Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Tuesday, June 19, 2007

FELIZ NATAL


Tem crítica minha de "Feliz Natal", filme europeu que conta uma fantástica história real, em www.cineplayers.com. Confiram.

Thursday, June 14, 2007

O Pagamento

Não se pode dizer que assassino de aluguel sempre foi a carreira dos sonhos de Augusto. Quando criança, nas aulas da tia Rejane, ele jamais levantou a mão dizendo que queria matar pessoas quando crescesse. Mas, agora, ali estava Augusto, prestes a cumprir seu primeiro serviço. Aos vinte e sete anos, deixava de ser limpador de piscinas para iniciar uma nova carreira.

Cauteloso, utilizando as táticas de invisibilidade que aprendera em livros e filmes, Augusto caminhava pela casa de dois andares. A escuridão era total. Quando chegou à cozinha, Augusto escutou algo. Retirou seu revólver e aguçou os sentidos. O som vinha de um aposento próximo, de onde saía a única luz no local.

Augusto encostou o corpo contra a parede e pôs-se a espiar a sala. Um homem de aproximadamente quarenta anos e bastante acima do peso estava sentado no sofá. Diante de si, uma pequena mesa de vidro e um pano branco estendido desleixadamente. Sobre o pano, uma arma.

Era o alvo. Mas o que diabos fazia ele com aquela arma? Augusto não chegou a ficar com medo, mas teve a certeza de que seu próximo movimento deveria ser executado com perfeição. Caso contrário, o homem poderia reagir.

Continuou observando atentamente. O homem chorava e olhava para a arma. A televisão à sua frente estava desligada, assim como o rádio ao lado. Quando o homem levou as mãos aos olhos, Augusto avançou. Com a agilidade de um gato no escuro, em um segundo Augusto estava diante do homem.

- Parado! Não se mexa! – gritou Augusto.

Perplexo, o homem não se mexeu. Depois, perguntou:

- Quem é você? O que faz na minha casa?

- Fui contratado para matar você. E é o que vou fazer.

Neste instante, o homem começou a rir. Alguns segundos depois, já gargalhava, por algum motivo que fugia à compreensão de Augusto. Ansioso, ele ameaçou o homem:

- Cala a boca! Do que você está rindo?

O homem respirou fundo algumas vezes e relaxou. Ainda com uma arma apontada para seu rosto, disse:

- Você não vê como essa situação é ridícula?

- Ridícula? – indagou Augusto, com o sangue já fervendo nas veias. – Vamos ver se você vai continuar achando ridículo após levar uma bala no meio do nariz.

- Cara, você não notou nada? – perguntou o alvo.

- Não preciso notar nada. Só estou aqui pra cumprir meu trabalho e ir embora.

- Por que acha que estou com essa arma na mesa aqui na minha frente?

Augusto olhou para o objeto mortal sobre a mesa. Não disse nada. O homem prosseguiu.

- Eu estava prestes a me matar, cara. Enfiar uma bala na minha cabeça. Partir desta pra melhor por minha própria vontade. Você está ameaçando matar um cara prestes a se matar. Entendeu por que a situação é ridícula?

Diante desta exposição dos fatos, Augusto ficou sem ação. Não sabia como agir. Atirava no homem ou não? Fora contratado para cometer um assassinato. Seu primeiro. Não queria que fosse dessa forma, com o consentimento do alvo. Pela inexperiência, nem sabia se matando nessas circunstâncias ainda receberia o pagamento.

- Então, meu amigo, ou você aperta o gatilho ou eu faço isso. Pra mim, qualquer opção está ótima.

Augusto continuava pensando, olhando fixamente para o homem. Ficaram em posição estática por alguns segundos até que o homem lentamente foi em busca da arma na mesa.

- Nem pense nisso! Não se mexa! – esbravejou Augusto.

- Vai fazer o quê? – disse o alvo. – Me matar? Vá em frente.

Pensando rápido, Augusto atirou. Porém, mirou na coxa esquerda do homem. O corpo pesado pareceu ter dado um pulo para trás, enquanto o homem levava as mãos à perna grossa e urrava de dor.

- Desgraçado! Filho da puta! Por que fez isso?

