Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Monday, February 20, 2006

Filmes de janeiro

Eis a lista dos filmes vistos em janeiro com os respectivos comentários.


ÁGUA NEGRA (DARK WATER) – EUA, 2005 ***1/2
De Walter Salles. Com Jennifer Connelly, John C. Reilly, Dougray Scott, Tim Roth e Pete Postlethwaite.

A estréia do brasileiro Walter Salles no mercado americano é um trabalho de intenções corretas, mas que falha na execução. O cineasta tem dificuldades ao tentar equilibrar a jornada pessoal de mãe e filha com a questão sobrenatural, fazendo de Água Negra um filme híbrido que demora a achar o tom. De qualquer forma, é uma abordagem diferenciada e inovadora para o gênero, trazendo, de quebra, mais uma grande atuação da linda Jennifer Connelly.

GOLPE BAIXO (THE LONGEST YARD) – EUA, 2005 ***
De Peter Segal. Com Adam Sandler, Chris Rock, Nelly e Burt Reynolds.

Comédia feita especialmente para o público americano (o futebol nosso é melhor que o deles), mas que consegue divertir durante as quase duas horas. Embora não traga nada de novo, as piadas funcionam, a história entretém e Adam Sandler mostra que pode funcionar quando contém seu histrionismo.

CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ 2 E ½ (THE NAKED GUN 2 ½: THE SMELL OF FEAR) – EUA, 1991 *****
De David Zucker. Com Leslie Nielsen, Priscilla Presley, George Kennedy, O. J. Simpson e Robert Goulet.

A segunda parte da saga do tenente Frank Drebin é uma coletânea de piadas inspiradas e situações hilárias. A trama aqui é o que menos importa, já que o besteirol corre solto a cada segundo de produção. É simplesmente impossível não gargalhar com algumas das trapalhadas de Drebin.

E SE FOSSE VERDADE (JUST LIKE HEAVEN) – EUA, 2005 ***
De Mark Waters. Com Reese Whiterspoon, Mark Ruffalo e Donal Logue.

Comédia romântica que conta com uma boa química entre Ruffalo e Whiterspoon, segurando o interesse do filme até o final. Os personagens cativantes e algumas cenas engraçadas (como a do salvamento no restaurante) compensam a falta de ousadia do roteiro.

DE REPENTE É AMOR (A LOT LIKE LOVE) – EUA, 2005 ***
De Nigel Cole. Com Ashton Kutcher, Amanda Peet e Taryn Manning.

Ao contrário do filme acima, De Repente Amor é uma comédia romântica que pelo menos traz uma estrutura um pouco diferente do usual. No entanto, nem sempre convence, com algumas situações do roteiro parecendo forçadas demais e falhas na construção dos personagens. Kutcher e Peet funcionam bem juntos, o que garante o interesse até o final.

A SETE JOGOS DA GLÓRIA (SEVEN GAMES FROM GLORY) ***1/2
O filme oficial da Copa do Mundo de 2002 é uma decepção. Quem assiste quer apenas ver cenas dos jogos com algumas curiosidades de bastidores. Pena que o diretor prefere utilizar ângulos estranhos, nos quais é difícil acompanhar algumas das jogadas. Um erro crasso, que estraga um filme que não precisava de muito para agradar aos fãs.

O TEMPERO DA VIDA (POLITIKI KOUZINA) – Grécia/Turquia, 2003 ***
De Tassos Boulmetis. Com Georges Corraface, Ieroklis Michaelidis e Reinia Louizidou.

Filme simpático e bem realizado, mas que não oferece nada de especial para justificar a comoção que recebeu. A história é contada com sensibilidade e muita calma, dando tempo para o espectador criar ligação com os personagens. Em certos momentos, isso acontece, em outros a narrativa fica arrastada, prejudicando a fluidez da obra. Mas é um filme com mais méritos do que falhas e alguns ótimos momentos.

O OUTRO LADO DA RAIVA (THE UPSIDE OF ANGER) – EUA, 2005 ****1/2
De Mike Binder. Com Joan Allen, Kevin Costner, Erika Christensen, Keri Russell, Alicia Witt, Evan Rachel Wood e Mike Binder.

Joan Allen é o centro vital desta obra surpreendente, que consegue aliar um humor inteligente ao aspecto dramático da história. O diretor e roteirista Binder mostra segurança na sua função, arranco ótimas atuações do elenco, especialmente de Allen e de Costner, que cria um belíssimo personagem. O filme peca apenas pelo excesso de personagens, parecendo, às vezes, superficial ao tentar dar espaço a todos.

HORROR EM AMITYVILLE (THE AMITYVILLE HORROR) – EUA, 2005 **
De Andrew Douglas. Com Ryan Reynolds, Melissa George, Jesse James e Phillip Baker Hall.

Se esta é uma história real, não deixa de ser uma pena a abordagem do diretor Andrew Douglas. A trama que poderia ser um interessante suspense psicológico se perde em um filme com sustos baratos e um roteiro que não se preocupa com o desenvolvimento coerente dos personagens. O resultado é uma produção tecnicamente bem-acabada, com alguns raros momentos esparsos, mas fraca como um todo.

