Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Friday, December 12, 2008

Péssimas notícias.

Estou triste. Devo ler jornais com assiduidade há aproximadamente uns dez anos e acho é a primeira vez que leio uma manchete como a de hoje. Dizia a primeira página do periódico: “Governo reduz impostos”. Sim. Governo. Reduz. Impostos. Para quem acreditava impossível estas três palavras se unirem em uma mesma sentença, especialmente nessa ordem, finalmente chegou o dia.

O que vamos falar agora? Eu, os escritores de verdade, os reclamões de plantão. Como iremos criticar essa notícia? Antes, acreditávamos nos jornais. Era possível confiar neles. Abríamos suas páginas e a indignação era certa. Senadores gastando dinheiro do povo para sustentar amantes, banqueiros desviando milhões, deputados dançando ao ver colegas absolvidos. Era rotineiro. Era garantido. Era a nossa fonte diária para falar mal dos mandatários.

Pois então leio a notícia que os engravatados vão reduzir IOF, IPI e, com isso, liberar algo em torno de 8,4 bilhões de reais para serem gastos em consumo. Simplesmente toda e qualquer possibilidade de reclamação cai por terra. Tudo bem, claro que eles só tomaram tal atitude para salvar a si mesmos. Nada mais é do que um reflexo da crise para que toda a economia não seja arruinada. Se tudo estivesse bem, para eles, diminuir nossos impostos nem passaria pela cabeça.

Mas, seja qual for o motivo, a verdade é que isso foi feito. E estou furioso. Onde já se viu políticos atenderem as reivindicações e expectativas do povo? Sinto saudade dos momentos áureos em que podíamos criticar sem sentir qualquer parcela de culpa. Fazíamos com a consciência tranqüila. Era quase uma parceria. Um acordo tácito. Eles roubavam lá, a gente cutucava aqui. Onde foi parar essa honra? Será que precisaremos colocar por escrito esse contrato?

Torço para que isso seja uma notícia isolada. Somente hoje. A partir de amanhã, quero escândalos, quero falcatruas. Quero políticos explorando o povo, fazendo de tudo para permanecer no poder. Quero meus direitos pisoteados. Quero a volta das notícias que dão assunto. Se continuarem publicando coisas boas, não teremos mais o que falar. O assunto das rodas de boteco será somente futebol e mulher, nada de política. Eu não quero uma vida assim.

Estou muito, muito triste.

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Monday, December 01, 2008

MAX PAYNE


MAX PAYNE
De John Moore. Com Mark Wahlberg, Mila Kunis, Beau Bridges, Chris O’Donnell, Olga Kurylenko e Amaury Nolasco.


O cinema norte-americano ainda não descobriu a fórmula para realizar uma adaptação decente de um jogo de videogame. Após incontáveis tentativas, o subgênero até consegue arrecadar alguns bons milhões nas bilheterias, mas ainda peca em termos de qualidade. Ao contrário do que acontece com as transposições de histórias em quadrinhos, os filmes baseados em games ainda cometem erros básicos, atendo-se demais ao visual e à ação e deixando de lado o verdadeiro núcleo de uma boa história: a jornada dos personagens.

Max Payne é o mais recente exemplo dessa lista. Inspirado em um jogo de grande sucesso, o filme conta a história de detetive que dá título à obra. Payne, amargurado pelo assassinato de sua esposa e filho três anos antes, volta a investigar o caso após descobrir novas informações. Em uma série de eventos, o detetive é acusado pelo homicídio do ex-parceiro, enquanto tenta se aprofundar no caso do assassinato de sua mulher, que pode ou não ter a ver com questões sobrenaturais.

Dirigido pelo medíocre John Moore (O Vôo da Fênix), Max Payne sofre de um dos maiores males do cinema norte-americano: o de privilegiar a ação e o visual em detrimento do conteúdo. O aspecto técnico da produção é inegável. A fotografia de Jonathan Sela, que por vezes lembra a adotada por Robert Rodriguez em Sin City, captura com perfeição o lado sombrio, que se propunha (acredito eu) a assumir um tom noir. Enquanto isso, os efeitos especiais igualmente impressionam e algumas cenas de ação são filmadas com certa inventividade.

