Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Friday, November 30, 2012

Adeus, velho amigo.




ADEUS, VELHO AMIGO

Não é fácil se despedir de ti, velho amigo.
 
Acredite, estamos tentando.
Porém, a cada instante que pensamos na hora derradeira, o nó volta à garganta. As lágrimas nublam novamente os olhos.
Confesso não ter lembrança da primeira vez que te visitei.
Gostaria de ter, como muitos.
 
Gostaria de lembrar, como se
 fosse ontem, do momento único e especial em que passei a primeira vez pelos teus portões, teus corredores, e me encontrei sem ar diante da visão de teu oceano azul abraçando um luminoso palco verde de batalha.
Dói não ter essa lembrança.
Sou, porém, confortado por saber que, na verdade, ela pouco importa.
Nestes nossos últimos momentos juntos, não interessam os fatos ou as datas.
O que importa, agora, é o que aí foi sentido.
O que foi vivido em tua companhia.
Foste, velho amigo, mais do que um estádio.
 
Foste uma escola de vida. Um templo de glória.
Foste um lar. A casa de milhões unidos por um ideal.
Sobre tua grama esperançosa, vi jogadores tornarem-se heróis e heróis tornarem-se mitos.
 
Em tua arquibancada hoje desgastada, vi crianças virarem adultos e adultos virarem homens.
Em teus domínios, vi a história sendo escrita com a tinta perene da glória.
Ah, velho amigo, quantas lágrimas salgaram teu chão?
 
Lágrimas de tristeza, também, mas principalmente lágrimas da mais pura e inebriante felicidade.
Ah, velho amigo, quantas vozes aí já se uniram para formar uma só, invencível?
Quantas vezes este rugido quebrou ao meio gigantes amedrontados?
Ah, velho amigo, quantas lições de vida e de caráter aprendemos contigo?
Quantas aulas sobre superação e hombridade tivemos sob teu teto estrelado?
Ah, velho amigo, quantas batalhas épicas foram travadas em teu campo molhado de suor?
Quantas vitórias vieram diretamente de uma paixão irrefreável pelas cores que te adornam?
Ah, velho amigo, quanta saudade irás deixar?
Estes são teus últimos suspiros. A dor que sentes neste estágio final, porém, não é só tua.
É a dor de milhões.
O sentimento incômodo que aperta há tempos nosso peito é o da tua inevitável despedida.
Mas fique tranquilo, velho amigo. Não estará sozinho em teus momentos finais.
Nunca esteve.
Quando partir, estaremos todos à tua cabeceira.
Estaremos todos esticando a mão para o teu conforto.
Estaremos todos entoando os cânticos que tanto ouviste em teus cinquenta e oito anos.
Deixarás, sem dúvida, um eterno vazio.
Um vazio que jamais será preenchido, apenas mitigado.
Um vazio doloroso, mas tolerável diante das memórias, dos aprendizados, das conquistas e da glória.
Um vazio até certo ponto agradável diante da certeza de termos vivido, junto a ti, uma história única.
Vá, mas vá com a certeza de que aqui ficará.
E obrigado, velho amigo. Do fundo de um coração tricolor, muito obrigado por tudo.