundo. Falo dos pequenos acontecimentos quase impercebíveis do dia a dia, que não chamam a atenção do planeta. Atos intrínsecos de benevolência, como ajudar alguém com dificuldades a atravessar a rua, prestar um favor sem qualquer benefício próprio ou simplesmente doar sangue. São eventos que ocorrem milhões de vezes todos os dias, em todos os lugares do mundo, e que demonstram existir no ser humano uma disposição à humanidade.
Sonho – inclusive até já cogitei escrever um conto sobre isso – com uma emissora de televisão que tenha a coragem de exibir um telejornal no qual jamais seriam apresentadas notícias ruins ou tragédias. A pauta, pelo contrário, seria formada unicamente por histórias de felicidade e momentos de solidariedade: o primeiro beijo de um casal apaixonado, uma mãe lendo uma história de ninar para seu filho, a dedicação de um professor no ensinamento aos seus alunos, mesmo mal pago para isso.
Sei que um programa como esse jamais será veiculado. Mas também sei – todos sabemos – que estes pequenos momentos ocorrem diariamente. São eles que fazem a gente seguir adiante e são eles que fizeram com que a humanidade evoluísse até aqui. E, acreditem, evoluímos.
Repito que o ser humano é, por essência, uma criatura surpreendente. No caso de ontem, surpreendeu de forma negativa. Mas, quem sabe, o acontecimento faça com que voltemos a ser surpreendidos por atos de poesia e de bondade que hoje nos passam desapercebidos.
Podem ter certeza de que eles existem.
O ser humano é, por essência, uma criatura surpreendente. Ontem, o Brasil – e, por extensão, o mundo – foi surpreendido mais uma vez pela atitude de um exemplar da espécie dominante deste planeta. O jovem Wellington de Oliveira Menezes, 23 anos, invadiu uma escola portando dois revólveres e realizou uma chacina no local, assassinando de forma covarde, brutal e incompreensível nada menos do que doze crianças.
Crianças. Um crime hediondo destes já causaria comoção e repulsa caso fosse realizado contra uma dúzia de adultos, mas o atirador escolheu, como vítimas, crianças inocentes que, no momento, nada faziam além de estudar para um dia, quem sabe, realizarem os seus sonhos. São sonhos que, agora, jamais se tornarão realidade, interrompidos por uma atitude inconcebível para, assim espero, todos nós.
Como não poderia deixar de ser, a tragédia de Realengo gerou centenas de opiniões e discussões sobre os mais diversos temas. Boa parte dos textos que li sobre o ocorrido – alguns muito bons, por sinal – invariavelmente acabam versando sobre uma espécie de desilusão em relação à raça humana: se um de nós é capaz de cometer um ato desses, que esperança temos para o futuro?
De certo modo, é até difícil formar um contraponto aos que defendem esta bandeira. Nem é o que pretendo. Nada, mas nada mesmo, justifica o assassinato de doze crianças que provavelmente ainda eram incapazes de entender qualquer que fosse o problema que o assassino enfrentava. No entanto, uma posição alarmista e desesperançosa como imaginar que a humanidade não possui salvação por que um homem perturbado cometeu algo inimaginável me parece um tanto exagerada.
Somos todos complexos. Rótulos, por mais adequado que sejam na hora de criarmos uma definição sobre alguém, são superficiais. O ser humano, sem exceção, possui tanto a capacidade de perpetrar atos egoístas e mesquinhos quanto de promover atitudes de compreensão e solidariedade. O convívio social, a evolução do pensamento e o desenvolvimento da civilização como um todo fizeram com que fôssemos, com o tempo, controlando o nosso lado “ruim” em prol da possibilidade de uma vida em sociedade.
Porém, casos como o de ontem surgem para nos lembrar que existe este aspecto da nossa natureza. E, infelizmente, são estes os acontecimentos que mais chamam a atenção. A mídia vende o sangue originado destas situações e a população delicia-se neste banho vermelho, mesmo que jamais consiga compreender tudo o que há por trás daquilo tudo. Os assuntos dominam e estão em qualquer lugar: jornais, revistas, televisão. Se há uma tragédia, há espaço para ela.
Mas há, felizmente, há um outro lado para uma tragédia como esta. Um lado que não ganha as capas de jornais, que não ocupa o tempo da redação das revistas e que não é apresentado por William Bonner e Fátima Bernardes todas as noites. É o lado dominado por pequenos atos de bondade e de altruísmo, no qual o ser humano se engrandece ao esquecer de si mesmo por alguns instantes para pensar no próximo. Um lado dominado pela beleza e pela consciência de que, por compartilharmos o mesmo tempo e espaço, somente poderemos evoluir se apoiarmos uns aos outros.
Não falo de casos tão específicos como a ajuda às vítimas terremotos do Japão, por exemplo, que mobilizou milhões de pessoas em todo o mundo. Falo dos pequenos acontecimentos quase impercebíveis do dia a dia, que não chamam a atenção do planeta. Atos intrínsecos de benevolência, como ajudar alguém com dificuldades a atravessar a rua, prestar um favor sem qualquer benefício próprio ou simplesmente doar sangue. São eventos que ocorrem milhões de vezes todos os dias, em todos os lugares do mundo, e que demonstram existir no ser humano uma disposição à humanidade.
Sonho – inclusive até já cogitei escrever um conto sobre isso – com uma emissora de televisão que tenha a coragem de exibir um telejornal no qual jamais seriam apresentadas notícias ruins ou tragédias. A pauta, pelo contrário, seria formada unicamente por histórias de felicidade e momentos de solidariedade: o primeiro beijo de um casal apaixonado, uma mãe lendo uma história de ninar para seu filho, a dedicação de um professor no ensinamento aos seus alunos, mesmo mal pago para isso.
Sei que um programa como esse jamais será veiculado. Mas também sei – todos sabemos – que estes pequenos momentos ocorrem diariamente. São eles que fazem a gente seguir adiante e são eles que fizeram com que a humanidade evoluísse até aqui. E, acreditem, evoluímos.
Repito que o ser humano é, por essência, uma criatura surpreendente. No caso de ontem, surpreendeu de forma negativa. Mas, quem sabe, o acontecimento faça com que voltemos a ser surpreendidos por atos de poesia e de bondade que hoje nos passam desapercebidos.
Podem ter certeza de que eles existem.