AMOR EM JOGO (FEVER PITCH) – EUA, 2005 **
De Peter e Bobby Farrelly. Com Jimmy Fallon, Drew Barrymore e Jack Kehler.

O filme mais comportado dos irmãos Farrelly é também seu pior. Sem a menor graça, esta comédia romântica ainda é prejudicada pela falta de química entre o irritante Fallon e a estranha Barrymore. Uma trama clichê dá o tom desta obra que em nada lembra os melhores trabalhos dos cineastas, nos politicamente incorretos Débi e Lóide e Quem Vai Ficar com Mary.

TUDO EM FAMÍLIA (THE FAMILY STONE) – EUA, 2005 **1/2
De Thomas Bezucha. Com Sarah Jessica Parker, Dermott Mulroney, Diane Keaton, Craig T. Nelson, Rachel McAdams, Luke Wilson e Claire Danes.

O elenco é o grande trunfo desta obra bastante irregular. Keaton e Nelson demonstram maturidade como os pais da família Stone, McAdams continua magnética e apaixonante, Parker constrói uma personagem interessante e Wilson quase rouba a cena como o irmão descolado. Pena que o roteiro abuse da boa vontade do espectador nas situações inverossímeis envolvendo os relacionamentos dos personagens.

AS LOUCURAS DE DICK E JANE (FUN WITH DICK AND JANE) – EUA, 2005 ***
De Dean Parisot. Com Jim Carrey, Téa Leoni, Alec Baldwin e Richard Jenkins.

Investindo constantemente no exagero e na sátira, o diretor Dean Parisot constrói uma comédia divertida e, por vezes, inteligente na crítica social. Jim Carrey, como sempre, mostra um timing cômico impecável, mas nem todas as piadas funcionam como planejado.

O SOLAR DE DRAGONWICK (DRAGONWICK) – EUA, 1946 ****
De Joseph L. Mankiewicz. Com Gene Tierney, Vincent Price, Walter Huston e Jessica Tandy.

A estréia de Mankiewicz no cinema já dava sinais do talento de um dos grandes cineastas daquela época. Com extrema segurança, o diretor constrói uma história que, pouco a pouco, vai envolvendo o espectador. Perde-se um pouco em subtramas desnecessárias, mas acerta em diversos pontos, especialmente no personagem de Vincent Price, delineado com muito mais cuidado do que se parece à primeira vista.

O SEGREDO DE VERA DRAKE (VERA DRAKE) – Inglaterra, 2004 ***1/2
De Mike Leigh. Com Imelda Staunton, Richard Graham, Eddie Marsan, Phillip Davis, Alex Kelly e Jim Broadbent.

O sempre interessante Mike Leigh constrói mais um filme que arrebata o espectador pela sua maturidade e realismo. Apesar da primeira hora exageradamente longa e dispersiva, o diretor acerta a mão na segunda metade da obra, aproveitando-se da visceral e arrebatadora interpretação de Imelda Staunton. O resultado é um filme do qual o espectador sai fatigado, emocionalmente exausto, mas nem por isso menos satisfeito.

A MARCHA DOS PINGÜINS (LA MARCHE DE L’EMPEREUR) – França, 2005 ****
De Luc Jacquet. Narrado por Charles Berling, Romane Bohringer e Jules Sitruk.

O documentário que conquistou fãs em todo o mundo é um trabalho bonito e educativo, ainda que às vezes arrastado. A história dos pingüins imperadores é, por si só, inspiradora e o diretor consegue captar imagens belíssimas, que parecem ter sido coreografadas com os animais. Além disso, a abordagem é inovadora (narração em primeira pessoa) e a trilha sonora belíssima.

O FANTASMA DA ÓPERA (THE PHANTOM OF THE OPERA) – EUA, 2004 ****
De Joel Schumacher. Com Emmy Rossum, Gerard Butler, Patrick Wilson, Miranda Richardson e Minnie Driver.

Espetáculo visual e sonoro comandado com segurança por Joel Schumacher, O Fantasma da Ópera é a versão para os cinemas do sucesso dos palcos americanos. Ainda que falte uma direção mais empolgante nos números musicais e que os atores jamais passem do correto, a história é bem contada, aproveitando-se das ótimas canções e das cuidadosas direção de arte e fotografia para satisfazer os sentidos do espectador.

UMA CANÇÃO DE AMOR PARA BOBBY LONG (A LOVE SONG FOR BOBBY LONG) – EUA, 2004 ****
De Shainee Gabel. Com John Travolta, Scarlett Johansson, Gabriel Macht e Deborah Kara Unger.

Uma Canção de Amor para Bobby Long é uma bela surpresa. Pouco visto, o filme conta de maneira simples e eficiente o relacionamento entre três pessoas após a morte de uma conhecida em comum. Com belíssimas atuações do trio principal e uma eficiente construção dos personagens, a obra é uma pequena pérola a ser garimpada, prejudicada apenas pela previsibilidade da trama principal. Merece uma chance.

