Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Saturday, September 30, 2006

CARNE TRÊMULA


Tem crítica minha de "Carne Trêmula" em www.cineplayers.com. Confiram.

Tuesday, September 26, 2006

Na Minha Casa Não

Fazia tempo que queria reformar minha casa. Foi-me indicado um profissional que diziam fazer um bom trabalho. Não apoiei, mas toda a minha família ficou satisfeita com a contratação dele. Diziam que, mesmo sem muita experiência, era um cara honesto e coisa e tal. E ele quase me convenceu com seus argumentos, devo dizer a verdade. Encheu-me de promessas, disse que faria isso, que resolveria tal problema, que mexeria nos alicerces. Em suma, que tudo ficaria como novo.

Mas, de uma hora pra outra, começaram a sumir coisas lá de casa. Uma caneta, alguns DVD’s, um rádio. Depois as coisas foram crescendo. Quando me dei conta, tinham-me levado até o carro. Confrontei o homem a quem havia contratado. Ele acusava seus ajudantes. Dizia que não sabia de nada, que estava focado apenas no trabalho.

Descobriu que as desconfianças em relação à sua equipe eram verdade mandou todos embora. Trouxe novos ajudantes. A reforma continuava, ainda que a passos curtos e lentos. Com mais problemas do que acertos. Nesse momento, já estávamos nos irritando. No entanto, as coisas continuaram a sumir de casa, mesmo com a nova equipe. O chefe seguia se eximindo da culpa sempre que pegava algum dos seus roubando. “Não sabia de nada”, dizia ele.

Um dia, acabou o prazo que ele tinha me prometido para entregar a casa. Faltou muito para ele chegar ao menos perto do que havia prometido. O pior é que, ao longo do tempo de trabalho, ele foi mudando tudo o que havia dito. Se tinha dito fazer uma coisa, ia lá e fazia outra. Se assumira compromisso com a minha família em relação a tal assunto, pouco depois parecia esquecer completamente.

Mesmo com tudo isso, o safado ainda teve a cara-de-pau de vir me pedir por mais tempo de trabalho. Sim, depois de todos os seus ajudantes terem me roubado, tanto os velhos quanto os novos, depois de ter me mentido descaradamente, depois de me prometer coisas que não chegou nem perto de cumprir, depois de se fazer de inocente frente a todas as acusações, ele ainda queria continuar dentro da minha casa com um contrato prorrogado.

Claro que eu jamais aceitaria isso. Não sou idiota. Minha família veio dizer que nas outras reformas isso havia acontecido também: coisas haviam sumido, as mentiras rolaram. Tudo bem, pode ter acontecido, mas nunca tão descarado quanto agora. Nunca mesmo. E, de qualquer forma, desde quando o erro do passado justificam o roubo de agora? Era só o que me faltava: deixar um ladrão, mentiroso e ignorante na minha casa por mais quatro anos porque “outros também fizeram”.

O problema é que combinei com a minha família que ninguém decidiria nada sozinho. O que a maioria decidir, será feito. A votação final ficou pra domingo. Só espero que as 180 milhões de pessoas que moram comigo mostrem-se mais inteligente do que parecem.

Wednesday, September 13, 2006

Fogo Inimigo


Quando deu por si, um tiro passou a apenas alguns centímetros de sua cabeça. Ronaldo, mais por instinto do que por razão, procurou abrigo atrás da primeira árvore que viu. Tudo começou rápido demais e, olhando à sua volta, percebeu que já tinha perdido dois amigos, atingidos pelos disparos adversários.

De nada adiantava ficar lamentando. Ronaldo sabia que era preciso seguir em frente, pois só assim conseguiria evitar que seu destino fosse igual. Conferiu a arma, respirou fundo e observou o posicionamento dos companheiros. Em meio a todo o barulho, gritou para Joca, que estava por perto:

- Cubra-me que vou avançar!

