Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, February 28, 2007

Antes de Sair

Eis uma ironia que cai bem
Tanto tempo escolhendo roupa

Pra achar a pessoa que nos veja sem

Tá na mão, Marty




Em termos de premiação, acho que foi uma das premiações da Academia mais justas dos últimos anos. Apesar da boa qualidade dos outros indicados, Os Infiltrados ainda era meu filme favorito entre os concorrentes e fiquei feliz com sua vitória. Mais do que isso, o resultado ainda foi bastante coerente, com o melhor filme levando também os prêmios de montagem, roteiro e direção. Sempre é meio estranho quando estes prêmios (especialmente os de roteiro, direção e filme) são divididos em produções diferentes, o que não foi o caso este ano. Babel, outra belíssima obra de Alejandro González Iñárritu, acabou sendo o maior perdedor da noite. Com sete indicações, vencer apenas a de trilha sonora - justa, por sinal. Helen Mirren deu um show de classe ao receber o prêmio de atriz por sua brilhante caracterização da rainha Elizabeth em A Rainha - por sinal, um filme bastante competente, mas desnecessário de figurar na categoria principal ou até mesmo na de direção. A vaga de Stephen Frears, diretor de A Rainha, entre os indicados teria ficado melhor nas mãos de Alfonso Cuarón por Filhos da Esperança, um fantástico trabalho técnico e narrativo, ou Paul Greengrass, pelo excepcional exercício de tensão que é Vôo United 93. Claro que estes seriam só indicados, pois este ano o prêmio de melhor diretor tinha dono. No melhor momento da noite, a platéia inteira do Kodak Theatre aplaudiu em pé, com direito a gritos e assobios, quando Martin Scorsese recebeu o prêmio de melhor diretor. Uma das maiores injustiças da história do cinema estava sendo corrigida e finalmente o careca dourado foi parar nas mãos deste gênio. E o que é melhor, por um trabalho realmente merecido. Ponto para a Academia também por colocar Steven Spielberg, George Lucas e Francis Ford Coppola para apresentar o prêmio a Marty: foi bonito ver juntos no palco os quatro grandes que mudaram a forma de fazer cinema nos anos 70. Claro que a premiação foi longa demais, com diversos clipes e apresentações desnecessárias - sinceramente, dá pra fazer o Oscar em aproximadamente 3 horas sem maiores problemas. Os discursos também não se destacaram, resumindo-se ao básico "quero mandar um beijo pra minha mãe, meu pai e pra você". Mas valeu pela justiça da premiação e por ver aquele baixinho de sobrancelhas grossas e fala rápida finalmente com uma estatueta nas mãos.

Monday, February 26, 2007

BORAT


Tem crítica minha do hilariante Borat - O Segundo Repórter Mais Famoso do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América em www.cineplayers.com. Confiram.

Friday, February 23, 2007

QUASE FAMOSOS e APOCALYPTO



Tem crítica minha de Apocalypto e de Quase Famosos em www.cineplayers.com.

Thursday, February 22, 2007

Arte Sob Controle

Acredito que tudo na vida pode ser transformado em obra de arte. Um simples amarrar de cadarços, por exemplo. Jamais aprendi a dar nó na cordinha do tênis da maneira usual: fazendo uma bolinha, passando o cadarço em volta e puxando algum fiozinho. Nunca consegui encontrar esse fiozinho. Até hoje, aos 23 anos, amarro meus cadarços da forma mais burra possível: fazendo duas bolinhas e passando uma por cima da outra.

Estou exemplificando minha árdua vida com os cadarços para mostrar que, em minha opinião, todos os que conseguem dar o nó da maneira clássica são verdadeiros artistas. E este aspecto universal e multitarefa da arte não se resume apenas aos tênis. Dar o nó em uma gravata, envolver o interlocutor em um bom papo, limpar uma piscina e montar um saboroso cachorro-quente também são atividades possíveis de virarem obras-primas.