POR QUEM OS SINOS DOBRAM (FOR WHOM THE BELL TOLLS) – EUA, 1943 **
De Sam Wood. Com Gary Cooper, Ingrid Bergman, Akim Tamiroff e Katina Paxinou.

Apesar do status de clássico, essa adaptação da obra de Ernest Hemingway é incrivelmente tediosa. A história jamais prende a atenção, sendo diluída por enervantes e desnecessárias duas horas e meia. Cooper exibe seu inexpressivo rosto e Bergman faz o possível, mas está longe dos seus melhores momentos. Sobram alguns diálogos interessantes e nada mais.

Na Toca dos Leões


Já estava há algum tempo querendo ler este livro. Primeiro porque conta a história da W/Brasil, uma das mais importantes agências de publicidade do Brasil, dando maior foco, como seria de se esperar, ao maior nome da propaganda nacional, Washington Olivetto. Em segundo lugar, Na Toca dos Leões me atraiu por ser escrito por Fernando Morais, um autor extremamente hábil quando o assunto é biografia. Juntando estes dois fatores, não tinha como dar errado. E não deu. Na Toca dos Leões é um interessantíssimo e envolvente trabalho, tanto para quem é da área da propaganda quanto para quem não é. Para os primeiros, as razões são óbvias. Morais faz um apanhado de aproximadamente três décadas da publicidade no Brasil, contando histórias de bastidores e revelando como surgiram peças e campanhas que marcaram época. Para os “leigos”, o livro também é uma ótima pedida por mostrar uma parte da cultura de nosso país, uma vez que a W/Brasil (e a DPZ, na época que Washington trabalhou lá) criou peças que caíram na boca do povo e hoje fazem parte do dia-a-dia dos brasileiros e brasileiras, como o garoto Bombril e o slogan “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, criado para a Valisére. O texto de Morais é tão fluente e as histórias contadas são tão interessantes que as páginas vão ficando para trás sem que a gente perceba. Para ter uma idéia, li as quase 500 páginas em apenas 4 dias. Para quem não conhece, é bacana também descobrir mais sobre a carreira de Washington Olivetto e seu incrível talento e paixão pela profissão. As últimas 100 páginas do livro são dedicadas ao seqüestro de Washington, revelando a angústia da família e o sofrimento do publicitário no cativeiro. Achei um pouco de exagero dedicar tamanho espaço para o evento, porém, mais uma vez, esta parte é escrita com tamanha desenvoltura que não chega a incomodar. Uma obra obrigatória para publicitários, mas recomendada a todos.

Friday, February 17, 2006

O Jovem Músico

Para falar a verdade, nem lembro onde ficava aquele local. Deve ter sido há uns vinte anos, logo depois que me separei da Clara. Só recordo que era um bar pouco movimentado, com mais da metade das mesas aguardando clientes que nunca viriam. Como qualquer boteco, o cheiro de cigarro era o que mais se destacava, fato que não me incomodava, uma vez que na época eu também fumava sem parar. Não queria ouvir música. Na verdade, acho que nem sabia que ali tinha música ao vivo. Mas fazia uns quinze minutos que estava sentado, sem ter encostado na cerveja, quando o músico entrou. Era um jovem, provavelmente com menos de vinte anos. Vestia uma calça jeans azul desbotada, uma camiseta branca amassada e tênis preto. Simplicidade total. Como já disse, eu não queria ouvir música, preferia ficar apenas bebendo e pensando na Clara. Pelo jeito, meus poucos companheiros de bar também não estavam interessados em qualquer espécie de melodia, já que nem se movimentaram quando o rapaz entrou. Ele trazia um violão preto, lindo, brilhoso, que parecia ser a única coisa nova em todo o bar. Tímido, apenas cumprimentou com a cabeça o público que não dava a menor bola para ele. Sentou-se e começou a passar seus longos dedos pelas cordas do violão. Eu, que já ficara intrigado com a aparência do músico, quedei-me hipnotizado assim que fez soar o primeiro acorde. Vi logo de início que ele tocava mal. Muito mal. O som que tirava do violão não era digno da beleza do instrumento. Sua voz era esganiçada e o jovem tinha dificuldades em encontrar o tom correto de cada música. Durante as duas horas que tocou, ele assassinou, no mínimo, uns doze clássicos do rock, isso sem contar as músicas que eu não conhecia, provavelmente de sua autoria. No entanto, durante estas duas horas, não consegui desviar o olhar dele. Nada mais fiz exceto observá-lo atentamente. Quando o show acabou, olhei para o meu copo e percebi que ele ainda estava cheio. O que me contagiou na performance do garoto não foi a música ou a voz. Nem mesmo a surpresa pela aparência dele durou muito. O que fez eu esquecer da cerveja, esquecer do bar, esquecer de Clara, foi a forma como ele tocava. Apaixonadamente, como se nada mais importasse. Como se aquele violão preto fosse sua amante negra cheia de curvas, que ele acariciava com o único objetivo de torná-la mais feliz. Os olhos fechados a cada nota simbolizavam o poder que a música tinha sobre ele. Ela o envolvia, o circundava e parecia dominá-lo de tal forma que eu sentia que, se ele parasse de tocar, seu coração poderia entrar em colapso. Era claro. Para ele, a música era mais do que uma profissão, mais do que um hobby, mais do que uma paixão. Era a sua razão de ser. Tocar e cantar, mesmo mal e para uma platéia reduzida e desinteressada como aquela que eu fazia parte, era o alimento de sua vida. O ânimo de sua alma. Ninguém prestou atenção nele, exceto eu. Admito que não o aplaudi quando encerrou sua apresentação. Fiquei constrangido em ser o único a realizar tal gesto. De qualquer modo, ele era ruim, talvez não merecesse aplausos. Mas merecia reverência pelo fato de tocar sem se preocupar com mais nada, simplesmente por amor à música. Queria dizer isso a ele. Queria cumprimentá-lo. Voltei ao bar no dia seguinte. Ele não estava lá. Nunca mais tocou ali e nunca mais o vi. Ocasionalmente, em tempos nostálgicos de minha vida, como esse, penso no rapaz. Não deve ter alcançado o sucesso em sua carreira. Faltava-lhe talento para isso. Acredito que deve continuar tocando até hoje. Talvez mal como antes, talvez um pouco melhor. Mas, com certeza, da mesma forma contagiantemente apaixonada daquela noite. Daquelas duas horas mágicas que muito me ensinaram.