Joca respondeu com a mão direita, fazendo sinal de positivo. Empunhando a arma com firmeza, Ronaldo saiu pela esquerda, apertando o gatilho e mirando na direção de onde vinha o fogo inimigo. Não conseguiu acertar ninguém, mas também escapou ileso, jogando-se em um buraco no chão onde encontrou seu companheiro Adriano.

- Como está a situação? – perguntou para Adriano.

- Nada fácil. Já perdemos vários.

- Quem?

- O Ivan acabou levar um tiro na cabeça. Bem do meu lado. Quase foi eu – disse Adriano, nervoso.

- Que merda. E o que fazemos?

- Temos que avançar, Ronaldo. Não podemos ficar parados aqui por muito tempo. O Joca já está ali. Grita pra ele nos dar cobertura. Tem um deles na sua diagonal que foi quem acertou Ivan. Você cuida dele que eu cuido do lado de cá.

Ronaldo gritou para Joca dar cobertura. Contou até três e saiu pela direita, disparando na direção do inimigo que Adriano comentara. Pelo quarto ou quinto tiro, viu que acertou o oponente. Assim que percebeu isso, rolou pelo chão, novamente em busca de abrigo.

Enquanto se protegia, pôde enxergar Adriano sendo atingido, primeiro no braço, depois no corpo. Olhou em volta e não viu mais ninguém em pé. Nem Joca estava mais ao seu lado. Ronaldo deu-se conta de que estava sozinho contra os inimigos. E, ao menos que fosse o Rambo, estava perdido.

Mas não iria desistir. Iria acreditar no milagre.

O som das armas havia cessado. Cientes de que Ronado estava sozinho, os inimigos esperavam que ele desse o primeiro movimento. Mas Ronaldo já armara sua estratégia. Estava disposto a vencê-los na paciência. Não faria nada até que eles fizessem.

Seu plano durou poucos minutos. Um dos inimigos passou correndo por seu lado. Ronaldo se assustou, atirando na direção dele. Acertou três tiros. No entanto, o movimento que fez acabou deixando-o na linha de fogo inimiga.

A rajada foram certeiros. Um atingiu Ronaldo no peito e outro na cabeça. Nenhum dos dois doeu.

Mas as bolinhas estouraram e ele estava fora do jogo. Enquanto via a equipe adversária comemorar a vitória, pensava na sua sorte.

Pelo menos, a guerra que participava não passava de uma brincadeira.


Tuesday, September 12, 2006

APOCALYPSE NOW


Tem crítica minha do excepcional "Apocalypse Now Redux" em www.cineplayers.com. Confiram.

Saturday, September 09, 2006

Filmes de Agosto


SYRIANA – EUA, 2005 ***
De Stephen Gaghan. Com George Clooney, Christopher Plummer, Matt Damon, Amanda Peet, Jeffrey Wright, Chris Cooper e Amr Waked.

Intrincada história sobre os bastidores do poder e dos negócios relacionados ao petróleo. Ainda que o elenco seja qualificado e o roteiro revelador e inteligente, a galeria de personagens e tramas paralelas é grande demais, fato que a direção de Gaghan não consegue contornar. Clooney ganhou o Oscar de ator coadjuvante por sua atuação.

O HOMEM DO BRAÇO DE OURO (THE MAN WITH THE GOLDEN ARM) – EUA, 1955 ****1/2
De Otto Preminger. Com Frank Sinatra, Eleanor Parker, Kim Novak, Arnold Stang e Darren McGavin.

Um dos primeiros filmes a abordar o vício das drogas, O Homem do Braço de Ouro é um belíssimo drama que traz uma ótima atuação de Sinatra. Preminger consegue captar com perfeição o desespero do personagem principal e dos que estão à sua volta. Há momentos facilitados em prol da narrativa (como a rápida recuperação), mas nada que diminua o impacto desse corajoso filme.

O MESMO AMOR, A MESMA CHUVA (EL MISMO AMOR, LA MESMA LLUVIA) – Argentina, 1999 ****
De Juan José Campanella. Com Ricardo Darín, Soledad Villamil, Ulises Dumont, Eduardo Blanco e Graciela Tenenbaum.