No meu caso, sou um artista do controle remoto. Digo isso com orgulho, mas com certa resignação por não haver um prêmio para os apertadores de botões dos controles remotos. Porque, garanto, eu sairia vencedor. Ninguém, em todo o planeta, mexe em um controle remoto com a mesma destreza que eu. Tenho a capacidade de assistir todos os canais da TV a cabo ao mesmo tempo. Quem consegue isso?

A minha habilidade deve-se a dois fatores: o primeiro é que simplesmente não consigo parar em um canal enquanto não sei o que está passando nos outros. Sei lá, sinto-me inquieto, como se estivesse me contentando com pouco. Só depois de circular, hábil e rapidamente, por todas as emissoras, escolho o programa que mais me interessa.

A segunda razão que aponto como artífice de minha habilidade é a paixão pelo controle remoto. Para se sair bem em alguma tarefa, é preciso amá-la de todas as formas. Eu não amo meus cadarços, por isso não consigo dar o nó clássico. Mas amo meu controle. É a melhor invenção já criada pelo ser humano. Sim, a melhor. Nada de roda, nada de avião, nada de eletricidade. A melhor invenção criada pelo ser humano é o controle remoto.

Existe coisa melhor do que chegar em casa após um dia de trabalho, atirar-se no sofá, tirar os tênis, jogar os pés pra cima, coçar o saco com a mão esquerda e ficar brincando com o controle remoto na mão direita? Esta é a sensação mais relaxante do mundo. E acredito que o seja para todas as pessoas, não apenas os preguiçosos como eu. São os breves instantes nos quais é possível esquecer-se do mundo, ficar alheio a todos os problemas. A vida é simples quando o dedo incessantemente aperta os botões procurando o melhor canal. Só de escrever isso já me sinto mais relaxado.

Claro que, como qualquer relação, meu romance com o controle remoto também tem seus problemas. Dá uma raiva quando o desgraçado some, por exemplo. Acho que este é o único problema do controle remoto. Sedentarismo, obesidade? Nada! Não é a maravilha facilitadora chamada controle que está transformando as pessoas em botos – até parece que se fosse preciso levantar para trocar de canal eu seria anoréxico. O problema do controle é quando ele teima em sumir. Assim como as chaves, o controle tem a capacidade de evaporar e se enfiar, sozinho, em lugares praticamente inacessíveis. E cada minuto longe dele é um minuto de terror, onde a saudade das carícias de seus botões quase esmaga meu coração.

Mas, na maior parte do tempo, é só felicidade. O controle remoto consegue afagar o meu ponto fraco: a preguiça. Ele deixa-a feliz e, portanto, acaba me colocando em estado de puro prazer. O controle remoto é culto, capaz de me ensinar sobre os mais diversos assuntos; divertido, sempre pronto pra me fazer rir; e um verdadeiro amigo, pois nunca me abandona, exceto quando as pilhas acabam.

E, acima de tudo, é o instrumento com o qual produzo minhas obras-primas. Sem ele, eu seria apenas um pretenso literato. Com ele, posso me colocar ao lado de grandes como Da Vinci, Michelangelo, Shakespeare. Ou até acima. Nenhum deles dominou a arte de zapear como eu.

Filmes de Dezembro

BANDIDAS – França/México/EUA, 2006 **
De Joachim Roenning e Espen Sandberg. Com Salma Hayek, Penélope Cruz, Steve Zahn, Dwight Yoakam, Sam Shepard e Dennis Arndt.

Tirando a beleza de Salma Hayek e Penélope Cruz, nada sobra nesse equívoco produzido pelo francês Luc Besson. O roteiro é uma bagunça, empilhando um clichê atrás do outro, com diálogos embaraçosos e personagens sem graça. Enquanto isso, a dupla de diretores pouco faz para melhorar o material, fazendo de Bandidas uma comédia que não faz rir e uma aventura que não empolga.

