A Beleza do "Não Sei"
Uma
das características que mais admiro em uma pessoa é a habilidade de dizer duas
pequenas e simples palavras: “não sei”. Por incrível que pareça, trata-se de
uma das expressões mais difíceis de se ouvir na língua portuguesa. Suspeito que
não tenha a ver com a pronúncia, já que, exceto talvez para os gagos, parecem
palavras bastante fáceis de serem vocalizadas. Deve ser outro, portanto, o
motivo pelo qual escutá-las é tão raro quanto encontrar um político honesto. E
acho que a explicação, na verdade, passa por um equívoco da maioria das
pessoas: a ideia de que dizer “não sei” representa fraqueza e ignorância.
Hoje,
todo mundo acha que sabe sobre tudo e que pode e deve falar sobre tudo. Seja qual
for o assunto, é preciso ter uma opinião. O novo projeto do Senado? Tá na ponta
da língua. O filme que tem feito sucesso? Já vi e comentei. A rota migratória
das gaivotas russas de bico preto no solstício de inverno? Sou especialista.
Faça um teste: pergunte para quem está ao seu lado sobre algum assunto
aleatório. Moda, música, política, religião. Garanto que a pessoa vai dar uma
resposta, por mais absurda que seja.
Mas
por que isso acontece? Pelo simples fato de existir a ideia de que não saber
algo – especialmente em um mundo com tantas fontes de informação como é o de
hoje – será visto como sinal de burrice ou de alienação. Boa parte das pessoas
ainda acha que não ter uma opinião sobre o que quer que seja é assinar um
atestado de idiotice. É o medo de ser visto como ignorante. A síndrome do “não
sei”.
Pois
penso exatamente o contrário. Dizer “não sei” é uma atitude linda. O “não sei”
é o ponto de partida do aprendizado, o tiro de largada para a curiosidade. Quem
afirma “não sei”, está reconhecendo uma lacuna em si mesmo e dando o primeiro
passo para que ela seja preenchida. O “não sei” leva à busca por respostas,
leva ao estudo, leva ao questionamento. Representa a consciência de que é
possível saber mais. Quem é capaz de dizer “não sei” incentiva seu próprio
crescimento.
Não
ter opinião sobre algo não é um problema; o problema é falar sobre aquilo que
não se sabe, que não se domina. O problema é expressar opiniões vazias e sem
embasamento que mais prejudicam do que esclarecem. E essa é a grande armadilha
na qual muita gente cai: achar que sabe tudo. Não, você não sabe tudo. Existem
milhares de assuntos sobre os quais você não sabe absolutamente nada. Você pode
dominar física quântica, mas provavelmente não consegue fritar um bife. Você
pode ser capaz de citar a Constituição Federal, mas talvez não saiba explicar a
regra do impedimento. Talvez você saiba o que faz um computador funcionar, mas
deve ser um zero à esquerda ao falar sobre as novidades da moda em Milão.
Aceite
isso: você não sabe tudo. Na verdade, diante da imensidão do espaço, do tempo e
de tudo o que há para saber, você sabe pouco, muito pouco. E isso é normal. Não
é motivo para se envergonhar. Vergonha talvez seja ficar parado conscientemente
ao reconhecer que sabe pouco sobre determinado assunto. O conhecimento está aí,
é só buscá-lo. Vergonha é emitir uma opinião sobre algo que não entende. Mas
não é vergonha alguma dizer “não sei”. É, pelo contrário, inspirador. Um sinal
de humildade. De uma vontade de ser mais do que atualmente é.
Não
tenha medo. Reconheça a beleza dessas duas palavras. Aliás, se me perguntarem
se esse texto vai fazer alguma diferença, não tenho qualquer hesitação ou
receio de responder: sinceramente, não sei.