No entanto, as qualidades de Max Payne param por aí. O filme é terrivelmente falho no que concerne roteiro e personagens, tornando todo este apuro técnico um mero exercício de estilo, sem qualquer acréscimo ao que a obra transmite. O roteiro de Beau Thorne exibe preguiça ao apelar sem pudor a todos os clichês do gênero, inclusive o mais do que manjado momento no qual o vilão revela tudo ao mocinho para depois falhar em matá-lo (acreditem, não estou entregando nada de importante).

Além disso, o roteiro não apresenta qualquer espécie de surpresa. Desde os primeiros quinze minutos é possível prever todas as reviravoltas da trama, ainda que elas não façam qualquer sentido (por que matar o bebê, por exemplo)? O desenvolvimento do enredo é igualmente precário, especialmente no que diz respeito às descobertas de Payne. Elas simplesmente vão acontecendo, sem qualquer motivo para isso. Em determinado instante, ele vai atrás de um executivo de uma indústria farmacêutica pelo simples fato de o cara implicar constantemente com sua esposa (ou, ao menos, foi isso o que deu pra entender). Claro que sua intuição estava certa e o homem sabia de tudo o que estava acontecendo.

O mesmo vale em relação ao desenvolvimento dos personagens. Payne tem o trauma do passado com o qual precisa lidar, mas o espectador jamais entende a dor pela qual ele passa. O motivo não recai tanto sobre os ombros de Mark Wahlberg (em sua segunda bomba no ano, após Fim dos Tempos), mas no roteiro e na direção, que jamais apresentam o resultado disso. Os outros personagens, claro, são meras figuras decorativas, como Mona, que simplesmente não tem qualquer função na trama, e BB, interpretado de maneira vergonhosa por Beau Bridges.

Max Payne vem para ser apenas mais uma no rol das adaptações que ficaram aquém da qualidade dos jogos em que foram baseadas. É um filme que jamais faz com que o espectador se identifique com os personagens, tornando o elaborado visual e as cenas de ação um tédio sem fim. Hollywood continua devendo, e muito, ao mundo dos games.

Nota: 4.0

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Sem medo de mudar.

Já li por aí que boa parte das pessoas têm medo de mudanças. Claro, por pessoas, leia-se nós, habitantes de países subdesenvolvidos e que vivemos em meio à selva. Os Estados Unidos, por exemplo, não têm esse medo. Ou melhor, os estadunidenses. Esses adoram mudanças. Não acabaram de eleger um presidente por causa disso? O cara fez toda a campanha convencendo as pessoas de que as coisas iriam mudar em relação ao que o Jorginho fizera nos oito anos anteriores. E foi eleito. Até na cor da pele o governo mudou.

Claro, o cara que esteve à frente dessa campanha toda não poderia ter medo de mudar. Afinal, ele injetou esperança no coração de milhões dizendo que iria renovar tudo, que a corja do Dáblio não teria mais lugar e coisa e tal. Eu o ouvi dizer isso, ninguém me contou num telefone sem fio. Claro que acreditei. Por que não iria? Ele é um pai de família, marido respeitável da dona Michelle, já viveu humildemente. Falta experiência, sobra vivacidade. Um mudador nato.

E elas já começaram, eu acho. Começaram com as nomeações de seu gabinete. Indicou gente arraigada em Washington, inclusive caras que trabalhavam junto com Jorginho Dáblio. A mudança, creio, virá. Talvez no tapete dos escritórios, na posição dos móveis, no quadro na parede. Mas ela virá, tenho certeza. Acredito nele.

Hoje, li que ele disse que a retirada das tropas do Iraque talvez leve mais tempo do que se esperava. Grande mudança. Na campanha, dizia que as retiraria imediatamente. Mudança no discurso também é mudança, ora bolas. Enquanto isso, outras mudanças vão ocorrendo. A de jovens vivos para jovens mortos e a de famílias felizes para famílias em pranto. Sorte que ele não tem medo disso.

E hoje também sai a notícia de que indicou Monica Lewi..., ops, Hillary Clinton para o cargo de Secretária de Estado. Essa sim é uma mudança genial, daquela que ninguém esperava. Depois de tanto brigarem e se achincalharem nas prévias, agora estão de mãos dadas correndo em um campo de flores silvestres. Mudança, claro. Mudou todas as expectativas de quem votou nele por não gostar da sra. Bill.

“A mudança virá de mim”, disse ele ao nomear os assessores. Ufa, respiro aliviado. Eu estaria me cagando nas calças com tanta novidade.

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