MATADORES DE ALUGUEL (SHADOWBOXER) – EUA, 2005 **1/2
De Lee Daniels. Com Cuba Gooding Jr., Helen Mirren, Stephen Dorff, Vanessa Ferlito, Joseph Gordon-Levitt e Macy Gray.

Apesar das boas atuações, especialmente de Gooding Jr. e Mirren, Matadores de Aluguel jamais conquista o espectador. A história ousa por seguir caminhos diferentes, mas há muitos excessos e cenas desnecessárias. Há bons momentos, mas a trama enrola sem chegar a lugar algum.

ANJOS DA VIDA – MAIS BRAVOS QUE O MAR (THE GUARDIAN) – EUA, 2006 **1/2
De Andrew Davis. Com Kevin Costner, Ashton Kutcher, Sela Ward, Melissa Sagemiller, Clancy Brown e Alex Daniels.

Aventura repleta de clichês e sem nenhuma surpresa, mas realizada com certa competência. Costner e Kutcher dividem bem a tela e as cenas de ação são bem construídas, mas o roteiro óbvio demais prejudica a apreciação. Um filme que funciona como passatempo para quem não for exigente e nada mais.

007 – CASSINO ROYALE (CASINO ROYALE) – EUA/Inglaterra/Alemanha, 2006 ****1/2
De Martin Campbell. Com Daniel Craig, Eva Green, Mads Mikkelsen, Judi Dench, Jeffrey Wright e Giancarlo Giannini.

A reformulação completa do personagem resultou no melhor filme de toda a série. Craig encarna o personagem como nenhum ator antes, transmitindo uma constante sensação de ameaça. Dessa vez, Bond é mais humano, capaz inclusive de fazer escolhas erradas e se machucar. A história de amor funciona, assim como as empolgantes cenas de ação e os brilhantes diálogos. Bond, James Bond, como nunca.

FILHOS DA ESPERANÇA (CHILDREN OF MEN) – EUA/Inglaterra, 2006 ****1/2
De Alfonso Cuarón. Com Clive Owen, Julianne Moore, Chiwetel Ejiofor, Michael Caine, Charlie Hunnam, Danny Huston, Claire-Hope Ashitey e Peter Mullan.

Mesmo com um trabalho de direção apenas razoável, Filhos da Esperança já seria uma bela obra. Mas o trabalho de Alfonso Cuarón atrás das câmeras é aburdamente fabuloso, mostrando um virtuosismo técnico de encher os olhos. O diretor cria algumas das seqüências mais fascinantes dos últimos tempos, que apenas dão mais força à bela, inteligente e poderosa história.

SE EU FOSSE VOCÊ – Brasil, 2006 **
De Daniel Filho. Com Tony Ramos, Glória Pires, Thiago Lacerda, Danielle Winnits, Denis Carvalho, Ary Fontoura, Jorge Fernando, Lavínia Vlasak, Patrícia Pillar e Glória Menezes.

O maior sucesso nacional do ano também não passa de uma grande bobagem. Além do ponto de partida já utilizado à exaustão, as situações criadas pelo roteiro são forçadas e sem graça. Além disso, a direção de Daniel Filho não consegue aproveitar os poucos momentos inspirados, elaborando momentos embaraçosos para Tony Ramos e Glória Pires. Saudade de Cidade de Deus...

SENTINELA (THE SENTINEL) – EUA, 2006 **1/2
De Clark Johnson. Com Michael Douglas, Kiefer Sutherland, Eva Longoria, Martin Donovan e Kim Basinger.

Sentinela é mais um daqueles filmes que Hollywood produz em série todo ano. Tudo é burocrático, mas feito de forma a jamais cansar o espectador. O roteiro possui alguns furos e trata os personagens de forma rasa, mas consegue prender a atenção. Colabora para isso o carisma de Douglas, a intensidade de Sutherland e a beleza de Longoria. Um filme nada mais que comum.