Thursday, February 16, 2006

HAIKAI 3

Duelo contra os braços de Morfeu
Olhos pesados desejando sonhar

Um sonho que é só meu

Doutor Morte


A minha pilha de livros continua acumulando, porque sempre surge algum pra se meter no meio do caminho. Dessa vez foi Doutor Morte, um policial/suspense que, admito, não despertou muita vontade minha de lê-lo. Mesmo assim, decidi dar uma chance, lembrando da época em que devorava os livros de John Grisham. Esperava uma trama bem bolada e que prendesse a atenção, mas com personagens rasos. Encontrei o contrário. Escrito por Jonathan Kellerman, o livro traz como personagem principal um psicólogo que auxilia a polícia em diversos casos (personagem recorrente nos livros do autor) às voltas com o assassinato de um médico praticante da eutanásia – daí o título nada sedutor. A trama não empolga em nenhum momento, sem jamais apresentar grandes surpresas ou envolver, apesar de trazer algumas discussões interessantes sobre o direito de morrer, que jamais são aprofundadas. Em compensação, os personagens são bem delineados, talvez pelo fato do personagem ser um psicólogo, com suas motivações bem definidas. É isso que mantém o interesse do livro até o final, não a sua trama. Está longe de ser aquilo que os americanos chamam de page-turner (aquela obra que, quando se começa a ler, não se quer largar até descobrir tudo. Código Da Vinci, em outras palavras), mas tem suas qualidades.

Tuesday, February 14, 2006

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN


O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (BROKEBACK MOUNTAIN) ***1/2
De Ang Lee. Com Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams, Anne Hathaway e Randy Quaid.