A mesma equipe responsável pelo maravilhoso O Filho da Noiva já havia brilhado nessa história de amor incrivelmente humana e tocante. Campanella retira interpretações reais de Darín e Villamil, construindo uma química perfeita. Além disso, a história respeita o espectador ao jamais cair em clichês e ao respeitar seus personagens, transformando-os em pessoas de verdade, com tantos defeitos quanto qualidades. A trama parece dispersiva às vezes, preocupando-se com fatos desnecessários, mas O Mesmo Amor, a Mesma Chuva é um grande filme.

RITMO DE UM SONHO (HUSTLE & FLOW) – EUA, 2005 ****1/2
De Craig Brewer. Com Terrence Howard, Anthony Anderson, Taryn Manning, Taraji P. Henson, DJ Qualls e Ludacris.

Uma das grandes surpresas do último ano, Ritmo de um Sonho é um conto sincero e tocante sobre alguém tentando vencer na vida. Apesar do ponto de partida já batido, o diretor e roteirista Brewer evita os clichês ao tratar seus personagens de forma precisa, transformando-os em pessoas reais e fazendo o público acreditar nos relacionamentos criados. Com fabulosas interpretações de todo o elenco (Howard é sensacional) e grandes momentos, Ritmo de um Sonho mostra sua força perto do final, quando o espectador se vê torcendo para o sucesso do protagonista.

SUPERMAN – O RETORNO (SUPERMAN RETURNS) – EUA, 2006 ****
De Bryan Singer. Com Brandon Routh, Kate Bosworth, Kevin Spacey, Parker Posey, Frank Langella, Eva Marie Saint, James Marsden e Marlon Brando.

Singer não decepciona no comando da nova produção sobre o Homem de Aço. Ainda que o filme seja mais longo do que o necessário, a história acerta ao equilibrar o romance de Clark e Lois com a trama do Superman. O resultado é satisfatório, com cenas belíssimas e empolgantes misturadas com momentos mais intimistas. Routh funciona no papel e Bosworth é linda, mas é Spacey quem rouba a cena, divertindo-se à beça como Lex Luthor.

ANTI-HERÓI AMERICANO (AMERICAN SPLENDOR) – EUA, 2003 ****
De Shari Pringer Berman e Robert Pulcini. Com Paul Giamatti, Hope Davis, Earl Billings e Judah Friedlander.

Interessantíssima adaptação de uma história em quadrinhos bastante diferente, Anti-Herói Americano combina um humor deliciosamente irônico com drama pungente para retratar seu personagem principal. Paul Giamatti está genial como Pekar, em uma das grandes interpretações dos últimos anos. Há opções interessantes por parte dos diretores ao brincar com a linguagem das HQ’s, ainda que algumas idéias acabem prejudicando o resultado final, como a inserção de cenas do verdadeiro Pekar. Mas é um belo filme sobre o homem comum, que merece ser assistido.

TRÊS ENTERROS (THE THREE BURIALS OF MELQUIADES ESTRADA) – EUA/França, 2005 ****
De Tommy Lee Jones. Com Tommy Lee Jones, Barry Pepper, Julio Cedillo, Dwight Yoakam, January Jones e Melissa Leo.

Jones estréia de forma promissora na direção com esse melancólico filme. Trabalhando com um roteiro de Guillermo Arriaga (o mesmo dos excelentes Amores Brutos e 21 Gramas), Jones compõe uma obra visualmente belíssima, onde o cenário reflete o estado de espírito dos personagens. A lentidão da narrativa é justificada, realçando a solidão daquelas pessoas. No final, apesar de momentos dispensáveis, sobra uma tocante história sobre amizade, honra e o choque entre dois mundos.

OLIVER TWIST – Inglaterra/França/Itália, 2005 ***
De Roman Polanski. Com Barney Clark, Ben Kingsley, Harry Eden, Leanne Rowe e Jamie Foreman.