- Você vai esperar até eu definir o que fazer. Se não me obedecer, eu atiro na outra perna – Augusto explicou, pegando a arma do homem sobre a mesa e guardando-a dentro da calça.

- Filho da puta!

Ainda apontando a arma para o homem, Augusto pegou seu celular e discou. Esperou alguns segundos, enquanto o alvo continuava esbravejando.

- Alô... Não, ainda não está feito. Tive um contratempo... Não, nada sério, mas... Sim, eu sei... Mas é que foi algo inesperado... Ele estava prestes a se matar... É verdade... Na hora que eu cheguei, ele iria dar um tiro na própria cabeça... Não sei o motivo, você deve saber melhor que eu... Sim... Aqui?... Agora?... Por quê?... Tudo bem, eu espero.

Augusto desligou. O homem já não gritava mais, a dor parecia ter diminuído.

- Nós vamos esperar – disse Augusto.

- Esperar? Esperar o quê? Eu não vou esperar nada! – gritou o homem.

- Quer levar uma bala na outra perna?

O gordo não respondeu.

- Então espera – completou Augusto.

Com a situação sob controle, Augusto sentou numa poltrona ao lado do sofá, agora cheio de sangue. Continuava apontando a arma para o alvo. O homem cuja vida deveria tirar.

- Até quando vamos esperar? – indagou o homem. Augusto não respondeu. Ele tentou de novo: - Quem o contratou? Por que me querem morto?

Nada. Augusto nem esboçava reação.

- Olha, eu estou morto mesmo. Se não for pelas suas mãos, será pelas minhas. Só quero saber quem o contratou. Eu tenho esse direito.

- Você já vai saber.

Cinco minutos depois, Augusto e o homem ouviram um barulho de carro.

- Ela chegou – disse Augusto.

- Ela? – espantou-se o alvo. – Quem é ela?

Augusto abriu a porta da sala. Uma mulher bem vestida, de uns trinta e cinco anos, mas esforçando-se para parecer mais nova, entrou na casa.

- Olá, Ricardo – disse ela, dirigindo-se ao homem com uma bala na perna sentado no sofá.

- Clarice! – assustou-se o homem cujo nome era Ricardo. – O que você faz aqui?

- Não interessa o que faço aqui. É verdade que você iria se matar?

Ricardo olhou para Augusto, que observava tudo a uma certa distância, ainda com a arma na mão.

- É – confirmou Ricardo, baixando os olhos.

- Mas por quê? Foi pelo que aconteceu entre nós?

- Clarice, você que eu sempre vou te amar. Não consigo viver longe de você. Prefiro esta saída.

Os dois ficaram um tempo se olhando. Em seguida, Clarice levantou e começou a caminhar pela sala, sob os olhares atentos de Augusto e Ricardo. Ela parecia pensar em algo distante, alheia a tudo. De súbito, voltou-se na direção de Ricardo, ajoelhou-se na frente dele colocou uma mão em cada joelho do homem.

- Ricardo, me desculpe – disse, soluçando.

- Já tinha te desculpado, Clarice. Você me traiu, mas eu já tinha te desculpado. Foi você quem quis se separar.

- Não, Ricardo. Peço desculpas por isso – Clarice fez um gesto na direção de Augusto, que não entendia nada.

- Como assim? – perguntou Ricardo.

- Eu contratei o Augusto para matá-lo.

Ricardo arregalou os olhos e saltou para trás no sofá. Parecia ter levado outro tiro. A incredulidade estava expressa em cada linha do seu rosto. Recobrou a respiração antes de falar.

- Desconfiei. Mas... Mas... por quê?

- Dinheiro. Seu seguro de vida. Eu precisava dele.

- Não acredito, Clarice! Você me queria morto?

- Não! Essa é a questão. Eu achava que o queria morto. Mas quando o Augusto ligou dizendo que você queria se matar, eu comecei a pensar melhor. Não quero o dinheiro. Quero a gente de novo.

Por alguns segundos, Ricardo e Clarice apenas se olharam. Um grito quebrou o silêncio.

- Ei!

Era Augusto, novamente com a arma em punho, agora apontada para os dois.

- Que história é essa, Clarice? – prosseguiu Augusto. – E nós?

