Buscando sentido.
É inevitável. Assim que
ficam sabendo que não sou um cara religioso, as pessoas me perguntam: “Mas se
tu não acredita em nada, por que acha que estamos aqui? Pra ti, qual o sentido
de tudo?”
Bom, primeiro, nunca disse
que não acredito em nada. Acredito em muita coisa. Acredito no ser humano.
Acredito na capacidade do nosso cérebro. Acredito na bondade, na generosidade,
no respeito. Acredito na busca pelo conhecimento como forma de compreender o
universo e a natureza. Acredito na força e na beleza da arte. Acredito na troca
de ideias. Acredito na verdade. Se bobear, acredito até mesmo que a Megan Fox
um dia vai dar bola para mim. Acredito em muita coisa. Apenas não acredito em
superstições, no sobrenatural ou em teorias e doutrinas que, ao que tudo
indica, mesmo após milênios, não passam de meras ilusões.
Agora, por que estamos
aqui? Qual o sentido de tudo? Pra ser sincero, quem sabe? Tenho a minha
opinião, claro. Não é uma opinião formada a partir do nada, mas embasada nas
respostas que já busquei para meus próprios questionamentos, fundamentada em
todos os livros que já li sobre variados assuntos e, principalmente, originada
da minha própria experiência de vida e das observações e reflexões provindas
dela. É uma opinião que muitos não conseguem compartilhar, que muitos se
recusam a compartilhar, mas que ainda me parece a mais sensata e lógica, diante
de tudo o que se sabe até hoje: estamos aqui simplesmente por acaso e não
existe um sentido maior para nossas existências.
Muitos acham que essa é
uma visão desesperançosa. Mais do que isso, veem esse pensamento como algo
amedrontador. Para estes, é inviável, inaceitável, pensar que estamos à deriva
na imensidão cósmica, sem algum objetivo, alguma missão ou algo nos esperando
quando a morte chegar. Para muitos – a grande maioria –, isso é o mesmo que
dizer que a vida é uma imbecilidade, um fútil esforço de décadas que não vale a
pena, uma vez que não se chega a lugar algum.
Pois penso exatamente o contrário.
Vejo minha forma de encarar essa questão como libertária, uma fuga das amarras
de qualquer dogma que me impeça de viver a vida. De viver essa vida, não uma
que talvez, quiçá, quem sabe, virá depois. Do jeito que vejo as coisas, a vida
é uma só. Essa, aqui, agora. Não há o depois. Assim como não houve o antes.
Você não está aqui porque um ser magnânimo o criou à sua imagem e semelhança.
Está aqui simplesmente porque, bilhões de anos após o que se imagina ter sido o
início do universo, seu pai e sua mãe se sentiram atraídos um pelo outro em um
pequeno planeta de uma das incontáveis galáxias existentes e o espermatozoide
dele fecundou o óvulo dela, gerando um embrião que virou um feto e depois virou
você. É isso. Não há um significado maior para tudo isso. Não há um sentido
para a sua vida.
Ou melhor, há. O sentido
da sua vida é simplesmente aquele que você dá a ela. Não é algo vindo do além,
não é algo que vai cair no seu colo. Não é algo que vai se revelar surgindo do
céu. Pode ser difícil de aceitar, mas tudo indica que não há um plano
grandioso, um desígnio maior para a sua existência. É muito mais simples do que
isso. Quem dá sentido à sua vida é você. Ninguém mais.
Esse sentido pode vir das
mais variadas formas. Pode vir da dedicação à música, da entrega à natureza ou
de viagens a lugares novos. Pode vir da devoção aos filhos, das conquistas
materiais ou do mais puro hedonismo. Pode vir da satisfação de ajudar ao
próximo, da realização de objetivos profissionais ou apenas da expectativa pela
próxima cerveja no bar com os amigos. Pode vir de tudo isso junto. Vai saber.
Mas, seja ele qual for, o sentido da sua vida nada mais é do aquele que você dá
a ela.
Como descobrir isso?
Tirando a bunda do sofá. Vivendo, experimentando, lendo, aprendendo. Ele não
virá de fora, lá de cima. O negócio é se mexer e descobri-lo. Aqui. Nada de
esperar pelo que pode existir, mas provavelmente não exista. Viver o agora por
uma suposta recompensa pós-morte, que até hoje não passa de um desejo de
milhões, parece-me algo inexplicável.
Para muitos, viver desse
jeito – sem a certeza de um sentido maior, sem fé em algo divino, sem crença no
destino –, é viver uma vida vazia. A meu ver, é o oposto. É uma vida vivida.
Vivida com o que é real, com o que existe de fato. É uma vida que não se vive
pelo depois. Uma vida que se encontra e se completa aqui mesmo, nessa breve,
rica e fabulosa oportunidade que temos de experimentá-la.
E ter isso como sentido de
tudo já deveria ser mais do que suficiente.