11/02/06 – Silvio Pilau

Depois de arrecadar troféus em quase todas as premiações ao redor do mundo, o “filme dos cowboys gays” finalmente chegou ao Brasil. E, apesar de suas muitas qualidades, é inevitável a decepção com o mais recente trabalho do cineasta chinês Ang Lee, especialmente se for levada em conta a reputação construída por O Segredo de Brokeback Mountain até agora.
Escrito por Larry McMurty e Diana Ossana a partir de um conto de Annie Proulx, a obra tem início em 1963, quando dois vaqueiros assumem um trabalho para cuidar de ovelhas em uma montanha. Isolados, pouco a pouco eles começam a se aproximar, iniciando uma relação homossexual. Com receio de assumirem seus sentimentos, Ennis Del Mar e Jack Twist separam-se, mas não deixam de se encontrar regularmente ao longo de quase vinte anos. A negação do que sentem e a mentira que sustentam irá repercutir profundamente na vida de ambos.
O Segredo de Brokeback Mountain traz, sem dúvida, uma abordagem original. Colocar dois cowboys, ícones comumente percebidos como símbolos de masculinidade, como amantes é algo inédito na História do Cinema. É uma pena que, após assisti-la, todas as louvações que a obra já conquistou pareçam ter sido oferecidos mais pela coragem do tema abordado do que por suas qualidades narrativas.
Ainda assim, elas existem – e em boa quantidade. Ang Lee demonstra novamente alta sensibilidade e delicadeza ao contar a história, evitando que a relação entre Jack e Ennis se torne repulsiva para a platéia. A aproximação dos personagens e o amor que conseqüentemente cresce são extremamente convincentes, fazendo com que o espectador acabe percebendo a trama como uma história de amor impossível, e não como uma história de amor gay.
A grande força de O Segredo de Brokeback Mountain está na impecável construção dos personagens. Ennis Del Mar é um homem, em primeiro lugar, que se surpreende com o forte sentimento que tem para com Jack. Após a surpresa inicial, Ennis passa toda a sua vida buscando entender o que se passa, com medo de assumir a paixão. Grande parte disso deve-se a um acontecimento em sua infância, quando seu pai mostrara a ele o que acontecera com um homossexual na região onde morava. O receio de que algo semelhante se passe com ele resulta em uma falta de coragem consigo mesmo, mantendo preso um sentimento que vai seguir por sua vida, prejudicando todos os relacionamentos futuros.
Vivido com insuspeitada profundidade por Heath Ledger, o personagem se torna o centro em torno do qual esta trágica história se sustenta. O ator interpreta Ennis como um homem taciturno, que parece estar sempre com medo do que existe à sua volta. O segredo que o consume termina por liquidar com sua vida, tornando-o cada vez mais voltado para si mesmo. Ledger captura e expressa tudo isso com precisão cirúrgica, como se pode perceber na maneira de falar do personagem: sempre em tom baixo, mais para si mesmo do que para os outros.
Em contrapartida, Jack Twist sente-se mais à vontade com o sentimento que sente pelo parceiro. O seu maior problema não é o receio em assumir ou mesmo o conflito por se sentir atraído por um homem, mas sim o fato de que a pessoa amada recusa-se a assumir este amor. A relação, da mesma forma, acaba trazendo conseqüências na vida de Jack, mas elas são de naturezas diferentes daquelas que afligem Ennis, especialmente por tratar o caso de forma mais "aberta".
Quem assume o papel de Jack é o sempre interessante Jake Gyllenhaal, que constrói aqui mais um personagem interessante à sua já valiosa galeria de belos trabalhos. Seu Jack Twist delineia-se com claros traços de bissexualismo, sem jamais ceder à caricatura ou estereótipos. Gyllenhaal convence o espectador dos sentimentos do personagem apenas com olhares, revelando mais uma vez que é um dos grandes atores surgidos nos Estados Unidos nos últimos anos.
O talento de Ang Lee para contar histórias com sensibilidade se revela mais uma vez em O Segredo de Brokeback Mountain. Sem jamais apelar para clichês ou momentos melodramáticos, Lee triunfa ao focar a narrativa na inépcia dos personagens em seguirem com suas vidas, resultado da dificuldade em terem que manter às escondidas um amor daqueles. O diretor explora as impressionantes imagens e a bela trilha sonora para dar um tom poético à obra, realçando ainda mais a tragédia nas quais os personagens vêem-se envolvidos.
O Segredo de Brokeback Moutain, no entanto, não é constituído apenas de acertos. O filme se arrasta em diversos momentos, com a história parecendo andar em círculos. Isso deve-se também às subtramas inseridas na narrativa, onde grande parte não é desenvolvida satisfatoriamente. A relação entre Jack e seu sogro é um exemplo, soando gratuita no contexto do filme.
Da mesma forma, a personagem de Alma, interpretada com grande alcance por Michelle Williams, poderia render muito mais. O conflito vivido por sua personagem é pouco explorado, inclusive deixando o espectador se perguntando quanto ao final dado a ela pelos roteiristas. A posição dos pais de Jack também merecia ter recebido mais atenção. Eles possuem uma rápida - e marcante - aparição, mas suas atitudes e diálogos deixam muitas dúvidas no que tange à relação com o filho.
É de lamentar também a pouca preocupação dos cineastas quanto à passagem de tempo em O Segredo de Brokeback Mountain. O filme transcorre em um período de aproximadamente vinte anos e a única forma de mostrar isso fisicamente nos personagens é colocar um bigode em Jake Gyllenhaal. Como resultado, existem diversos momentos nos quais o espectador percebe que está assistindo apenas um filme (algo desastroso para qualquer produção), como quando Ennis está no carro com sua filha adolescente. A impressão é de que há apenas alguns anos de diferença entre os dois atores, e quando ela o chama de pai, não há como evitar uma certa estranheza.
No final, O Segredo de Brokeback Mountain é um belo romance. Nada mais do que isso. Uma história de amor impossível aos moldes de Romeu e Julieta ou As Pontes de Madison, contada por um cineasta talentoso, mas que jamais alcança grandes alturas. Calmo, sem pressa e sensível, O Segredo de Brokeback Mountain oferece qualidades suficientes para ser colocado acima da média. No entanto, seu grande diferencial está mesmo no tema abordade. E é uma pena pensar que é este fator, e não suas qualidades cinematográficas, o responsável por ser eleito o melhor filme do ano em diversas premiações.