Era de se esperar mais da adaptação de Polanski da famosa história de Charles Dickens. Não há nada de condenável em Oliver Twist, mas a obra jamais faz jus ao talento de seu diretor, que narra a trama do garoto como se fosse um filme da Disney. Funciona, com tudo certinho no lugar, mas falta emoção e idéias originais que trouxessem algo novo à obra.

TERRA FRIA (NORTH COUNTRY) – EUA, 2005 ****
De Niki Caro. Com Charlize Theron, Frances McDormand, Sean Bean, Woody Harrelson, Sissy Spacek, Richard Jenkins e Michelle Monaghan.

A diretora do emocionante Encantadora de Baleias acerta novamente com essa inspiradora história. Theron carrega bem o papel principal, protagonizando alguns momentos realmente tocantes. A cineasta derrapa em algums partes exageradamente piegas, mas Terra Fria merece uma espiada tanto pela história – real – da personagem quanto por cenas como a do pai fazendo o discurso em uma assembléia.

CHAGA DE FOGO (DETECTIVE STORY) – EUA, 1951 ****
De William Wyler. Com Kirk Douglas, Eleanor Parker, William Bendix e Cathy O’Donnell.

Passado em tempo real e em apenas um local, Chaga de Fogo revela-se um ótimo – ainda que menor – trabalho de William Wyler. Com um satisfatório desenvolvimento do personagem principal e uma trama que não pára de oferecer novidades, o filme prende a atenção do espectador até o final, onde a obra mostra ser mais corajosa do que parecia. Outro grande filme de um dos grandes diretores do Cinema.

TEAM AMERICA – DETONANDO O MUNDO (TEAM AMERICA – WORLD POLICE) – EUA, 2004 ****1/2
De Trey Parker. Com as vozes de Trey Parker, Matt Stone, Kristen Miller, Masasa e Daran Norris.

Comédia impagável dos criadores de Southpark, toda com marionetes. Sem a menor intenção de esconder o lado tosco da produção (os fios dos bonecos são visíveis), Team America atira contra tudo e contra todos, com o mesmo espírito politicamente incorreto da criação mais famosa dos autores. Há momentos inspiradíssimos no roteiro, cenas hilárias e seqüências que já nascem antológicas, como os bonecos fazendo sexo explícito e outro vomitando após um porre. Imperdível.

O DIA EM QUE O BRASIL ESTEVE AQUI – Brasil, 2005 **1/2
De Caito Ortiz e João Dornelas.

A história do jogo da seleção brasileira no Haiti em crise poderia render um filme muito melhor. Repetitiva, a produção e Ortiz e Dornelas pouco acrescenta ao que já se sabe sobre o “evento”. Faltou, por exemplo, entrevistas com os jogadores sobre suas visões a respeito da partida.

INACREDITÁVEL – A BATALHA DOS AFLITOS – Brasil, 2006 ****1/2
De Beto Souza.

Difícil avaliar com imparcialidade essa obra. Como gremista, não há maneira de segurar a emoção ao relembrar a trajetória do Tricolor em 2005, culminando na épica e monumental vitória sobre o Náutico. O filme é muito bem realizado, trazendo interessantes e divertidos depoimentos de torcedores e dos atletas. Obrigatório a todos os gremistas, que viveram ou não aquele dia inesquecível e inacreditável.

NEM TUDO É O QUE PARECE (LAYER CAKE) – Inglaterra, 2004 ***1/2
De Matthew Vaughn. Com Daniel Craig, Jamie Foreman, George Harris, Colm Meaney e Sienna Miller.

Ex-parceiro de Guy Ritchie, Vaughn estréia na direção com esta bem bolada história passada no submundo de Londres. Personagens com moral duvidosa dão o tom da obra, que oferece uma trama inteligente e boas doses de violência para satisfazer os fãs do gênero. Além disso, Craig carrega bem o filme como protagonista, em um bom ensaio para seu papel de James Bond.