QUANDO UM ESTRANHO CHAMA (WHEN A STRANGER CALLS) – EUA, 2006 *1/2
De Simon West. Com Camilla Belle, Tommy Flanagan, Katie Cassidy, Tessa Thompson e Brian Geraghty.

Provalmente o filme mais chato do ano. Nada acontece durante os quase 90 minutos. A maior parte da obra é a sobre a mocinha recebendo ligações de alguém que não fala nada e saindo para investigar algum barulho. Só. Além da história repetitiva, o diretor Simon West apela para algumas das fórmulas mais idiotas do gênero, como o barulho produzido por um gato! Sobra apenas a bela Camila Belle.

A PROFECIA (THE OMEN) – EUA, 2006 **1/2
De John Moore. Com Liev Schreiber, Julia Stiles, David Thewlis, Pete Postlethwaite, Mia Farrow e Seamus Davey-Fitzpatrick.

Um dos filmes mais desnecessários desde que o cinema foi inventado. O diretor John Moore segue quase o mesmo roteiro que a obra original, sem acrescentar quase nada. Para piorar, não consegue reviver a tensão do filme anterior, além de Schreiber e Stiles serem atores muito mais fracos. A Profecia só não é um desastre porque a história ainda é interessante o suficiente.

DOZE É DEMAIS 2 (CHEAPER BY THE DOZEN 2) – EUA, 2005 **
De Adam Shankman. Com Steve Martin, Bonnie Hunt, Tom Welling, Hillary Duff, Piper Perabo, Eugene Levy e Carmen Electra.

Seqüência que mantém-se no mesmo nível do filme original, o que não significa grande coisa. A boa premissa é estragada por um roteiro sem imaginação, que cria situações óbvias e piadas sem graça. Martin ainda consegue cativar, mas até a sempre excelente Bonnie Hunt é desperdiçada.

PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (PULP FICTION) – EUA, 1994 *****
De Quentin Tarantino. Com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Ving Rhames, Eric Stoltz, Tim Roth, Amanda Plummer, Christopher Walken e Rosana Arquette.

O filme que mudou a cara do cinema dos anos 90 continua impecável. Com uma originalidade refrescante, Quentin Tarantino construiu uma obra narrativamente irrepreensível. Diversas tramas se misturam de maneira genial, colocando na tela toneladas de violência, diálogos impagáveis e personagens sem a menor moral. Tarantino consegue tirar humor da violência e do absurdo, aliando uma técnica inovadora com roteiro inteligente e atuações memoráveis. Um filme – merecidamente – icônico.

CACHÉ – França/Áustria/Alemanha/Itália 2005 ***
De Michael Haneke. Com Daniel Auteuil, Juliette Binoche, Maurice Bénichou, Annie Girardot e Daniel Duval.

Com boas idéias e um ponto de partida interessantíssimo, Caché poderia ter sido muito mais. O estilo de Haneke é peculiar, não entregando nada de mão beijada para o espectador. Há um princípio de discussão sobre racismo, intolerância e invasão de privacidade, mas o roteiro parece não chegar onde pretendia. Quase um grande filme.

ENSINA-ME A VIVER (HAROLD AND MAUDE) – EUA, 1971 ***1/2
De Hal Ashby. Com Ruth Gordon, Bud Cort, Vivian Pickles, Cyril Cusack e Charles Tyner.

Considerada uma das grandes histórias de amor, Ensina-me a Viver acabou enfraquecendo com o tempo, apesar de continuar interessante. O amor entre um jovem adolescente e uma octogenária traz boas lições sobre a vida, a maioria vindo da personagem interpretada com energia contagiante por Ruth Gordon. Além disso, há deliciosos momentos de humor negro. Mas certos aspectos da produção acabaram se diluindo com o tempo, como o final, que hoje soa mais melodramático do que deve ter soado na época do lançamento.

VALENTÍN – Argentina/Holanda/França/Espanha/Itália, 2002 ****
De Alejandro Agresti. Com Rodrigo Noya, Carmen Maura, Julieta Cardinali, Alejandro Agresti e Mex Urtizberea.