Sunday, February 12, 2006

Cúmulo

Já era madrugada quando decidi me suicidar. Não vou entrar especificamente nos motivos, porque senão esta história assumiria outro foco, o das desilusões e problemas da minha vida. Não é esse o meu objetivo com esta narrativa, então basta dizer que passei por tanta coisa nos últimos meses que aquela noite de calor infernal foi a gota d’água.
Devia ser umas quatro e meia da manhã. Simplesmente me dei conta de que não queria mais permanecer no mundo dos vivos. Não queria mais ter conta em banco, não queria mais ser identificado com um número em uma carteira, não queria mais ter que limpar a merda do cachorro que a Leila me deixou.
Meu primeiro pensamento foi o de dar um tiro na minha cabeça. Rápido, limpo, sem dor. Mas aí pensei melhor. Não seria tão limpo assim. Espalharia miolos e sangue por toda a casa. Não tinha por que fazer isso. Coitados dos responsáveis pela limpeza depois do acontecido. Se eu ia me matar, seria melhor pensar em um jeito que prejudicasse apenas a mim, e não a outros. O que eu menos queria, uma vez que já estava com a auto-estima lá embaixo, era que um grupo de faxineiros me odiasse depois de morto.
Então tiro na cabeça estava descartado. Quem sabe no céu da boca? Não, mas também daria na mesma sujeira. Poderia disparar diretamente no meu coração. Menos sangue e muito mais limpo. Essa era uma boa hipótese. Mas lembrei que eu era um contador. Nunca gostei de biologia e nada sabia de medicina. Tinha uma leve desconfiança de onde ficava o coração, mas não podia afirmar com certeza. E não queria dar um tiro em mim mesmo só pra furar um pulmão.
Descartei o revólver. Fiz bem, porque depois fui lembrar que nem possuía um. Tinha que seguir pra outra opção. A próxima idéia foi cortar os pulsos. Mas, além de sujar tudo de novo, caindo mais uma vez no mesmo problema de obrigar as faxineiras a terem que limpar tudo, eu não podia ver sangue. Se fosse um tiro, tudo bem, morreria na hora. Não veria hemoglobina nenhuma. Só que cortar os pulsos era diferente. Ficaria agonizando por não sei quanto tempo vendo meu próprio sangue escapar do meu corpo. Impossível.
Tive, então, um estalo. Morrer em alto estilo. Subir no alto do meu prédio, atrair uma multidão, aparecer na TV. Genial. Morrer como uma celebridade. Pelo menos na morte, ser alguma coisa na vida. Estava exultante com a idéia. Passei correndo pela porta e me encontrei no jardim. Algo errado. Foi aí que lembrei que não morava em apartamento de um prédio. Morava em uma casa de um andar. Não havia como saltar para a morte do meu telhado, a um metro de altura. No máximo, torceria um tornozelo e não estava com a menor vontade de ir trabalhar mancando segunda-feira.
Ok, mais uma opção jogada fora. A próxima eram os remédios. Corri para o armário onde os guardava, na cozinha. Abri e me arrependi de não ser hipocondríaco. O único medicamento que eu tinha era um vidro de Novalgina. No final. Se aquela quantidade de remédio tirasse a vida de alguém, os donos da empresa que fabricam a Novalgina já estariam presos há muito tempo.
Entrei no carro e fui até a farmácia mais próxima da minha casa. Iria encher os bolsos de remédio e caso o atendente perguntasse alguma coisa, diria que era dono de um hospital. Mas a farmácia estava fechada. Mesmo com a placa de 24h na frente, estava fechada. Voltei ao carro para procurar outra loja. Merda de cidade pequena. Circulei por todas as ruas e nenhuma farmácia aberta. O máximo que encontrei foi um velho com insônia caminhando na rua com um remédio na mão. Pensei em seguir ele até em casa e roubar seus remédios. Velhos normalmente são cheios de doença. Mas desisti dessa idéia. Voltei pra casa desiludido.
Estavam acabando minhas idéias. De que outra forma eu poderia me suicidar? Enforcado! Claro, como não tinha pensado nisso? Saí pela casa procurando uma corda. Revirei caixas de coisas inúteis, mas tudo o que encontrei foi uma linha de costura. Mesmo magro como eu era, alguma coisa me dizia que aquele fiozinho não iria sustentar meu peso.
Lembrei então de uma corda de pular que meu sobrinho deixara lá em casa. Procurei no armário e ela realmente estava lá. Fiquei muito feliz. Finalmente poderia morrer. Peguei a corda e comecei a dar um nó. Foi quando me dei conta que não sabia fazer uma forca. Aquele nó que sufoca a pessoa quando ela fica sem apoio nos pés, eu não tinha a menor idéia de como fazer. Pensei em procurar na Internet (a gente acha de tudo lá, até dicas pra morrer), mas estava devendo para o Terra e não tinha como acessar.
Segurei a corda com a mão direita e joguei longe. O desânimo era total. Realmente não merecia viver, só que eu não conseguia me matar. Era um João-ninguém. João! João e Maria. A bruxa no fogão. Grande idéia. Iria colocar minha cabeça no fogão a gás. Em um instante estava na cozinha, ligando o fogão. Deitei minha cabeça no forno. Estava ali há pelo menos uns quinze minutos quando percebi que nada acontecia. Também, como poderia acontecer? Eu não comprava gás há pelo menos um mês.
Impossível descrever o quanto eu estava decepcionado comigo mesmo. Tinha sido um perdedor durante toda a minha vida, mas acreditava, pelo menos, que conseguiria me matar. Não, claro que não. Eu conseguia ser um fracassado até na hora do suicídio. Desisti. Abri uma cerveja, sentei no sofá e fui assistir ao Big Brother no pay-per-view.