- Vocês? – perguntou Ricardo. – Que história é essa de vocês? Peraí, de onde vocês se conhecem?

- Vai, Clarice. Conta pra ele. Conte antes de eu atirar na outra perna desse gordinho.

Ricardo virou seu olhar para Clarice. Não entendia o que estava acontecendo ali.

- Clarice? – perguntou Ricardo.

Clarice levantou e afastou-se alguns passos. Voltou-se para Ricardo e disse:

- Foi com o Augusto que eu traí você. Depois, ele se ofereceu para matá-lo pra gente ficar com o dinheiro e eu topei.

- Meu Deus! – exclamou Ricardo, sem acreditar em seus olhos e ouvidos.

- Mas eu mudei de idéia, meu amor – suplicou Clarice, correndo de volta para os joelhos de Ricardo. – Não quero mais. Quero passar o resto da minha vida com você. Quero que você me perdoe.

- Clarice, espero que você esteja brincando. Porque, se estiver falando sério, não sei até quanto tempo vou conseguir segurar este gatilho – ameaçou Augusto.

- Desculpe, Augusto. Desculpe mesmo. Mas eu amo o Ricardo. Quero ficar com ele. Pode ir embora.

Mal ela terminou a frase, seu cérebro já estava espalhado por todo o colo de Ricardo. Augusto atirara.

Ricardo estava apavorado. Não sabia o que fazer. Tinha uma bala alojada na perna, a mulher amada em seu colo com a cabeça aberta, sangue para todo lado e um assassino de aluguel com uma arma apontada para seu rosto.

- Vocês pediram por isso – disse Augusto.

- Espere. Eu te dou o dobro do que ela te pagou. Não quero morrer – foi o apelo de Ricardo, em meio a lágrimas.

- Ela não iria me pagar em dinheiro.

Atirou. Uma única vez, bem na testa de Ricardo. O sangue voou para a parede branca.

Augusto demorou para se mexer. Quando o fez, foi até o corpo de Clarice, que tanto o havia prometido.

- Puta – falou, entre os dentes.

Levantou-se, limpou suas digitais e colocou a arma na mão dela. Logo depois, saiu pela rua, nenhuma lágrima escorrendo. Rosto impassível.

Fizera o serviço. Porém, o pagamento que levaria para casa agora jazia sobre o tapete, envolto em uma poça de sangue escuro.

Tuesday, June 12, 2007

A Escova Apaixonada

Tinha aquela escova
Que se apaixonou por sua dona
E na ânsia de sentir o gosto da boca dela
Insistiu, lutou e se esforçou
Até virar uma escova de dente.

Friday, June 08, 2007

Filmes de Maio


MINHA SUPER EX-NAMORADA (MY SUPER EX-GIRLFRIEND) – EUA, 2006
**
De Ivan Reitman. Com Uma Thurman, Luke Wilson, Anna Faris, Rainn Wilson e Wanda Sykes.

A idéia principal não deixa de ser um bom ponto de partida para uma comédia, mas Reitman não consegue aproveitá-la. Além da falta de química entre Thurman e Wilson, as piadas são fracas e mal apresentadas ao público. Resta a sempre boa presença da atriz e uma ou outra cena ocasional.

HOMEM-ARANHA 3 (SPIDER-MAN 3) – EUA, 2007
***
De Sam Raimi. Com Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Topher Grace, Bryce Dallas Howard, James Cromwell, J. K. Simmons e Thomas Haden Church.
Em função da grande expectativa que o cercava, Homem-Aranha 3 não deixa de ser uma decepção. Raimi talvez tenha deixado o ego falar mais alto ao cometer uma série de erros desnecessários, como o excesso de tramas e personagens, diluindo o foco do filme. Da mesma forma, algumas opções são excessivamente infantis, como o “bad boy Parker”. Ainda assim, é um bom entretenimento, com ótimas cenas de ação e efeitos especiais, além de continuar ganhando pontos ao priorizar o lado humano do herói. Não é um filme ruim, mas é o mais fraco da série.

CURTINDO A VIDA ADOIDADO (FERRIS BUELLER’S DAY OFF) – EUA, 1986
****1/2
De John Hughes. Com Matthew Broderick, Alan Ruck, Mia Sara, Jeffrey Jones, Jennifer Grey e Charlie Sheen.