NO RASTRO DA BALA (RUNNING SCARED) – EUA/Alemanha, 2006 ****
De Wayne Kramer. Com Paul Walker, Cameron Bright, Vera Farmiga, Chazz Palminteri, Karel Roden e Alex Neuberger.

Bastante violento, No Rastro da Bala surpreende pelo vigor da narrativa e por uma história desenvolvida o suficiente para se manter interessante. O diretor Kramer é o grande destaque, utilizando diversos truques de câmera e montagem, além da ousadia em abusar da violência gráfica e de abordar temas espinhosos. Outra surpresa é Paul Walker, que interpreta o protagonista com uma intensidade até então desconhecida em suas atuações anteriores. Para quem tem estômago, uma boa pedida.

CLICK – EUA, 2006 ***
De Frank Coraci. Com Adam Sandler, Kate Beckinsale, Christopher Walken, David Hasselhoff e Sean Astin.

Click segue o manual das comédias enlatadas norte-americanas, mas acaba funcionando como um divertido passatempo. Sandler tem carisma e Beckinsale é sempre um prazer de assistir, além do roteiro oferecer algumas situações realmente engraçadas. A lição de moral é quase enfiada goela abaixo pelo diretor, mas o filme é bacana, capaz até de emocionar um espectador mais sensível.

BONEQUINHA DE LUXO (BREAKFAST AT TIFFANY’S) – EUA, 1961 ***1/2
De Blake Edwards. Com Audrey Hepburn, George Peppard, Buddy Ebsen e Mickey Rooney.

Ainda que tenha suas qualidades, Bonequinha de Luxo não justifica seu status de clássico do Cinema. A grande atração é Audrey Hepburn, linda e adorável como a protagonista. Edwards cria alguns belos momentos e a personagem de Hepburn revela-se mais complexa do que parece, mas, no fundo, é uma história bobinha sobre um romance que não chega a convencer.

RIO GRANDE – EUA, 1950 ***
De John Ford. Com John Wayne, Maureen O’Hara, Ben Johnson e Claude Jarman Jr.

Rio Grande está longe das melhores parcerias entre Wayne e Ford. O ritmo é, por vezes, cansativo e há subtramas desnecessárias, mas o relacionamento entre o “Duke” e seu filho é bem construído, resultando em bons momentos. Há ainda a presença interessante de Maureen O’Hara e cenas bem construídas, mas nada que eleve Rio Grande além do status de “correto”.

CHRIS ROCK: SEM MEDO (CHRIS ROCK: NEVER SCARED) – EUA, 2004 ****1/2
De Joel Gallen. Com Chris Rock.

Confesso ter me surpreendido com esta apresentação de Chris Rock. Diante de uma platéia imensa, o comediante dá um show hilário e com altas doses de protesto. Sobre um material escrito por si próprio, Rock não hesita em criticar diversos pontos da sociedade americana, sempre com ironia no ponto certo. Os vinte minutos finais, com análises sobre o casamento, trazem observação simplesmente brilhantes e genuinamente engraçadas. Rock tem um novo fã.

A ERA DO GELO 2 (ICE AGE: THE MELTDOWN) – EUA, 2006 ***
De Carlos Saldanha. Com as vozes de Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary, Queen Latifah e Sean William Scott.

Inegável que o grande achado de A Era do Gelo 2 (assim como do filme anterior) é o esquilo Scrat. Ainda que nada – ou muito pouco – tenha a ver com o enredo, são dele os momentos mais engraçados da obra. De resto, há uma historinha comum pontuada por algumas situações inspiradas. Inferior ao original, mas ainda assim simpático e divertido.

GUARDIÕES DA NOITE (NOCHNOI DOZOR) – Rússia, 2004 **
De Timur Bekmambetov. Com Konstantin Khabensky, Vladimir Menshov, Mariya Poroshina e Galina Tyunina.