Thursday, February 09, 2006

MUNIQUE



MUNIQUE (MUNICH) *****
De Steven Spielberg. Com Eric Bana, Daniel Craig, Ciáran Hinds, Mathieu Kassovitz, Hanns Zischler, Ayelet Zorer, Geoffrey Rush e Lynn Cohen.


07/02/06 – Silvio Pilau

Tem se tornado fato corrente na carreira de Steven Spielberg realizar projetos de naturezas completamente diferentes no mesmo ano. Por “naturezas diferentes”, entenda-se uma produção comercial, voltada ao apelo popular, e outra séria, com maiores ambições artísticas. Foi o que aconteceu em 93 (Jurassic Park e A Lista de Schindler), 97 (O Mundo Perdido e Amistad) e 2002 (Prenda-me se for Capaz e Minority Report).

Em 2005, após levar multidões aos cinemas com o bacana Guerra dos Mundos, o cineasta mais bem sucedido de todos os tempos escolheu um caminho espinhoso. Munique pode até não ser o melhor ou filme mais corajoso da carreira de Spielberg, mas provavelmente é o mais maduro e ambicioso entre tudo aquilo que o diretor já fez.

A trama, livremente baseada em fatos reais, tem início nas Olimpíadas de Munique, em 1972, quando um grupo conhecido como Setembro Negro invadiu o alojamento dos atletas israelenses, em uma ação que resultou na morte de todos os reféns e de alguns terroristas. Em seguida, uma reação foi organizada pelo Mossad (algo como o Serviço Secreto Israelense) para dar uma resposta aos responsáveis pelo atentado. É aí que entra Avner, um agente convocado para eliminar um por um os terroristas sobreviventes. Para isso, ele conta a ajuda de mais quatro especialistas.

Munique demonstra a qualidade narrativa de Spielberg logo nos momentos iniciais. Intercalando perfeitamente imagens de arquivo com outras encenadas, o cineasta transmite veracidade ao que está acontecendo, jogando o espectador na história mesmo sem a presença dos personagens principais. Há uma tomada sensacional, quando Spielberg recria a cena do terrorista com a meia na cabeça olhando pela sacada, enquanto a imagem emblemática passa ao vivo na televisão do quarto.
A partir deste ponto de partida, o diretor se vale do irrepreensível roteiro de Eric Roth e Tony Kushner para construir uma obra reflexiva, emocionalmente desgastante e narrativamente intocável. Nada em Munique remete à simplicidade juvenil com a qual Spielberg ficou identificado. Quem está em ação dessa vez é um cineasta completo, que não se intimida ao optar pelo caminho mais difícil na construção de uma obra alto alcance e profundidade.
Ao contrário do que se poderia imaginar, Spielberg, em Munique não assume uma posição ou defende o povo judeu pelos atos nesta guerra que já dura décadas. Para a surpresa de muitos – e aí se justifica a afirmação de que ele optou pelo caminho mais difícil – o diretor busca esclarecer os dois lados da questão, fato simbolizado em uma belíssima cena na qual o personagem principal dialoga com um palestino a respeito das motivações de ambos os povos.

E o mais impressionante ao analisar os pontos de vista de judeus e palestinos é perceber o quanto o tema continua atual. Munique se passa no início da década de 70, mas grande parte das reflexões de cunho político propostas por Spielberg e pelos roteiristas poderiam ser ditas por pessoas que vivem o conflito ainda hoje.
Este mesmo cuidado na abordagem do tema é estendido ao desenvolvimento do personagem principal. Com um arco dramático definido e extremamente crível, Avner passa de um agente firme em seus ideais patrióticos a um homem completamente devastado pelo o que viu e presenciou, questionando não apenas seus próprios valores como tudo aquilo que foi pedido a fazer.

É fascinante acompanhar esta jornada. A princípio, Avner questiona o fato de se tornar um assassino, buscando uma espécie de desculpa moral para os atos. É o que pode ser percebido, por exemplo, quando pergunta às vítimas se elas sabem porque estão prestes a morrer, como se a resposta fosse “legitimar” o crime.

No decorrer do filme, Avner torna-se mais tranqüilo com o trabalho, agindo quase que por automação. Em certo momento, ele comenta que chegará um dia em que vai conseguir matar e dormir sem pensar no assunto. O preço, porém, vem de outra forma. Se antes ele questionava o que iria fazer, depois o personagem começa a perguntar-se porque está fazendo tudo aquilo.