Clássico absoluto dos anos 80, Curtindo a Vida Adoidado é uma bíblia para adolescentes de todas as idades. Ferris Bueller é um dos grandes ícones do cinema, carregando a platéia em um dia de ensinamentos sobre como aproveitar a vida. Tudo contado de forma extremamente divertida por John Hughes, com cenas memoráveis e elenco impecável. Após mais de vinte anos, ainda não envelheceu nada.

PERFUME – A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO (PERFUME – THE STORY OF A MURDERER) – Alemanha/França/Espanha, 2006
**1/2
De Tom Tykwer. Com Ben Whishaw, Dustin Hoffman, Alan Rickman e Rachel Hurd-Wood.
Apesar do apurado apelo visual e de algumas ótimas cenas, Perfume acaba se tornando um filme tedioso ao exceder-se numa história que não precisava de tanto tempo para ser contada. Falta energia ao filme, que parece engrenar apenas quando Dustin Hoffman entra em cena. É uma história interessante, mas sem ritmo e com alguns problemas de roteiro, sem contar com o final inusitado, que apenas choca e nada acrescenta à trama.

HAPPY FEET – O PINGÜIM (HAPPY FEET) – Austrália/EUA, 2006
**1/2
De George Miller. Com as vozes de Elijah Wood, Robin Williams, Nicole Kidman, Hugh Jackman, Brittany Murphy, Hugo Weaving e Anthony LaPaglia.

Happy Feet tem seus momentos, mas também é mais longo do que o necessário. A história do pingüim dançarino segue por caminhos previsíveis, mas consegue tornar-se adorável aos olhos e aos ouvidos. No entanto, Miller parece em dúvida de como acabar seu filme, que se estende e ainda oferece uma mistura entre realidade e animação que mais estranha do que impressiona.

UM BOM ANO (A GOOD YEAR) – EUA, 2006
***
De Ridley Scott. Com Russell Crowe, Albert Finney, Freddie Highmore e Marion Cotillard.
Filme menor de Ridley Scott, acostumado a épicos e orçamentos milionários. Talvez por isso o cineasta se mostre pouco à vontade na obra, demorando a achar o tom certo, oscilando entre a comédia e o drama sem muita desenvoltura. Mas, aos poucos Um Bom Ano acha seu rumo e Russell Crowe se solta mais no papel, que conta com boas cenas e a ótima presença de Albert Finney. Uma produção simpática, porém sem nada de especial.

FILHOS DA ESPERANÇA (CHILDREN OF MEN) – EUA, 2006
****1/2
De Alfonso Cuarón. Com Clive Owen, Julianne Moore, Michael Caine, Chiwetel Ejiofor e Claire-Hope Ashitey.

Indiscutivelmente, um dos grandes filmes de 2006. Alfonso Cuarón entrega aqui o melhor trabalho de direção do ano passado, com um primor técnico irrepreensível, construindo cenas complexas e de tirar o fôlego. Além disso, a construção do mundo futurista é exemplar e capturado com perfeição pela câmera inquieta do cineasta. Como se não bastasse, o roteiro é poderoso e inteligente, sem jamais ceder a clichês. Uma obra fascinante e perturbadora, que tem como único ponto fraco a falta de envolvimento entre personagens e o espectador.

HAPPY, TEXAS – EUA, 1999
**1/2
De Mark Illsley. Com Jeremy Northam, Steve Zahn, William H. Macy, Ally Walker e Illeana Douglas.

Apesar de ter conquistador uma boa reputação quando na época de seu lançamento, Happy, Texas é uma comédia bastante irregular e sem ritmo. Na realidade, o filme só ganha um pouco de energia quando Steve Zahn entra em cena, apesar de William H. Macy estar ótimo como sempre. Mas a mistura entre o cômico e o drama é artificial e o romance principal não convence.

A PEQUENA JERUSALÉM (LA PETITE JERUSALEM) – França, 2005
***
De Karin Albou. Com Fanny Valette, Elsa Zylberstein, Bruno Todeschini e Hédi Tilette de Clermont-Torrene.