Guardiões da Noite não consegue corresponder às expectativas que adquiriu como filme cult. Com uma história confusa, que jamais consegue deixar clara toda a “mitologia” do mundo onde se passa, a obra jamais prende a atenção do espectador, tornando-se uma mera colagem de cenas bem acabadas visualmente e efeitos especiais interessantes. Mas a vontade do diretor em aparecer também é exagerada e Guardiões da Noite resulta em um filme chato com idéias que poderiam ser melhor aproveitadas.

MIAMI VICE – EUA, 2006 ***1/2
De Michael Mann. Colin Farrell, Jamie Foxx, Gong Li, Naomie Harris, Ciaran Hinds, John Ortiz, Luis Tosar.

O estilo de Michael Mann é claro em cada cena de Miami Vice. Com uma técnica apurada, com bastante closes nos rostos dos atores e câmera sempre no ombro, o cineasta imprime nervosismo e tensão constante à narrativa. Além disso, o roteiro é envolvente, com um encadeamento de eventos que jamais cessa. Pena que há pouco espaço para o desenvolvimento dos personagens. Jamie Foxx é praticamente deixado de lado e Farrell ainda aparece um pouco mais, porém nada que tire de Miami Vice a classificação de filme interessante, mas um tanto frio.

O ASSASSINATO DE UM PRESIDENTE (THE ASSASSINATION OF RICHARD NIXON) – EUA/México, 2004 ****1/2
De Niels Mueller. Com Sean Penn, Naomi Watts, Don Cheadle, Jack Thompson e Michael Wincott.

Sean Penn está, como de costume, absolutamente brilhante nessa obra melancólica que lembra bastante o clássico Taxi Driver. Com a ajuda do ator, o diretor e roteirista Niels Mueller constrói um retrato fascinante e ao mesmo tempo perturbador do personagem principal. O roteiro é impecável nesse sentido e a direção de Mueller consegue dar o tom certo à narrativa, montando a história até seu trágico e inevitável final. Um belíssimo filme.

A CONVERSAÇÃO (THE CONVERSATION) – EUA, 1974 ****1/2
De Francis Ford Coppola. Com Gene Hackman, John Cazale, Allen Garfield, Elizabeth MacRae, Harrison Ford e Robert Duvall.

A Conversação é mais uma prova de que não houve melhor diretor nos anos 70 do que Coppola. Equilibrando com perfeição o desenvolvimento do complexo protagonista com a trama do filme, o cineasta construiu um filme calmo e pontuado por longos momentos de silêncio. Suas opções e movimentos de câmera mostram-se todas acertadas, revelando de maneira sutil e genial a alma do personagem, interpretado com talento por Hackman. Com justiça, um clássico do Cinema.

O NOVO MUNDO (THE NEW WORLD) – EUA, 2005 **1/2
De Terrence Malick. Com Colin Farrell, Q’Orianka Kilcher, Chirstian Bale, Christopher Plummer, David Thewlis e Wes Studi.

Malick exibe incrível pretensão neste filme cansativo. Introspectivo ao extremo, com milhares de digressões desnecessárias, O Novo Mundo cansa o espectador com longas cenas onde nada acontece. O romance entre Farrell (naquela que talvez seja a pior atuação de sua carreira) e Kilcher jamais convence, ganhando um pouco de fôlego apenas quando surge Bale. Há cenas bonitas e muito bem filmadas, mas é difícil engolir a pretensão do cineasta.

TUPAC: RESURRECTION – EUA, 2003 ****
De Lauren Lazin.

O grande mérito da diretora Lazin neste ótimo documentário é jamais idolatrar Tupac. Pelo contrário, a cineasta não hesita em mostrar os defeitos e problemas do ícone do rap, ao mesmo tempo em que demonstra a influência e o talento deste. Outra opção interessante é fazer o próprio Tupac narrar a obra, aproveitando entrevistas de antes da sua morte (o que resulta em algumas frases, de certa forma, premonitórias, como quando ele diz que sabe que vai morrer). Mostrando a força e a importância do rap, Tupac: Resurrection é um belo filme até para quem não é fã do gênero.