Essa dúvida assola sua mente quando percebe que, à medida em que matam um homem da lista, outro acaba tomando seu lugar. Da mesma forma, a cada ato cometido pelo grupo contra os palestinos, outros diversos ocorrem contra os judeus. A questão é: qual o motivo dessa retaliação? O que estão fazendo realmente pode ajudar a chegarem a um final? Será que, realmente, este conflito terá um final? Seria esta a melhor maneira de buscar a solução para esta questão? “De que adiante cortar as unhas se elas vão crescer de novo?”, pergunta um dos personagens.

Quando chega perto do encerramento de sua trajetória, Avner é um homem completamente modificado. Arrasado, inseguro e paranóico, ele não consegue nem fazer sexo com sua esposa sem ser tomado por lembranças e reflexões (em uma cena emocionante e magistralmente orquestrada por Spielberg).

Se a construção do personagem de Avner é um dos muitos trunfos de Munique, grande parte dos méritos devem ir a Eric Bana. Aproveitando-se do material riquíssimo, o ator cresce junto com o filme. Se no início parece meio hesitante, sua atuação ganha em força quando seu personagem começa a sofrer das dúvidas e dos conflitos internos já comentados. É uma grande composição que redime Bana do fiasco de Hulk.

Munique é um filme tão ambicioso e profundo que é difícil crer que foi dirigido por Steven Spielberg. Embora seja um contador de histórias sensacional, o cineasta muitas vezes prefere procurar soluções fáceis e de agrado do público. O contrário acontece aqui. Munique é difícil de se assistir; não por ser ruim, mas por pedir muito do espectador. É uma obra que jamais cede ou apela para clichês, mostrando um cineasta excepcional em sua melhor forma.

Podemos citar como exemplo a relação entre Avner e sua família, tema corrente em grande parte da filmografia de Spielberg. Seria fácil o cineasta cair no clichê do personagem carregar a foto da esposa para onde fosse, desabando em lágrimas sempre que a enxergasse, ou algum artifício semelhante. No entanto, Spielberg trata o assunto com alta seriedade e sem resvalar em clichês. Mesmo os momentos exageradamente sentimentais, próprios de seu estilo, não encontram lugar em Munique. Se o espectador se emociona, é apenas por realmente compreender o sentimento do personagem naquele momento.

Os diálogos inteligentes e a impressionante reconstituição de época (com destaque para a fotografia descolorida de Janusz Kaminsky) criam um cenário envolvente, administrado com extrema segurança por Spielberg. São poucas as cenas que não colaboram para o desenvolvimento da história, fazendo com que Munique, mesmo com quase três horas de duração, possua uma fluidez narrativa admirável.

Da mesma forma que funciona em termos gerais, o filme também é eficiente nas cenas pontuais. Spielberg é um mestre da tensão e em Munique há diversos momentos elaborados com a maestria de quem sabe o que está fazendo. O nervosismo alcançado na seqüência envolvendo a garotinha é impressionante, bem como a explosão no apartamento (nesta segunda, confesso ter me abaixado para evitar os estilhaços, tamanho era o meu envolvimento na história).

Outro acerto da direção de Spielberg é não poupar o espectador do sangue. Em um filme como Munique, a violência é parte essencial da história e amenizá-la seria um erro grotesco. Isto não acontece e o diretor oferece cenas que impressionam pela crueza e realismo. O sangue e a dor em Munique não são nada glamourizados, realmente dando um soco no estômago da platéia (assim como o próprio Spielberg fez em O Resgate do Soldado Ryan).
Quanto às atuações, Bana não é o único destaque. Lynn Cohen deixa ótima impressão em uma rápida participação no papel de Golda Meir, representando a icônica líder como uma mulher serena, ponderada e carismática. Os integrantes do grupo de Avner igualmente estão perfeitos em seus papéis, evitando os estereótipos e construindo personagens convincentes (só como curiosidade, Daniel Craig, que interpreta Steve, é o novo James Bond).
Munique é, sem dúvida, um filme difícil. Spielberg exige muita reflexão por parte do espectador, levando a platéia a uma jornada desgastante, um sentimento que muitos compreenderão como fator negativo. Não é. O arrebatamento sentido ao término de Munique é o resultado de acompanhar uma história moral, ética e politicamente complexa, ainda relevante nos dias de hoje, que propõe diversas perguntas tanto em relação à natureza humana quando aos conflitos étnicos. Não há respostas ao final de Munique. E esta é a maior prova da maturidade alcançada por Steven Spielberg nesta obra-prima.

Wednesday, February 08, 2006

HAIKAI 2

Pra que beber até se acabar?
Ressaca filha duma puta

E, de quebra, se afogou o celular

Tuesday, February 07, 2006

HAIKAI 1

Certas coisas não dá pra entender
Tem gente que só acorda pra vida

Na hora que vai morrer