Há um bom filme escondido dentro de A Grande Jerusalém. É uma pena que falte objetivo a Karin Albou, que não encontra uma história principal e dilui a força dos personagens e da trama. A obra consegue boas interpretações e toca em pontos interessantes, mas jamais desenvolve-os, deixando a sensação de ter ficado pelo meio do caminho.

CLUBE DA LUA (LUNA DE AVELLANEDA) – Argentina, 2004
****1/2
De Juan José Campanella. Com Ricardo Darín, Eduardo Blanco, Mercedes Morán, Valeria Bertuccelli e Silvia Kutika.

Mais um exercício praticamente irrepreensível do argentino Juan José Campanella. Após os ótimos O Mesmo Amor, A Mesma Chuva e O Filho da Noiva, o cineasta coloca seu nome de vez entre os melhores da atualidade com esta brilhante mistura de drama e comédia, com personagens realistas e uma trama impecavelmente construída. Há análises sociais, personagens adoráveis, diálogos espirituosos, momentos emocionantes e nada de resvalos em clichês. Um grande exemplar do cinema latino-americano.

O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (WHAT EVER HAPPENED TO BAB JANE?) – EUA, 1962
****1/2
De Robert Aldrich. Com Bette Davis, Joan Crawford, Victor Buono e Wesley Addy.

Um grande clássico do suspense, esta obra de Robert Aldrich é uma aula de como construir tensão sem apelar para violência. Dando ênfase ao lado psicológico dos personagens, o diretor cria uma fascinante e perturbadora jornada à mente de uma mulher insana. Tudo isso apoiado nas belas interpretações das protagonistas, em especial no show de Bette Davis. Belíssimo filme.

O CÉU DE SUELY – Brasil, 2006
***1/2
De Karim Ainouz. Com Hermila Guedes, Maria Menezes, Zezita Matos, João Miguel e Georgina Castro.

O grande trunfo de O Céu de Suely é a naturalidade dos atores, que leva o filme a um realismo impressionante. Ainouz trabalha a narrativa sem pressa, apresentando um cenário pobre que faz parte das ações da protagonista. Um filme honesto, contundente e poético, ainda que um pouco arrastado.

IDIOCRACY - EUA, 2006
**
De Mike Judge. Com Luke Wilson, Maya Rudolph, Dax Shepard, David Herman e Justin Long.

Idiocracy é um filme de uma idéia só. Se o ponto de partida é excelente (homem mediano que é transportado a um futuro idiotizado, onde ele é a pessoa mais inteligente do planeta), o mesmo não pode ser dito do aproveitamento da história. Sobram cenas idiotas, diálogos estúpidos e potencial desperdiçado, inclusive em relação ao talento cômico de Wilson.

MANDERLAY – Dinamarca, 2005
****1/2
De Lars Von Trier. Com Bryce Dallas Howard, Danny Glover, Willem Dafoe, Isaach de Bankolé, Lauren Baccall, Chloe Sévigny e John Hurt.

Continuação do excelente Dogville, Manderlay segue as mesmas regras do filme original para contar uma história relacionada à escravidão. O fato de não possuir cenários faz com que a narrativa ganhe força e a imaginação do espectador seja posta para funcionar, mesmo recurso utilizado em Dogville. Além disso, a trama é bem construída, com surpresas e diálogos complexos – inclusive com reflexões pontuais sobre racismo e preconceito – e as atuações de alto nível. Não é um filme para agradar multidões, mas tem poder e algo a dizer.

PIRATAS DO CARIBE NO FIM DO MUNDO (PIRATES OF THE CARIBBEAN: AT WORLD’S END) – EUA, 2007
**1/2
De Gore Verbinski. Com Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Geoffrey Rush, Chow Yun-Fat, Bill Nighy, Jack Davenport, Jonathan Pryce e Stellan Skarsgaard.
É o filme mais fraco de uma trilogia que já não tinha muito a oferecer. Como nas obras anteriores, o destaque fica por conta de Jack Sparrow, interpretado de maneira brilhantemente afetada por Johnny Depp. De resto, sobra uma trama enrolada e confusa, com algumas boas cenas ocasionais. O filme, na realidade, só decola na batalha final, empolgante e divertida. Vai fazer milhões, mas é extremamente falho.