Agradabilíssima história sobre um garoto lidando com os problemas de sua vida. Com um protagonista adorável e divertido (Noya), Alejandro Agresti mantém a atenção do espectador até o fim, que acompanha com prazer a combinação de comédia e drama proposta pelo diretor. Um belo e sensível filme, que ainda conta com a sempre ótima participação de Carmen Maura.

A NÉVOA (THE FOG) – EUA/Canadá, 2005 *
De Rupert Wainwright. Com Tom Welling, Maggie Grace, Selma Blair, Kenneth Walsh e DeRay Davis.

Um dos piores filmes dos últimos anos, A Névoa é um terror que não assusta em momento algum. O diretor Wainwright não consegue construir nenhuma tensão, enquanto o roteiro idiota parece não se preocupar com os imensos furos da história. As atuações são fracas (sobra apenas a beleza de Grace e Blair) e nem os efeitos especiais convencem.

VÔO UNITED 93 (UNITED 93) – França/Inglaterra/EUA ****1/2
De Paul Greengrass. Com Christian Clemenson, Trish Gates, David Alan Basche, Cheyenne Jackson e Polly Adams.

Paul Greengrass (Domingo Sangrento e A Supremacia Bourne) demonstra todo seu talento ao contar a – suposta – história do avião que não atingiu seu alvo em 11 de setembro. Dividindo seu filme em duas tramas paralelas igualmente interessantes, Greengrass literalmente joga o espectador no completo desespero daquelas pessoas, atingindo níveis estratosféricos de tensão. Sem apelar para clichês ou melodrama, Vôo United 93 emociona pelo seu realismo e por revelar os limites do ser humano em momentos como esse.

Presente de Casamento

Esperara aquele dia por toda a sua vida. No entanto, o sentimento ao acordar não era felicidade, mas nervosismo. De súbito, dúvidas e perguntas iniciaram um passeio tortuoso por sua mente. Estaria fazendo a opção certa? Seria aquele o homem com quem gostaria de passar o resto de sua vida? Pôs-se a pensar também nos casos antigos, em todos os homens que passaram por sua cama. Lembrou dos longos relacionamentos que teve. E pensou em quantos destes homens ainda a amavam. Quantos poderia ter de volta com um simples estalar de dedos. Ainda havia tempo de desistir. Mas não, não poderia. Ele era o homem da sua vida. Tinha certeza disso, apenas havia sido assolada por uma dúvida comum a esse dia. Algo pelo qual todos os noivos e noivas deste mundo certamente passam. Caminhou de pantufas e pijama pela casa, alimentou seu cachorro, preparou o café da manhã. Olhou em torno, pensando que, daquele dia em diante, aquela não seria mais apenas a sua casa. Não mais apenas a sua vida. Abriu a porta da sala para buscar o jornal. Que notícias traria o periódico no dia de seu casamento?, perguntava-se dominada pela curiosidade. No tapete no qual lia-se a palavra “Bem-Vindo” em cores verdes, ao lado do jornal, havia uma caixa. Deixou as notícias e colunas de lado e levantou o recipiente, do tamanho de uma caixa de sapatos. Totalmente branco, sem nenhuma pista do remetente ou do conteúdo. Fechou a porta atrás de si e trouxe o objeto para dentro de casa. Em estado de êxtase, não cogitou ser algo perigoso. Pôs a caixa sobre a mesa de jantar e lentamente, começou a abri-la. Quando viu que ela carregava, levantou-se com a mão no peito. O grito não saíra, trancado na garganta. A boca aberta exprimia o horror. Recuperada do susto, aproximou-se da caixa mais uma vez. Era mesmo um coração. Humano, provavelmente. Ainda molhado pelo sangue. Notou um pedaço de papel preso a um dos lados da caixa. Arrancou-o e trouxe para perto dos olhos. Apenas uma frase, escrita à mão:

“Um presente de casamento à eterna dona do meu coração.”