Viagem Literária

Apenas uma maneira de despejar em algum lugar todas aquelas palavras que teimam em continuar saindo de mim diariamente.

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Location: Porto Alegre, RS, Brazil

Um gaúcho pacato, bem-humorado e que curte escrever algumas bobagens e algumas coisas sérias de vez em quando. Devorador voraz de livros e cinéfilo assumido. O resto não interessa, ao menos por enquanto.

Wednesday, April 17, 2013

A Beleza do "Não Sei"


Uma das características que mais admiro em uma pessoa é a habilidade de dizer duas pequenas e simples palavras: “não sei”. Por incrível que pareça, trata-se de uma das expressões mais difíceis de se ouvir na língua portuguesa. Suspeito que não tenha a ver com a pronúncia, já que, exceto talvez para os gagos, parecem palavras bastante fáceis de serem vocalizadas. Deve ser outro, portanto, o motivo pelo qual escutá-las é tão raro quanto encontrar um político honesto. E acho que a explicação, na verdade, passa por um equívoco da maioria das pessoas: a ideia de que dizer “não sei” representa fraqueza e ignorância.

Hoje, todo mundo acha que sabe sobre tudo e que pode e deve falar sobre tudo. Seja qual for o assunto, é preciso ter uma opinião. O novo projeto do Senado? Tá na ponta da língua. O filme que tem feito sucesso? Já vi e comentei. A rota migratória das gaivotas russas de bico preto no solstício de inverno? Sou especialista. Faça um teste: pergunte para quem está ao seu lado sobre algum assunto aleatório. Moda, música, política, religião. Garanto que a pessoa vai dar uma resposta, por mais absurda que seja.

Mas por que isso acontece? Pelo simples fato de existir a ideia de que não saber algo – especialmente em um mundo com tantas fontes de informação como é o de hoje – será visto como sinal de burrice ou de alienação. Boa parte das pessoas ainda acha que não ter uma opinião sobre o que quer que seja é assinar um atestado de idiotice. É o medo de ser visto como ignorante. A síndrome do “não sei”.

Pois penso exatamente o contrário. Dizer “não sei” é uma atitude linda. O “não sei” é o ponto de partida do aprendizado, o tiro de largada para a curiosidade. Quem afirma “não sei”, está reconhecendo uma lacuna em si mesmo e dando o primeiro passo para que ela seja preenchida. O “não sei” leva à busca por respostas, leva ao estudo, leva ao questionamento. Representa a consciência de que é possível saber mais. Quem é capaz de dizer “não sei” incentiva seu próprio crescimento.

Não ter opinião sobre algo não é um problema; o problema é falar sobre aquilo que não se sabe, que não se domina. O problema é expressar opiniões vazias e sem embasamento que mais prejudicam do que esclarecem. E essa é a grande armadilha na qual muita gente cai: achar que sabe tudo. Não, você não sabe tudo. Existem milhares de assuntos sobre os quais você não sabe absolutamente nada. Você pode dominar física quântica, mas provavelmente não consegue fritar um bife. Você pode ser capaz de citar a Constituição Federal, mas talvez não saiba explicar a regra do impedimento. Talvez você saiba o que faz um computador funcionar, mas deve ser um zero à esquerda ao falar sobre as novidades da moda em Milão.

Aceite isso: você não sabe tudo. Na verdade, diante da imensidão do espaço, do tempo e de tudo o que há para saber, você sabe pouco, muito pouco. E isso é normal. Não é motivo para se envergonhar. Vergonha talvez seja ficar parado conscientemente ao reconhecer que sabe pouco sobre determinado assunto. O conhecimento está aí, é só buscá-lo. Vergonha é emitir uma opinião sobre algo que não entende. Mas não é vergonha alguma dizer “não sei”. É, pelo contrário, inspirador. Um sinal de humildade. De uma vontade de ser mais do que atualmente é.

Não tenha medo. Reconheça a beleza dessas duas palavras. Aliás, se me perguntarem se esse texto vai fazer alguma diferença, não tenho qualquer hesitação ou receio de responder: sinceramente, não sei.