Tuesday, June 05, 2007

Uma História de Persistência

Era uma vez um lápis que,
ao contrário de seus humildes irmãos,
não gostava de ser corrigido.
Depois de tanto esforço e teimosia,
acabou virando uma caneta.
Eis uma história de persistência,
que poderia ter moral e final feliz
se não tivessem inventado o errorex.

Monday, June 04, 2007

Ficção de Polpa

Acho que foi no início do ano que o Rosp, um amigo meu, disse que um conhecido dele estava montando uma coletânea de contos sobre ficção científica, horror e fantasia. O livro iria se chamar "Ficção de Polpa", uma espécie de homenagem às antigas publicações populares e baratas, que tinham o macabro como tema principal.
O Rosp me perguntou se eu não tinha um texto no estilo pra mandar pro Samir Machado, o organizador, e ver o que ele achava, se valia a pena incluir ou não. Mandei um, ele gostou e eu fui incluído entre os 16 autores do livro.
Agora, depois de alguns meses de idas e vindas, já está tudo (quase) pronto pro lançamento. O "Ficção de Polpa" vai pra gráfica semana que vem e sábado passado os autores se reuniram na Casa de Cultura do Velho Passarinho pra tirar a foto do livro.
E a data e o local de lançamento já estão marcados. Vai ser no dia 28 de junho, no Insano Bar, na Lima e Silva. Então, já deixem marcado na agenda e cancelem qualquer compromisso para a quinta-feira, dia 28. Quero todo mundo lá prestigiando a iniciativa do Samir e esse pretenso literato que aqui vos fala. E prometo dar autógrafos pra todo mundo.

Friday, June 01, 2007

Já Imaginou?

Esse é um trecho do e-mail que o Emanuel Neves, editor do site Final Sports, mandou pra nós, autores das colunas sobre Grêmio e Inter.
"Porém, o que mais me alegrou foi saber, nesta sexta, que um dos textos do Grêmio foi utilizado pelo Mano Menezes na preleção do jogo contra o Santos. Eu não saberia dizer qual foi, nem o autor. essa informação chegou pelo Sérgio Boaz, da Gaúcha, que tem muito bom relacionamento com o pessoal aqui do Final."
Bom, não sei se foi o meu ou do Beto ou do Sandrin, mas só saber que posso ter colaborado de alguma forma - além do fato de estar no Olímpico - pra vitória contra o Peixe já me enche de orgulho e dá motivação pra continuar escrevendo.

O Pedido

- Ei! Acorde!

- Hmmm...

- Acorde, vamos!

- Quê...

- Preciso falar com você.

- Quem... quem é você? Que lugar é esse? Por que eu estou amarrado?

- Está amarrado porque fui contratado pela empresa de cordas para testar o novo produto deles.

- Sério?

- Claro que não! Está amarrado pra não fugir.

- Por que eu fugiria? Quem é você?

- Eu sou Férsio. Sou um vampiro.

- Um vampiro?

- Sim.

- Do tipo que vira morcego, foge de cruz e tem medo de alho?

- Não, isso só existe no cinema.

- Então o que um vampiro de verdade faz?

- Tudo o que aparece no cinema menos as coisas que você citou.

- Quer dizer que você é um cara imortal, que se alimenta de sangue e não pode sair ao sol?

- Isso mesmo. Você esqueceu de dormir em caixão.

- Você dorme em caixão?

- Não. Até tentei, mas me dá dor nas costas. Depois de alguns séculos por aí, é normal a coluna falhar um pouco.

- Você dorme onde?

- Comprei uma cama king size, com colchão terapêutico, numa promoção há três meses.

- E o que tem de vampiresco nisso?

- Um vampiro dorme nela, ué.

- Não acredito em vampiros.

- Eu sei, ninguém acredita. Mas a gente existe.

- Prova.

- Olha aqui.

- Os caninos? Isso não prova nada. Tenho um amigo que tem esses dentes pontudos também, mas nunca vi ele dormindo num caixão.

- Eu não durmo em caixão.

- Tá, nunca vi ele dormindo numa cama king size.

- E o que isso tem a ver?

- Ele dorme numa cama de solteiro.

- Mas ele não é vampiro. Eu sou.

- Prova.

- A única forma de eu provar é sugar teu sangue. Não vou fazer isso.

- Então...

- Olha aqui! Eu não preciso provar pra você que sou um vampiro. Eu sou e pronto. Trouxe-o aqui para você fazer algo pra mim.

- Tá, vamos fazer de conta que acredito que você é vampiro de verdade. O que quer que eu faça?

- Quero que me mate.

- Sério!?

- Sim.

- Por quê?

- Porque não quero mais viver, ora. Por que mais alguém pede pra morrer?

- Mas por que você quer morrer? Ser vampiro deve ser legal.

- Legal... É legal no início. Depois vira um saco.

- Saco por quê? Ser imortal, ter força sobre-humana... Eu sempre quis ser um.

- Pois é, essa história de glamour é equivocada. Coisa que o cinema botou na cabeça das pessoas. Ser vampiro é um fardo.

- Olha, se você quer que eu o mate, explique-me porquê.

- Tá certo, você tem esse direito. Olha pra mim um pouco. Tá me achando um cara charmoso e bem arrumado?

- Não, na verdade você parece um mendigo.

- Claro. A gente não tem reflexo no espelho. Sabe o que é isso? Jamais conseguir me arrumar sem alguém pra me ajudar. Não consigo enxergar a minha própria aparência. Condenado a ser feio por toda a eternidade.

- Mas é só por isso? Contrata uma maquiadora e deu.

- Não é só isso. Eu tenho mais de duzentos e cinqüenta anos. Estou aqui desde antes da Revolução Francesa. Desde antes da Independência do Brasil. Já vi demais deste mundo. Cansei. Ao invés de melhorar, o mundo fica cada vez pior. Não dá pra competir com essa concorrência.

- Tem muitos outros vampiros por aí?

- Até tem, mas não é a questão. A concorrência que digo são dos próprios seres humanos. Eles são mais vampiros que nós. A gente só suga sangue das pessoas para sobreviver. Eles, vocês, sugam tudo do mundo pela própria ganância.

- Mas e daí? Eu também vejo isso todos os dias e não quero me matar.

- Você viu isso por vinte e sete anos da sua vida. Eu vi por duzentos e setenta e três. Vi e vivi a pequenez do homem por tempo demais. Cansei.

- Entendo.

- Claro, tem ainda outras coisas, como a solidão. Até consigo ir a festas a fantasia e levar garotas pra um motel. Vampiro tem necessidades. Mas...

- Mas o quê?

- Mas eu sempre tenho que sair antes do sol nascer. Aí depois elas me ligam perguntando por que eu fugi e coisa e tal. Vou responder o quê? Que sou um vampiro?

- E como você quer que eu o mate?

- Do único jeito que a gente pode morrer.

- Alho?

- Claro que não. Odeio alho, mas não me faz mal nenhum. Odeio porque me deixa com mau hálito.

- Então como?

- Estaca.

- Estaca?

- Estaca. Bem no meu coração.

- Então nisso Hollywood acertou.

- Sim, estaca funciona.

- E por que eu? Por que eu fui o escolhido para matar você?

- Porque você é meu último descendente.

- Quê? Como assim?

- Sim, é verdade. Tenho acompanhado minha família ao longo dos séculos. Até aqui. Eu sou seu sei lá quantos tataravô.

- Não acredito.

- É verdade.

- E só alguém da família pode matar um vampiro?

- Claro que não. Da onde você tirou isso?

- Sei lá, eu pensei que...

- Não, nada a ver. Pára de falar merda. Qualquer um pode matar um vampiro.

- Então?

- Só quero que seja alguém da família.

- Mas não te considero família.

- Não me interessa o que você considera ou não. Você é da família. Quero ser liberado por alguém do meu próprio sangue.

- Sim. Tenho alguma opção?

- Claro.

- Qual?

- Ou me mata ou eu sugo teu sangue.

- Não são exatamente duas boas escolhas.

- É a vida.

- Ok, eu faço.

- Muito obrigado.

- Mas com uma condição.

- Qual?

- Ficar amarrado aqui me deixou com uma dor nas costas.

- E?

- Depois que você morrer, posso ficar com sua cama king size?